Quando voltares com a alma inteira, talvez já eu saiba, por essa altura, o que é alma e que ela existe mesmo. Talvez, então, eu já entenda absolutamente o que é isso de que Platão falava de "uma alma em dois corpos". Talvez eu aí tenha, entretanto, ultrapassado as noções que tive quando era jovem e de forma pueril pensava que tinha uma alma gémea, ou um irmão ou amizade de almas. Ou talvez não. Talvez eu sinta que sempre foste tu a tal da minha alma gémea, igualzinho a mim, sem me identificar, mas sabendo sempre que estamos ligados de forma indissociável: siameses, como fomos um dia.
As nossas completas devastações, a nossa resignada apatia, talvez encontrem umas nas outras uma paz integral, como se ligassem um círculo preenchido por um nada cabal e ilimitado, que tem a força da explosão de mil sóis.
Eu nunca quis abrir mão de ti. Eu nunca abri totalmente, pois não? É, por isso, também que não voltas mais. O meu querer nunca significou nada. O meu sentimento também não. Tu não quiseste saber, porque eu era demais e nada. Quando na verdade eu gostava que me escolhesses como teu tudo. Mas só quem me sente como seu tudo é que nem precisa escolher. Quando é maior, ninguém pode reter.
Se eu fui só verdade, como fui, criança que ama sem mais nada ter, talvez eu seja só uma alma a valer.
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