sábado, janeiro 16, 2021

Não me lembro

 Não me lembro como era falar contigo horas ao telefone
nem sequer de todos os nomes carinhosos ou engraçados
que fomos chamando um ao outro nestes anos todos;

Não me lembro de como era o mapa de sinais nas tuas costas
e qual a espessura sempre grossa do teu cabelo ondulado
nem sequer da tua barba que me deixava o rosto em brasa;

Não me lembro como ficavas ainda mais belo com o pôr-do-sol
a banhar-te o corpo sempre dourado de Apolo do Mediterrâneo
e de como toda a população feminina ficava desnorteada ao ver-te;

Nem sequer me lembro da fome em que nos deixávamos 
só para nos devorarmos cosmicamente quando nos revíamos
e não lembro mesmo como era chegar perto do teu cheiro inebriante;

Os teus lábios polposos dessa tua boca que encerrava o mundo
e o teu olhar que continha o oceano inteiro em que eu me afogava
não me lembro deveras como eram os seus desenho perfeitos;

As tuas mãos que vi antes mesmo de te ver e a tua voz
que ficava ainda mais quente se bebesses uísque
realmente já não me lembro como eram calorosas;

E os teus braços que me açambarcavam e eram donos de mim
tal como as longas pernas de um ciclista que rodou o planeta
e nunca se cansou, não me lembro mais como se estiravam;

O teu ser físico e cerebral todo ele altivo e deificado
nessa personalidade a que ninguém resistia seguir
não me lembro de como era magnetizante para todos;

O amor que sentias e repartiste por nós sempre tímido
e toda a alegria imensa que geravas fazendo rir toda a gente
já não me lembro de como era tudo tão bonito;

Imagina se lembrasse?

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