quinta-feira, setembro 25, 2025

À flor da pele

 Hoje lacrimejei no supermercado quando uma senhora muçulmana com máscara e com um casal de filhos pequenos teve o seu cartão de débito recusado, mas a senhora que estava a seguir pagou os poucos artigos para que as crianças pudessem comer. Eu também me cheguei à frente, claro, com a intenção de pagar. Depois, simplesmente agradeci à outra senhora por tê-lo feito. Só depois é que eu me lembrei que não tinha o meu cartão e quem tinha o dinheiro e estava na fila era o meu pai, porque eu tinha ido à casa-de-banho e vi esta cena acontecer na saída da caixa. A menina criança fez-me lembrar de mim quando eu era pequenina, muito parecida com ela. O menino depois perguntava se podia levar a comida, eu disse que sim e peguei um pacote de leite e dei-lhe.

E, claro, depois quando a senhora que pagou ia embora também pensei em como no meu tempo não havia gente bondosa assim. Obviamente havia lembrado, antes mesmo, de Gaza. E como o mundo consegue ser horrível. Deu para ver quanto estou à flor da pele. Senti que se não parasse as lágrimas enquanto me corriam mais, era bem capaz de ter ali mesmo um desaguar imparável.

Quem nunca passou fome, não sabe o que é essa dor maior que não só perfura o estômago, mas a alma e o coração.

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