terça-feira, novembro 30, 2021

 Escutar o teu peito a ser embalado pelo meu.

A Promessa de Amor

Um dia vais encontrar um Amor verdadeiro
e aí ficarás nos seus braços um dia inteiro
vai ser como se fosse um segundo só
porque o tempo pára sem ter dó

Foste menina e foste mulher
mas nem por isso sabes o que se quer
constróis estórias de amor nas horas
em que tu ainda só te demoras

Esse amor que te há-de chegar
vai ser construído devagar
com todo o zelo e sinceridade
vendo além de toda a realidade


Amor Secular

 És amado com um amor secular
daqueles que não tem tempo
nem tem lugar
e é impossível e trágico;
por que raio o foste arranjar?

Será uma das maiores tragédias
que o Homem tem de enfrentar
duas pessoas que fazem comédias
para com a realidade não ter de lidar

É o amor ultra-romântico dos tontos
que se deixaram levar por poções
sabem que nunca terão encontros
e vivem uma vida aos tropeções

Mas esse é o amor maior e pronto
contra isso não há nada a fazer
qualquer racionalidade é ponto
que acaba sempre por desaparecer

Haverá algo pior para te acontecer
sentir um amor tão maior que amor
mesmo antes de ir se falecer
ou não, foi o melhor a se suceder?

Queda

 Desde que te foste 
foi como se eu pássaro
perdesse uma asa

vôo em queda livre 

descompensação que arrasa

acelera o coração
mas pára

e quando te vejo

começa tudo de novo

sou tua e te absorvo
és meu e me acolhes

essa é a queda que o abraço escolhe.

Sobremesa

Comer um corpo às pequenas colheradas,
ceifando os seus cumes com a colher e lambendo-a

Esse sabor doce que se derrete a meio da língua
mas que se sente mais na sua ponta

Uma ilusão de algodão doce 
sentida a dois
torna-se real?

O que é mais uma caloria
quando já se enfartou de amor?

A languidez com que chupas os dedos
faz essa sofreguidão prazerosa maior

É doce ilusão de nós, sobremesa. 

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Vende-se ideias a tuta e meia.


ass.: idiota-mor

Especiaria Rara

Tem sempre um bocado de ti em tudo o que faço:
Naquele tempero que jogo quando cozinho,
Quando és aquele menino que prova aquela erva e sente uma explosão estelar no céu da boca,
Naquele poema que escrevo a ver se te adivinho,
Quando és aquele verso de terrível menino;
Naquele retrato que faço, Quando és a mulher que olho ao espelho; Naquele perfume que ponho, Quando és o homem que me deseja comer.

segunda-feira, novembro 29, 2021

 Quem és tu,
que vês por dentro de mim,
como quem garimpa pedras preciosas,
achando-me miniatura fora de ti?

O que é belo pertence
apenas a quem o ama.

Por mais que as nossas mãos
vivam ansiosas
a eternidade só existe
por causa do nosso amor.

sábado, novembro 27, 2021

O teu nome

 Chamo pelo teu nome 
Enquanto te toco e atinjo o êxtase 
Numa explosão de edifício
Que deixa o ar poeirento só um segundo
E depois só remanesce o silêncio
E a claridade no ar

A chuva fininha que se segue 
É a dispersão da humidade 
Concentrada na foz dos rios
Que temos a transbordar em nós

Chamei pelo teu nome três vezes
e mais e mais e mais
Os rios viraram mares
Os mares viraram oceanos
É na imaginação e nos sonhos
Que o teu nome é só meu.

sexta-feira, novembro 26, 2021

Línguas

 De todas as 7 línguas 
que aprendi quando mais nova
hoje só falo duas
mas a única que pratico
é a do silêncio.

O Caminho dos Elementos

 Sou água quando me moldo às pedras,
no rio que fui, mas agora enquanto mar
que inspira sufocando por oceano,
estou em permanente agitação,
quase daquela a que os vis estão condenados.

Ardo no mesmo fogo que tu
pois o madrigal que produz o seu crepitar
é antiga lenda cíclica que não se desfaz

Bagos de romã que são grãos da terra
nos pés que caminham fincados
acabam liquidificados

Mestre de nada e aprendiz de tudo,
sou como o vento

Esse é o meu caminho dos quatro elementos.

quinta-feira, novembro 25, 2021

Só assim vale a pena

 Arder no mesmo fogo
Atravessar as chamas ondulantes
Num abraço que não desgruda
E não sair da pira nunca
Porque essa é só a nossa eterna dança

sábado, novembro 20, 2021

 Por momentos esqueci-me..., mas não, não foi isso, na verdade escolhi não lembrar ou mesmo afastei as memórias, mas não durou muito. Porque os teus veios de luz estão na minha pele dourada, o teu rio nas minhas veias e esse eterno misto de nostalgia e melancolia é do que é feita a matéria assombrada.

(
escrito no insta como legenda  de foto de pôr-do-sol com a ponte em Lisboa)

 Às vezes os lutos tiram-nos das poucas coisas preciosas que tínhamos. Esquecemo-nos do prazer que elas nos davam, só para não sentirmos a dor em que se tornaram.

O processo de resgatar essas coisas passa pelo difícil enfrentar, mesmo que nos faça quase mergulhar num vulcão de lava em ebulição de memórias sangrando no peito e fazendo-nos jorrar tudo cá para fora durante o tempo que for preciso.

A vida é um caminho de sentido único, sem retorno, por mais que às vezes se crie a ilusão de que se pode voltar atrás.

Eu não quero voltar atrás, só chegar ao derradeiro destino o mais leve que conseguir.

(escrito no insta como legenda de excerto de filme árabe Adam)

sexta-feira, novembro 19, 2021

Pertencimento

 Ser um do outro.

 Quando se ama genuína e absolutamente, não se espera nada em troca. Ama-se e pronto. 
Eu amo-te mais que demais, preocupo-me contigo e portanto só quero ver-te bem e pronto. :)

quinta-feira, novembro 18, 2021

 Se eu não quero nada, alguma coisa vez terei o que é meu?

Ser encanta-dor

 Não és um ser encantado, 
Nem tanto me encantas com teu ser,
Mas és todos os dias o ser mais amado
Que canta a dor sem eu perecer. 

Relaçőes que são não-relaçőes

 Aonde vão morrer os "tudo bem?" que ninguém responde? 
Deve ser no mesmo sítio dos "depois combinamos". 

 Não tenho apreço por burros-teimosos, senão os que dão leite para sabonetes sustentáveis que valem o seu preço por esse ancestral mimo à Cleopatra e por se preservar a raça asinina correcta. :D

 Se as pessoas solares são parvinhas, as lunares doidinhas, então as planetares são o quê? Ah espera, já estraguei o silogismo logo na primeira premissa. :D

quarta-feira, novembro 17, 2021

Amor de S

Solidão
Sapiência
Sossego
Silêncio

Arte à venda = Alma à venda

 O mercado da Arte está cada vez mais obsceno. Os milhões que se dão em leilões como os da Sothebys são a prova de que a alma humana foi sempre vendida. 
O facto de Banksy ter instalado um sistema de autodestruição numa obra sua para o caso de ela alguma vez fazer parte dessa nojenta indústria, é o que ainda me faz ter esperança na Arte em si. 

Mil vezes te amo

Mil vezes te amo
e mais biliões de vezes
na verdade

Demasiado para dizer
Demasiado para sentir
Demasiado para uma só vida.

terça-feira, novembro 16, 2021

 Não se trata mais de se pôr no lugar do outro, como diz a fenomenologia e a religião, mas sim de mesmo não conseguindo se colocar no lugar do outro, haver compreensão e compaixão. 

Poemas de Amor, quem não os tem?

 Os poemas de amor que eu não te dei
Assim como o amor que tu não me deste
Vão ficar para sempre guardados
Sem nunca sabermos para quê

O amor que te dedico e que tanto dói
Em certos momentos em que fico aflito
Sem saber porquê fica tudo angustiado
Mói no peito e espreme o coração

E no estômago esta sensação de fome
Mas não é vontade de comer
É só dor de quem não tem nada
E está sempre na corda bamba. 


 Sabes aquela sensação que tiveste quando tudo brilhava?
Guarda-a bem e vai lá de vez em quando, sempre que for preciso, como quem raspa uma gota de mel com o dedo da borda do frasco e leva à boca para sentir esse doce de novo.

segunda-feira, novembro 15, 2021

Gladiadores do Amor

Não quero mais esta constante rivalidade
Nem queria alguma vez qualquer luta
Digladiarmos no que parece uma eternidade
Ninguém de nós é um filho da p*ta

No fundo só somos talvez escravos da emoção
Que nos apanhou sorrateiramente 
Tomou-nos conta do coração
Sempre muito intensa mas assolapadamente

Mano a mano, corpo a corpo, 
Assim sim abraçar o desafio
Mas não da mente ou coração morto
Nem muito menos da alma a tiro  

Tornámo-nos gladiadores do amor,
haverá algo mais ridículo e comum
que transformar em formigueiro de dor
o que era enxame de prazer de ser um só?


domingo, novembro 14, 2021

Corpo enfézado

Rios de veias calhaus tumores
Espírito sem crença mas eles têm fé que o corpo dela se cure
Não passa de débil frágil craquelada secura
Glandular cruz de seios
Braços flácidos exangues exaustos chicoteados
Escápulas raspadas de anjo caído
Condenado a vaguear arrastando o semblante
De esculturas pós-guerra de Giacometti
Não ateu obstante
Acreditas que existe alma? 
Não neste corpo mal inflado.

sexta-feira, novembro 12, 2021

Eu e tu e todos nós

 Porque é nos ligámos tanto? Porque tu que estavas vazia foste distribuir o amor e a alegria que todos precisavam, porque sabes bem o que é sofrer e querias tentar ajudar nas piores horas que todos estavam a passar. 

A princesa Diana - viste anteontem falarem - fez isso mesmo, enquanto estava em sofrimento resolveu dar o amor e o cuidado que tanto era necessário para que aplacasse o que fosse possível do sofrimento dos outros. Fazer o mundo melhor enquanto dá, porque há coisas maiores mesmo que se sobrepőem, valores mais altos e isso sim é raro de se ver, carácter verdadeiramente altruísta que nem tem que ver com fazer bem aos outros e preocupar-se com os outros por não se conseguir a si mesmo. 

Tem a ver com o coração que se tem, com a empatia e colocar-se no lugar do outro desde cedo e ver o quão frágil e fugaz a vida consegue ser e por isso tentar ao máximo fazer o melhor que for preciso. 

 Se as pessoas soubessem o que existe mesmo em termos de neurociência, principalmente quando começam a amar alguém, nunca haveriam de cair nessa armadilha do cérebro.

 Talvez nem exista mesmo alma, como tanto dizias, e eu é que fui pensar que existia só porque precisava de calma.

 Talvez ponha o ego no prego e espere que alguém vá lá buscar.

 A Vida é tão triste que só a saudade do que não foi persiste...

 Entre o Som e o Silêncio, pairas Tu.

Páro

 Afundo-me na terra
Na areia fina de uma praia
Enterro-me e fico. 

Penso que se calhar só queria
Viajar o mundo inteiro contigo
Comer o mundo todo
Correr todos os prados 
Navegar todos os oceanos
Ver-te chegar sempre até mim
Sempre juntos até ao fim
Nessa aventura inglória que é a vida
Que só faz esperar pela morte
Tentar ter a melhor partida.

Hoje morri de novo,
mas tu ainda existes neste mundo
e isso tem de ser o quanto me basta. 

quarta-feira, novembro 10, 2021

Avanço

 Eu sou de todos os cantos
E de nenhum
Sou das planícies e planaltos
Aos terrenos eu levanto-os
Sou das montanhas e asfaltos
Eu sou muitos e sou só um. 

Não paro nem dentro de água,
Ou mesmo areia movediça,
Mágoa rapidamente espanto
Só fica quem não se desperdiça.



 Os sentimentos que não contêm a sua vastidão são inomináveis, como as cores que não vês e os sons que não ouves. 

terça-feira, novembro 09, 2021

Sim, na verdade já posso morrer.

 A derradeira liberdade é mesmo esta: já não contar para ninguém nem para nada, nem ter nenhum motivo para viver. 

Razão para viver

 Não és simplesmente o meu amor...
És a minha razão de querer viver
De lutar todos dias para ver o sol nascer
E esperar pela derradeira aurora
Que um dia há-de chegar. 

Por ti renasço e me ergo das cinzas
Tu que me sopraste vida com a tua boca
Tu que és mais do que tudo o que existe
Intangível elo da minha alma.

Regresso a ti porque não consigo fugir
Não dá para lutar contra algo tão forte
Que só me faz querer sobreviver
Para poder escutar o teu coração bater.

Preciso só do teu abraço
Encostar a cabeça no teu peito
E aí adormecer. 

Estrela da Tarde - Ary dos Santos, Fernando Tordo

 Era a tarde mais longa de todas as tardes

Que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas
Tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca
Tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste
Na tarde tal rosa tardia
Quando nós nos olhamos tardamos no beijo
Que a boca pedia
E na tarde ficamos unidos ardendo na luz
Que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto
Tardaste o sol amanhecia
Era tarde demais para haver outra noite
Para haver outro dia
Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça
E o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Foi a noite mais bela de todas as noites
Que me adormeceram
Dos noturnos silêncios que à noite
De aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois
Corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite
Uma festa de fogo fizeram
Foram noites e noites que numa só noite
Nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites
Que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles
Que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto
Se amarem, vivendo morreram
Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça
E o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Eu não sei, meu amor, se o que digo
É ternura, se é riso, ou se é pranto
É por ti que adormeço e acordo
E acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste
Dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida
De mágoa e de espanto
Meu amor, nunca é tarde nem cedo
Para quem se quer tanto

segunda-feira, novembro 08, 2021

 Como é que eu estou, perguntam-me? Cansada, triste, doente e farta de tudo. 

Mas não digo. 

domingo, novembro 07, 2021

 Estou sempre contigo
Mas tu não sentes

Sou a presença no ar
Porque não conseguimos
Respirar

Calo

 A tristeza quando se expande
toma conta do peito 
e da boca do estômago
quase que arde mas não
fica só em ferida a sangrar
a desfalecer o corpo e a mente
a alma só dor sente
e o coração só faz calar. 

Já nem sei falar sequer

 Estou muito cansada
Já nada do diga ou escreva
Vale sequer para qualquer coisa
Está bem difícil disfarçar a verdade
Essa condenação do relógio
Que vive adiantado a correr
Ainda nos surpreende às vezes
Mas fico sempre sem dizer
Aquilo que seria suficiente 
Para tirar o que está aqui dentro
Tudo cá para fora de doer

Não adianta nada,
fico em silêncio 
pois já o que disse
é sempre tudo mal dito
É, parece que isso que sinto
Tornou tudo esquisito. 

Ém e Ente

 Dou-me com toda a gente
Mas não entrego a ninguém
O que sei que tanto se sente
Viaja muito mais além
Do que cada um mente 
E vale tudo o que contém.

sábado, novembro 06, 2021

Saiba o que é ser Poeta

 Saiba que o poeta escreve sobre tudo
O que existe e não existe
Visível e invisível 
Sobretudo encapado
E morra o Dantas
Sempre pum
Pimponeta 
Tu

Saiba que tudo que já se pensou
Todas as matérias e imateriais
O poeta já antes mesmo cogitou
Escreveu sobre todas as coisas
Desde as mais banais às fulcrais

Saiba que ser poeta não é autoajuda
E não é cura também para os demais
Pois é mormente bailar na loucura
Nesses tais enredos de que se é capaz. 

Puff

Aquele momento em que te lembras:
não, não gostas de pessoas,
não, o amor da vida não existe, 
não, nada realmente importa. 

Dá para pôr os gurus e etc. na tal garrafa tb e jogar ao mar?

 As pessoas procuram nas outras o que lhes falta,
em vez de procurarem dentro de si mesmas, 
agarram-se aos ditos gurus e proclamados agentes
de tudo o que supostamente é auto-ajuda.

Enriquecem pessoas que julgam estar a ensinar
e esquecem-se de enriquecer-se a si mesmas
em pura análise e observação de si próprias.

A Humanidade merece tudo o que lhe acontece,
porque desde que existe que é bélica e vil, 
não se tenta melhorar a cada dia com afinco,
nem tanto se preocupa em se interessar mesmo. 

Pior ainda estão os que acreditam que são especiais,
que estão destinados a serem felizes e sem sofrer nada,
e que se põem a tentar ensinar os outros 
como se fossem mais do que eles, 
nesse exercício sempre egóico. 


Não, não tenho saudades.

 Perdi a capacidade de ter saudades tuas, 
A mágoa deve ter deteriorado essa rocha
Que afinal não passa de conglomerado de sedimentos. 

Por isso não digas mais que tens saudades minhas,
porque eu não te vou dizer o mesmo.

sexta-feira, novembro 05, 2021

Diz-me...

 Diz-me que ficas até ao fim,
Que me carregas no teu regaço
Como rosa vermelha que fui,
Mas agora lívida, esmaecida,
Morta de cansaço,
Acabado o milagre
Já nada mais flui. 

Diz-me que me dás a mão,
Que tomas conta de mim,
Assim como pequenina
Que coube no teu coração
E que jamais foi esquecida.

Eu nunca tive quem cuidasse
Desse jardim e das suas flores,
Alguém que amasse sem dores
O que é de mim e dos meus temores.

Hoje faço sim esta súplica
Que sei que o vento leva
Mas não para ti
Aguardo-te na Primavera
Quando o Verão não tem fim. 

quinta-feira, novembro 04, 2021

Sem pressa

 Aonde vais tão apressado
Que te esqueces de saborear
Não esqueças que és ser alado
Já tudo tens em ti para voar

De que vale viver se não vês,
Se não cheiras, se não lês,
Se não tocas, se não sentes,
Se não escutas e só mentes?

Somente o amor é real,
Da seiva que é o néctar da flor,
Do mel que é o suco da cor. 

Por isso, espera, pára e ouve,
Para poderes viver sem dor. 

Arranca de mim esta dor

Arranca do meu peito esta dor
Extingue do meu ser a água
Que produz as lágrimas
Que o impossível amor me faz

Este sufoco de tornado de tormento
Que não me deixa em paz nunca
Por saber que apenas a morte 
É o que me transporta até ao fim 

Porque o Amor agora foi tanto
Que não poderia ser mais capaz
De ir embora sem indignar-me
Sem ficar a chorar de tanto pesar

Saberás tu como é o sentimento
Que guardo aqui dentro com silêncio
De saber que nunca nos vamos ver
E já faltou mais para eu morrer?

Nunca houve solução nenhuma 
Sempre soube no fundo que era assim
Por isso quis resguardar todos
Nem quis que soubesse muito de mim

Fiz o que fiz e está feito por Amor
Um tão gigante Amor por todos
Para que fossem felizes juntos
Insisti sempre tanto só por isso

Para que a união salvasse da dor
Para que a criação gerasse Amor
Mas não para que eu ficasse ali
Existisse todos os dias com esse fim

Pega nesse Amor e nessa Dor
Da impossibilidade e da destruição
Toda ela que eu mesma fiz 
E arranca de mim de uma vez

Não aguento mais viver assim. 

quarta-feira, novembro 03, 2021

Irresponsável

Dizes tantas piadas e fazes-te de exagerada,
Que já ninguém acredita em nada
Do que falas ou sofres calada. 

Sem filtros expressas na hora
Tudo o que é para sair para fora
Pois és a primordial mestre do agora.

Tens sido tão irresponsável
Porque a tua morte vem ágil
Não devias deixar toda a gente frágil.

(Des) Ilusão

 Eu nunca existi
apenas fui personagens
todos os que me quiseram
desde que nasci
todos eles em viagens
daquilo que me supuseram.

É ilusão, tudo ilusão,
fui construindo miragens
e sobrepus com tal zelo
que todos acreditaram
que o que viam era real. 

Sabes como o arco-íris é alegre
com as suas tonalidades
e parece prometer só felicidades
mas depois logo vês como é breve
e ficas a morrer de saudades?

Assim é a ilusão que se fez
uma e outra e mais outra vez.

Houve momentos em que acreditei
também fui eu que as pensei.

É ilusão, tudo ilusão, 
nada existe senão apenas o que viste.

Veracidade

 Terei eu o tal lugar de fala,
de que todos falam, 
para falar de amor agora, 
se não tenho qualquer amor?

Vou só escrever como tenho escrito,
desta vez compor um livro bonito,
só para que fique o registo
de tudo o que tive no passado
lá já tão longínquo. 

Sim, essa é a veracidade que tenho,
o meu lugar de fala, 
os amores que tive um dia
que senti um dia, que já não tenho, 
que não sinto mais nada cá dentro,
senão o carinho da memória 
de tudo o que foi glória. 

O livro "Do Amor"

 início:

Este livro não se destina a dizer o significado do Amor.

Apenas mostrar a sua significância em todas as suas vertentes.  

Desculpa

 Fui descuidada
Pisei nos teus calos
Mania minha 
De olhar para cima
Aos temores entalo-os
Como se não fossem nada.

Desculpa

Quis mesmo que soubesses
o que é falares o que sentes
tirar o vício do que mentes
e tudo o que escondes
como disseste que fazes sempre.

Desculpa

Contaram-me sem que perguntasse
Tanta coisa que te afligiu
E que só fez com que eu te amasse
Muito mais do que se urdiu. 

Choro

 Os meus mortos
Eu
Nós
Choro hoje 
Mais do que o habitual
Para mim nada é normal.

terça-feira, novembro 02, 2021

Intimidade

 Aprender a ser íntimo apenas com carinho e amor, sem ser sexual, é a maior intimidade que se pode ter. 
Espero que todos nós um dia possamos aprender.

segunda-feira, novembro 01, 2021

 Preciso dos teus lábio nus

Para te conseguir beijar

Preciso dos teus braços crus

Para te conseguir abraçar. 

Dor a dois

 O que se faz quando se tem a mesma dor que o outro? Junta-se a dor e ela diminui? Ou essa dor assim conglomerada aumenta e fica exacerbada?
Sendo a mesma dor exactamente, sem tirar nem pôr, porquê rivalidade, só para provar que a dor que um tem é maior e distinta? 
Por que é tão difícil ser humilde com a dor e perante o outro sofredor demonstrar amor?
O respeito da dor do outro envolve respeitar a mesma dor pela qual no fundo nos sentimos culpados e estúpidos. 
A nossa dor, assim, não terá fim, só se soubermos ir por detrás dela, da raiva, do ódio, da irritação, e abraçarmo-la. 

 Não sei o que está pior: a flacidez do meu corpo ou do meu espírito...

 Acho que uma vida inteira de autoconhecimento me levou ao autodesconhecimento...
eheheheh

...

 Tudo o que eu queria era que fosses feliz.

Quanto tempo demora para se recuperar

Quanto tempo demora para o cérebro 
recuperar da traição, da paixão, do amor?
Vi que ele trata disso sozinho aos poucos,
desintoxicando os centros de prazer
certificando-se que os químicos que viciam
ficam todos de novo em equilíbrio
assim como a memória que se vai com o tempo. 

Às vezes esse tempo demora mais que demais.
Outras vezes quando o tempo passa 
e nos damos conta que tudo já foi
ainda fica a dúvida de ter ido mesmo
sem deixar resquícios que afloram 
sem deixar marcas que ainda ferem.

Há cicatrizes que doem, dizem, 
mas eu sei que então não estão cicatrizadas
estão só mascaradas com uma segunda pele
e ainda falta que a epiderme e a derme se fundam. 

A mim só me dói o que eu fui
e o que é o meu presente 
e eles descontentes com outrem. 

Tu e eu

 Será que nos havemos de ver outra vez?
Precisava de te falar, mas não consigo,
É tanta coisa para dizer que até parece vão

O incómodo que te sou ainda 
A dor no meu peito por te ter feito mal
Não respeitei o teu sofrimento
Tomei-o por banal
Mas era mentira que o fazia
Como te vi como eu
Quis à força afastar o que te feria

Que ao menos de nós dois
Algum tivesse escapatória
Dessa carga de culpa e insuficiência
Desse peso de não ser nada 
E de tudo ser demasiado tudo.

Sem escape

A felicidade não é para mim, 
A morte é o que me sucede,
A vida não se atém assim
E a sorte nunca procede

Faço parte dos desgraçados
Daqueles que mal-amados
Ficaram demasiado sós
E a sentirem-se condenados

Fui quem foi atraiçoado
Não soube ser fiel a mim mesmo
Fui o que ficou agarrado
E já foi tarde quando fugi.