sexta-feira, janeiro 31, 2025

Tufão

 O que me une a ele é uma força abalroadora. Tem a força de um tufão mas é tão sólida quanto gigantes rochas que não se quebram. Nem por terramotos de mais de 6,4 na escala de Richter com mais de três mil réplicas.

Eu sei disso, porque é impossível não o sentir, completamente flagrante e inevitável, não dá para não ver. É uma tremenda impulsão a sair do peito em feixe unido saído de todos os poros, disparado e atracado na direcção do seu coração. 

O olho do furacão, onde é suposto estar uma calmaria no centro da destruição do vórtex, não existe para nós; não é possível, não conseguimos acedê-lo; é como se nos estivesse vedado por maldição: quem olha, perde, não consegue. Eu toco-te, tu tocas-me, o mundo explode em luz. 

Um dia, se já se tiver afrouxado essa maldição, talvez consigamos olhar o olho. E permanecer, a fitá-lo, o suficiente sem ele desaparecer e nos ficar invisível. 

quinta-feira, janeiro 30, 2025

O Processo

 Fazer ou morrer
O fogo e a raiva
Fazer para sobreviver 
Logo, 
Enquanto o canal abre
Corre,
Derrama o impulso 
Espelha o transbordar 
Um fósforo 
Enquanto arde
A abstração do infinito 
Onde nada é fixo
E tudo é relativo
E o que é importante fica

Pudera

 Pudera eu sentir aquela alegria de novo 
De te ver chegar como chega o orvalho 
Às sequiosas pétalas das primeiras flores 
E tudo daria para conservar os amores
Que tive um dia a aquecer-me o coração 

E no entanto sabendo eu do teu encanto
Não te soube sentir com a beleza que tens
Nem te dei a devida distância que devia
Nem te amei tanto quanto eu poderia 

Meu amado, minha bonomia
Quão triste e sôfrego foi o nosso fado
Quão bonita e trágica foi a nossa melodia

Pudera eu sentir aquela alegria de novo 
Mas não 
Eu agora sou só triste 
Vocês levaram convosco o meu amor
E eu às portas da morte 
Apenas recordo que fiquei como torpe 

terça-feira, janeiro 28, 2025

Silêncio sofrido / sofrido silêncio

 Há um silêncio gutural de quem cala o sofrimento inominável

Há o gotejar do sangue que é inaudível porque ele desliza lento

E há um olhar que acompanha a face cabisbaixa 

Nada desfaz o nó na garganta 

segunda-feira, janeiro 27, 2025

Estação

 Eu sou a estação 
por onde tudo passou
sem parar o coração 
tanto fez ser primavera 
outono, inverno ou verão 
houve sempre quem voou
depois de me ter na espera 

Trovoada

 As saudades de ouvir a sua voz 
que me atravessava e desfazia os nós 
com o seu grosso e potente vibrato
jogava contra a parede, no asfalto 
arrasada ao tocar-me todos os poros

Não há outro assim igual 
mesmo quando passam aviões aqui
de minutos em minutos a rugir
e com tempestades duplas a vir

O som do meu trovão és tu

domingo, janeiro 26, 2025

 Amar a Natureza 
As suas cores fulgurantes
Os momentos extáticos
Olhar-te majestosa árvore 
Ver-te balançar na chuva 
Maestrando o ritmo 
Para pensar em salvar 
Uma ilusória esperança 
De que poderemos dançar 
Todos juntos nesta Terra
Que lentamente se vai alagar

Cessar

 No fim, oliveiras permanecem;
são elas que estão nos princípios 
e continuam enraizadas na terra
alimentando-se das cinzas 
assim como alguém ama mais
quando um corpo definha

e no fim da linha, os seus ramos
esperam as pombas brancas 
que tingidas a sangue 
vêm buscar uma redenção 

mas ela, sabemos, nunca chega


sábado, janeiro 25, 2025

Erguer

 Quem me ergueu apenas com um olhar
Aprendi eu depois de tanto me abalroar 
Que a busca pelo amor eterno é infernal 
E não há quem nos valha de verdade 

Por isso, nunca abdiquei totalmente 
De ser eu o meu próprio real monumento 
Pois conhecendo-me como me conheço 
Sei do quanto fui para todos sentimento 

Alento e reflexão, atento com coração 
Os outros são frágeis como eu
Mas os ais só são demais sem razão 
E o meu cérebro é cavalo de Tróia 

Desisti de explicações sobre tudo 
A minha raiva é amiga e impelia
Sobretudo quando a injustiça vinha
E subia mas agora em mim apaziguo

sexta-feira, janeiro 24, 2025

 Ser Perséfone e reerguer-me da morte um milhão de vezes, pele e osso, cada vez mais enrugada, cada vez mais maltratada, infecção após infecção, atrocidades atrás de atrocidades, sempre completamente só, apenas com uma pequena luz bruxuleante de uma imitação de vela de presença. 

sábado, janeiro 18, 2025

 Quem conduz a luz sem saber é quem a tem para valer. 

Se houvesse Deus

 Se houvesse Deus, certamente seria feito de música e estaria escondido nos cantos da boca num teu sorriso e com uns olhos divinos para a beleza, munido de uns braços ateus que abraçassem todos no mundo.

Ah, se houvesse Deus, o equilíbrio reinava entre os espaços do Cosmos sem necessidade de embates precedendo-o, sem qualquer rasto de violência. Todos conheceriam e beneficiariam verdadeiramente do colo da sua existência. 

Ah, se houvesse sim, que maravilha seria finalmente para mim.

 e as minhas lágrimas tornaram-se em poemas

Mata-Hari Khrishna Khrishna Hare Hare

 Eu sou dos que se infiltra no inimigo para o desmontar e virá-lo em direcção ao seu melhor lado, ou então fazê-lo ter consciência do que é culpado. Dizem que para vencê-los tem de se jogar o jogo deles; eu sempre me recusei a isso, apenas deixo claro os meus princípios e reúno informações. Afinal, para combatê-los, há que conhecê-los. 

Que venha a nova era da desinformação, estamos a postos. 

 As vezes em que vocês me salvaram bastante na minha convalescença apenas com a vossa felicidade, comigo a vê-la e a sentir-me feliz por vocês e, claro, aumentando a eterna saudade..., vocês não fazem ideia e eu nunca poderei agradecer-vos por demais.

(e eles nunca saberão o quanto são vitais; ele não soube, mesmo comigo a tentar dizer todos os dias e sim, assim foi demais)

Taça

 Nunca quis impressionar ninguém 
Acho que me faltava ego para isso 
Nem mesmo as pessoas com que andei
Mas agora olhando para trás no tempo 
Em que estive em contacto contigo 
Tão exasperadamente e sempre 
Como se fosse tudo iminente a acabar
A verdade é que só a ti me relatei
De tal forma que parecia vangloriar-me
E não sei por que fiz tão tonta figura 
De me expor tanto de coisas antigas 
Que eu já nem era sequer um pouco 
Mas não me pus lá nas alturas 
Para que caísse nas tuas boas graças 
Não me importava que fosses mouco
Talvez só tenhas sido uma taça
Onde derramei pela derradeira vez 

Convalescença

 Espero que o teu nome não seja a última palavra que saia da minha boca, embora faça todo o sentido que tu sejas o meu último suspiro. Apenas não queria o que isso significaria: que não te esqueci sequer um dia até à minha morte e que nunca vieste para me vir buscar para ti. 

Agora que mais uma vez o meu corpo mal respira e convalesce nesta torta cama, penso em ti e sempre logo de seguida forço-me a parar de pensar, por medo que me caia um móvel em cima, ou algo parecido aconteça, que piore ainda mais tudo para mim, como foi com todas as pragas que me rogaste e puseste os outros a rogar. 

Tento pensar, em vez, nos microssegundos bons que te vi sorrir ou ter boas emoções e em que eu estava um bocadinho bom lá, contigo, de certa forma. Porque foi tudo horrível mas fomos felizes em certos segundos e nem quisemos reconhecer. Imagino que já me fosse doer, sempre doeu depois. Eu tinha-te dito que ia ser assim, que um dia ia tudo às suas vidas. E eu não sabia é que me ia doer tanto a impossibilidade e a não despedida. Como com os meus tios, como a D. Quina, enfim, como com toda a gente. 

Às vezes, apetece-me mesmo escrever em letras garrafais, "volta, car*, pelamordedeus", hehehe, ia ser engraçado, tal é o desespero de ouvir-te falar comigo, às vezes quando estou assim. Mas como não sei nada de ti, também não sei se és mesmo alguém um bocado como eu pensei que eras para mim. Depois das tuas promessas vãs, tudo me parece inexistente mesmo e eu bem a demente, como tu sempre pensaste de mim, ao fim ao cabo.

sexta-feira, janeiro 17, 2025

 O nosso amor era uma festa completa e, agora, quando ainda me perguntam por ti eu não sei dizer quando foi o nosso funeral.

 Juro que não sei.

Amor a torto e direito

 Eu não soube amar-te direito 
O coração fica mais do lado esquerdo do peito
Eu não soube não 
Só me fez confusão 
Eu não soube amar-te direito 
Teimei e ouvi quem não devia
Eu fui a pior versão de sempre 
Ó misto de explosão de tudo:
ansiedade, insegurança, rejeição 
falta de autoestima e ciúme 
tanta mágoa tanto queixume 

Eu amei-te direito 
E quando tudo ficou torto
Eu só larguei depois o osso
Eu soube amar-te com cuidado 

nós: "a tua voz sempre me rasgou,
a quem quero eu enganar?
o teu amor sempre me queimou,
alguma vez vai sossegar?
e a visão de ti, meu deus, nem sei
por que vou sempre ao teu olhar
buscar o meu para nos identificar?

quarta-feira, janeiro 15, 2025

Sonhos

 Os meus sonhos foram usurpados por oportunistas e mercenários para depois serem facturados a quem desse mais. 

Eu não fiz parte dessa grupeta de canibais, aves agoirentas assassinas, abutres, chacais, hienas e outros tais. 

Tardou para que pusesse fim à sangria, pôr fim à chuparia desse chupistas, sugadores da paz, do belo e singelo, do equilíbrio, da harmonia. Eles abafavam tudo engolindo-o na violência do barulho e da falsidade. Metem nojo sacripantas do seu único deus na pança. 

Tinha 5 anos e só queria voar. Seria feliz assim. Com a liberdade dos pássaros. Eles cortaram-lhe as asas, obrigaram a vestir uma capa de super-homem de Carnaval e fizeram atirar-se da janela do 11⁰ andar.

Os nossos sonhos ficaram a levitar.

terça-feira, janeiro 14, 2025

Terra

 No espelho da terra dos meus olhos
Reluz um micro-prisma com mil fogos
Escorre em maravilha de lava e euforia
É o festival da Terra com a sua alegria 

Eu sei que ele mora no teu coração 
Tu que és ar e levantas toda a poeira
Eu que sou terra e que fico sem chão 
Quando te vejo de qualquer maneira 

Mas eu já não te vejo senão invisível 
Nos fantasmas dos incêndios florestais 
E tudo mais que acontece e é indizível 

Queimando-nos a vista até cinzas
Como na terra dos anjos falecidos 
Não há brilho pois tu já não ligas

Não me dou mais com pessoas 'tripolares', manipuladoras, confusionistas e loucas, mentirosas, falsas, fascistas/racistas. Prefiro conversar apenas com pessoas de coração puro e verdadeiro e crianças (menores de 12 anos que ainda não entrou o mix hormonal para as mudarem completamente e ficarem como os adultos). 😊

Adicção

 Viram-se os homens mirar as papoilas da morte
Hipnotizados pelo seu vermelho como touros
Que se lançavam contra a ponta afiada da lança 
E se esvaíam em gemidos desfalecidos...

Lembro-me de quando se perderam de si mesmos,

Quando a vida os jogou no fundo do precipício,
Quiseram anestesiar-se da realidade 
Encheram as suas veias de drogas que eram lícitas 
E elas se transformaram em rios de álcool 
Enquanto todas as células dos seus corpos
eram substituídas 

Passaram a ter a ilusão de que sem elas não sobreviveriam
E de tanto se tornarem nas suas drogas isto se tornou na verdade também para os seus corpos 
Havia que morrer para se libertar mesmo que isso não libertasse da dor
Largar a necessidade da vertigem e do torpor

Mas a necessidade continua lá, ainda que nos tentemos distanciar
Imagino que só haja hipótese de terminar se for possível preencher a razão pela qual se teve necessidade 
Quase sempre deve ser porque não se teve amor, validação, compreensão, presença, perdão, luto
Da maioria das vezes já é tarde e sempre difícil para se ter, a não ser de si
Mas a verdade é que vivemos em sociedade 
e é isso que estraga os homens quando não os faz bem e bons



Lágrimas de Sal

 Não quero ter musas do fado
Cansei da suposta mãe gentil
Tínhamos de ter tudo alterado
Construir a mátria Brasil

Não quero mais ser povo achado
Sou achamento de mim mesmo
De plumas e doce melado
Da bela cerveja e do torresmo

Nunca quis ser alecrim dourado
Não nasci em montes nenhuns
Sou brasileiro arretado
Samambaia para alguns

(Refrão)
Agora são suas as lágrimas de sal
Porque o Brasil é muito maior que Portugal


(pq Bertoluz, cantautor brasileiro, um dia em 2021 ou quê, pediu-me uma música e eu dei algumas melodias e acho q entreguei isto tb)

Onde está o amor

 Encontrei o amor numa pétala 
Nem sei bem de que flor
E também quando vi o orvalho
Dependurado nela tão frágil
Contendo translúcida pureza

Encontrei o amor no céu 
E todos os dias olho-o
Nem que já só seja puro breu
Mas se vejo uma estrela 
Interpreto-a como clarão 

Encontrei o amor no meu olhar 
Em cada momento que o vi brilhar 
Com um quentinho no peito 
A crescer de mansinho 
Até só haver imensidão 

Encontrei o amor na Primavera 
No Outono, Inverno e Verão 
A promessa e a espera
As andorinhas, as folhas secas
A névoa e o marulhar

Encontrei o amor nos frutos 
Na flora e na fauna
No sal e na terra
No fogo e no ar
Sem nunca saber

Encontrei o amor no som
Os assobios e arrepios 
De delícias a degustar 
Mas muito mais ainda
Nos abraços e sorrisos 

Encontrei o amor finalmente 
Em tudo o que existe de belo
Não esquecendo os cogumelos 
Os morangos, as cores e os rios
E o que sou me faz contente 


segunda-feira, janeiro 13, 2025

A empáfia na oratória

 Há uma empáfia na oratória
Desses que gostam de se ouvir 
E querem manter uma glória 
Para a geração que há-de vir

Não querem que todos tenham 
As mínimas condições para viver 
Pois têm medinho porque levam
O pilim que os trisnetos vão ter

Um compadrio desrespeitoso nojento
Faz-lhes garantir que o poder mantêm 
Numa máfia vazia de real conhecimento 
Sequer qualquer tipo de consciência têm 

domingo, janeiro 12, 2025

Iluminada

 Chamaram-me de sol
enquanto eu sou insónia 
e não fui a estrela no teu céu 
apenas a tua pessoa errada
que depois tudo escureceu

Nunca me amaste
nem sequer me guardaste
preferiste mil outras
que eram astros mais brilhantes 

E eu que todos tinham sem ter
como vista iluminada num ser
fiquei de novo abandonada
sem jamais ter qualquer querer

sábado, janeiro 11, 2025

 A visão de ti destrói-me
Como se explodisse
Uma granada no meu coração 
Dói
Rebenta com tudo
Por isso não te vejo 
Não te olho
Não te escuto
Não mais te espero 
Até sermos completos 

quinta-feira, janeiro 09, 2025

Acordar para a realidade

 Vê bem:

os preconceitos toldam a mente
o fogo nem sempre te aquece 
assim como o mar não se bebe
e não pode matar a tua sede

quem te deu vida quer-te matar
quem riu na tua despedida 
só te queria ver voltar 

a adrenalina é um veneno 
tanto quanto é a dopamina 
e se o que tenho é oxitocina
pior ainda de se achar remédio 

Âmbar

 Promete-me que um dia ouviremos este álbum à meia-luz

Deus queira que eu nunca esqueça deste sentimento de sermos arte e amor

Que habites em mim como eu em ti, nossos corações, lev leve leveza, ao alto

À meia-luz iluminados.

terça-feira, janeiro 07, 2025

Ser Artista

 Ser ignorante, ignorada, falida, falhada, foi o melhor que me aconteceu enquanto verdadeira artista. 

Morrer

 A morte pára tudo
no instante que ocorre:
é fotografia imortal
que o tempo não corrói

O que tentavas fazer
nessa hora de ir embora 
não importa 
mas é o que para todos fica

E tu tentavas amar
sempre 
mas morreste
e o amor parou
ficou suspenso 
como outrora

A névoa gélida se instalou 
Humidificou os livros 
Que tinhas arrumado 
Tudo mal empregado 
Agora que já não existes
Talvez o gato se safe melhor



(dps d Le Hérisson - pelos vistos tinha mesmo de viver até descobrir este -, mais um que me destruiu desabando eu sobre os meus tantos lutos em flashback, não sei se depois de tudo o que passei alguma vez isto mudará em mim. surtout o luto de mim. "morte então é isso: não vermos nunca mais as pessoas que amamos, nem as pessoas que nos amam poderem estar connosco")

segunda-feira, janeiro 06, 2025

Viver

 Quem vive
É quem saboreia lentamente 
Os momentos todos 
Sem perder nenhum
Guardando na memória 
Para saber mais tarde
Que se viveu e saber-se quem é
Pois só assim se pode realmente 
Existir como quem sente 

domingo, janeiro 05, 2025

Acorde Maior

 Cortei as cordas
e não há acorde maior
foram muitas as hordas
de programações mentais
que desconstruí
para me livrar dos banais
amores por um meu melhor 
só de mim eu dependi

sábado, janeiro 04, 2025

Co (moção)

 Guarda os restos de mim
O que sobrou de ti
Como é comovente
Ver a esperança das gentes
De que é possível sim
Tudo o que as move
E fá-las contente 

Mas assinaria uma moção 
Com todo o meu coração 
Que pusesse em acção
Tudinho de repente 
E o meteoro já não 

quinta-feira, janeiro 02, 2025

Destino (s)

 Para quem já viu a teia caótica e que não existe destino, mas sim várias possibilidades que se vão afunilando numa só, consoante as nossas (in)acções e ficou muito quietinha durante muito tempo, numa de mr. nobody, eu fiquei com algum receio sempre do chorrilho de catástrofes que se desenvolve. Nem a morte em vida a impediu. 

Nada a ver

Morri para a vida quando ainda não estava cá fora e depois forcei-me a ela, continuando a confirmar que tudo era em vão e todos os esforços para mim não resultavam em nada senão para os outros, os que tiveram vida de facto, a quem eu quis e possibilitei que tivessem. Mas, mesmo quando me disseram que eu podia morrer a qualquer instante, eu continuei na minha, talvez porque tinha já tido noção muito cedo da morte, da minha morte na verdade. 

As pessoas dizem desabafar só comigo e eu me apercebo que elas fazem-no (até mesmo quando eu nunca lhes disse nada sobre o meu inferno diário), não só porque eu não as julgo e gosto delas, mas principalmente porque elas se sentem culpadas em relação a mim e tentam justificar as suas falhas desabafando as suas verdades e infortúnios. Foi estranho aperceber-me disto passados tantos anos.

Azul

 Um dia vi-te e aprendi que te tinha nas veias, plácido e caprichoso com os teus mil tons, eu era pequenina e desses genes ancestrais escrava do oceano e do firmamento, como os seres bioluminescentes confundidos com estrelas no mar. 

Eu quero o branco. O coração. A paz. Mesmo que seja eu eternamente azul. 

(02/01/2023 no insta com foto de azul do céu em degradé)

quarta-feira, janeiro 01, 2025

 e eu que sou triste 

e tenho o fado nas veias

sei que o teu amor não existe 

e perdi a esperança que me leias

Um mundo novo

  Talvez eu quisesse viver no teu mundo
Que é cheio de canções e animações 
Onde tudo é bonito e natural
Onde há mil cores e mil amores
E a pele está sempre coberta com sal

Eu sei que eu almejo paz e calmaria 
Como necessária bóia de sobrevivência 
E já não sou dada à folia como em criança
E há em mim uma profunda exaustão 
Mil traumas acumulados desde a infância
 
Mas, o meu ser mais amado inventado
De quem aguardei tanto um perdão 
Deu-me a conhecer uma fé e esperança 
Uma força maior do que a morte
Mostrando-me todo um mundo novo