domingo, fevereiro 28, 2021

 Não consigo voltar...

para o meu novelo,

emaranhou-se de vida

Como as ondas do mar

e ondas no meu cabelo

Até ficar só e perdida.

sábado, fevereiro 27, 2021

 O que é essa vida e esse mundo,
em que cigarras explodem em desespero derradeiro
 quando saem debaixo da Terra
e cantam sem parar
depois de estarem 17 anos enterradas,
e em que as papoilas florescem ao trovejar?

segunda-feira, fevereiro 22, 2021

 És tudo para mim:

como a água no planeta,
que banha a terra que eu sou.

O retrato que ainda não fiz

 Nada me faz perder a noção do tempo
como desenhar os traços do teu rosto:
o teu nariz afilado de ser altivo
mas fofinho na pontinha, 
as tuas quase maçãs do rosto
que apetecem trincar
e os teus lábios de cereja 
doce e tenra.

(...)


[entt fiz]


A Conversa

 Podemos ter uma conversa franca, sem máscaras, sem tretas, sem estares a ouvir-te a dizer as coisas e a sentir "por que raio estou a dizer isto"? Sem receio de não ser aceite, ou mesmo dizer a coisa errada e perder alguma coisa? Até porque, claramente, já me tem sido denotado que nada do que digas pode cortar esta forte ligação estranha e tão imensurável quanto o embrionário mistério do universo. Nem que seja a conversa inaudível do silêncio que guardamos teimosa e sofregamente... porque esse louco e são amor de facto existe.

Assim ficamos. Tudo bem, tudo certo, na medida de tudo em volta errado.

domingo, fevereiro 21, 2021

Amo-te como o Vento

 Amo-te como o Vento;

não aquele que muda de direcção,

mas aquele que te acaricia o rosto 
envolvendo-te e tocando o teu cabelo 
como se fosse meu

Amo-te como o vento,
que faz o ondular suave no mar 
e as ondas bater na rocha devagar

Livre, leve, lúdico,
Amo-te sem tempo
e não sei de onde veio esse amor
nem mesmo quando começou

Lembro do momento em que senti 
o teu amor a vir numa onda enorme
para mim de tão longe
mas sempre tão perto
e o meu susto
a minha incredulidade 
o meu medo e maior temor

Às vezes o meu amor, que é como o vento,
baila com outras pessoas e as envolve
de uma tal forma que nunca dançou comigo
Mas é sempre breve e frenético rodopio
de fingidor que finge tão completamente
como um menino meio traquinas meio arisco
carregando o segredo mais secreto secretíssimo

Ele é a pedra que o meu vento faz rolar
Mas não sei se alguma vez ele vai-me amar.



Confuso

 Magoei-te no ombro Era Setembro Desespero Entendo Um não sonoro

Não há Passado, Presente nem Futuro.

Já tudo aconteceu,
é só um filme a que temos de assistir
o Presente consiste apenas nos ecos
de um Passado remoto
que aconteceu no Futuro.

(13.01.2021)

Vejo os olhos do horizonte e me perco Restou-me ir p'ra dentro E depois de perceber que p'ra ele afinal não sou o Sol como sempre Acabei ao relento

sábado, fevereiro 20, 2021

O cheiro da figueira...

 Houve uma figueira no nosso caminho
Frondosa que só ela
Tínhamos de passar roçando o corpo na vedação
trepando o montinho de areia e a íngreme elevação,
e aí se abria o mundo novo, só para nós os dois

Consigo lembrar a calidez no limite
O zumzum das libélulas que se encaixavam
todo aquele ar árido das dunas vazias
pontilhadas de espécies de verde velho

Eu já não sinto a calidez na pele
Não oiço o zumzum das libélulas
Nem a impositora folhagem e ramagem
Daquela rebelde figueira selvagem

Hoje o cheiro que tenho no corpo é de eau de figuier
naquele dia da semana que desde nova me foi sagrado
e ele é mais vibrante e vivaz do que alguma vez
o daquela imponente figueira foi
e da qual só um resquício jaz.

Tercetos de ti

 Tem em si o azul e o vermelho
Como  as cores do dia e da noite
raiando a tarde até se deitar

Veste a noite de mil tons,
a madrugada de todas as estrelas
e a aurora de nova esperança

Tem em si as metades da Lua;
Aquela que o Sol vê sempre nua
E a que está oculta e sempre escura

Amo o seu Sol e a sua Lua
Nesse amor maior que tudo e que nós
É um presente escondido pois somos sós

quinta-feira, fevereiro 18, 2021

Perco o Sol

Perdi os dias
Perdi as pessoas

"Mas quem sou eu neste mundo louco?
Sou apenas mais um palhaço no teu carnaval,"
Aqui preso numa casa de sombras e dor,
Monge que fui, bobo da corte que sempre serei...

As horas passam e perco o Sol
os seus raios distantes não me alcançam
acho que é difícil debaixo das cobertas e do lençol
mas ele queima-me na mesma
mesmo à distância
está sempre a pairar sobre mim
e quando permito reconhecê-lo ele incendeia 
e tudo entra em combustão
vira quarta-feira de cinzas num segundo 

o seu segredo mais secreto secretíssimo
e o meu
jamais vêem a luz da aurora. 

sábado, fevereiro 13, 2021

Olhar-se ao Espelho

 Quando eras pequenina tinhas lábios de morango silvestre
depois, mais tarde, ficaste com boca de perfeito coração
e eu não vi o quanto cresceste
nem sei bem como foi que isso se deu.

Os teus cabelos eram caracóis angelicais
hoje quase nada são
e daqui a pouco não mais

A tua vida não andou para trás
Simplesmente ficou suspensa
num limbo de dia nublado
e de barco que anda à deriva sem cais

Quando eras pequenina sorrias mais
Eu sei que ainda és capaz
mas também sei que é tarde 
e que as eras que se entrelaçam
também são um grande nó que se desfaz.




sexta-feira, fevereiro 12, 2021

Carnavaleiro

 A vida que ele ama
é de Carnaval, é de fera ferida,
e como não amar quem ama
a vida de boa forma tão desabrida

Porque ele contém o buraco negro
e as nebulosas como a de olho de tigre
e nada há de mais belo no mundo
quando ele fica de braços abertos
para todo o universo
e mais feliz do que a vida. 

Somos apenas os passistas na sua marcha
e todas as sambistas que caem em desgraça
porque depois do Carnaval o transe foi tal
que não sabem dar endereço de casa aos taxistas

Essa é a festa maior que a vida e que a morte
Esse é o entranhamento do azar com a sorte


(pq me inspirou ; e anteontem houve quem me perguntasse se eu tinha um poema sobre Carnaval, agora parece q já tenho algo sim... )



terça-feira, fevereiro 09, 2021

Do caos e da racionalidade

 O caos vem como tempestade
envolta em tornados de detritos,
As marés que eram de serenidade
vêem-se incriminadas por delitos
que são inomináveis
para o comum mortal

Não sei mais quem te elaborou
nessa formulação climática 
de langorosa intensidade
que penetra fundo e não larga

Há pouco, com uma dose de racionalidade
bem que tentei observar-te
fazer com que te dissipasses
e até pensei que tinha conseguido
quiçá um bom bocado para começar
Mas não.

Sinto agora o sono que tens
Assim como sinto a ansiedade que tiveste
e provavelmente amanhã começa tudo de novo

Sei que não fui feita para isto,
ou se fui foram-me erodindo 
de diamante a calhau
até restar apenas um conglomerado de rocha
que se desfaz quando há fricção.

Não sei quanto mais tempo isto durará
embora saiba que o que nos une 
é dito ser enquanto houver muita proximidade
mas também é feito de gigante materialidade
como a de que é feita o caos e a racionalidade.

 ... porque somos caos individuais, mas o que temos de uno é maior do que nós e é o mais belo infinito contido num raio cósmico de luz que atravessa o breu do buraco negro que nos suga neste universo...


não preciso de respirar, tu és o ar.