(I. e P. na sala-de-estar.)
I - Achas que este vento há-de varrer o mundo?
P - Não. Há-de arder.
I - Arder?
P - Sim, esfumaça-se... ou não fosse vento.
I - Não sei como te deixas ficar, com esse contentamento perante a combustão do mundo. Não te dá pena não termos mais tempo?
P - Tempo para quê? A combustão do mundo... se calhar é a única solução para exterminar os piores canalhas da face da Terra.
I - Ora, tempo para nós, para as gargalhadas e carícias em uníssono. Não queria perder-nos antes de nos termos. Entendes?
P - Não. Falas chinês e eu só sei o que está a dar na televisão agora, não sei de mais nada.
I - Irritas-me com a tua ausência marcada nessa indiferença que rasga tudo sem fazer nada.
P (interrompe) - É. Às vezes deixo de existir, não sei para onde vou, um pouco como o vento...
I - Que engraçadinho.
P - Sabes, há coisas que não se devem dizer porque depois não há forma de as retirar, mas ainda assim quero que saibas que se estivesses em apuros e me ligasses da China, eu iria até lá para te salvar.
I (sorrindo) - Ah, pronto, está bem. Que bonito. Obrigada, também não esperava outra coisa de ti.
(pausa)
I - Sabes qual é a raiz quadrada da existência?
P - Lá estás tu com os teus atrofios.
I (interrompe) - Não, era só uma piada, por acaso, tipo charada. A raiz quadrada da existência é PI.
P - Ah, e então?
I - Então, PI é igual a Pessoa Individual.
P - Hmmm, vou levar algum tempo, mas já lá chego... Então e quando é que a tua Pessoa Individual se deixa penetrar pelo meu P*ço Intelectual?
I - Que parvo!... Mais logo? (deitando a língua de fora numa careta)
P - Tens de admitir que foi boa, esta; melhor que a tua, não?
I - É, mas não bate o que tenho para te dizer: estou grávida! E então, hmm, que achas disto agora?
P - Quê? Como é que isso foi acontecer?!
I - (interrompe) Olha, foi o teu P*ço Intelectual quando esteve a brincar com a minha Pessoa Individual.
P - Ah ah ah! Agora estiveste bem.
I (rindo-se também) - Vá, deixa essa caixa comedora de mentes e anda... vamos jantar.
P (desligando a tv e seguindo I, apercebe-se do barulho lá fora...) - Realmente está muito vento!
*=i
sábado, fevereiro 27, 2010
quarta-feira, fevereiro 24, 2010
Esquinas da Vida
Uma pessoa nunca sabe o que está ao virar da esquina. Nós, os pedestres, não temos direito aos postes com espelhos convexos, que avisam quem, ou o quê, vem do outro lado.
É um pouco como na vida: ninguém nos avisa, nem temos forma de ver o que nos espera se quisermos mudar de trajecto. É daqueles acasos que a vida nos dá, premiando-nos como se fôssemos todos jogadores diários de totoloto - às vezes tem-se sorte, outras não.
No outro dia, vi duas pessoas chocarem violentamente ao cruzarem uma esquina e eu, como estava do outro lado da rua, apesar de poder avistá-los não conseguiria avisá-los a tempo de evitar o pior. O choque foi tal, que uma senhora foi impulsionada para trás, caindo ao chão. As pessoas circundantes acudiram-na e o rapagão que a derrubou também, pedindo-lhe desculpas e oferecendo ajuda para lhe carregar os sacos, ainda que ele estivesse a ir em direcção contrária e com hora marcada quando tudo se deu.
As pessoas olhavam para o rapaz e culpavam-no, secretamente, com as suas expressões faciais que gritavam acusadoras: "estes rapazes não se preocupam com os outros, andam sempre a correr"; "matulões, levam tudo pela frente". Felizmente, nada de grave sucedera e as pessoas foram seguindo os seus caminhos.
Todo este episódio fez-me então lembrar de um outro, comentado há cerca de um mês atrás por amigos do círculo das Artes.
Pedro Deslandes embateu numa caixa alta de metal que estava mesmo a seguir à esquina que ele dobrou. Foi pressionado pelas pessoas que seguiam atrás de si a andar mais rápido, e pelas pessoas, que vinham em sentido contrário, a dobrar a esquina um pouco mais encostado para o lado direito, e foi quando o seu ombro embateu na caixa alta de metal, provavelmente de instalações eléctricas que ele sentiu o seu ombro ir para trás com o impacto. Com o diagnóstico de ruptura de ligamentos, tendo o ombro deslocado, Pedro teve de ficar com o braço afectado ligado ao peito para se manter imóvel e não se arriscar a qualquer esforço.
Deslandes era escultor, artista comissionado por galerias até noutros países, mas ultimamente não tinha apresentado novas obras; falava-se de que ele estaria com falta de inspiração e que não produzia nada há meses por ser incapaz de ultrapassar esse bloqueio.
Quando finalmente em casa, Pedro retirou as ligaduras que lhe tinham acabado de pôr no braço convalescente, porque lhe lembravam as múmias e artefactos em barro entrapados, pertencentes a uma escavação egípcia, que estiveram no museu onde trabalhou quando era mais novo.
Pediu, então, à amante da ocasião, que por conta do sucedido teria alongado a sua presença em casa dele, que lhe ligasse o braço junto ao peito com um lenço que ele mesmo lhe passou para as mãos. "Que toque tão suave", disse ela e ele respondeu apenas: " Pura seda, o melhor dos tecidos." Depois de ter feito o que Pedro lhe pediu, e quase colocando um pé do outro lado da fronteira, no território do carinho, que era tacitamente proibido entre eles, recompôs-se e disse: "Adeus, espero que melhores rápido", com um encostar de bochechas, apartou-se, e fechou a porta.
De imediato, Pedro Deslandes, pensou naquela despedida dela, em como o leve embate das suas bochechas foi para eles a despedida possível; em como há pessoas que chegam juntas, caminhando pela mesma rua, até a uma esquina e aí, só aí, cada uma delas vai à sua vida.
Porque é que as esquinas são propensas a despedidas? É porque a sua geografia exige que as pessoas sigam caminhos diversos? E por que esperam elas, depois de caminharem toda a rua juntas, para chegarem a uma esquina para se despedirem?
Pedro Deslandes era escultor e viu no seu embate numa esquina, toda uma panóplia de imagens e conceitos por explorar. Teclou notas sobre elas com a mão esquerda, no computador. Passados dias, Pedro já tinha o seu braço sarado e pôde finalmente começar a tirar partido das ideias geradas pelo infortúnio que sofrera.
Agora, criava figuras humanas, frágeis, à lembrança de Giacometti, umas gigantes e outras menos, divididas em esquinas. Todos os artistas comentavam o regresso prolífico de Pedro Deslandes às esculturas e, com sucesso. "Geniais", aflorava já a crítica, e claro, alguns não se continham e, jocosamente, ouvi falarem entre si: "qual inspiração, desloquem-me mas é o braço!", ao que alguém respondia: "vai esperar para uma esquina!".
É um pouco como na vida: ninguém nos avisa, nem temos forma de ver o que nos espera se quisermos mudar de trajecto. É daqueles acasos que a vida nos dá, premiando-nos como se fôssemos todos jogadores diários de totoloto - às vezes tem-se sorte, outras não.
No outro dia, vi duas pessoas chocarem violentamente ao cruzarem uma esquina e eu, como estava do outro lado da rua, apesar de poder avistá-los não conseguiria avisá-los a tempo de evitar o pior. O choque foi tal, que uma senhora foi impulsionada para trás, caindo ao chão. As pessoas circundantes acudiram-na e o rapagão que a derrubou também, pedindo-lhe desculpas e oferecendo ajuda para lhe carregar os sacos, ainda que ele estivesse a ir em direcção contrária e com hora marcada quando tudo se deu.
As pessoas olhavam para o rapaz e culpavam-no, secretamente, com as suas expressões faciais que gritavam acusadoras: "estes rapazes não se preocupam com os outros, andam sempre a correr"; "matulões, levam tudo pela frente". Felizmente, nada de grave sucedera e as pessoas foram seguindo os seus caminhos.
Todo este episódio fez-me então lembrar de um outro, comentado há cerca de um mês atrás por amigos do círculo das Artes.
Pedro Deslandes embateu numa caixa alta de metal que estava mesmo a seguir à esquina que ele dobrou. Foi pressionado pelas pessoas que seguiam atrás de si a andar mais rápido, e pelas pessoas, que vinham em sentido contrário, a dobrar a esquina um pouco mais encostado para o lado direito, e foi quando o seu ombro embateu na caixa alta de metal, provavelmente de instalações eléctricas que ele sentiu o seu ombro ir para trás com o impacto. Com o diagnóstico de ruptura de ligamentos, tendo o ombro deslocado, Pedro teve de ficar com o braço afectado ligado ao peito para se manter imóvel e não se arriscar a qualquer esforço.
Deslandes era escultor, artista comissionado por galerias até noutros países, mas ultimamente não tinha apresentado novas obras; falava-se de que ele estaria com falta de inspiração e que não produzia nada há meses por ser incapaz de ultrapassar esse bloqueio.
Quando finalmente em casa, Pedro retirou as ligaduras que lhe tinham acabado de pôr no braço convalescente, porque lhe lembravam as múmias e artefactos em barro entrapados, pertencentes a uma escavação egípcia, que estiveram no museu onde trabalhou quando era mais novo.
Pediu, então, à amante da ocasião, que por conta do sucedido teria alongado a sua presença em casa dele, que lhe ligasse o braço junto ao peito com um lenço que ele mesmo lhe passou para as mãos. "Que toque tão suave", disse ela e ele respondeu apenas: " Pura seda, o melhor dos tecidos." Depois de ter feito o que Pedro lhe pediu, e quase colocando um pé do outro lado da fronteira, no território do carinho, que era tacitamente proibido entre eles, recompôs-se e disse: "Adeus, espero que melhores rápido", com um encostar de bochechas, apartou-se, e fechou a porta.
De imediato, Pedro Deslandes, pensou naquela despedida dela, em como o leve embate das suas bochechas foi para eles a despedida possível; em como há pessoas que chegam juntas, caminhando pela mesma rua, até a uma esquina e aí, só aí, cada uma delas vai à sua vida.
Porque é que as esquinas são propensas a despedidas? É porque a sua geografia exige que as pessoas sigam caminhos diversos? E por que esperam elas, depois de caminharem toda a rua juntas, para chegarem a uma esquina para se despedirem?
Pedro Deslandes era escultor e viu no seu embate numa esquina, toda uma panóplia de imagens e conceitos por explorar. Teclou notas sobre elas com a mão esquerda, no computador. Passados dias, Pedro já tinha o seu braço sarado e pôde finalmente começar a tirar partido das ideias geradas pelo infortúnio que sofrera.
Agora, criava figuras humanas, frágeis, à lembrança de Giacometti, umas gigantes e outras menos, divididas em esquinas. Todos os artistas comentavam o regresso prolífico de Pedro Deslandes às esculturas e, com sucesso. "Geniais", aflorava já a crítica, e claro, alguns não se continham e, jocosamente, ouvi falarem entre si: "qual inspiração, desloquem-me mas é o braço!", ao que alguém respondia: "vai esperar para uma esquina!".
Às vezes já me chateiam, estas coisas dos poemas, ou sei lá mais o quê, às tantas da manhã, depois de já me ter deitado há muito, forçar-me a abrir as pestanas e com olhos doridos escrevinhar minúsculas e corridas letrinhas, só porque já gritava muito alto o poema, ou sei lá mais o quê, na minha cabeça que só queria era parar e dormir como as pessoas normais.
quinta-feira, fevereiro 18, 2010
Hoje visitei o mundo....
Hoje visitei o mundo
e ele não estava tal qual o tinha deixado.
As pessoas pareciam produtos de supermercado,
com prazo de validade, cores garridas e consumíveis.
Pessoas-garrafas, pessoas-latas, pessoas-frascos,
todas elas embalagens em vácuo
para uma melhor conservação.
Não fui às compras. Não comi nada.
Apenas fui visitar o mundo e ele serviu-me chá,
"de camomila ou hortelã?", quente,
porque estava muito frio lá fora.
No fim do dia, visitei as cores do ocaso,
veios rosa profundo num azul que entardecia.
O meu corpo envolto num manto de lassidão
e no entanto, já não sentia mais o frio nem o quente.
Acho que à medida que calcorreava o empedrado,
naquele fim de tarde, no regresso, o tempo parou.
Eu também fiquei imóvel depois de já não sentir qualquer brisa,
e pude absorver o que me rodeava e entender que o mundo,
o mundo das pessoas agora embalagens, mudou.
e ele não estava tal qual o tinha deixado.
As pessoas pareciam produtos de supermercado,
com prazo de validade, cores garridas e consumíveis.
Pessoas-garrafas, pessoas-latas, pessoas-frascos,
todas elas embalagens em vácuo
para uma melhor conservação.
Não fui às compras. Não comi nada.
Apenas fui visitar o mundo e ele serviu-me chá,
"de camomila ou hortelã?", quente,
porque estava muito frio lá fora.
No fim do dia, visitei as cores do ocaso,
veios rosa profundo num azul que entardecia.
O meu corpo envolto num manto de lassidão
e no entanto, já não sentia mais o frio nem o quente.
Acho que à medida que calcorreava o empedrado,
naquele fim de tarde, no regresso, o tempo parou.
Eu também fiquei imóvel depois de já não sentir qualquer brisa,
e pude absorver o que me rodeava e entender que o mundo,
o mundo das pessoas agora embalagens, mudou.
sexta-feira, fevereiro 12, 2010
Dá-me o meu sangue de volta
Dá-me o meu sangue de volta.
Dá-me o meu sangue de volta!
Já não há os contos perenes da Rosa
nem os risos infantes do Viegas,
já não há as cantigas resistentes do Zeca
e dos dizeres do Ary,
nem a calmia da guitarra do Paredes.
Dá-me o meu sangue de volta,
dá-me o ar, a respiração:
já não há a intrincada pintura da Vieira da Silva
nem os poemas crus e mansos do Cesariny.
Dá-me de novo o meu peito,
o lugar onde batia o meu coração,
pois já não há da Florbela a sofreguidão,
nem os delírios filosóficos de Pessoa.
Traz-me de volta o meu sangue,
o seu pulsar, a sua cor,
as vísceras do meu ser.
Chupa Godinho, Palma e Branco,
e transfusa Pimenta e Herberto,
pois já não há a dor de Al Berto,
mas ainda há o pranto do hugo-mãe.
Dá-me o meu sangue de volta,
dá-me o meu sangue de volta...
neste meu breve amanhecer.
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quinta-feira, fevereiro 11, 2010
A solidão do mar de uma folha em branco
Nunca fiquei tanto tempo a olhar para uma folha em branco, sem conseguir escrever nada nela....
É da solidão que me trai, porque não me engrandece como muitos dizem que é suposto, no seu templo edificante; mas sim diminui-me, transforma-me em nada, reduzindo-me à minha própria insignificância perante o Universo e arredores. Eu, um ser mortal, imperfeito e vulnerável, como todos os outros milhões deles neste planeta, no mínimo, estranho. Sim, as pessoas não detêm qualquer estranheza, ou mesmo mistério em si mesmas, mas sim o mundo à volta delas; aquele que por tantas vezes é esquecido, encerra paisagisticamente uma estranheza incomum. Deviam todos olhar mais vezes em todo o seu redor.
Já alguma vez tocou-te na consciência, várias vezes num dia, que estavas só? É, as pessoas verdadeiramente não o sabem. Considero uma dádiva (seja lá de quem for) sentirmo-nos em paz, em pura calma, com a certeza de que é impossível estarmos mais seguros, tendo o mundo desvanecido como se estivéssemos num plano etéreo. Penso que esta sensação global de preenchimento é capaz de surgir quando encontramos a pessoa que pensamos que vamos amar para sempre. É bem capaz.
Já faz um tempo que me demiti de mim mesma , fiz uma pausa para me tornar noutrém. Sempre vale a pena tentarmos ser condescendentes connosco mesmos. Nem se aplica apagarmo-nos ou substituirmo-nos, mas sim pegarmos noutra pessoa de dentro de nós e fazermos dela nós mesmos, por mais ou menos tempo que dure, sempre sabe bem variar. É um “Kit-Kat” que nos aplicamos.
Neste processo, podemos perder o controlo sobre aquilo que sabemos que realmente somos e, para evitar isso, há sempre o mar. Mais propriamente o mar da Ericeira. Tudo em redor dele pode-se alterar, mas ele, apesar de inconstante e de incansável, mantém-se sempre o mesmo. O mesmo cheiro envolvido em misteriosa neblina, a mesma imensidão, o mesmo poder esmagador sobre o nosso respirar, a mesma revoltada quietude de alma. As nossas vozes não alcançam o mar, mas os nossos pensamentos são telepáticos com ele.
Todo aquele mar e por vezes não me lava a alma...
É da solidão que me trai, porque não me engrandece como muitos dizem que é suposto, no seu templo edificante; mas sim diminui-me, transforma-me em nada, reduzindo-me à minha própria insignificância perante o Universo e arredores. Eu, um ser mortal, imperfeito e vulnerável, como todos os outros milhões deles neste planeta, no mínimo, estranho. Sim, as pessoas não detêm qualquer estranheza, ou mesmo mistério em si mesmas, mas sim o mundo à volta delas; aquele que por tantas vezes é esquecido, encerra paisagisticamente uma estranheza incomum. Deviam todos olhar mais vezes em todo o seu redor.
Já alguma vez tocou-te na consciência, várias vezes num dia, que estavas só? É, as pessoas verdadeiramente não o sabem. Considero uma dádiva (seja lá de quem for) sentirmo-nos em paz, em pura calma, com a certeza de que é impossível estarmos mais seguros, tendo o mundo desvanecido como se estivéssemos num plano etéreo. Penso que esta sensação global de preenchimento é capaz de surgir quando encontramos a pessoa que pensamos que vamos amar para sempre. É bem capaz.
Já faz um tempo que me demiti de mim mesma , fiz uma pausa para me tornar noutrém. Sempre vale a pena tentarmos ser condescendentes connosco mesmos. Nem se aplica apagarmo-nos ou substituirmo-nos, mas sim pegarmos noutra pessoa de dentro de nós e fazermos dela nós mesmos, por mais ou menos tempo que dure, sempre sabe bem variar. É um “Kit-Kat” que nos aplicamos.
Neste processo, podemos perder o controlo sobre aquilo que sabemos que realmente somos e, para evitar isso, há sempre o mar. Mais propriamente o mar da Ericeira. Tudo em redor dele pode-se alterar, mas ele, apesar de inconstante e de incansável, mantém-se sempre o mesmo. O mesmo cheiro envolvido em misteriosa neblina, a mesma imensidão, o mesmo poder esmagador sobre o nosso respirar, a mesma revoltada quietude de alma. As nossas vozes não alcançam o mar, mas os nossos pensamentos são telepáticos com ele.
Todo aquele mar e por vezes não me lava a alma...
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