SE ISTO NÃO É DEPENDÊNCIA EMOCIONAL É O QUÊ, "CARAI", NÃO AGUENTO MAIS. 

Falta

 Faltou-me fazer o teu retrato 

Agora sozinho

Sem ela ao teu lado

Faltou gravarmos o vídeo 

a cantarmos para lhe enviar

aquela nossa canção 

"How I wish you were here"

Quantas vezes me dirão?

Faltou eu em vez dizer? 

Inconcebíveis acasos

 Se todos somos inconcebíveis acasos

Porque é que eu e tu somos assim?

 Esboças um plano de vôo

Quantas vezes fizeste

Só para desenhar sonhos

E aterrares em ilusões 

...

Nunca saberei

 Talvez eu nunca tenha sabido que tu me amaste e que me desejaste tanto quanto eu

Um dos maiores presentes e tesouros que alguém pode ter é alguém nos escolher só a nós, com a maior das certezas, por todas as razões certas. Se encontrares isso totalmente não percas.

Sina

 Águas do meu pensamento 

Mormente turvas

Onde nadaram três peixes 

Dessa religião secular

Os que mais amei 

E que mais me deram

Cabo do coração 

E eu pertenço à raça 

De quem os expulsou 

Carreguei esse destino 

Sem saber sequer 

E sem acreditar 

E no meio de tanta aleatoriedade 

Há coisas que têm uma força 

E que causam tanta contrariedade

(escrito há uns poucos dias)

Disfarces

 Quem usa disfarces é muitas vezes para mascarar o que se é, ou porque não se sabe quem se é. E depois há aqueles disfarces que se usa para se enaltecer quem se é, como se fosse um uniforme de trabalho na sociedade. 

Dada a minha complexidade, eu uso muitos tipos de disfarces que não ocultam quem sou, mas ao contrário, sublinham partes de que sou. As pessoas geralmente gostam dessas partes logo à primeira vista, outras invejam-nas, cunham-me de inesquecível. 

Parece soberba, mas é apenas um relato de uma recente constatação para a qual ainda não entendi completamente a explicação. 

 Um dia, o teu nome há-de parar de ser o tal de um "acto falho" do meu pensamento e, nesse dia, eu vou ficar feliz. 

 Um beijo é um cadeado que prende alguém amado como se fosse uma promessa que enterneceu.

Equilibrium

 Gosto de homens com lábios grossos,

mas não demasiado grossos,

assim como gosto das suas mãos finas,

mas não demasiado finas.

E não, isto não tem só a ver com anatomia.

Onde vou? A nenhum lado sem tu me buscares

 Resto sombra que passa e nada mais

e a tua que me enlaça onde jaz?

Pedem-me todos que vá à tua terra

e eu se pudesse já tinha ido

a todas as terras longe onde me chamam 

mas talvez todos apenas me enganam

quando me dizem que lembram de mim

mentira, sei que sim que lembram

mas não é mesmo de mim assim

depois de tu me teres acontecido 

nunca mais fui quem era

voltei a morrer diariamente 

sem esperança de quem espera

oiço um batucar e penso

persegue-me o teu olhar

nunca é mais o mesmo

já não serve para me guiar

sei que ainda não é o tempo

e sinto sempre que te perco

cada vez mais 

embora finja para mim que aguento

não sei até quando serei capaz 

Da Música

 Dizem que a Música é divina,

que é soprada pelos deuses

para os homens 

eu vi-os transformarem em fórmulas 

e escreverem-na em pautas 

e desacreditei dessa teoria

O amor é a maior falácia que existe

 Eles os três não gostam de mim, é o que quase sempre senti e o que fizeram apenas comprovou. Ele, então, foi das pessoas que pior me fez, inclusive acho que chegou mesmo a desejar a minha morte, assim como ela. Será sempre a pior coisa da minha vida, esses dois, que amei tanto e que me maltrataram da pior maneira que conseguiram. Ainda fiquei a vida toda à espera, feito estúpida, que um dia melhorassem nisso tudo. 

Sentir-te

 Apercebo-me só agora de como talvez fosses a única pessoa até hoje que parecia que eu sentia sempre o que estava a sentir, assim mesmo, sem ver sequer. Realmente só podia ser uma loucura do meu cérebro, com a tal empatia neurótica exacerbada, ainda mais com essa probabilidade raríssima; daí ter-me parecido tudo demasiado doido para eu conseguir aceitar. 

(todos me disseram para te esquecer. eu nunca consegui. não sais de mim, estás demasiado entranhado e quando a escuridão maior regressa, regressas tu com toda a tua presença ainda mais agarrada ao esqueleto que resta hoje em dia de mim

e olha que estúpido: às vezes, raramente, vem à cabeça "ah, já esqueci", como se só isso já não fosse lembrar. acontece destas coisas a toda a gente, imagino. e ainda penso "um dia eu esqueço, assim como toda a gente esquece toda a gente.)

Istmo

 Sacrificas o conteúdo pelo ritmo

Não sabes que o silêncio é istmo

Para os saltos da música da vida 

Que crias para fugir à despedida 

Entorpece o som, meu amor

Acaba com essa gota de suor

Que isso não é nada melhor 

Do que assumir sentir a dor

Estão sempre a falar em pontes

Em simulacros de unidos horizontes 

Como se não existisse competição 

E olimpíadas fossem ganhas por um anão 

Não é isto nem aquilo

Não sei nada, é tudo confusão 

O mundo em que ninguém está tranquilo 

E está tudo só a pensar no seu quinhão 

 Entre as dores, temores e todos os horrores ,

não sobro eu.

Saudade é uma doença crónica

 Anteontem à noite, bateu uma saudade de alguém a quem ia dizer mas não o fiz porque senti que não podia, ora porque não sabia se a pessoa está com alguém, ora porque não queria que pensasse que eu estava interessada em estar fisicamente envolvida. Aí, claro, pensei de novo em ti e percebi outra vez como é mesmo chato não poder dizer a alguém o que se sente, e logo eu que nunca deixava de dizer. 

Nunca mais me pus a ver-te que é para poder esquecer-te, como se isso fosse resultar assim. Nem consigo sequer. Faz-me logo nervos quando há sequer a hipótese de haver esse susto. Eu não sei totalmente explicar como é que foi possível que não gostando de ti e tu irritando-me, ainda fui amar-te tanto assim e sentir tudo o que senti. Além de ir passar a vida a sentir uma saudade única de ti. 

Tenho dito

 A sociedade diz que eu sou sozinha:

que não tenho marido, colegas, família;

então pela primeira vez sentei-me só 

com a minha suposta solidão 

e tentei olhar para ela, a fundo

sem desviar a atenção 

permaneci na duração deste escrito

e quanto mais reflicto 

nada mais sinto senão a certeza 

de que só a tenho com essa multidão.

 Fogo, não tenho 

Custa a atear, o medo

Não é um segredo 

Sim, fui corvo

Mas venta a sanha

Não levantei vôo

Deixei-me de façanhas

Agora uma coisa é certa:

Nunca quis estar alerta.

Redenção, o último perdão

 Às vezes, parece que só estou viva para ouvir alguém dizer um dia: "ele não te odeia, ele perdoou-te, houve um tempo em que todos nos amámos muito mesmo, está tudo bem, já passou". Eu ouvi esse "está tudo bem, já passou", de alguém e pensei por segundos que não, não estava tudo bem, nunca mais ia estar, mas também não dava para explicar tudo em pouco tempo. Pensei que essa pessoa sabia do que estava a falar, como disse e repetia, e pronto, não respondi mais, emudecendo, tal é sentir esse pesar. Essa culpa que nunca será absolvida, faz-me lembrar de uma outra pessoa também que tinha um tormento assim com a culpa que sentia. Mesmo quando perdoamos alguém, se a própria pessoa não consegue perdoar-se quase que não serve de nada. A mim bastava-me um telegrama, ou assim, só para eu ficar a saber e ver se surtia finalmente o efeito de me perdoar a mim mesma e a tudo o que se passou sem que houvesse qualquer controlo nem juízo de ninguém.

Pedra Filosofal

 Uns procuram o mel louco

Outros a orquídea fantasma 

E há quem viaje longe

À procura de galáxias anelares

Tudo isso existe

Mas eu procuro o impossível 

O estéreo silêncio

..

 O amor já não existe; o coração continua, todavia. 

(adaptação da frase de Van Gogh, "o moinho já não existe; o vento continua, todavia")

 Arteira, artista, artolas...

Todas as sombras

 foram criadas pela luz.

 Há um ritmo dentro de nós 

uma bateria

e quando estamos a sós 

desconfio que somos 

nós os dois uníssonos 

Não quero pensar

 Não quero pensar que um dia vou morrer e não cheguei a estar contigo, parece a maior barbaridade. Hoje só de ver o teu nome ali sorri de imediato. Independentemente de tudo, como negar o facto? 

Se com ele encontrar já foi o que foi, nem dá para imaginar contigo. Tu, a minha menina-mulher de todas as meninas-mulheres que há no mundo. No fundo o amor continua como um vulcão em ebulição a cada segundo. Trata-te bem, amor meu, sim? A verdade é que um dia já nos fundimos tanto que não soube mais o que era de mim. 

Eu soube sempre

 Quando estava a viver os momentos de maior felicidade da minha vida, eu soube e quando estava a viver os piores também. Nos primeiros, eu disse que "queria que o tempo parasse, podia ficar assim para o resto da vida", "podia morrer agora, que morria feliz"; nos segundos, lembro pensar que "eu nunca mais quero passar por isto na minha vida". 

Ser hiper consciente tem destas coisas. Vive-se tudo o que vai sucedendo à medida que sucede. A maioria das pessoas não é assim Só se apercebe de que foi muito feliz depois, ou só sofre mais tarde com as coisas que ignora. Por isso, quando acham que vivem e sabem viver e aproveitar o momento, ao contrário de mim, eu tenho francamente vontade de rir, ao mesmo tempo que fico calada com a minha indignação sobre o que acabo de ouvir. E eu lembro desses momentos da minha vida, não os esqueço e desconheço como os demais que acham que viver e ser feliz é sentir prazer na altura e pronto. Para mim essas pessoas quase que é como os alcoólatras que bebem e entram em coma alcoólico. Grande vidinha a deles. Parabéns.

 sou a perfeita tragicomédia para a qual ninguém pagou bilhete. 

O que é que queres saber?

 Se lembrei de ti todos os dias e a cada respirar como me faltasse o ar por não te ter? 

Distância

 A distância que existe entre duas pessoas é o esquecimento, a saudade deixada num canto, largada até passar, é a mágoa da indiferença e o amor a acabar. Mesmo que haja quem guarde, mesmo que haja quem lembre todos os dias como uma vontade e um exercício de prece diários porque a pessoa é-nos de extrema importância, mesmo que se sinta que faz parte de nós de tal forma que está sempre presente, é tudo uma ilusão forçada da mente. 

 É um amor maiúsculo, este de se amar a própria companhia mais do que a de qualquer outro.

 Ninguém doma uma mulher selvagem como eu; no máximo, acalma-a um instante com a sua lira de Orfeu.

 coração de rock, mente jazzística, alma fadista

Encontros para quê?

 um dia desses eu acedo a encontrar contigo 
mesmo sabendo que é um perigo 
na verdade não queria encontrar-te

trauma de tuas mulherzinhas ciumentas
é o que também me tira qualquer vontade 
simplesmente não vale a pena isso tudo
só para encontrar alguém do passado

cavalos brancos no céu

 ontem havia cavalos brancos 

a cavalgar no céu 

"wild horses couldn't drag me away" 

quando mais uma vez te digo adeus

apareces de repente na história alheia 

vêm falar de ti e fazem brincadeira 

tu não gostavas dessas coisas 

lembro

mas de vez em quando dizias que sim

só para manter as aparências 

e na verdade nem tu sabias

do que estavas mesmo afim

era aquele querias

mas não tanto assim

mas a tua vontade fala

e os teus medos cala

ou não fosses tu quem comanda

esses cavalos brancos que estão no céu 

filha do vento e da tempestade

 sempre soubeste que eu era feita de vento

a brisa cálida que te envolvia

atenta a tudo o que mexia

a folhagem que bailava ao cair

o marulhar que bulia

sempre soubeste que eu não existia

que nenhuns olhos me podiam ver

sempre soubeste 

porque é que demoraste tanto 

a deitar-me fora, a deixar-me ir?

hoje eu sei que "dependência emocional 

abre fendas para espíritos obsessores"

antes não sabia

mas desde o início sempre quis-nos livres

um do outro 

porque já sabia que nós fomos malditos

acredito sempre que toda gente é alegre

e ficará muito bem depois de me ter e perder

tu não foste excepção 

e eu sabia que não havia outra solução 

Pigmento

 Quero ser o pigmento incolor 

translúcido 

cujas moléculas cristalizadas

não se acoplam com corante

eu quero ir avante

sem nada nem ninguém 

a arrastar-me pela tela da dor

só lúcido 

com as páginas esvaziadas

Agora eu sei a quem eu pertenço

 Eu pertenço a mim mesma.

o moinho do tempo 

triturou as minhas memórias 

como se fossem grãos de história 

que se foram embora 

da parte de cima da ampulheta 

e fiquei às vezes a conversar 

uma frase ou outra contigo 

apenas mentalmente 

não sei quanto mais demora

essa glória de ainda lembrar 

do que foi bom e bonito e do bem

mas imagino que não falta muito 

para as velas do moinho pararem

e tudo desligarem

Um amor delicado

 Espero a rara ternura

que se tem num longo abraço 

a fotografia que dura

ultrapassando o cansaço 

Vislumbro um céu raiado

com mil cores num compasso

no afago de uma noite escura

depois dormir no teu regaço 

Vivo nessa antiga ilusão 

de que o amor é uma canção 

que Primavera traz na utopia

Mas será que chega um dia? 

o teu nome

 porque é que o teu nome não sai da minha boca 

nunca o digo, já 

o vento não o levou 

não o arrancou ainda do meu peito 

o.teu nome 

para mim já não tem jeito 

quando quero pensar noutro

nenhum sai direito

vem sempre o teu ao pensamento 

 Isto de precisar que alguém nos salve numa sociedade em que ninguém quer saber de ninguém, é muito triste. 

 Esquecemos os detalhes 

Ficamos com as sensações 

Como foi por exemplo dar-lhes

Tantas emoções 

Voar de novo

Queria muito tentar. A minha ilusão regada a desespero volta e meia me diz coisas assim... Pode ser que o meu corpo faça um reset milagroso, que cada poro seja inundado de amor e nada mais me possa atingir. Contra todas as probabilidades e mesmo estando tão mal, tão fraca, agora com os pulmões a doer.

Mas a verdade é que hoje nem vi o sol, estive maioritariamente deitada na cama a lutar para adormecer. 

Odeio estar viva ainda mais nestas alturas. Estar doente e não ter respeito nem ajuda, só violência e stress à minha volta. Querer morrer só para não ter de viver assim aqui presa sem solução e tudo o que sempre tentei correu mal. 

A realidade é essa, sempre foi e contra os factos instalados e omnipotentes da devastação nunca o meu coração pôde nada. Voar é só uma ilusão que, como as outras, dói. 

Dizem que quando morremos há a alma que parte do corpo; talvez eu aí voe de novo.

 Alguns artistas são seres um tanto egóicos, que têm como efeito colateral alguma solidariedade para com o seu público.

 Um dia vem me buscar, leva-me contigo para onde for.

(vem depressa, meu amor)

 Quis matar um grande amor porque ele sufocava, mas esqueci de que do seu ar precisava. Eu morri, mas ele continuou. 

 Calhou ler uns poucos escritos daqui e acho que foi a primeira vez que pensei: eu já escrevi tanta coisa bonita, meu deus!" 😊👌🏾🙏🏾

Quem te tornou na tua melhor versão?

 Estava aqui a pensar em como não gostei muito da minha versão nem com pessoas que me tinham como a mais inteligente e que tinha de tomar as rédeas às coisas, nem quando estava com uma pessoa a quem abdiquei o controlo porque pensava que podia confiar na sua inteligência. 

Era bom que houvesse um meio termo. Vendo bem, acho que contigo era sim, ora tu mandavas em mim quando eu precisava, mas também me escutavas um pouco no que era preciso. Talvez por isso viva com esse amor por uma ideia de alguém que num momento era tudo para mim, sem precisarmos de fazer nada. Houve um momento em que era bom, não houve? Em que havia um certo conforto e alívio do dia-a-dia por saber que existiamos na vida um do outro, como dava. 
Houve inclusive muitos momentos em que eu gostei do que eu era para o que era preciso. Se não fosse o meu conflito mental pela questão da liberdade, não teria sequer atrofiado por causa dessas coisas. Tudo estaria bem na altura como estava. É bom ter evoluído no meu conhecimento de mim mesma, entretanto e saber melhor tudo o que se passa e passou. 

É, a minha melhor versão é contigo porque de toda a gente só tu pareces saber quem sou. Contigo eu fico mais simples, tudo é mais intuitivo e certo, sem ser quando duvidei por ser tudo tão confluente. É, talvez tenha mesmo juntado em ti tudo o que queria para mim. Mesmo depois de tudo, ainda fiquei uma melhor versão de mim por causa de ti. Obrigada, sempre.

Clique

 Estamos à distância de dois cliques, que nunca darás. Por que é tinha de ficar tão complicado?

 vai-te embora de vez

do meu pensamento 

da minha vida 

do meu coração 

desaparece

leva contigo todo o mal

que quase sempre me desejaste

xô

 xô idiota

xô patriota

xô agiota

xô pelota

xô marmota

Que vida!

De tantas vidas que ouvimos falar, é como se elas pudessem ser agrupadas por certos caminhos e eventos similares. Nunca ouvi falar de uma vida parecida com a minha, porém. Não falo somente das doenças raras, não, pois logo aí já se reduz a probabilidade de saber de alguém parecido. Falo antes da mortes a começar pela do Marco aos seis anos e depois todos os que tiraram a vida. Mais a vida inteira de levar com a escravidão, violência, traição, abandono, vícios e stress das pessoas que eram suposto cuidar de mim. Mesmo eu estando tão doente continuarem a lixar-me a vida toda. 

Nesta altura da vida, tendo passado por tanta destruição, eu só queria que toda a gente que pensou em mim mal e desejando-me coisas más, morresse em vez de todos os meus familiares que morreram nos ultimos oito meses. 

Dizem que "a vida dá muitas voltas" e eu só queria que ela parasse de me dar a volta, mas sim começasse a trazer-me coisas boas, desse uma volta para melhor e me livrasse de uma vez por todas de toda a gente que me faz mal. 

sensível simmm!

 se eu não tivesse o problema de saúde de hiperadrenalismo, eu até não tinha parado de me envolver tanto e mesmo assim ainda me deixo ir muito de vez em quando nalgum inevitável turbilhão de afecto. 

por ter observado os outros desde cedo a sofrerem e complicarem porque não diziam quando gostavam de algo ou de alguém, nunca me dei a joguinhos. a vida é demasiado curta para não se dizer o que se sente e viver acumulando nós na garganta. é preciso coragem. eu sempre "enfrentei o touro pelos cornos", ou não fosse um fruto da península ibérica 😅 eu quase que tenho pena dos insensíveis, dos medrosos, dos que passam a vida a conformarem-se. os embrenhados em rotinas, com visão toldada e sem pelo menos terem instantes de maravilhamento. a vida é só uma e eu lutei tanto contra ponta de faca que mesmo toda rebentada e já sem poder fazer grande coisa, posso dizer que arrisquei a vida por todos e por puro amor, tive momentos de pura magia e conexão profunda, completamente sem máscaras, que já valeram para a vida toda. ❤️ basicamente, acho que essa gente que diz isso da sensibilidade tem é inveja, pronto, nunca saberão o que é sentir realmente a vida no seu mais essencial cerne. pena que muitas dessas pessoas têm filhos a quem vão passar isso também, mas como tudo se alterna e há muitos ciclos, pode ser que muitos desses rebentos cresçam e não percam o espanto. 🤞🏾

(suscitado por causa de um reels no insta, q falava sobre isso de chamarem de sensibilidade demais)

Ser verdadeiro

 Ser honesto consigo e com os outros é ser revolucionário numa sociedade doente em que todos mentem, todos foram formatados para a competição, para as aparências e para serem melhores do que o outro nessas coisas impostas pela sociedade que escraviza os indivíduos. 

Se todos começarem a abraçar quem são e o que sentem, toda a sociedade evolui para melhor e cura as profundas e obscenas maleitas de que padece e que fazem a morte de todos enquanto comunidade.

 Enquanto chovem diamantes em Júpiter 

Eu só queria ir ao Alentejo ver estrelas 

Mas não há ninguém com quem possa vê-las

 Trago-te em mim

como penas caídas no coração 

e dos infinitos "se" 

só dos teus não abro mão 

detenho-me de pensar:

não sentes a minha falta 

não te lembras de mim

não grita o teu ser pelo meu?

o vento ou apaga o fogo

ou o atiça mais

será que o que sinto por ti

jamais se desfaz?

Menino da Lua

 O meu coração é translúcido 

E talvez reflicta a tua imagem 

Enquanto ela atravessa-o

Com o brilho do teu olhar 

...

sinto falta de ver esse brilho

recordo-me nitidamente 

menino da lua sorrindo

à medida que eu o via

e o céu se dobrava de cansaço 

Hoje ela é só um fio a brilhar 

vejo-te deitado nela 

só a te encostar

e era só contigo 

que eu me queria aninhar

 "Cada um sabe de si" (nem por isso), mas não sabe o suficiente do outro e depois dá sempre porcaria. 

Poetas R'Us

 Harris dizia "para quê?"

Prado dizia "por que não?"

eu já fui como eles

mas dou sempre por mim

a perguntar "porquê?"

Pauta

 Suspensões|Contrapontos|Delicadezas

Se todos os homens não fossem traidores-desertores, nenhuma mulher os odiaria. 

Vidas Passadas

 Vi o filme Vidas Passadas. Na altura em que saiu não vi, sabia que ia ser forte, então guardei para uma altura em que eu estivesse melhor, menos triste com todos os lutos. É subtil e por isso deixou espaço para o silêncio ser completamente inundado pela dor da memória, da perda, do que foi e não volta mais. 

Lacrimejei nalgumas cenas. Lembrei de um encontro recente, mas também de um antigo e de um que nunca vai chegar, mas que eu tanto quis. Pensei em como sempre soube que somos capazes de ficar com muitas pessoas com quem temos afinidades ou não, apenas atração, mas talvez só há mesmo uma a quem verdadeiramente pertencemos. É disso que se trata, não é? Encontrarmos o nosso lugar, a pessoa que nos faz sentir que pertencemos assim como somos. Ainda assim, porquê esta necessidade de pertença? Não somos pertencentes a nós mesmos? Não temos dentro um mundo inacessível para os demais, mesmo que seja similar a de muitas outras pessoas? 

Pensei de novo que não fazia mal, pois houve um momento em que te tive e já durou por todas as vidas. Pensei em como eles andaram no ferry. Pensei em como ele disse que esta se calhar já é a vida passada da nossa próxima e pensei que talvez já estávamos juntos lá, que já tínhamos estado, que estivemos o tempo todo, e isso explicaria de modo doido o que sempre sinto. 

É no teu abraço que eu me encontro, meu ser mais amado de todos os dias. 

Deixei tanto de mim em todos os que perdi e, por isso, é tão esburacado o meu peito, com vazios de saudades. Aquela vez em que me disseram que nada fazia sentido sem mim e depois quando nos despedimos no aeroporto... Aquela vez com outrem em que sentámos num banco a dizer que achávamos que não íamos chorar ao despedir. O último beijo de alguém antes de eu entrar no autocarro. Depois, tantos anos passados, o culminar de um beijo mais recente que me rompeu uma década, antes de eu entrar num uber. 

Ficou o carinho deles em mim. 

(e o amor maior que não existiu senão para mim, na minha cabeça, no meu coração, na minha alma e na minha barriga, para não dizer que irradiou de todos os meus poros pelo infinito e além...) Mas o que mais ressoará será aquele "também" mudo, que só vi e me apercebi mais tarde, que eu acho que a única pessoa que me tem desde sempre e para sempre disse para mim. É isso que eu quero guardar até ao fim. Não mais a culpa, a dor, a mágoa, o ressentimento, o ciúme, a raiva e ódio. Só o amor que suplantou isso tudo sempre e que foi só por causa de ele não ser concretizável que tudo o resto de pior se deu. Mas, sabes que mais, meu amor? O nosso amor que nunca foi consumado é muito maior do que todos os outros que são e não é somente por não ter sido possível. Ele sempre foi gigante, maior do que o tempo e tudo o que existe. Eu entendo as nossas fraquezas perante a sua grandeza. Continuo contigo, onde quer que estejas.

Dizer o que se sente

 Porque é que não consegues dizer o que sentes? Não é tão forte que saia de ti, que tenhas de dizê-lo cantando e clamando aos quatro ventos? 

Ou será que não tens a certeza? Ou não queres render-te ao sentimento? Ou o que sentes é tão inexprimível que não sai em palavras, nem canções, nem gritos, nem silêncios nem sons? 

Ou o que sentes fez-te mesmo um nó na garganta e te paralisou, tirou-te o ar? 

Já eu, amo-te tanto que nem consegui parar.

 E mesmo que me tenhas esquecido para sempre, não faz mal. Sempre que lembrar de ti vou tentar afastar qualquer dor e ficar apenas contente. 

 Eu não queria morrer sem te ver. Mas provavelmente morreria só de te ver.

Levo o meu barco no mar

 Espero que o rio do tempo dilua as mágoas 

e que os lagos dos teus castanhos olhos

eu possa de novo ver reluzir na transparência 

salto pocinhas

atrevo-me devagarinho 

Como tudo em mim ficou tão mais complicado, nem sei bem dizer

Mas o teu amor é fácil, ele está sempre aqui

e eu amei-te um bocado imaginado

foi o melhor que pude

para que ninguém saísse mais derrotado

Espero que a água que te dei

vire vapor que te entranhe no corpo 

e não queiras jamais que saia de ti

 Guardas-me no pano negro da noite

Bordadas as nossas cicatrizes 

Que ainda sangras de vez em quando 

Só para cultivar o ódio 

Para não deixar o amor exposto

Nas feridas que são tão vermelhas 

Quanto jorrou a nossa paixão 

Até aqui foi uma escuridão tal

Para nos acharmos e iluminarmo-nos

E sei que um dia a estrela-guia

Que fomos um para o outro 

Virá para não estarmos mais sós 

Longe e tão perto como nós 

O nosso amor é o ar que respiramos

Pássaro cantador

 feito pássaro cantador

ele chegou, o meu amor

e todo o céu floriu

com nuvens sorriu

bateu asas e voou

meu coração levou

Se eu ainda o amo?

 Ela perguntou-me se eu ainda o amo. Eu amei-o desde sempre, mesmo quando não sabia que ele existia. Eu amá-lo-ei sempre, mesmo que ele continue a não existir. Porque ele está dentro de mim e também sou muito eu. Ele é o amor que nunca se concretizou. Que não teve princípio nem terá fim. Ele é mais do que a metade de mim. Eu amo-o mais do que tudo, sempre. 

Idealizava o amor

 Até anteontem idealizava o amor, mas finalmente entendi que ele não passa mesmo apenas de um ideal.  Enquanto ardo sendo já cinza que se esqueceu, lembro do ridículo que fui eu. Cada vez menos acertado em tudo o que foi passado, cada vez mais complicado, ao ponto de o cérebro ficar em água. 

De novo recordo que "estamos todos à distância de um pensamento" e de novo penso que "e como é que se sabe se ninguém diz quando está a pensar no outro?". 

Poderás tu alguma vez perdoar-me genuinamente dentro de ti, sem ao te recordares minimamente te dar uma dor e uma raiva tão grande? 

O que fui eu fazer? Eu sei que se calhar até foi mesmo o melhor para ti depois, mas eu se pudesse voltar atrás iria com certeza parar-me antes mesmo. Não posso dar ouvidos a ninguém, porque infelizmente ninguém sabe os factores todos nem sente as coisas na pele o suficiente para as conhecer. 

Idealizava o amor, pensava que ela era a minha pequenina para sempre, afinal ela estava sempre lá, mas nunca lhe dei o valor que lhe devia ter dado. 

O peso da sombra

 e embora ela não tenha corpo

e dele seja a sua ausência,

permanece como pesada foice

pois só ela tem presença 

Eu sou a sombra, a dor, a raiva, a estupidez e tudo o que há de mais patético, que tu ainda carregas, algures no fundo, enterrado como cadáver de um crime hediondo. 

Já se acabou - pensávamos nós. 

Se calhar só acaba se tivermos coragem de olharmos para a ferida quando ela está a jorrar. Se calhar teríamos, para isso, de desenterrar o putrefacto corpo do que foi, o que quer que tenha sido. Os anos dissolvem as memórias. Como as nuvens se vão dissipando no céu até ele ficar azul e já não haver mais memórias. Até haver uma tempestade repentina, forte e fugaz. Nós esperamos sempre que ela passe. Nem sequer ligamos muito à chuva, só nos queimam os raios que nos fulminam o coração e nos ferem os olhos os 'flashes' da memória como um trovão. 

Foi mais uma fase da lua que ultrapassámos.

Maldição

 O que nós nos fizemos. 

(hoje recordaram-me, de novo, como te fiz cruel para mim em forma de canções. eu fiz o que tinha de fazer. e tu também. 

tornei-nos mundanos para que ficássemos como se te fosse como com todas as outras, com o tempo, obliterados.

nunca estivemos enganados.)

"somos dois gritos calados, dois fados desencontrados, dois amantes desunidos"

 Encontrámos juntos um lugar onde nunca morremos:

um nosso abraço.

Nómada

 O coração é feito de uma água nómada,

que corre no peito e se entorna

quando se agita com a mão morna

de alguém que o sabe espremer

e no entanto, por ser encanto,

é fruto que brota de repente 

da semente dormente 

que esse alguém fez crescer 

mas não te esqueças, osso,

terra, carne e chão de doer,

que ele já não é moço 

tem casca dura de roer

e a água que está lá dentro 

nunca seca completamente 

pois tem um dono que é doente 

Vida que rodopia

 O amor, quando se vai embora, leva uma parte de nós com ele, que não volta mais e a que permanece fica mais pobre e mais incapaz. Eu sou feita de saudades de quem foi e deixou em mim a memória do abraço de um carinho intemporal. Tenho em mim a lembrança de um resto, de um certo vazio, dos que me deixaram porque eu sou como sou e não sou alguém que possa ter alguém que a ame. 

A minha urgência, outra vez, em começar de novo, ser alguém que ama alguém como as outras pessoas todas, só existe na minha cabeça pela hipótese renascida de uma faísca de esperança. Mas, a verdade, é que não sei mais bailar essa contradança. Esta vida dá-me demasiadas voltas confundindo tudo e cansa.

Desvio o olhar

 Li algures que "a minha responsabilidade como poeta, como artista, é de não desviar o olhar". Acho que foi assim que procedi a vida inteira, até vocês chegarem. Hoje, desvio o olhar. Mas quando desvio para cima, vejo o céu com os seus ocasionais pássaros e nuvens, lembro que vocês estão lá longe do outro lado, e quando desvio para baixo e vejo os pássaros pousados e as flores, lembro como  enviei pássaros aos meus longínquos eternos amores.

(desvio o olhar das intempéries todas que estão a ocorrer no mundo, quando já não consigo mais)

Auto-estima

 Alguém sabe onde se compra auto-estima? Em forma de injecção deve ser melhor, para ir lá mesmo dentro das entranhas. Apagar todos os erros e falhanços, diluir todos os ranços, aniquilar todas as inseguranças e crenças limitantes tamanhas. 

Talvez então seja melhor e mais permanente uns eléctrodos no cérebro a dar uma reconfiguração valente. 

Não sei. Se soubesse não tinha de perguntar.

Outro Mundo

 Gostava de cinema para sonhar

Porque precisava de outro mundo

Cada vez que este me faz desabar

E mergulhar no abismo profundo 

Antigamente tinha os livros 

Que me salvavam a juventude 

Hoje eles não passam nos crivos

De quem o cérebro corre amiúde 

Amava as histórias, fósseis e pedras

Ninguém existe sem memórias 

E agora é o que mais medras

O tempo da delicadeza

 Há-de chegar o dia a partir do qual eu realmente ficarei melhor de tudo e aí será mesmo no tempo de tu chegares para mim. 

 Talvez as pessoas que nos fazem ter alguma alegria e nos fazem esperançar, mesmo que em vão, perante o fim - como últimos raios de sol que nos aparecem na vida -, sejam a verdadeira derradeira luz no túnel.

 Não é que eu não ame a vida; ela é que não me amou de volta. 

Emancipação

 Como é que nos vamos emancipar, meus irmãos, quando as nossas almas estão traumatizadas e tudo o que fazem é daí a reacção? 

"emancipate yourself from mental slavery, none but ourselves can free our minds" 

A Luta

 Sinto que em mim tudo é torto:

este e aquele dente de vampiro

a coluna, a anca e a perna,

o cabelo prateado é morto

o cérebro que a toda a hora piro

a piada na hora errada se externa

e o meu amor é todo bandido.