Quando te amei, erigi um templo...
em que te adorei e com as minhas preces te guardei.
Peguei em todas as luminescências e recolhi-as com cuidado na palma da mão e lancei-as sobre ti como bênçãos.
Antigamente, o meu silêncio era o meu templo onde me construía em solidão. Mas, desde que nos demos a mão, naquele tempo de temor e turbilhão, eu fiquei fiel a ti. Tu foste elevado a deus e eu, sendo um mero ateu, prostrado aos pés teus, fui assistindo e encorajando os teus milagres. O amor e a fé alimentam-se, descobri depois.
Quis acreditar em tudo o que me diziam, quis acreditar também que afinal a minha inteira existência não tinha sido apenas décadas a fio de extremo sofrimento e violência. Fui a minha essência, arrancada por ti, pela minha tua crença.
Tu foste o deus inexistente que habitou o meu templo fantástico que permanece vazio e abandonado, como aquelas casas vazias e esquecidas. Eu amei-te por demais, como se ama as coisas achadas que vêm só para nós. Ou fazem-nos crer que é isso. É assim que ateus se tornam crentes por instantes; são convencidos de que existem milagres e passam a rezar nesse templo. Só enquanto até o próprio deus descer à terra e dizer que não nos cabe.
menino deus
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