sexta-feira, novembro 29, 2024

 minha tristeza é campo baldio onde casas abandonadas são as ruínas do lar


(zona d casa azul em smp foi tapeada pela câmara)

quinta-feira, novembro 28, 2024

Sentir a tua presença

 Sentir a tua presença nas folhas das árvores 
no canto dos pássaros 
orquestrado pelo vento

e ouvir-te o riso
tão longínquo 
mas tão presente 

(...)

quarta-feira, novembro 27, 2024

Burra

 Eu sou a burra do presépio 
Nasci de um burro e de uma burra
Fui quem levou a carga mais preciosa 
Que havia de nascer também 
Para ser um burro de carga

(nós, os burros, que levamos com a carga dos outros e este deve ser o meu poema mais blasfemo)

 Talvez, afinal, apenas sejamos bons antes dos cinco anos, antes da idade dos porquês. Não porque questionamos tudo e temos poucas respostas, mas porque nos apercebemos de que tudo é frustrantemente falso. E essa descoberta tira-nos a inocência, a pureza, a paz e ficamos violentos e cínicos como os demais. 

Kamikaze, não mais.

 Sentir que o teu amor era uma hipótese real fez-me entrar em modo kamikaze porque não cabia em mim tamanha benção. 

Se um dia te disse que não acreditaria se dissesses que me amas, pois tu nem sequer me conhecias, hoje depois de tudo de horrível que conheceste de mim ("when everything's made to be broken, I just want you to know who I am"), se me dissesses que me amas, eu acreditaria.

terça-feira, novembro 26, 2024

Básico e óbvio, tudo é preciso explicar agora

 Quando é que deixãmos de pensar?

A intelectualidade teve preguiça de passar à práctica e foi assim mais fácil regressar ao básico, a estupidez ganhou caminho na mente, avançou terreno e fez mesmo regredirmos aos mínimos pictogramas e grunhidos, acelerados e desfasados, aumentando a entropia.

Escuridão

 A escuridão é branca 
Porque ela ofusca e cega
Faz doer até as órbitas
Onde eram suposto 
Estarem os olhos

Quebra ossos
E rasga veias
E liquidifica os miolos

A escuridão é branca 
E bronca
Brutamontes
Sem olifontes
E só com aligátores

Vomita ódio
Tresanda a snobe
E matifica as gentes

A escuridão é branca 
E eu que sou escura
Nunca fui branca

segunda-feira, novembro 25, 2024

sábado, novembro 23, 2024

Pessoa mais horrível do mundo

 Sou a pessoa que a pessoa que me pôs no mundo e a outra pessoa que mais amo no mundo me detestam e já desejaram a minha morte. 

Que é esta minha sorte? 👌🏽🤷🏽🖤

Canto

 Como pássaro preso
Teu canto para mim 
Era tudo
Quando eu era mudo
E só tu eras meu

Agora depois de tanto 
Te procuro
Sempre no céu
Porque és uma estrela 
Com brilho sem fim

Moraste no meu peito
De ave franzina
Coração não batia 
Direito
E só tu cantando
Infundias-lhe vida

Pulsa lá longe
A luz que me chega
Descobri um horizonte 
Tão distante 
Que a radiação me aleija 

Mas a aurora 
Nunca nos chegou
A tocar a pele juntos 
E quem me beijou
Não é quem me beija

 Como é que um amor tão grande pode ser tão errado, proibido e impossível? 


(só os grandes amores são assim)

sexta-feira, novembro 22, 2024

Aceitar os sentimentos

 As tuas poucas palavras mostraram-me mais sobre mim do que eu com as minhas na minha vida inteira.

Evitar pessoas e ocorrências relacionadas contigo, para ver se te esqueço, só me faz sentir mais isolada dos meus amigos, ter mais falta de ti, de te ver, de te ouvir, de sentir a nossa telepatia e ligação constantes. 

Disseram-me que depois destes anos todos, se a tal da 'limerence' que sinto, ainda persiste, apesar de ter implementado todas as práticas para eliminá-la, tenho de admitir que os sentimentos existem, são reais e não uma fantasia. Houve (há -mds como custa escrever) mesmo uma pessoa de quem gostei (o). 

E essa pessoa não gosta de mim. E está tudo bem assim. Porque eu também não gostei do que fiz. 

Obrigada, Ben.

terça-feira, novembro 19, 2024

Por causa do meu antigo "é urgente a arte para não falecer da realidade"

 Às vezes, quando nós sofremos derrotas globais muito fortes nos valores humanistas, que nos são tão caros - como se deu mais recentemente nas eleições americanas -, dá-se uma onda generalizada de desmotivação. Aí é que é necessário relembrar que cada um de nós é uma centelha para o outro e que estamos todos juntos nesse titanic que o Mundo é. Deixar que a depressão ganhe, neste caso é deixar que as luzes que ainda podiam brilhar para alumiar outros também, se apaguem e a longa noite já não tenha sequer pirilampos mágicos.

Enquanto nós convalescemos apagados, os que planearam as nossas mortes continuam a avançar inimputáveis.

 Muitas vezes, foi a minha indignação e raiva que falaram mais alto contra a dor, a tristeza, o desânimo e a sensação de incapacidade. Mas, nestes últimos dois dias, calhou relembrar mais que os artistas têm uma função comunitária, nomeadamente a de inspirar a continuar e serem um exemplo. 

Quem não olha só para o próprio umbigo e pensa nos outros, é natural que esteja extremamente mal por causa do crescente e absoluto desrespeito pela vida dos que mais sofrem, que se tem propagado das máquinas fascistas para legitimar ódios latentes de várias franjas da população. 

Lembro que durante o pior pandemónio pandémico, a magnífica artista @marinamelomelo , que carinhosamente depois apelidei de vanguardista, fazia inquirições sobre o que é que nos ajudava a não cair. Eu agora dei por mim a pensar: melhor, o que me ajuda a levantar, porque cair todos caímos por mais que a maioria nem pare para se aperceber do quão funda é a queda. 

Nos últimos anos em que concluí um processo terapêutico muito abrangente e intensivo, aprendi que a real força está em reconhecer e acolher os tropeços e as quedas e não ignorá-las para poder sobreviver o dia-a-dia pensando que se foi em frente. Não se foi, só se está é a cavar um buraco mais fundo sem se dar conta.

Bem, posto isto, só para dizer que: cuidem-se a todos os níveis e olhem pelos outros, porque no fundo estamos todos a sangrar da mesma cor e a fitar o mesmo abismo.


 Sobrou ternura e mel
nos teus lábios-morango

Sobrou amargura e fel
nos meus lábios-toranja

Sobrou loucura e pinel
nos seus lábios-kiwi

segunda-feira, novembro 18, 2024

Por que ris?

 Ris porque tens medo
Ou porque esperas afastá-lo
Com a tua gargalhada?

Ris porque tens um segredo
E soubeste tanto guardá-lo
Que ninguém sabe de nada?

Ou ris porque acabou o degredo
E tu buscas de vez rasgá-lo
Trazendo luz à madrugada? 

O coração já não é o tambor do mundo

 O coração já não é o tambor do mundo
Ele transformou-se no maestro rebelde 
Que não tenta marcar o passo da orquestra
Nem fazer todos os corpos dançar
Pois a vida está imersa em lodo
De rios assassinados à nascente
Para erigirem torres e horrores
O monstro do corpo de cimento
Cinzento a tapar o azul do céu

 O coração já não é o tambor do mundo
Ele parou de pulsar e deixou-se sufocar
Pelo ar soterrado a fundo sem voar
E os pulmões e os cordões e os camiões 
De repente começaram a esticar 
Só para se colapsarem em si mesmos
E ninguém viu a morte chegar
Pois ela era tão branca quanto a cal
Que um dia caiou as terras de sal

sábado, novembro 16, 2024

 Quando é que o amor acaba de vez? 

Eu sinto muito orgulho em ti

 Tu abriste mão de nós 
Quando já tinha eu
Dado cabo da nossa mente
E repetidamente com os pés 
Te chutado sem abraços
Espezinhado todos os laços 
Deixando-nos sempre sós

Tu abriste mão de nós 
E eu aprendi tanta coisa
Sobre tudo o que fui
Sobre tudo o que era
Sobre tudo o que tinha sido

Tu abriste mão de nós 
E resististe tanto tempo 
Que a minha teimosia 
E atrocidades de kamikaze
Ficaram orgulhosas
E aliviadas 
Quando te libertaste

sexta-feira, novembro 15, 2024

Sobreamar

 Amava como se fosse beber
da última gota de água 
de uma fonte que secou
mas logo ele viu
que isso não era amor
mas apenas sobrevivência 

Isso é bonito

 A minha vida foi tão horrível e mesmo assim nunca perdi irremediavelmente a capacidade de olhar com beleza para as coisas, contemplá-las, não tanto na busca de sobreviver ao dia-a-dia (como eu pensava que era totalmente) mas mais por ser assim como eu sou, uma pessoa que enxerga o mundo nos seus detalhes, os péssimos e os belos. A tal coisa de que, em mim, ser poeta é ao mesmo tempo uma benção/salvação e uma condenação/maldição.

Selene

 Filha nossa
Pedaço de nós 
Nunca estivemos sós
Pois ela está sempre 
Connosco 
Olhando lá do alto
E trazendo-me a tua voz
Para que eu não duvide
Que o nosso amor existe 

 E ele para mim foi mais do que real.

 Haverá coisa mais triste, nessas coisas do amor, do que amar sempre gente que não existe?

O teu nome

 Tentei repetir o teu nome até perder o significado - mas qual o significado do teu nome? -, como quando acontece quando repetimos uma palavra de seguida muitas vezes, mas não aconteceu. Vinha-me sempre a imagem e sensação de ti. Aquela emoção tua, aquele momento do suposto "também", o teu rosto, a tua figura portentosa. Tu, que tens nome de traidor e de imperador e de dono do céu. Tu, que nunca foste meu. O teu nome é tudo. Também. 

quinta-feira, novembro 14, 2024

 O poema mais lindo é feito de:

ar, som, vibração 

água e sal 

(e talvez com um toque de pôr-do-sol, que fica bem em tudo e faz tudo parecer melhor)

 Troveja

e eu travei em ti

quando não mais te vi

como quem me aleija

Sabes?

O tico e o teco não conversam mais

 As pessoas perderam o tino e o tacto
Já ninguém fala com ninguém 
E assim se passam anos 
Num instante 

quarta-feira, novembro 13, 2024

Conexões reais

 O meu coração sente falta do teu.

Estar apaixonada

 Sou completamente apaixonada por ele e detesto-me por isso. Queria que ele me tivesse escolhido. Mas ele nunca o fez. Vivo num sentimento tumultuoso e indefinido como quem não sabe ao que vem. Os meus olhos estão avariados de tanto estarem fixados numa imagem além. Que não existe senão miragem, fruto de um delírio colectivo que me fez adoecer. Não sabes que és perfeito? Para o meu cérebro cego. És. 

Quando fazes covinhas e quando já não fazes; quando usas roupa caqui (que é coisa de beto e não gosto) e outras mais lilases; adoro tudo o que fazes, tal é a obsessão em que me trazes. E não vou sequer falar do teu cabelo, do teu suposto cheiro, do teu abraço, que o que mais queria era tê-lo - mentira, era o teu beijo no meu destino.

Saber que tu afinal nunca exististe foi a maior decepção que tive e é o maior sofrimento que carrego em mim, especialmente nas noites em que é tão difícil adormecer. De todos os feitiços que alguém me podia ter feito, o de estar apaixonada é das piores maldições. Uma paixão que já se tornou meio louca, pois grita um vazio e de tanto a voz do coração sangrar ficou rouca e não sabe mais se um dia será capaz de voltar a amar. 

terça-feira, novembro 12, 2024

A Paz

 Uma das maiores misérias humanas é não se saber estar em paz. Não retirarem lições necessárias dela. Não valorizarem-na. Não saberem reconhecê-la.

A paz é a melhor coisa que um indivíduo pode ter em vida, daí que quando alguém morre se diga "Descanse em Paz". 

Só que durante uma vida inteira, ninguém tem a Paz como objectivo. No máximo, alguns têm uma obstinação em alcançar uma iluminação espiritual ou uma paz de consciência em relação a algumas culpas que carregam. Mas ninguém faz da Paz um exercício diário como seu maior objectivo. 

E a ironia maior é que se atingissem finalmente esse alvo de serem Paz, tudo o resto quereria dizer que não tinham mais outros problemas que precisamente lhes tiram a Paz. Como, por exemplo, o problema de não ter liberdade, dinheiro, saúde e outros.

Valia a pena experimentar, não? Por mais "aborrecido" que achássemos que ter paz seria. É melhor do que o quotidiano do Mundo. 

segunda-feira, novembro 11, 2024

 Dizem-nos para abraçarmos o caos
As coisas estão tão mal
Não há em lugar nenhum real paz
Enquanto uns põem palas nos olhos
Para passarem melhor
E porque não aguentam enfrentá-los
Os demónios externos e internos
Dizem-lhes para entregarem os pontos
Que o desprendimento é que é
Quando na verdade é-lhes negligência 
Displicência e até libertinagem 
Tudo coisa de quem encolhe os ombros 
Em conformidade e conformação 
Exactamente como quer o Grande Irmão 

domingo, novembro 10, 2024

 Atenta: 

para ti tenho palavras 

algumas

indefinido não é infinito 

compaixão é carinho

verdade é amor

sábado, novembro 09, 2024

 Tu és o meu destino 

A minha razão de viver 

E eu o meu pior inimigo 

Que só nos fez sofrer



Minas e armadilhas

 Tu minaste o meu cérebro 
E a minha vida
Não consigo mais fazer de conta 
Que tu não existes 
Mesmo não sabendo se existes
Fiquei muito tempo a ver-te 
Em muitas fotografias 
Que ainda guardo de ti
Tu foste o meu maior pecado 
A minha maior confusão 
O meu ser mais amado 
Deste meu pobre coração 

sexta-feira, novembro 08, 2024

Ele

 Ele é a lágrima que pende na minha alma
Para sempre 
Como diz a canção que "nunca acaba"
E menciona o beijo no ombro 
Como naquele primeiro intenso sonho
Que tive contigo e pairavas sobre mim
Como fogo
Nunca tinha sentido uma energia 
Tão forte assim

quinta-feira, novembro 07, 2024

O Bem e o Mal nas sociedades humanas

 Se ninguém defender e lutar activamente por espalhar o Bem nas suas comunidades locais, as máquinas e estratégias do Mal proliferam nos seus mecanismos e instalam-se sorrateiramente cada vez mais sob as máscaras das instituições comerciais, criando estruturas de dependência letais. 

Os que pretendem lucros e dominação, têm de obter através das pessoas, subjugando-as e daí terem planos pré-estabelecidos com o objectivo de imporem as suas agendas a toda a sociedade. O que eles têm como valioso não é a vida dos membros das sociedades, mas sim o que podem obter delas para inclusive definirem depois as regras vigentes, propagando um moralismo controlador nefasto.

São pessoas que têm no seu carácter mormente violência, frustração e crueldade, sem qualquer amor à liberdade de escolha, à vida societal rica em todas as suas variantes da Cultura benéfica para a motivação e beleza do espírito, como o desenvolvimento interior do indivíduo. 

Sim, essas ondas do Bem e do Mal existem e cada pessoa tem maioritariamente um tipo delas dentro de si e age em conformidade com isso afectando inevitavelmente a sociedade em que se insere. 

Cabe a cada cidadão estar consciente disso e exercer o seu papel, alertar e estar atento ao que acontece ao seu redor.

Quando tu vieres

 Quando vieres 

Pela primeira vez 

Encontrar-me

Vem com todo o amor 

Do mundo 

Que guardaste o nosso 

No teu eu mais profundo 

Luto/a continua...

terça-feira, novembro 05, 2024

Viver

 Vivo noutro horário 
Desta vida, não sou funcionário 
Sou um corvo escuro-azulado
Com ouriço-cacheiro arraçado
E não vivo num aviário 

Eu sou o ser mal-amado
Que foge toda a hora
Porque a liberdade é uma só 
E amar é só ter dó 

Vivo em beleza, serenidade
Tristeza e melancolia 
Vigio a pontual euforia 
Para não me afogar depois 
Em maior dor
Gosto da bela mediania

Essa felicidade de ser 
E não se estar
Nem ter de se agitar
É o melhor que posso ter
Viajando sem sair do lugar




segunda-feira, novembro 04, 2024

Eu pequei

 Eu pequei 
Quando juntei a minha mão à tua
E o resto do mundo incendiei
Ficando defronte a ti de alma nua

Despeço-me de mim
Da que te amou até fundo na loucura 
Embarcando na tua máscara de arlequim

Eu pequei
Quando deixei que me destruísses
Mesmo sabendo que eu já estava destruída