quarta-feira, julho 28, 2021

Da Dignidade

 O quão triste é o homem que perde a sua dignidade,
esse bem maior que sustenta a sua coluna vertebral
desde física até moral
e que nunca nada, nem ninguém, deveria arranhar?

O homem que é traído e ainda assim se verga 
permanece ao lado da amante que o traiu
e com outro dormiu
como se o facto de o primeiro ser diferente
e ter características que não a satisfaziam
ainda lhe dessem razão e justificação 
para tamanho acto ignóbil de traição...

Ainda por cima o homem traído
ficará para sempre com aquela sensação
de que era insuficiente e por isso tudo aconteceu
como se isso fosse a maior e inalterável verdade
quando na realidade é o acto mais vil da humanidade
pisar o outro de tal forma a fazê-lo sentir-se microscópico
pó de pó e ainda pior, um pó sujo.

O que nos aconteceu para um dia 
termos sequer cogitado essa ideia,
embora eu não tivesse tido o mesmo infortúnio
e ainda bem, porque conheço-me suficientemente
e aos outros para saber o que a casa gasta.

Da indignidade não devia rezar a história,
devia ser eliminada pela certeza de que já tudo acabou
e que os tempos mudaram e as pessoas traídas também.

Ainda assim dá dó pensar que o ser humano é capaz
de fazer essas atrocidades também a outro
e sair incólume
ainda que por vezes marcado para sempre,
mas quero pensar que a vida também nos faz esquecer
e entender o quão jovens todos fomos um dia
com os nossos cérebros de ímpetos erróneos.

Da dignidade se erguem fortalezas e templos,
e assim será.

(espero esquecer um dia aquele breve momento em que não fui digna comigo mesma)

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