Já não tenho paciência para filosofias,
vãs e tolas teorias rebuscadas numa pedra de carvão,
Nem sequer quero ter fôlego para uma discussão
Quero apenas o silêncio desértico que existe no meu peito
quero que ele grite acima de todo o ruído
e se transponha para reverberar em todos os objectos
e que vá além por todo o vácuo do universo.
Já chega de barulho.
Já chega.
Obrigada.
sexta-feira, janeiro 29, 2021
terça-feira, janeiro 26, 2021
Só tu me tens na possibilidade do Ser, num ponto de encontro que transcende o Tempo Como se lado a lado estivéssemos no quentinho de uma cama de ambiente alvo, quase em posição fetal, Com a única certeza de finalmente pertencer (que nunca pudemos sentir antes) Sem existir mundo fisico lá fora porque sentimos a maior segurança a proteger-nos da fealdade do mundo e ele vergou-se e o seu caos dissipou-se na extensão do que existimos juntos. És o Amor massivo sem contornos, sem tamanho, tempo ou lugar.
quarta-feira, janeiro 20, 2021
...
És a tempestade
que não se formou
quando o vento te ameaçava
És a calmaria que ninguém guardou
porque ninguém te amava
E por isso podes serenar
porque sabes que vai acabar
A confusão que se aguardava.
O Tempo não é teu,
não o guardes
dentro de ti.
Podes esperar o que é meu
Mas ninguém sabe o que eu vi.
São asas invisíveis
que voam no azul
que sou dentro
E o abraço quente
que me atravessa o tórax
sem nunca me tocar,
Movimentos impossíveis
que nunca se hão-de realizar.
sábado, janeiro 16, 2021
Não me lembro
Não me lembro como era falar contigo horas ao telefone
nem sequer de todos os nomes carinhosos ou engraçados
que fomos chamando um ao outro nestes anos todos;
Não me lembro de como era o mapa de sinais nas tuas costas
e qual a espessura sempre grossa do teu cabelo ondulado
nem sequer da tua barba que me deixava o rosto em brasa;
Não me lembro como ficavas ainda mais belo com o pôr-do-sol
a banhar-te o corpo sempre dourado de Apolo do Mediterrâneo
e de como toda a população feminina ficava desnorteada ao ver-te;
Nem sequer me lembro da fome em que nos deixávamos
só para nos devorarmos cosmicamente quando nos revíamos
e não lembro mesmo como era chegar perto do teu cheiro inebriante;
Os teus lábios polposos dessa tua boca que encerrava o mundo
e o teu olhar que continha o oceano inteiro em que eu me afogava
não me lembro deveras como eram os seus desenho perfeitos;
As tuas mãos que vi antes mesmo de te ver e a tua voz
que ficava ainda mais quente se bebesses uísque
realmente já não me lembro como eram calorosas;
E os teus braços que me açambarcavam e eram donos de mim
tal como as longas pernas de um ciclista que rodou o planeta
e nunca se cansou, não me lembro mais como se estiravam;
O teu ser físico e cerebral todo ele altivo e deificado
nessa personalidade a que ninguém resistia seguir
não me lembro de como era magnetizante para todos;
O amor que sentias e repartiste por nós sempre tímido
e toda a alegria imensa que geravas fazendo rir toda a gente
já não me lembro de como era tudo tão bonito;
Imagina se lembrasse?
sexta-feira, janeiro 15, 2021
Porque dói o "pisa-na-fulôr"...
Sou o corpo da tristeza, da doença, da solidão e da dor,
De todo o amor que me deram e que supostamente cura
afinal não era senão paixão,
De quem fui nina e rosa vermelha,
sempre pequenina,
Por isso há que conformar e parar de brigar,
a existência de destino aceitar que tristeza, doença e solidão são como outro fado qualquer.
Ser a maior fã do Amor, acreditar que ele é a maior força nos universos, não faz mal,
mesmo quando nunca se recebeu esse Amor e quando se é alérgico a flor.
quarta-feira, janeiro 13, 2021
O vago olhar penetrante
O meu olhar vai de objecto em objecto
detendo-se em cada um deles
deixando a projecção do slide cinematográfico
estampar-se na minha retina de peixe morto
Não luto mais por estar à tona de água
e as guelras estarem em lento fole
Apenas respiro como dá
sem o vento que me engole
É uma antropia que é autofagia
porque quem sou e o que perscruto
devora-me sem que me dê conta
nem sequer esperneie
como quem tem instinto de sobrevivência
Os olhos são só bússolas desmagnetizadas
não vorazes de conhecimento ou informação,
que vêem as mil formas e feitios
e não se compadecem de nenhum
nesse castigo que é a noite infindável.
quarta-feira, janeiro 06, 2021
O Homem na Cidade
Eu sou o homem na cidade, que no ocaso ensaia a dança e por amar a liberdade nunca deixa sufocar a criança.
Plantei estátuas pela cidade, durante os raios de luz solar, como quem semeia flores no meio do brutalismo do betão. Agora, quando chega a madrugada, as gotas de silêncio brilham na geada e, já depois, de manhã, colho o orvalho como se fossem as lágrimas que não choreisegunda-feira, janeiro 04, 2021
No quase silêncio da madrugada que começa eterna, diariamente, me ergo estátua da apatia desassossegada. Não pára, não quebra, continua no som contínuo, da vibração das fossas abissais dos universos. Não foram os sete anos no Tibete, mas sete anos de Addison, que me amarraram à condenação de ver auroras inalcançáveis, como Prometeu sem fogo.
O descanso não existe senão para os mortos.