Será que é porque as suas vidas são completamente chatas e por isso agarram-se às vidas dos outros, como espectadores de telenovelas, como tantas vezes se supõe? Ou, por outro lado, as suas vidas são tão más que fazem das vidas dos outros um escape, talvez numa sede de exaltação e do espectáculo de entretenimento?
Era de se pensar que por observação aprendessem algo, mas também não me parece que fiquem atentas às vidas alheias com esse objectivo e nem sequer retirando esse benefício.
Quero pensar que, por mais que o ser humano tenha a sua natureza pérfida, não fique a vigiar a vida do vizinho apenas para se regozijar com as eventuais desgraças para se compensar pensando que a "erva no jardim do vizinho" já não é tão verde quanto a sua. Embora, de facto, veja e oiça constantemente as pessoas reagirem perante a desgraça alheia imediatamente com uma comparação do género "já viste, ao menos nós estamos melhor" ou "antes eles do que nós" - esta última irrita-me particularmente. (E é provável que começarei a dizê-la, caso tenha oportunidade, quando me vierem "fofocar" boas notícias de outros. "Não-sei-quem ganhou o Euromilhões!" e eu direi: "Antes eles do que nós!", a ver como é a reacção obtida. Na verdade sempre que me vinham contar algo bom ou normal sobre alguém sempre dizia "olha, parabéns para eles", de modo que não será muito diferente.)
No caso das "vidas boas" que por exemplo muitas celebridades espelham na Imprensa e as pessoas consomem avidamente, devo ainda questionar: além da inveja, ou dos que ainda mais criticam, será apenas o pobre "zé povinho" a perpetuar aquilo que já era prática nas monarquias da Idade Média de acompanhar ao máximo as "cortes reais" para as imitar no que podem, aspirando (sonhando, claro) a uma elevação social e a uma melhoria de vida? E até que ponto isso funciona como motivação para que essa dita camada de posses reduzidas tente - por que meios, depois se verá - alcançar um status superior?
É claro que também os há doutrinadores, sejam católicos ou não, que têm a mania que podem intervir a toda a hora, assim que testemunham algum acontecimento na vida de outrem, para despejar pérolas de sabedoria em cima de quem não as pediu, muitas vezes apenas porque já estão habituados a fazê-lo, pois tanta é a frequência com que o fazem, e sempre pensam que estão a ajudar (não vá, como bónus, isso resultar num lugarzinho no céu, ou ainda antes numa redenção terrena).
Seja por causa de presunção, inveja, aborrecimento, tentativa de se integrar (tal é a prioridade do sentimento de pertença que o ser humano estabelece, de que Maslow falava), curiosidade ou simplesmente pura estupidez, não tenho qualquer apetência para o que quer que seja que esteja relacionado com a vida alheia e é apenas mais uma daquelas coisas - tal como muitas no ser humano societal - que não me faz sentido algum.
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