O quão triste é o homem que perde a sua dignidade,
esse bem maior que sustenta a sua coluna vertebral
desde física até moral
e que nunca nada, nem ninguém, deveria arranhar?
O homem que é traído e ainda assim se verga
permanece ao lado da amante que o traiu
e com outro dormiu
como se o facto de o primeiro ser diferente
e ter características que não a satisfaziam
ainda lhe dessem razão e justificação
para tamanho acto ignóbil de traição...
Ainda por cima o homem traído
ficará para sempre com aquela sensação
de que era insuficiente e por isso tudo aconteceu
como se isso fosse a maior e inalterável verdade
quando na realidade é o acto mais vil da humanidade
pisar o outro de tal forma a fazê-lo sentir-se microscópico
pó de pó e ainda pior, um pó sujo.
O que nos aconteceu para um dia
termos sequer cogitado essa ideia,
embora eu não tivesse tido o mesmo infortúnio
e ainda bem, porque conheço-me suficientemente
e aos outros para saber o que a casa gasta.
Da indignidade não devia rezar a história,
devia ser eliminada pela certeza de que já tudo acabou
e que os tempos mudaram e as pessoas traídas também.
Ainda assim dá dó pensar que o ser humano é capaz
de fazer essas atrocidades também a outro
e sair incólume
ainda que por vezes marcado para sempre,
mas quero pensar que a vida também nos faz esquecer
e entender o quão jovens todos fomos um dia
com os nossos cérebros de ímpetos erróneos.
Da dignidade se erguem fortalezas e templos,
e assim será.
(espero esquecer um dia aquele breve momento em que não fui digna comigo mesma)
quarta-feira, julho 28, 2021
Da Dignidade
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