segunda-feira, novembro 28, 2011

 Incendiei a minha mão
a que dá e recebe
nesses actos sado-masoquistas
de que ninguém se apercebe.

domingo, novembro 27, 2011

Um homem na cidade, poema de Ary dos Santos

Agarro a madrugada
como se fosse uma criança,
uma roseira entrelaçada,
uma videira de esperança.

Tal qual o corpo da cidade
que manhã cedo ensaia a dança
de quem, por força da vontade,
de trabalhar nunca se cansa.

Vou pela rua desta lua
que no meu Tejo acendo cedo,
vou por Lisboa, maré nua
que desagua no Rossio.

Eu sou o homem da cidade
que manhã cedo acorda e canta,
e, por amar a liberdade,
com a cidade se levanta.

Vou pela estrada deslumbrada
da lua cheia de Lisboa
até que a lua apaixonada
cresce na vela da canoa.

Sou a gaivota que derrota
tudo o mau tempo no mar alto.
Eu sou o homem que transporta
a maré povo em sobressalto.

E quando agarro a madrugada,
colho a manhã como uma flor
à beira mágoa desfolhada,
um malmequer azul na cor,

o malmequer da liberdade
que bem me quer como ninguém,
o malmequer desta cidade
que me quer bem, que me quer bem.

Nas minhas mãos a madrugada
abriu a flor de Abril também,
a flor sem medo perfumada

com o aroma que o mar tem,
flor de Lisboa bem amada
que mal me quis, que me quer bem.

sábado, novembro 26, 2011

quando em dúvida, não hesites


pois se estás em dúvida é porque há algo que não está bem.


dizem para seguires o coração, outras a cabeça; já por várias vezes se viu que não se pode confiar nem num nem noutro.

sexta-feira, novembro 25, 2011

Amo alguém como tu.

30-04-2005, muito tarde, qs 3 da manhã...



Amo alguém como tu... Com a mesma solidão no rosto e o mesmo corpo desconcertado pelas dores da vida. As mãos e os modos de uma rudeza de um qualquer vagabundo e, no entanto, os olhos e o sorriso de uma criança, a mais terna e mais inocente de todas.
Amo alguém como tu que foste meu por uma eternidade e depois desapareceste como se nunca tivesses existido; como se tudo o que aconteceu tivesse sido o mais belo dos sonhos, agora esfumado na neblina do esquecimento.
Amo alguém como tu, que um dia me levou para o topo do mundo e me fez sua Rainha, e Deusa de todos os mortais.
Ando há longuíssimos anos, esguios, a amar alguém como tu, mas sem essa sombra dentro de si; só que infelizmente não existe ninguém como tu.
Pensei que o tempo fosse amigo e pudesse apagar a dor do anoitecer e do amanhecer, sucessivos sem ti, mas enganei-me, pois ainda estou, sem alternativa, à espera de que um dia possa doer um pouco menos que seja. Procurei remédios e bálsamos, mas nunca me serviram de muito, pois não existe cura para o mal que é não nos termos em nós, connosco sempre. Descobri há pouco tempo porque é que quando te pedi a minha Alma de volta e tu placidamente disseste que podia ir buscá-la quando quisesse, efectivamente ela não voltou a mim. Sim, talvez o maior mal definitivo, a minha Alma foi-se para sempre, pois ela já era tua. Hoje compreendo que o que separaram de mim à nascença (ou quem sabe antes) foi a Alma, para que eu tivesse a missão de me reunir com ela se me quisesse sentir preenchida alguma vez na vida. Foi precisamente isso que aconteceu, apenas com alguém como tu. Esse alguém como tu, é por mim amado ininterruptamente (comigo consciente desse facto) há quase sete anos, meu eterno.
Não sei se houve Amor igual ao meu, por alguém como tu, durante tanto tempo sem ti, mas gostava de saber se há quem tenha algum dia voltado a fundir-se com a pessoa que lhe ficou com a Alma. Só para saber se o meu sofrimento, a minha espera, o meu sacrifício e tudo o mais entretanto, só, são nada mais do que vítimas da minha alegada imaginação fértil. Saber se as madrugadas e os dias claros que passei a pensar em ti, a amar-te na tua ausência, tudo o que fiz, tudo de que abdiquei, tudo no que me tornei e toda a vida insípida e sôfrega que tive por não te ter; se foi tudo em vão. Há muito que não aspiro a Felicidade, apenas espero dar uso a este meu Amor que não cabe em lado nenhum, é maior do que tudo o que existe, e que eu sinto em todos os segundos da minha existência martirizante. O exercício de te amar, passá-lo à ávida prática; amar-te e amar-te e amar-te mais ainda, sempre, como eu tanto amo esse alguém como tu... E as palavras não chegam para tanto...Meu Amor, minha Vida, meu mais-que-Tudo, neste mundo e em todos os outros.
Amo-te

quinta-feira, novembro 24, 2011

versão do “TEN THINGS I HATE ABOUT YOU”

escrito em 16-maio.2005
(Um dia quem sabe se não vou poder mostrar-te todos os filmes que vi a pensar em ti e toda a escrita que só se desenhou por tua causa.)


Odeio a forma como me fixas com o teu olhar e esboças um sorriso tão terno que me dá a impressão de que serás a minha perdição. Odeio o teu modo de falar comigo quando te sentes culpado de alguma coisa e tentas exercer o teu sofrimento em mim. Odeio quando te silencias, como se eu não te pudesse ouvir e saber tudo o que vai dentro de ti à mesma. Odeio quando guiavas o carro que tive e tomavas conta de tudo o que é meu de uma forma tão magnânima. Odeio o facto de fumares e não teres estilo e ainda assim o facto de poder ver-te ser uma benção para mim. Odeio as tuas maneiras rudes e de apetites vorazes que me faz ficar a amar cada segundo do que fazes. Odeio quando tudo o que fazes é ser igual ao que eu penso e ao que sou, como se entrasses na minha mente e no meu corpo e tomasses conta. Odeio o facto de continuar a escrever milhares de palavras por tua causa. Odeio todas as recordações de ti, que tenho a todo o segundo, porque são elas a minha única vida e porque agora não passam de memórias. Odeio ainda mais quando me fazes chorar, mas pior que isso é quando não estás por perto nem dás sinal de vida.
Acima de tudo odeio o modo como não te consigo odiar, nem um pouco, nem um bocadinho que seja, nada mesmo e só continuo sem ti, a amar-te sempre, acima de tudo.
(óbvio que a palavra “odeio” não queria mesmo dizer isso :D, daí o itálico)

quarta-feira, novembro 23, 2011

Entardece e cresce o desejo de que os últimos raios de luz sejam como os teus braços, que dolorosamente me abandonem o corpo, com a mágoa de quem nunca se quis despedir.

domingo, novembro 20, 2011

«El secreto de sus ojos»

Putíssima vida que fica vazia
depois de ter estado tão cheia
e a verdade que os teus olhos encerram
diz que a minha vida não existe.

Memórias ficam, apenas,
resíduos do que perfurou a alma
e o teu semblante
o teu batom vermelho
a tua pele morena
apenas pairam como um fantasma.

O teu cabelo conta uma história
e diz-me que todos devemos
ou não podemos
escolher apenas as boas memórias.

Saturada da sua existência ténue
a mulher que tem sede de sangue
vira-se para o infinito
com os olhos na direcção do horizonte.

Aí, ela encontra a resposta,
que procurou durante anos,
o segredo que agora se grava na sua mácula
e ninguém saberá o que é.

O que se faz com uma vida vazia?

terça-feira, novembro 15, 2011

Sem-Abrigo

Procura-me entre escombros de mim
e leva os meus olhos para eu não ver
tudo o que embrutece nas ruas só com o ar.

Leva também as memórias empoeiradas
e que fedem de tanta falsidade.

Sei que hoje está mais frio
e os cobertores da juventude
foram rasgados pelos punhais
de gelo que as pessoas me lançam
só com os seus olhares indiferentes.

Cada linha no meu rosto
qual pele de paquiderme ancião
espelha a rudeza do chão que pisei
e que me abrigou sem o fazer.

Não há qualquer solução para ti,
não penses que és mais feliz do que eu,
porque sei que não estás aí.

domingo, novembro 06, 2011

O que nos aflige não é tanto a dor em si, como a possibilidade de a virmos a sofrer.

quarta-feira, novembro 02, 2011

Queixumes joviais

Deixa os teus queixumes no armário da cozinha
para que cada vez que lá vás,
antes de abrires a porta do armário,
desistas  e, em vez, optes por comidinha.

Não precisas que te digam o contrário,
tu já não és a criança daquelas birras,
que fazias, quando chamavas as pessoas de más.

Pensa que quando os ânimos acirras
não é quem te admira
que te irá aplacar a dor.

Não te esqueças que à subida vertiginosa
também corresponde a descida aleivosa
que quebra em mil estilhaços
tudo o que tens feito sem abraços.

Tu tens em ti um grande império,
 num empório de dois salões
-divididos por um biombo-,
um deles com queixumes amontoados
e outro com a liberdade, força e carácter.

Sozinho deves construir a tua fortaleza,
não dependendo de meros mortais,
e só então conhecerás a beleza
dos teus próprios versos
e não terás de usar o dos outros mais.