Sigo na rua e as pessoas passam isoladas e apressadas, num frenesim desconcertante. Por todo o lado há rebanhos de carros pelas veias apertadas da cidade. Só os meus passos são lentos e descontraídos, em direcção ao rio, ao Tejo claro debaixo da luz ofuscante do céu azul brilhante.
Quando chego perto do cais, mais uma vez vejo pessoas a correrem como se fugissem de algo, todas a sair desordenadamente da barriga do ferry.
Sento-me à beira-rio, como tantas vezes já fiz, em conversa muda com o rio, com a vida e com a morte nas profundezas. Quando sinto a mão cálida do sol a tocar-me o rosto e a embalar-me as memórias mais queridas, penso em como gostaria de partilhar mais aquele momento contigo.
Em redor, tudo me parece turvo e feito de papel que esvoaça com a brisa de fim de tarde, que o rio sopra à cidade.
Sinto a tua falta e só o teu amor me parece ser de verdade, pois foi ele que me deu sopro de vida.
Depois de ver o sol que estava alto, descer languidamente no horizonte de prédios e não no rio, para minha grande frustração, levantei-me e de novo me pus a andar.
Quando lutava por serpentear nas ruas e não levar muitos encontrões dos transeuntes, desequilibro-me e em menos de um piscar de olhos, um carro abalroa-me e fico de corpo estirado, inerte e completamente dorido no meio da faixa de rodagem.
Nesses momentos que seriam os derradeiros, procuro ver-te, o meu amor de verdade que já não via há muitos anos e de quem tenho tantas saudades. Nos últimos segundos senti um abraçar que era o teu e num esforço de abrir os olhos vi o anjo negro que me viera buscar.
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