sábado, março 29, 2025

Fenómenos meteorológicos

 Simplesmente te amei 
Como a àgua ama a nuvem
E o arrepio a penugem 
E a neve o frio
E o tsunami o rio
E a terra a chuva 
E o Sol a Lua

Simplesmente te amei
E não era preciso nada

quinta-feira, março 27, 2025

Criatura obtusa

 O que é de maior utilização 
deve ficar mais à mão 
e guardado logo após uso
assim como o que é sujo
deve ser lavado de imediato 

É uma questão de practicidade
Eficiência, eficácia, produtividade 
É melhor para quem é preguiçoso Provavelmente não para um ocioso

Ler manuais não é só de inteligente 
É para quem compra no Continente 
E tem muitos electrodomésticos 
Aparelhos de aparatos eléctricos 

Que é para evitar incêndios 
confusões e atrapalhações
vais mas é ler compêndios
ó criatura obtusa de milhões 


Vidas (pré-)fabricadas

 Bem-vindos às vossas vidas
Têm à vossa espera mil maravilhas 
Vem um pack familiar com religião 
Vem toda uma cultura de antemão 
E não se preocupem 
A facilidade vem já garantida 
Com os benefícios da evolução 
Que diz que é o progresso 
O que mais está na nuvem
De metano e dióxido de carbono
Que torna o céu cor de rosa 
Para o menino e para a menina 

Crescem em sociedades
Para que nunca tenham saudades
Do que vos pode trazer a solidão 
Como se fosse um altruísmo 
Ai de vós se ficam na solitude 
E vos vem mais amiúde 
Uns epifânicos rasgos de razão 
Não vá o diabo tecê-las 
E mostrar-vos a realidade 
Que não é paralela 
Dos abusos e litígios 
Dos infanticídios e feminicidios 
Não vão agora vê-las
E ficarem deprimidos 

Mas não se preocupem 
De novo que isto é circular 
Para tudo fizeram um comprimido 
E entre entretenimento e rezar
A fabricação da vida de acumulação 
Há-de chegar ao vosso objectivo 

Imenso oceano

 Finalmente aprendi que não dá para não ser imenso oceano só para caber na palma da mão junto ao coração dos outros.

Astronauta

 Desde que te foste embora, 
sinto-me como se o meu ser tivesse perdido 
a noção da gravidade 
como um astronauta que volta do espaço.

quarta-feira, março 26, 2025

Reconstrução - sentir tudo

 Sentir tudo
O que há para sentir 
A dor para se ser feliz
A mágoa para se ser livre 
O amor para se acabar 
A febre dos sentimentos 
A correnteza das sensações 
O turbilhão de emoções 
Sentir tudo 
Para se reconstruir 
O tronco da raiz 

(8° dia d manjericão)

segunda-feira, março 24, 2025

Escuta

Escutámos músicas tão íntimas 
Perto do ouvido do nosso amor 
Caímos em lágrimas, dor, suspiros 
Nessa esparrela de colcheias ínfimas
Fruto nada apetecido quanto dióspiros 
Depois de já muito ter caído a sua flor

O Som do Silêncio

 E de repente o som do theremin, aquela mesma música, The Swan pela Clara Rockmore, e quase que choro. 

Desde que deixei de me preocupar com o que as pessoas fazem e nunca mais lhes disse nada, nestes últimos anos, tive um bocadinho mais paz. 

Mas o silêncio absoluto não existe, não é?

(pós filme no axn white "the sound of silence")

domingo, março 23, 2025

 A minha única cena fixe de há montes de tempo é hoje ter inventado de experimentar fazer pipocas na porra da airfryer...

Aquela música

 Aquela única música 
que tem o poder de te levitar
e de te fazer parar antes de suspirar 
Contém uma pausa
mesmo no segundo anterior 
a fazer-te respirar
E depois vem o soco no estômago 
vem o nó na garganta 
vem a dor no peito
vem o sufocar
vem o desaguar 
vem o sangrar 
vem a libertação do horror
que um dia foi o maior amor

Repetição Mecânica

 "Uma mentira repetida demasiadas vezes 
torna-se verdade"
Milagres que acontecem todos os dias
deixam de ser milagre
Amar tudo nesta vida 
deixa de ser amor
Lembrar de ti a toda a hora 
deixa de ser lembrança 

 A coisa mais egoísta foi não querer-te ver sofrer e por isso tentar fazer tudo para seres feliz?

 Não há magia 

Não há amor

Não há verdade 

sábado, março 22, 2025

Se ele vier

 Se ele um dia vier
Finalmente 
Que venha inteiro
Sem nenhuma corrente
A prendê-lo sequer

Se ele um dia vier
Inteiramente 
Que venha ligeiro
Sem peso a arrastá-lo
Nem pará-lo no que quer

Se ele um dia vier
Conscientemente 
Que venha sobranceiro
Sem fingir quem ele é
Para mim a sua mulher 

Se ele um dia vier 
Altivamente 
Que venha verdadeiro 
Sem qualquer máscara 
Que o esconda malmequer 

Da Culpa

 Afinal, a culpa é só o ego a falar, ou de facto verdadeira empatia ao nos responsabilizar pelo mal que fizemos? 

Eu não queria que me perdoasses se não fosse verdadeiramente sentido no teu coração que ele já não sentisse mágoa nem raiva. No fundo só queria que ficasses bem porque jamais te quis mal e tudo o que sempre quis foi que fosses uma pessoa que pudesse ser muito feliz. E tu és. E eu fico feliz por ti. O resto não interessa quase nada, embora o meu sentimento por ti seja enorme e não haja ninguém mais com quem eu quisesse ficar perto para todo-sempre. 

Afinal, eu não quis que me desculpasses para eu me sentir melhor, mesmo agora que me disseram que a culpa é uma das coisas que me mata literalmente por dentro com estas questões da autoimunidade. Eu já tinha também antes de ti, tal como a questão da desprotecção e abandono, que obviamente tudo o que aconteceu só veio escancarar de novo e se reforçou. 

A culpa corrói sim. Mas o que mais dói não é a culpa. São outras coisas que o coração mói. Eu estou contente que ao menos todos estes anos de processos terapêuticos têm ajudado a entender, inclusive a perspectiva de quem sempre me magoou.

 Poesia é o abismo a que me dou, quando tudo em mim é abissal.

sexta-feira, março 21, 2025

Nós a mil milhões

 Nada nem ninguém 
Em qualquer galáxia 
Em tempo algum
Explodiu mil sóis
Como nós 

Vaporosos e luxuriantes
Com os corpos estelares
Nebulosas gasosas
Expandem-se em cores 
De pastilhas elásticas e doces

E o que nós tivemos, amor
Ninguém teve, tem ou terá 
Aprende isso que aprendi
De tanto levar por negar
Tu e eu habitamos o mesmo lugar
Seja na terra, no fogo
No mar ou no ar
És tu e eu e eu e tu condenados
A percorrer o inferno 
De quem tudo amou

quinta-feira, março 20, 2025

Sementes

 Então nós, sementes, vamos contrariar todas as ondas violentas da atmosfera, sejam explosões solares, sejam as da própria humanidade? Vejamos: porque nós sofremos e depois aprendemos a elevar e isso é o que ajuda na transição global da Terra? Agora já faz um bocadinho de mais sentido. Espero que todos estejam conscientes o necessário agora para isso, inclusive com o que houve de pandemia. É..

Da Arte

 A Arte é um simulacro de Liberdade 
Talvez o mais completo deles
Pois que é exercício de criação 
De pensamento e de imaginação 
A Arte não se coaduna com regras
Ela transgride-as e até novas gera-as
Mas nunca para dar a ninguém a mão 

Da Arte nasce o ovo, o gérmen, o sémen
De onde irromperá o pão do dia-a-dia 
E germinará o canto da cotovia 
Ao brotarem as primeiras flores na Primavera 
E toda a Terra é infundida com ela
Com o seu perfume inexorável 

A Arte está no ventre da árvore 
E no parto das estrelas
Quando o Sol queima as folhas 
E não conseguimos vê-las
A Arte renasce no tronco da Lua
Como obstáculo que cura
E maré que afoga e desnuda


Magia

 Gosto da nossa magia 
meio tremolo meio ventania 
sempre água sempre melancolia 
muito fogo e explosão 
até catarse e combustão 
mas de resto uma injustiça 
não poder acedê-la
ser barrada ao chegar perto
será que têm noção 
do que era o paraíso 
sem nos terem posto num inferno?

Gosto da nossa magia 
que embala a noite de dia
e a madrugada em solidão 
e especialmente o teu meu nariz
"meu nariz teu nariz meu nariz"
era uma vez muita alegria 
como ternura perdida 
de quando eras bebé
e eu carregava-te no colo
toda a hora todos os dias

Gosto da nossa magia 
aquela em que o amor ultrapassa 
toda a mágoa, dor e raiva
e é mais forte que o nosso ego
eu que fui cego p'ro que viria
mas sempre senti a maldição 
que nos punham em cima
e desse trauma fui logo fugidia
pois sei o que é sentir a alma roubada

Gosto da nossa magia 
mas tendo tirado tudo de mim
a vida para todos os meus irmãos 
agora a minha única alegoria
nesta terra maldita é sofreguidão 
de quem foi caçada como perdiz
e servida à mesa de cada petiz


(dia 2 de manjericão 😐dia 1 foi hardcore)

Cada despedida foi uma morte

 Todas as vezes que nos despedimos, tantas, a preparar-nos para o pior, ou talvez mais tu a convenceres-me do quanto não me querias por perto, e no entanto nunca consegui arrancar-te de mim por mais que tentasse. E eu tentei de tudo e tanto. Mas tu estás nas minhas veias, ao que parece. E eu ainda não morri, por mais vezes que já o tivéssemos desejado.

quarta-feira, março 19, 2025

 Ninguém tem de culpar ninguém 
Todo o mundo sabe o mínimo 
Da porcaria que efectuou 
A não ser os super-inconscientes
A quem tem de se responsabilizar 

Dar a volta e elevar

 Como é que é possível dar a volta e elevar se a densidade deste mundo continua a pesar e a afundar-me, a atacar-me o estômago com tantos eventos de maldade? O meu sofrimento é o que o faz, elevar-se? Não faz sentido que o sofrimento que deve ser numa certa onda seja para compensar e elevar a porcaria que as pessoas fazem noutras ondas. Que raio de porcaria é esta? Uma eterna bosta. Assassinaram centenas de crianças de uma só vez. Outra vez. Como é que o equinócio equilibra isso?? Nada equilibra nada. Eu não pertenço aqui, sempre soube e agora que está mais do que confirmado talvez seja a altura de começar mais seriamente a pensar em partir de vez e pôr a minha consciência noutro lugar. 

Meu outrora amado

 Fizeste anos. Fez anos também da última vez que estivemos envolvidos. Onze anos. Continuas a fazer piadas. Convidaste-me para a festa. Nem me preocupei em pensar se era imaginária, porque da forma que a descreveste achei piada. Somente. Sinto que mudei tanto que já não sou quem alguém sequer conheceu. Sinto que sou apenas céu. Mais nada. Nada amo em concreto, amando tudo em geral. 

terça-feira, março 18, 2025

 A poesia tem sido apenas uma forma de confessionário para quem errou tanto. Eu já não sei se vou a tempo.

😭💔

 Poder ouvir a tua voz a cantar para mim só mais uma vez antes do derradeiro fim...

O sonho do amor

 O sonho do amor é arriscar riscar um fósforo e ele brilhar para sempre. 

a culpa mata, como o Hélder sentia

 eu nunca pensei que algo assim me pudesse acontecer. tudo estragado num vôo kamikaze por ser autoimune. nunca mais. tenho estado à espera de que o sofrimento acabe, mas imagino que o facto de eu ainda não ter morrido se deva a pagar penitência nesta Terra. os mortos escapam do fogo infernal diário que só a humanidade nos pode infligir aqui. e não há redenção possível, embora eu já tenha perdoado o impossível. para mim não há, por isso não há cura, assim como não há amor. foi uma ilusão colectiva que se instalou em mim e me fez crer que eu ainda tinha algo de bom para viver. eu vivi enquanto deu e será eterno até ao fim. 

segunda-feira, março 17, 2025

"I miss him so fckng much"

 Perdi-o
Para sempre 
E se me fosse concedido um desejo
Pediria que o voltasse a ouvir
A cantar bonito para mim

domingo, março 16, 2025

Fotografia íntima

 Quando a noite chega
e o frio aperta
aninho-me em ti
nessa fotografia intima 
que é o teu corpo abraçado ao meu
rostos colados junto ao céu
de um universo só nosso

Abrigamo-nos do mundo 
e nada há de mais profundo 
que não seja o nosso olhar fecundo 
na câmara escura do nosso quarto 


Espontânea

 Quando eu fui vento
Tu foste planta
Que toquei
E olhávamos o céu
Que não se tocava
Mas em nós sim
Pensamento voava
Em conexão real
As nuvens dissipava
Tudo era especial 

Quando havia beleza 
No meio da tristeza 
Eu era outra pessoa 
Cuja essência de sal
Tudo apimentava

Esgotei-me
Esgostava as ideias 
Como se possível 
Tudo vivia num dia
Dor e magia
Numa inocência vital
A cada instante espontânea

Cada canção sem perdão

 Cada canção lembra o mal que te fiz sem me aperceber na altura em que as escutei. Se pudesse pedia-te perdão outra vez. Sem precisar de dizer mais nada.  

sexta-feira, março 14, 2025

Só, simplesmente Só

 Eu não uso ninguém para colmatar nada em mim e, por isso, dou graças a esse caminho e persistência de valores. Somente só, vou caminhando desde sempre. Nenhum vazio em mim procurei usar outrém para preenchê-lo. 

Até de quem eu me vi agarrada, tanto, nunca quis atropelo. Nunca quis incomodar. Nunca usei ninguém e depois descartei. Sempre simplesmente amei, pelo que são, um amor tão cabal que existe por si só. Os meus problemas e turbilhões sempre foram demasiado para que eu arrastasse alguém comigo, jamais quis isso, embora saiba que também eu no meio do meu inferno diário necessite de abrigo. 

Jamais procurei preencher o vazio, sequer o tempo. Eu existo consciente e existi hiperconsciente, sempre ao serviço. Nunca pretendi que alguém me servisse, nunca tive a empáfia de me servir de alguém. Nem sei como isso se daria. Hoje em dia, aprendi a pedir ajuda nalguma coisa mais urgente para mim. De resto, compartilho ideias e vida, mesmo que eu não tenha grande vida em mim, parece que borbulha sempre mais em mim do que nos demais, imagino que por causa dos meus mil sonhos. Hoje percebi. Que tenho mil sonhos que nunca pude cumprir. 

Ser só é ser totalmente só. 


(12 anos solteira e 11 desde a última vez que estivemos juntos)

(B. believes and is sure that one day I'll find a great love because I got so much inside me and have done the work inside for self-love that naturally leads to finding someone worthwhile. Of course he's more optimistic than me. Yesterday, I had that feeling that I'll be single till I'm dead and that loneliness will start to be felt now as never, and that's all sad)

O amor

 Mesmo que o amor surja e aconteça sem nós termos escolhido, o amor é sim uma escolha depois para ser mantido. 

Às vezes parece que eu vim à vida partilhar a hipótese do amor incondicional, para ser puro amor, coração aberto e depois só levar pancada. Não é à toa que acabei fechado, isolado e deprimido. 

Mesmo em termos familiares, a vida inteira ignorado, desprezado, desapoiado, jogado às feras, saúde destruída, brutalizado, escravizado e depois toda a hora abandonado. 

Sempre que pensei que tinha alguém desconhecido que se tornou familiar para me amar como eu era, perdi por abandono também. Uma vida inteira a ser acusado de demasiado emotivo e sensível, demasiado independente e forte. Na verdade, eu não sou nada disso, foram apenas comportamentos e reacções que tive em momentos ao que essas pessoas faziam. É só por isso que acham isso de mim.

Eu continuo sozinho, a saber sê-lo, mas com o coração partido, porque sempre lutei para ter amor e família e não tive senão quando eu lhes servia. 


quarta-feira, março 12, 2025

in memoriam (4anos atrás, post no insta) Magnus Vieira

 "As palavras dele em áudios lindos que me dirigiu depois de me ter visto na minha primeira live InSónia a arriscar a vida e a lutar contra a doença de Addison; e que sirvam de exemplo para enqt podemos sermos todos agentes do Bem, do Amor, da Luz, da Honestidade, como ele era para toda a enorme comunidade que ele ajudava e alegrava com força e magnitude; MAGNUS SEMPRE FOI E SERÁ VIDA ♡ n preocupes, esta tua amiga "paixão lusitana" como gostavas de me chamar, honrará sempre teu exemplo e continuará a ser a tua "maior" inspiração na mesma, pois (continuarei c o tb nosso ocasional deboche alegre "liviano" p animar as pessoas) serei forte como fomos juntos a ajudar quem precisava ♡ : 

".... Acredite, a nossa vida nunca é um acaso. Se a gente vive ou passou por algo, certamente é pra que isso mude muita coisa lá na frente, muitas vezes não na nossa mas de MUITAS pessoas. É como se estivéssemos multiplicando, não a nossa dor, mas a nossa conquista de algo e isso vc conseguiu fazer lindamente. Não é? E nesse momento, a gente enxerga que a nossa vida tem propósito. Só isso. Acho mais interessante, no meio de tudo isso, é que a rede social tem nos aproximado a tds mas, na maioria das vezes, vendendo uma vida que não é nossa. As pessoas motivam-se a partir daí, só q mtas vezes perdem a sensibilidade de enxergar q para além daquela tela existe um ser humano aprisionado, q é nossa humanidade: aquilo q o ser humano pode viver, pode sentir (sentimento uma conquista mas ao mesmo tempo uma fraqueza). Eu que te agradeço por te permitires desnudar-se diante de tantos e seres nesse momento a salvadora de muitas almas que se encontram perdidas em ilusões e personagens... (etc.)" ♡♡♡

Esta é uma forma de tentar processar o choque e a dor, honrando um bocadinho o Amor que tu representaste para todos nós teus amigos que te achavam O MAGNUSSSS ♡♡♡♡♡ Obrigada por tanta admiração e fascinação que tiveste por mim e sempre expressavas e homenageavas-me em qq live q fosse, quando nem eu a tinha tanto assim por mim e não entendia o motivo de tanta coisa. Hoje neste momento por tua causa tenho mto mais amor pelo que afinal sempre fui.

 #brasilportugal #amizade #brasil #portugal #irmaos #rip"

terça-feira, março 11, 2025

Havemos de ir a...

 Havemos de ir a Oslo ver os quadros do Munch e a Florença ver il Duomo 

Havemos de ir ao Piauí e aos lençóis maranhenses

Havemos de ir ao lago Como e a Ladakh

Havemos de ir a Sergipe e a Madagáscar 

Havemos de ir aos montes ingleses, escoceses e irlandeses

Havemos de ir às ilhas de Lanzarote e às Seicheles 

Havemos de ir a Porto Santo e a São Miguel 

Havemos de ir a Salvador e a Itapoã 

Havemos de ir a Marrakech e à Estónia 

Havemos de ir a Cinque Terre e à Polónia 

Havemos de ir a Varsóvia e a Praga

Havemos de ir a Dubrovnik e a Ankara

Havemos de ir à Austrália e à Argentina 

Havemos de ir ao Uruguai e à Patagónia 

Havemos de ir ao Japão, Quioto e Okinawa 

Havemos de ir a Amesterdão e ao Grand Canion

Havemos de ir a Jaipur, Varanasi e ao Butão 

Havemos de ir a São Sebastião e nuestros hermanos 

Havemos de ir à cueva de los cristales e ao salar de uyuni

Havemos de ir à Islândia e ao Vietname

(infelizmente apenas sonhos)

Solitude

 Já não me confundo contigo 
nos meus pensamentos 
embora hoje tenha dançado 
a solitude contigo nos braços 
não são os mesmos sentimentos 
rompidos há tanto os laços
de quando te tinha como abrigo

Templo

 Quando te amei, erigi um templo...

em que te adorei e com as minhas preces te guardei. 

Peguei em todas as luminescências e recolhi-as com cuidado na palma da mão e lancei-as sobre ti como bênçãos. 

Antigamente, o meu silêncio era o meu templo onde me construía em solidão. Mas, desde que nos demos a mão, naquele tempo de temor e turbilhão, eu fiquei fiel a ti. Tu foste elevado a deus e eu, sendo um mero ateu, prostrado aos pés teus, fui assistindo e encorajando os teus milagres. O amor e a fé alimentam-se, descobri depois.

Quis acreditar em tudo o que me diziam, quis acreditar também que afinal a minha inteira existência não tinha sido apenas décadas a fio de extremo sofrimento e violência. Fui a minha essência, arrancada por ti, pela minha tua crença. 

Tu foste o deus inexistente que habitou o meu templo fantástico que permanece vazio e abandonado, como aquelas casas vazias e esquecidas. Eu amei-te por demais, como se ama as coisas achadas que vêm só para nós. Ou fazem-nos crer que é isso. É assim que ateus se tornam crentes por instantes; são convencidos de que existem milagres e passam a rezar nesse templo. Só enquanto até o próprio deus descer à terra e dizer que não nos cabe.

menino deus

O arcabouço do amor

 Eu amei-os, mas eles nunca puderam amar-me de volta. 

O desespero, e apenas dependência, nunca se constituiu em amor.

Para se amar é preciso despir-se de tudo o que o mundo nos vestiu e dar-se inteiro a nu, arriscando e permitindo ser-se amado pelo que se é de verdade, mesmo que não achemos que somos algo, seremos então nós mesmos e isso sim é ser alguém. Eu admiro a tua coragem e por isso te achei tão meritório e a nós os dois, ao nosso carinhoso amor e permiti-me também. 

Entendo agora que contigo não há o difícil que é olharmos para o outro e vermos a parte menos boa, que também temos, como quase monstruosa, como com outra pessoa em que o amor, que é tanto, nos tira a coragem pelo medo de falharmos, ou de não sermos meritórios.

Eu continuo a pensar que tenho essa parte de monstro dentro de mim, simplesmente agora já entendi que ele também tem uma função benigna. 

Está tudo bem, pela primeira vez, dentro do que eu sou. O desprendimento, o equilíbrio e o autoconhecimento. Isso tudo talvez seja sim o maior amor possível.

segunda-feira, março 10, 2025

Pandemia

 Eu não estava bem. 

Tu tentaste ajudar.

Ninguém estava bem.

Eu tentei ajudar.

Todos estivemos mal.

Eu estava a morrer.

Eu quis me afastar.

Não soube vos deixar.

Vocês não me deixavam.

Acabei a nos maltratar.

Finalmente acabou.

Uma pandemia de amar.

As boas defesas do estado de alerta e adrenalina

 Apercebi-me que jamais tinha feito de propósito para me deixarem como fiz contigo, ainda mais sem me aperceber totalmente. Mais uma boa prova do que faz a hiperadrenalina. O devaneio intensificado sem qualquer noção exacta de momento, como a força que dobra a porta do carro. A protecção da dor como no caso do monge Shaolin. Ainda bem, tudo depois, com a expansão da consciência e acesso ao subconsciente. 

sábado, março 08, 2025

Ser uma mulher livre é poder decapitar homens na sua cabeça de baixo. 

Desilusão

 Quando um sentimento forte acaba, seja por que razão, há que fazer o luto do seu fim, por mais que também se tenha finalmente a sensação de alívio.

As acumulações de desilusões, um dia, culminam no quebrar do sentimento bom que ainda se tinha por alguém. Eu pensei que ia demorar mais tempo para acontecer, visto que já tinha feito de tudo e esperado tanto para isso se suceder. Depende, afinal, na verdade, também de quem nos incutiu esse sentimento para começar. 

A desilusão é a nossa salvação. É o que nos faz abrir os olhos, aprender a lição, prevenir pior situação. Se alguém te mostra a ruindade que tem, a incapacidade de. ser empático e te abandona nos piores momentos, então, é uma benção teres conseguido te livrar dessa condenação. 

sexta-feira, março 07, 2025

Mamurrato

Cientistas usaram ADN de mamute num rato
Nasceu assim um rato com pêlo de mamute
Eu achei muito impressionante esse facto
Agora o cabelo do trampa que lute 
🤷🏽

Flutuar

 Desafiei a gravidade
Quando ela tão grave
Se tornou  de repente 
Só para me apanhar 
Mas eu lutei tanto
Contra a sua âncora
Pus-me a brigar
Comigo própria 
E até a minha sombra
Me veio agarrar
Para meu espanto
Escravo de um canto
Que não era de gente 
Mas de sereia anormal 
Daquela que engana
Te ama e te afoga
Tudo no mesmo mar


terça-feira, março 04, 2025

Sonho

 Era um palácio de sonhos
Em que eu entrava 
Explorava os cristais 
Dos candelabros
Tudo num lusco-fusco
De painéis de Miyake 
Linhas imperfeitas perfeitas 
Sombras e velhos dourados
Meio alaranjados
Meio acobreados
Apenas uma sala era verde
À semelhança de França 
E dos seus feios exageros 
O que eu gostei dos banhos 
A sala grande com divisórias 
Marmoreadas de sombras
E o branco e metálico das louças 
Agora que penso nisso tudo
Curiosamente faltaram-me
O azul e o vermelho 

Março

 Os estudos estão a ser muito bons em termos de voltar finalmente ao meu senso e manter os valores intactos. A abertura para o dito fluxo é naquela. Nem sim nem sopas, faz parte do desprendimento. 

A Primavera vai chegando e tudo faz sentido também, apesar de eu não ser adepta da teoria de Shiva. Eu sou mais por Brahma (deve ter a ver com os meus antepassados também, faz muito sentido) e, claro, Dharma.

As mudanças são boas e não, não sou eu que me isolo sempre, simplesmente as pessoas que decidem depois de muito tempo voltar não têm sentido nenhum de jeito. Só confirmam tudo. E nem sequer têm qualquer noção do que fizeram. É pena não ter nada que ver com pessoas assim, ou melhor, não, não é pena, simplesmente é o que é e eu sempre soube, simplesmente dei uma hipótese como sempre dou. Não tenho energia para gastar com ninguém que não seja verdadeiramente alguém, em vez de um conglomerado programado de máscaras, preconceitos e dogmas impostos pela sociedade.

Cicatrização

Essa cicatriz feia
Que nos deixámos
Risonha e colorida
Lembra da tua troça

A tua jocosidade 
Injectada de maldade
A minha defesa 
Foi uma raridade

Sou intolerante 
E tenho mau feitio 
Como dizes e bem
Entre tantos insultos

E eu que já nada sinto
Por rigorosamente ninguém 
Já nem sequer vos absinto
O mal todo ficou além


 Está na altura. 

Fantasia

 Fantasias esvanecem 
Numa hemorragia lenta
Nessa bonita festa
Que um dia foi ilusão 
E escondia noutra mão 
O brinde mais cobiçado
Por trás da máscara 
De ser impávido 
A realidade rasga-a

Acabou em memória 
Doída de tanta esperança 
Urdida com um amor 
Que era de verdade
Via o Howl de penas 
Azuis como miosótis 
E a Sophie de trança
Grisalha de saudade

Era um corvo azul
Apaixonado contrariado
Por um albatroz 
Mas não-alado
Pousado a Sul
Num castelo andante
Que não podia navegar 

Esses seres imaginados
Em bonecos animados 
Fizeram as delícias 
De tantas crianças 
Que no meio da folia
Ensaiavam danças 
Com a maior das alegrias 

segunda-feira, março 03, 2025

 Porquê do "atravessar a porta"? Nunca o farás, mas querias; é isso? Onde é que isso nos deixará? Entalados nesse pórtico. Já estávamos. Estaremos sempre, como o Brahma, o nosso cosmos é também cíclico há triliões. 

('the first time ever I saw your face"... I'm sorry, for everything)

domingo, março 02, 2025

Para lá de Marraquexe

 Talvez a minha lucidez, apesar de sobejamente conhecida por ser tanta, fique aquém perante a dança dos demónios interiores e fantasmas brincalhões fazendo questão de me mostrar casas de horrores. 

Talvez só por isso sejamos artistas. Porque não conseguimos viver imbuídos apenas de elegância e beleza, de subtilezas de porcelanas e flores de cerejeiras. Temos necessariamente de expurgar todas as sombras e tenazes maldades que vêem circundar e tentar sufocar a pureza, extinguir a inocência. 

Talvez então o uso dos ópios, não os do povo, mas os ócios que permitem espaçar-nos da realidade e embriagar-nos de fantasias. 

Eu morri um dia. Já muitas vezes. Mas na verdade todas somaram-se em duas - talvez todas as físicas e todas as amorosas. Tu serias a minha terceira morte, a minha derradeira; contigo o meu infinito começaria, física e amorosamente e não somente.

Amo-te como àquele azul impossível que busquei/busco. Amo-te como àquela luz cálida do ocaso crepuscular no horizonte a cair sobre o mar. Talvez não haja mais nada que eu ame. Talvez seja demasiado tarde para ainda continuar a sonhar.

Tocar o infindável absoluto, a "pescadinha de rabo na boca" que é este Cosmos, o gineceu do apogeu, o ar, o brilho, a consciência, sem caleidoscópio. Está tudo no teu olhar. 

(après YSL filme)

sábado, março 01, 2025

Corvos

 Quem te cobriu de luto 
Cobriu-me a mim também 
Temos fados diferentes 
Mas triste é o fado da gente 
Nós que voámos pelo Sol
Dourámos as nuvens
Graças a Deus agora
Ninguém me espera 
Ninguém me ama
Pois a vida é toda ela
Uma roda de incógnita trama