sábado, junho 28, 2025

Quis saber-te

 Quis saber de ti nos teus detalhes 
Quis saber-te o jeito do caracol do cabelo 
A forma como surgia uma covinha na face
E não era só quando sorrias, sabes? 
Costumava achar-te bonito no olhar
Independentemente de sombreado
Gostava muito de vê-lo emocionado
Brilhava mais e acompanhava-o um sorrir
Meio tímido, meio contrariado 
Mas nada batia o teu coração a abrir
O teu rosto à meia-luz iluminado
Tu sabias que eu não resisto a chiaroscuro 
Quanto mais essa nostalgia que o pôr-do-sol faz
O meu coração não aguentava, era demais 
Era quando te achava mais bonito ainda
Naquela calidez que a luz laranja traz
Eu romantizei-te demasiado a figura 
Queria elevar-te às alturas
Para nunca duvidares que eras o rapaz 
Que eu tinha escolhido para sempre 
Eu sei que afinal sempre odiaste-me
Mas deixa-me em paz, já tanto me magoaste
Depois de tudo acabar ao menos 
Finalmente posso ficar aqui a te amar
Ou ao homem que era só meu para esperar
Conhecer-te foi também muito bonito 
Quando eu era só tua e tu eras a lua

(não se esquece um grande amor assim?)

sexta-feira, junho 27, 2025

 Precisas de tantas coisas assim?
Tens o coração doente 
A mente ausente 
Não sabes mais quem és
Só sabes dar com os pés 
Andas numa correria 
E não, não é de alegria 
Evitas parar 
Para não teres de lidar
Com o facto de que sempre
Tens uma exaustão premente
De ter acumulado porcaria 
Durante toda a tua vida
Sem olhar para trás 
Porque senão não eras capaz 
De continuar em negação 
A fugir da tentação 
Então sacodes os ombros 
E prossegues sobre os escombros 
Se tu nunca mudaste
Como querias que algo se alterasse?

 Talvez eu tenha inventado de te amar perdidamente só para me perder numa fantasia imortal enquanto morria. Tudo o que padeci por ti ninguém o diria. 

Hoje eu senti a mesma coisa que naquele tempo de aflição, só que não sou eu a mesma agora. O tempo não mudou o tanto de amor que eu senti, mas grande parte virou a maior decepção e não eras tu que eu queria no meu coração. Mas sim alguém que me amou mais do que tudo como eu o amei. Só que tu nem sequer me amaste. 

Não parti de mim

  Eu ainda sou a mesma, não parti. Embora tenha o meu coração sido já partido amiúde e tantas vezes o meu corpo despedaçado e ainda mais profundamente a minha alma trucidada, ainda que menos vezes, ainda sou eu quem quis que estivesses bem e fosses feliz, que tivesses, em suma, tudo o que querias, fossem pessoas, vinho, alegrias mil, fantasias eternas de primaveril, rotundas e bojudas derrières, infinitas músicas e arcas de noés. 

Mas talvez tu saibas melhor do que eu, como sempre soubeste, consultando as tuas bruxas e livros, ou não, se eu sou de facto a mesma que te amou. Sei que não, mas não sei. Tudo aponta que sim. Mas não sei. Tu saberás melhor, como sempre soubeste. Deixo a ti a decisão. Como quando pesaste na balança e o meu coração não te valeu um quinhão. É, eu sempre fui a mesma, só a destruição que me atingiu mudou. Eu volto volta e meia ao que era antes no momento, aquele mesmo momento, em que não me deixei cair imediatamente ao balázio da bazuca no meu peito, apenas segui arrastando-me. 

Eu fui o outro

 Eu fui, até há pouco tempo, o outro. Fui primeiro os meus pais, depois a minha avó, depois o meu irmão, depois a minha irmã. Eu fui um bom bocado aquelas crianças que salvei na trilha, depois aquelas mocinhas, meninas coleguinhas, que tinham seus primeiros namoradinhos e eu socorria-as. Raparigas de meio corpo inteiro, meninas-mulhetes, meninos-amigos, primos, tios, tias, pessoas às colheres! 

Eu fui depois eles, meninos-homens, confusos, sem nunca deixar de ser todos os outros. É, fui acumulando ordens; "prazer, Sónia, às suas ordens". Primeiro manos, depois ciganos, primeiro platónicos, depois sónicos, primeiro amores, depois dores, primeiro serenos, depois eternos, todos com pelo menos um momento muito mau pelo meio.

No final, desisti, quis só ser de mim, eu, sem ser outro que nunca fui eu. Fiquei sozinha porque sabia que nunca esteve ninguém para mim. 

quinta-feira, junho 26, 2025

Pirata com coração

 Se eu arrancar o coração 
E o puser numa garrafa 
Como pirata da solidão 
Atirá-la ao mar do nada
Será que chega a alguém 
Ou será que se afunda
No meio do oceano 
Sem nunca chegar a alguém 
Nem à fossa mais profunda
Nem sequer com escafandro?
 Tão raro e doente 
Quanto o mar leitoso
Esse fenômeno 
De que me chamaste 
O tal amor caudaloso 
De ser coração apenas
Transbordando
Em pura emoção 
Mesmo morrendo
De morte natural 
Com a tristeza chovendo
Um tempero de sal

quarta-feira, junho 25, 2025

 Eu nunca pensei que ia sobreviver 

Senão jamais este meu sistema 

Tinha só feito tudo para se defender 

E poupar todos da dor ainda maior

Hoje não falo mais sobre isto

Enterro tudo o que já foi

Sei as lições de cor

Contínuo na mesma luta

Para ir sobrevivendo 

E quiçá um dia melhorar

Parar um dia de sangrar

E ter a paz da felicidade 

De nada ser, sendo


Renascido

 Os grãos de areia entre nós 
O calor
Dois corpos abraçados bailando
Ao sabor da dor da música 
A multidão desaparecia
Os grãos de areia entre nós 
Eu pensava noutros
Sem saber que ele estava ali
Debaixo do mesmo céu
E chovia

Ponte incompleta

Eu fiz mais do que alguma vez alguém seria capaz por eles, tudo o que devia e podia ter feito, eles é que não cumpriram a parte deles do combinado. Eles cresceram e foram às suas vidas sem olhar para trás. 
Eu não errei. O meu bisavô arriscou e foi fazer um farol lá do outro lado do mundo. Eu não abandonei a minha construção. A ponte ficou incompleta porque o outro lado abandonou o projecto. Nem sequer havia projecto para eles. 
E uma ponte só se constrói se tiver os dois lados para a sustentar. Há uma geração nova de construtores agora. Com muitos e melhores materiais, mas os séculos passam e os erros deturpados são esquecidos e apagados. Daí que voltem a ser cometidos. Afinal os seres humanos são sempre mais ou menos iguais, como os nossos pais. 

Mente ao meu coração - Paulinho da Viola

 Mente ao meu coração

Que cansado de sofrer, só deseja adormecerNa palma da tua mãoConta ao meu coração
História das criançasPara que ele reviva as velhas esperançasMente ao meu coraçãoQue cansado de sofrer, só deseja adormecerNa palma da tua mãoConta ao meu coração
História das criançasPara que ele reviva as velhas esperançasMente ao meu coraçãoMentiras cor-de-rosaQue as mentiras de amor não deixam cicatrizesE tu és a mentira mais gostosaDe todas as mentiras que tu dizes
Mente ao meu coraçãoQue cansado de sofrer, só deseja adormecerNa palma da tua mãoConta ao meu coração
História das criançasPara que ele reviva as velhas esperançasMente ao meu coraçãoMentiras cor-de-rosaQue as mentiras de amor não deixam cicatrizesE tu és a mentira mais gostosaDe todas as mentiras que tu dizesDe todas as mentiras que tu dizesDe todas as mentiras que tu dizes

terça-feira, junho 24, 2025

dois grãos de um drão de Gilberto Gil

 "os meninos são todos sãos 

os pecados são todos meus

deus sabe a minha confissão 

não há o que perdoar" - há sim

"por isso mesmo 

é que há-de haver mais compaixão"

Colapso

 Sangria desmedida 
A vida por um fio
Fome e sede
Que matam
Não estanca a hemorragia 
Não há apoio em rede
Em dominós que colapsam 

mais uma tentativa d bio no insta lol

 Portuguesa de gema mas n mto d clara pq tem albumina e sou um pouco intolerante 😝

segunda-feira, junho 23, 2025

Eles não sabem que o sonho não comanda a vida

 Ele não sabe que eu o amo
E todos os dias o chamo
E ela não sabe que eu a amo
E todos os dias a chamo
E ele também não sabe
Embora eu já o tenha dito

Eles não sabem 
Que todos os dias 
Penso neles
Com tanto amor e saudade 
Procuro amiúde 
Para sentir mais pertinho 
E saber que estão bem

"the kind of love that sneaks up on you, I love you gumshoe"

sexta-feira, junho 20, 2025

 Dor da ausência 

A falta do afecto

A escassez do carinho

Humanos isolados 

Amor em falência 

Um egoísmo indirecto

Não sair do ninho

Relacionamentos acabados

 De cada vez

Que caio doente

De tanto sangrar 

Nunca é contigo 

Que posso contar 

Senão com um canto

De uma llorona distante

Que me ajuda a chorar 

Por dentro este magoar


(bleeding away. foto de pedaço de janela c dois pombos no candeeiro, no insta, Nostalgias de Silvia Perez Cruz e Juan Falú)

quinta-feira, junho 19, 2025

 Homens que acabam com mulheres tontinhas 
Mulheres que acabam com homens tontinhos
Essa é a definição primordial de casal?

Um homem de verdade

 Um homem de verdade tem compaixão 
Não sai por aí a destruir todo o coração 
Que vê como presa com o seu apetite voraz
Nem muito menos cobiça a do seu irmão 
Não se joga às brigas como um capataz 
Não é mesquinho e jocoso com os demais 

Um homem de verdade não tem segredos 
Não carrega com ele estúpidos medos
Que não enfrenta convenientemente 
Só para continuar a fingir que não mente 
E reinar num mundo como pobre vítima 
Atraindo um próximo que cai nessa rítmica 

Um homem de verdade não finge chorar 
Ele abre o peito, o coração e a mente
Deixa-se navegar e aprender com a alma 
E enfrenta bravamente o que ela mostrar
Sem dar desculpas nem obstáculos 
Ele não é de inventar ocos espectáculos
Onde só há explosões de fogos superficiais

Um homem de verdade é porque ele é homem e como é, como eu, que sendo
mulher, cometi um erro de rapaz e nunca mais fui a mesma pessoa. Esses comportamentos odiosos que só aumentam a culpa e perpetuam o ciclo do erro, porque é tão mais fácil ser um rapaz inconsequente do que um homem que é gente. 
 

quarta-feira, junho 18, 2025

20 anos

 Fica estranho
Essa coisa dos 20 anos 
Que eu disse antes
A ti também 
E depois aquele episódio 
Cubano insólito 
Mas agora ver-te de novo
Com ela ultimamente 
Quando te disse daquela vez
Que virias casado e feliz 
Foi a ela que eu vi mesmo 
Mas na altura não te disse 
Porque nem pensei 
De ser estranho vir ela
E não a mais recente 
As vossas miúdas parecem
Ser mesmo fofas como querem
Isso é bom, fico contente 
Já está mais do que na hora 
De eu meter isso na cabeça 

 Coração fora do peito
O que me foste arranjar 
Está no sorriso deles
Está na voz deles
Está no doce olhar
E eu não consigo mais 
Viver assim 
Longe de quem 
Me condenaste a amar
Todos os dias choro
Por dentro do meu ser
Nenhum deles me ama
Não para valer
E só aspiram outra vida
Sem mim a fazer parte
O que me uniu a eles
Não foi só arte
E eles um dia hão-de casar
E isso tudo irá acabar 

 "Deus queira que eu me livre deste vício deles que tanto me faz mal", pelo menos antes de morrer. 🙏🏽

terça-feira, junho 17, 2025

 Anoitece 
Tudo dorme 
Menos a distopia 
E toda a entropia 
Que existiu
E nunca some 
De dentro de nós 

sexta-feira, junho 13, 2025

Um ser amado (de-todo-dia)

 A vida trouxe-me
Família do coração 
E até de sangue 
Todos ligados a ti
Quis "o destino" ser assim
E eu celebro todos os dias
O facto de existires ainda
Mesmo que longe de mim