Encontrar-me

 Na tentativa de me encontrar
Perdi-me quando me esbarrei
Com tantos personagens
Tantas pessoas-máscaras
Tantas pessoas-orfãs

Sucumbi às suas penas
Sentimento demasiado leve
Para se ter e se conhecer
Hoje sei o verdadeiro significado
Desse conceito que carreguei
Por tantas eras como frase feita

Pago preços todos os dias
Nesse teatro de mil adereços
Esculpidos da minha carne
Pedaço a pedaço das arestas
Já só sobra o metal do osso

Quando se está diluído em água clara
Ainda se pode ter esperança
De se encontrar a si mesmo um dia
Mas quando se tornou um com a lama
Só se afunda em areia movediça.

Tinhas razão há tantos anos atrás, devia mesmo matar-me...

 De que vale a vida sem poder amar e ser amado,
sem poder fazer o que se quer e tem mais vontade,
sem se poder escolher o que comer,
sem poder comprar nada do que se precisa, 
sem ter o mínimo de condições de dormir e alimentar,
sem ter direito a paz e sossego e poder curar-se,
sem ter pausa do inferno dos traumas ruidosos, 
sem ter um corpo que acompanhe a actividade,
sem ter uma mente que não resvale em saudade,
sem ter a capacidade de se ter felicidade?

Ser Patriota

 Torno-me patriota de um país que não o meu

Por sentir a sua dor e o seu terror todos os dias

O que começou leve como pena transformou-se em compaixão

Vestindo a sua camisola como se torcesse pelo desfavorecido na bola

Tudo tão imenso quanto o seu Carnaval

Porque são anos de ouvir as cançőes de um povo
Que tem autoestima trocada com liberdade

Que se aliena a todo o custo da verdade

Para não enfrentar o horror original.

Os nossos corpos

 O corpo perdeu a forma
Por ter este sentimento imenso
Não cabe, expandiu-se no universo,
É maior que os oceanos e galáxias
Espraiou-se no horizonte que não há
Existe em todas as partículas
Vibra em todas as frequências do som
E do silêncio do vácuo do espaço.

 Interesso-me por ti como o céu se interessa pelo mar.

 Não deixes que te definam num # 
Tu és Poesia

 Tenho pena de quando vejo coisas bonitas e não posso partilhar contigo.

do filme "O que me ficou da Revolução"

 Hoje quase morri de novo, mas ainda não foi desta. 
A loucura permanece acho.
A ferida nunca sara.
Só a morte trará o alívio do inferno daqui.
E tu... tu és importante para mim
Senão tudo. 

 Se te sentes perdido, pensa que ninguém está perdido, pois estamos todos a caminho do fim; até lá, naquilo que tens voz usa-a, porque muitos precisam de ti. 

Escombros

 Assisto aos escombros do Homem
Assim como quem assiste o céu e o mar
As suas diferentes paisagens com sol ou luar
Ora me enterneço, ora me faz condoer,
Vislumbro as desfiadas cores
Rasgadas pela vista a naufragar
Tudo é beleza e tristeza e raiva e melancolia
Um eterno "ver se te avias"
E eu sempre cansada de esperar.

Sentir

 Acho que sinto muito apenas no momento em que ocorre o impacto, como um foguete que explodiu, depois não sinto mais nada. Por vezes, a tristeza toma conta e a sua seriedade instala-se, chega a pesar a gravidade em cada osso e os rios de veias e tendőes, seus afluentes de articulaçőes, tornam-se cimento do mais compacto.

Hoje apercebo-me novamente das velhas realidades que são tão inevitavelmente minhas: a dor constante e interminável, o sofrimento atroz de uma vida inteira que ainda dura e me tritura por dentro tudo fazendo com que as feridas sangrem sem parar, a falta de tudo o que é bom, o porvir de tudo o que ainda vai ficar pior como sempre, nesta batalha que já não o é, porque faz anos que perdi a guerra.

Cúmulo da Racionalidade

 Ser tão racional que já não se vê razão em nada.

Por um triz - Carolina Deslandes

 Procura-me em todo o lado

Só pra ver que não me encontras Pra ver que estavas errado No fim, no final de contas Procura-me noutras caras Procura-me noutros braços Procura-me noutras casas E pede pelo meu abraço Não se encontra duas vezes O que eu te dei Há quem viva a vida inteira Sem achar alguém Que faça tudo quanto eu fiz Que queira tanto ser feliz Fomos quase tudo Foi por um triz Procura-me noutros beijos Procura-me noutras salas Procura por mim ao espelho Na dor que sentes e calas Procura-me no silêncio Procura por mim depois No rescaldo do teu erro No que ficou de nós dois Não se encontra duas vezes O que eu te dei Há quem viva a vida inteira Sem achar alguém Que faça tudo quanto eu fiz Que queira tanto ser feliz Fomos quase tudo Foi por um triz Não se encontra duas vezes O que eu te dei Há quem viva a vida inteira Sem achar alguém Que faça tudo quanto eu fiz Que queira tanto ser feliz Fomos quase tudo Foi por um triz [ Canção da prima ]

Olhar de Luar

Meus olhos enchem-se de luar
Quando vêem os olhos teus
É o amor que vem me alumiar
Como as estrelas que há nos céus

Nos lagos onde elas reflectem
A tua beleza torna-se líquida
Nesse espelho em que mexem
Aumentando de forma desmedida

Na brisa da noite dançam pirilampos
Por entre troncos de árvores bailarinas
Os nossos sorrisos agora mais amplos
São a magia com que sempre me fascinas

Não escondemos a água que é pura
Lentamente a escorrer pelas mágoas
Mas a fé cresceu e é mais madura
Por isso agora, assim nela, rasgo-as. 
 

Abraço

No teu abraço é onde tenho tudo:
o calor do amor que é tão profundo
o som do teu coração a bater fundo
e a pausa que preciso do mundo


(diz q hj é essa efeméride do Dia Mundial do Abraço... e era só o q eu queria, era o teu abraço...)

 Saber que não existe ninguém que seja exactamente para nós, por um lado é triste, mas por outro a coisa mais aliviante de se saber pois assim nunca vai haver alguém que sofra a maior ferida incurável que é a sua verdadeira cara metade para a morte terrivelmente perder.

Navegador

Vem como barco atracar no meu porto
porque sou o teu preferido abrigo
e depois de o cansaço de um morto
de uma vida inteira de pressão
escolhes descansar num abraço comigo

Mas antes percorrerás os setes mares
e mergulharás em todos eles como mar que és
e a lua brilhará como espelho em ti

Navegador, marinheiro dos mil cais, 
eu sempre te sentirei a alma de sais
e o cheiro a maresia do outro lado do Oceano

 Fui o dilúvio que alagou as tuas sequiosas terras, enquanto tu foste dono de mim e delas.

Lembrete: quando quiser que alguém deixe de falar comigo é só contar a verdade sobre ter doenças raras e estar a morrer. Funciona que nem ginjas! :P

Mente

 É possível estarmos apaixonados por alguém que não existe? Sim, claro, ninguém é como pensamos ser inteiramente, todos idealizam todos e todos vêem todos apenas só na perspectiva e conhecimento que têm. 

Agora, como é que se deixa de estar apaixonado por algo assim imaginário, concentrado em poucos aspectos que valem tudo na intensidade que têm. 

Tenho dito que era tudo o que eu queria, encostar a cabeça no seu peito e escutar o seu coração bater, para enfim adormecer nesse calor do pertencimento. 

Constrói a tua mentira, diz a tua mentira e vive-a, pois só assim teimarás e sobreviverás. 


. por causa de "Mente Ao Meu Coração" de Paulinho da Viola loop.

Amor Maior

 O teu amor por mim é belo
Como o rasto deixado pela estrela cadente
Como as fulgurantes cores das nebulosas
Como a ondulação do mar espelhando o sol
Como as mais belas poesias e melodias
Como o pôr-do-sol que se deita no horizonte
Como o afecto entre um homem e o seu cão
Como o riso de uma criança soa angelical 
Como o cheiro das árvores de frutos
Como as poucas luzes a iluminar a cidade
Como o carinho entre pessoas familiares
Como a aurora que rompe tímida no ar
Como o próprio segredo que carregamos

Acordo

 Aquilo que nem foi preciso falarmos sequer
Ficará sempre no nosso olhar
Guardado entre o abismo do pensamento
E o desejo ardente que nos escapou 

Hoje já não gosto dela, vi-a melhor,
Aflorou em mim o que ficou soterrado
Agora sei que afinal dói mesmo
Volta e meia sim, seca a boca e aperta o peito

Seremos eternos como a rosa na campânula
Despetalando-se de dor ano após ano
Entretendo-nos para disfarçar o insuportável
Meu espinho, meu maior amor,

Falas de fé sempre e eu lembro:
Como luziam os teus olhos com a crença
Como por momentos acreditei também
Que sim, que eras tu que tinhas a espada do arcanjo
Conforme clamavas com tanta veemência

Amor meu dos impossíveis, estrela maior, 
Guerreiro furioso contra a luz ofuscante
De uma realidade falsa
Sei que fui eu que também disse
Que assim estava desesperador
Que queria que já arranjasses alguém
Por isso nem vou questionar nada
Até porque não há como o nosso monólito
Intransponível e atemporal

Sosseguemos de novo, para o tempo da delicadeza
Que está menos distante do que já esteve
A nossa doidice bonita durou demais, não é?

Entropia

 Todos querem ser ouvidos
Mas ninguém escuta ninguém.

O luar nosso

Espero que não vejas a lua com ela 

Embora provavelmente verás o mar

Mas devo dizer-te que até gostei dela

Por ser como eu magra morena a bailar

Mas os teus afagos tão queridos

E os gestos dela de displicência

Bateu suavemente como profecia

De que é de novo raro não haver feridos

Esta foi a lua cheia em que sobrevivemos

Sem grandes inundaçőes esperemos

Pois de facto não há como o nosso luar

Esse nosso código que não temos de segredar

Para um poema falar de dor

 Para um grande poema falar de dor

Não tem necessariamente de ser de amor

Pode antes ser da falta dele

Pode ser da falta que ele faz. 

Pronto, vá, não te vou enganar

Sim, um grande poema que fala de dor

Só pode verdadeiramente ser sobre amor.

(Tinhas razão, eu não, só que agora tudo o que te quis convencer deves estar a conhecer e aquilo que tu me deste a conhecer só me mostrou mesmo tanto perigo)

Resolução para a Eternidade

Resolvi amar-te todos os dias da minha vida
Até ao final e depois se ainda houver hipótese
Porque é contigo que a minha alma conversa
Sem emitir qualquer palavra ou som sequer

Resolvi amar-te em cada um dos dias
Se conseguir senti-lo ou mesmo não
Porque é algo que está sempre lá
Por detrás de tudo o que existe 

Resolvi que não há mesmo solução
Porque nem tem de haver
Já percebi que não nos foi mesmo condenação
Por mais que assim nos possa parecer.

Felicidade

 A felicidade vem da felicidade de quem se ama
Dos amigos amados e da família que se quer bem
Esse sim é o sentimento mais lindo que sinto
Como é bom e inunda-me o peito de ver assim
Tanta alegria e amor e vida de todos em volta

Conseguem entender agora porque dou tanto de mim
Só porque quero ver os outros bem e não posso ver mal
Como é das únicas e raras felicidades que posso ter
E por isso também é para mim de alguma forma
Pois não há maior alegria do que ver todos bem?

Que bom voltar a sentir alguma coisa,
Esta felicidade enfim de quem pode descansar
Porque todos estão bem ou vão ficar. 

Saudades

Acho que tenho saudades tuas, confesso,
mesmo que a confissão seja vã,
e não te chegue aos ouvidos
nem tanto ao coração. 

O que é esse monumento sólido
de sentimento que se alojou para sempre
e é constante em mim como se pertencesse
naturalmente e nem faz já diferença 
de estar aqui porque já faz parte de mim?

Às vezes, por segundos, ligo-me a ti
em pensamento viajo e penetro no teu ser
só para conseguir ver que não estás mal
e assim, instantaneamente sossegar
esse meu coração que se preocupa com o teu.

O que somos os dois senão pedaços de alma
que ficaram a caminhar juntos no cosmos
como planeta e seu satélite
unidos pela gravidade fatalmente
mas nunca juntos 
nunca se podendo aterrar um no outro
e descansar.

Vaguear pelos universos pode ser cansativo,
assim como as saudades que nunca se matam.

Não sentir

 Não sentir mais nada
Porque longa já vai a estrada
E nada houve que se provasse
Mesmo fiel e fundamental
Para quem nada sente.

Alma

 Almejar uma alma de ar
Será que o fiz?
Atingi sim sem saber
o que queria ou podia ser

Flutuei em fantasias alheias
Alheamento descomunal
Sem direcção para todos os lados

Jaz aqui mais uma alma perdida
Será que fiquei mesmo?

Diz que a alma é a essência
que é a única coisa que resiste de nós
quando tudo o resto se rompe pelos outros
quando tudo é conspurcado pela sociedade
quando tudo é destruído e vilipendiado.

Depuração do aflitivo real

 Para passares bem, não só reduz as tuas necessidades, como sempre, mas certifica-te de que te afastas ao máximo do aflitivo real, o mais que for possível, nem que precises de te agarrar a umas pequenas ilusőes construídas conscientemente para isso. 

Não te posso dizer que não desistas de viver, porque falar é fácil demais e eu passei uma vida inteira desde os treze anos a querer morrer volta e meia, ainda sim tendo aguentado todo o inferno diário. 

É, não posso dizê-lo, mas espero que tal como eu consegui encontrar um caminho que me faz conseguir não sofrer tanto, também o consigas encontrar dentro de ti. Sei que provavelmente só estou a ignorar as coisas porque não têm solução e são horríveis, mas parece-me que dadas as circunstâncias é o melhor a se fazer para não desistir de todo e fazer alguém sofrer com isso. 

A verdade é que o tempo vai acabar a qualquer momento, por isso também já nada importa, creio. 

Poeira cósmica é o que sempre fomos, um erro "evolutivo" de "consciência".

 Quando ele disse "também" sem se ouvir, não foi o mundo que parou, não, foi o mundo dentro de mim que transbordou. 

Pena

 "A pena é um sentimento demasiado leve para se ter por alguém", frase que lembro a vida inteira, apesar de não a usar nem gostar de frases feitas. 

Só hoje em dia é que eu acedi a um significado mais profundo dessa mesma frase. Como me saiu cara a pena nestes últimos tempos!

Amada minha

 Amada minha, 
princesa guerreira dos meus sonhos
a que mais amei de todos
e não soube guardar dentro de mim
sem que me rompesse o desejo
de um dia a possuir
não fui o teu herói
nem cavaleiro andante
porque nunca podias permitir
que alguém te salvasse. 

De todas as coisas que te disse

 De todas as coisas que te disse
faltou dizer-te de como és bravo
de como és forte e corajoso
de como és persistente e teimoso
de como és valoroso e valente.

De todas as coisas que te disse
faltou dizer-te que nunca serás feliz
mas que terás muitos momentos de alegria
tão plenos por vezes que talvez atinjas calmaria
e possas sentir-te verdadeiramente amado.

De todas as coisas que te disse
faltou dizer que tens olhos verdes
como a cor que tanto gostas
que simboliza a esperança 
e que te faz eterna criança.

A morte vem aí de mansinho...

 Amado meu, a morte vem aí de mansinho,
sem que tu chegues para o último abraço,
sem que eu possa ter o que foi o único desejo
de encostar a cabeça no teu peito
e escutar o teu coração bater.

Fábricas de Ilusões

 Quantos poemas forjaste em ilusão
de combinação de sons e pensamentos
sem que sentisses nem uma palavra
sem que fosse real um só segundo
de um só verso que urdias?

Quantas canções cantaste sem serem tuas
e sem sequer atravessarem-te o coração
só e apenas no teu laborioso estudo
de quem constrói toda uma desilusão?

Assim somos os poetas e os cantores
que tentam passar a mensagem para todos
de que sentimos o que dizemos 
e dizemos o que sentimos.

 Guardo-te dentro de mim
como mar dentro do oceano
e quando olho nos teus olhos
vejo a dor dos meus

Tu, que só existes na minha imaginação
e transbordas no meu coração 
como eu em tudo o que vês
mesmo quando fechas os olhos

"Só o teu amor é tão real"

Amor da minha vida

 Tu, que existes só na minha imaginação,

Porque na vida real o amor não existe

Não o teu por mim, por ser impossível,

O meu por ti existe mesmo impossível,

Maior que os oceanos e galáxias

Mais profundo que um buraco negro

E até mais brilhante que a maior estrela

Em todo o cosmos!

Infelizmente ou felizmente

Aconteceu este fenómeno

Em que programei a mente

Sem querer e sem saber

Por causa do que dizes com alma

Num eterno amor sem viver. 

Mel claro da manhã

 Dançar no mel claro da manhã
e ver o sol fraco de mordida maçã
Aurora difusa que raia o céu
Numa atmosfera de pálido véu
Geada translúcida quase invisível 
Deixa gotículas de orvalho na ponta do nariz
Obtusa a ideia de que vou ser feliz
Mas olhar assim dá a paz como possível 

 A Poesia é só a cinza
que fica da vida ardente...

 A metamorfose dos pássaros ocorre quando eles decidem ficar em terra.

A metamorfose dos homens acontece quando eles querem voar.

Tu forçaste a minha metamorfose:
fizeste-me naufragar no teu mar.

(...) é a morte do artista

 O silêncio da ausência de aplausos,

Será a morte do artista?

Corremos entre mil compassos

Porque a Arte urge e é urgente

E o contra-relógio decorrente

Com toda a sua penetrante profusão

Nunca está ausente ou em contramão

Mas "alto e pára o baile":

alguém gritou uma sonora vaia

Vociferou no peito uma bala

E o artista não mais dançou.