sábado, julho 30, 2022

Delapidada

 Agora entendo que no fundo nunca me deram valor pelo que sou, somente pelo que contribuí ou dei "de mim". É uma das coisas contraditórias ou não fosse eu sempre a contradição, como a minha mùsica favorita de Iguinho. 

Fui delapidada sendo gema, sovada a água, ondas rafeiras com impurezas estrangeiras. O meu amor de antes, o maior deles, é que nunca me deixou completamente senão quando eu agora mostro-me ausente. 

Fui à procura do poema que ele escreveu para mim daquela vez, tão bonito, o mais bonito que alguma vez me deram escrito especialmente para mim. Ainda nem nos tínhamos encontrado pessoalmente e já éramos completamente um do outro. Fi-lo sentir mais vivo que tudo, dizia ele, mesmo na distância. 

Hoje apercebo-me de que talvez tenha isso mesmo em mim, porque já tantas pessoas me disseram que eu dou vida a elas e que significo vida, mesmo agora que factualmente sou mais morte. 

É estranho para mim isso, sempre foi. 

Talvez actualmente, a quem dei o meu amor totalmente, e na verdade me detesta e me destrata, seja o único que me veja apenas como morte, quando lhe entreguei até o meu resto de vida. Nem tem de se preocupar mais porque não arrastarei ninguém comigo, tal como nunca quis. 

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