sexta-feira, outubro 31, 2025

Ela sabe?

 Ela sabe onde começa o teu lábio superior e que os teus olhos sempre denunciam as tuas emoções antes mesmo?

Ela sabe para onde pende o caracol do teu cabelo e como é o teu corpo inteiro?

Ela sabe por onde passeia o teu olhar e como te emocionas sem chorar?

Ela sabe o valor que dás ao dinheiro e à vida que queres levar?

quinta-feira, outubro 30, 2025

As tuas cores

 É quando chove
Que sinto falta 
Do arco-íris do teu sorriso 
E das aguarelas do teu olhar 

É quando adormeço 
Que sinto na pele
O calor do pôr-do-sol
Naquele laranja doce
Do teu rosto

É quando sonho
Olhando o céu
Seja Verão ou Inverno 
Que sinto o azul
Que tens na alma

Mas é quando vivo
Que o teu vermelho 
Do meu sangue inteiro 
Irradia do coração para o ar

Dança de frutas

 Comprei umas tangerinas e dizia que se chamavam Tango, e um mamão em que se lia que era do Brasil e veio por avião, pensei logo que tinha vindo sambando. Vi ainda abacate Hass e trouxe dois, com o objectivo de fazer guacamole com um e como vi que eram do Perú e já antes tinha pensado em ti, não tardou que lembrasse do Vuelvo al Sur. Comprámos ainda banana bolero e maçã gala e dançámos, dançámos. Tu foste depois a última fruta que ainda fui de novo lá para comprar: o 'cantaloupe'. ;) 

Da practicidade do bom senso

 As pessoas só tinham de se deixar de cenas e juntarem todos em torno das soluções de senso comum. O bom senso é simples, as pessoas é que, sendo medrosas, traumatizadas, gananciosas, egotistas, condicionadas e iludidas,, tornam quase tudo incomportável. 

Essa ideia de que se derem aos outros, vão tirar do meu, ou vai faltar para mim, é das maiores crenças ignorantes fundadas em medos irracionais, que existe. 

Ser Humano Podre

Toda a hora neste Mundo há quem cometa actos nojentos que vão desde violar e assassinar bebés até a canibalismo, passando pela cobarde exploração e lucro com a desgraça e necessidade alheia, entre tantas outras barbaridades hediondas.

Factualmente não há nada de divino nesta podre criatura, essa é que é essa. Não há nada de deus nem de diabo, só a merda que ele é, seja na sua composição de milhões de micróbios, germes e bactérias, seja no esterco que carrega na sua mente. 

Coração

 Percebes-te no coração 
Primordial corolário 
Esse órgão do teu corpo
Que toca no teu templo
Longas sensações 
E breve pulsação 
E pensas que é o contrário 
Que ele está há muito morto
E de tão vazio passa lá um vento
Dentro dele onde houve monções 
Alagando todo o teu chão 
Mas a verdade é que nunca tiveste
Cérebro que não fosse coração 

quarta-feira, outubro 29, 2025

Nunca Rio, só choro

 "Seguimos" de horror em horror
de hedonismo em hedonismo 
cantam a tristeza sorrindo
cantam a alegria bulindo
todos os dias esse é o disco 
que não vira e toca o mesmo 
os meninos desprotegidos
cobertos de sangue por "senhores"
que caçam inocentes aflitos 
com balas cegas a esmo 
às ordens de assassinos "doutores"
e ouvem-se tiros e gritos
as mães são abatidas
os filhos são feridos 
calam-se as rimas
e só ficam os gemidos 
de uma dor ancestral e gutural
de um choro que não é sincopado
e só conhece o som do fuzil descompassado.



[ mais um massacre no Rio de Janeiro ;(. ]

segunda-feira, outubro 27, 2025

"E depois matar-te e dar-te vida eterna"

Eu fiz isso contigo, não fiz?
Clamei-te aos céus 
Deifiquei-te
Elevei-te às alturas 
Depois deixei-te cair
Para que nos tornasses
Imortais 

 *título é verso de poema "Rêve Oublié" de António Maria Lisboa 

 alguma iluminação 
é consciência do abismo

pouca coisa tens
se não tens um amigo 

alguém verdadeiro 
como aqueles anjos negros 

são os que caem
lá do alto puro céu 

são os que mergulham
sem reservas no breu

 Dá-me dó

Que as pessoas não sejam elas

Que nem sejam nada de seu

Até eu que tenho por alma um abismo

Onde às vezes brilha o céu

Outras vezes um sofismo

Sei minimamente ser apenas

Sem máscaras nem subterfúgios 

Mas tenho pena de quem vive no breu

De não só não se conhecer

Mas também ser só como o outro 

Ou como o outro quer 

Ou esperam que sejam 

domingo, outubro 26, 2025

sábado, outubro 25, 2025

O que é que ser português afinal quer dizer para ti?

 Numa altura em que se fala muito sobre o que é ser português, quem é que pode ser considerado como tal e quem tem esse direito, a realidade é que qualquer definição que se faça é sempre pessoal e, portanto, subjectiva. Já em termos legais, sabendo-se que um dos preceitos da constitucionalidade e jurisdição é amplamente formulada precisamente pelas pessoas de direito numa senda de legislar o que existe, pergunto-me se algum dia ter alma de um certo povo bastaria para todos para que fosse considerado como membro dele. Sei que não. Se alma existe, sei que não é só idílica, também é podre. 

Podia dizer que o meu país é mormente o Alentejo; nesse gharb al-andalus e literalmente também, além tejo, ultra tagum. Podia dizer que a alma portuguesa é saudosista e tantas outras coisas sobre ser português, como no livro 'O labirinto da saudade' de Eduardo Lourenço epítome, ou em tantos outros históricos. Mas eu sou só poeta, portuguesa e cidadã neste planeta e das poucas coisas em que acredito - porque não existem totalmente e por isso é preciso crer nelas e lutar, em certa maneira, por elas -, no topo, está a liberdade e com ela a responsabilidade de respeitar o próximo naquilo que ele quer ser, acreditando inclusive quando ele nos mostra que é uma besta infinita. 

(escrevi no insta qd fiz reels e pus música da Carminho Balada do país que dói)

quinta-feira, outubro 23, 2025

Pelamordedeus!

 Eles dizem que há um só Deus
E há outros para quem há vários 
E que para eles nada é impossível 
E todos parecem sexagenários
Eu nunca vi os de barbas
Sentados num trono imponente 
Também não vi aquelas carpas
Que significam equilíbrio no Oriente 
Muitos também se prostram de gatas
Perante os seus ídolos no Ocidente 

Ainda há os que deificam a Natureza 
Ou apenas os animais não-humanos
Ou mesmo só deuses antropomórficos
Outros têm ainda no vento a sua leveza
E nas tempestades abrem pórticos 
Para mundos onde não há enganos
E acho que antigamente havia deusas
Que eram em maior número que eles
Homens medrosos fáceis presas
Incapazes de criarem a verdade neles



terça-feira, outubro 21, 2025

Reflexão derradeira

 Podemos sobreviver a toda esta porcaria?
"Sim, claro, sempre o fizemos"
Não, não desta vez 
Desta vez é como a podridão esclavagista 
E Hiroshima e Nagasaki 
E os campos de concentração nazis
É daqueles eventos da Humanidade 
Em que se perdeu toda a humanidade 
E se abriram valas comuns a céu aberto 

Eu não consigo tirar a dor no estômago 
A úlcera na alma sangra ainda
De toda essa porcaria 

Da mesma forma 
Que as pessoas que mais amei
E que mais me desprezaram
Irreversivelmente me mancharam
Não há nada que apague essa história 
Não há nada que nos dê verdadeira glória 

terça-feira, outubro 14, 2025

o barco vai

 ... houve momentos em que te amei com uma doce ternura suspensa, como a que soa na primeira sinfonia de brahms.

nenhuma das tuas maldições pode eliminar isso, mas sei que o tempo sim. 

quando me lias, ouvias a minha voz? 

será que os pássaros ainda podem falar por ti? 

só a dor e a mágoa nos fazem aprender, de uma vez por todas, a pôr limites e deixar quem nos faz mal. saiu-me bastante caro impor-te essa lição. rasguei completamente o meu coração. mas eu só existi ali, naqueles momentos, para a servidão. 

mudei tanto, entretanto, pois umas trinta vidas processei. não sinto nada do que sentia pelos que senti toda uma vida. já nada, de novo, tem lugar. nem a morte a aguardar. 

"o tempo vem, o tempo vai", um classicismo mesmo com o experimentalismo. 

uma solitude absoluta de mais de doze anos e ainda não sei de nada nem me interessa saber. este vazio foi almejado. o fim da intelectualidade. sem o início de mais nada. 

domingo, outubro 12, 2025

 Ao mesmo tempo que tenho medo de ti
Um pavor, um terror, que toma conta de mim
Também te adoro e te amo como és
Porque apesar de sermos torpes, 
Cruéis e mais do que infiéis 
Não há um mundo mais lindo 
Que o que nós dois somos juntos
 Se a coisa mais bonita 
Vi quando tinha os olhos fechados 
Talvez os olhos da mente
Nessa imaginação contente
Sejam só o que preciso
Para te ver completamente 
O teu balançar e o teu riso
O teu corpo meu abrigo

O ideal

 O ideal é alguém que seja para mim a sexta-feira e o domingo, sendo que o meu dia preferido da semana é a quarta-feira. 

Dual

 Se ele voltasse
Com a minha cura
Seria
Porque ele é
O único 
Cujo tambor 
Bate ao ritmo
Do meu coração 

Ele nunca me abraçou 
Nunca veio até mim
Nunca me levou
Para esse amor sem fim
Mas no dia em que vier
Teremos o nosso momento 
Finalmente 
Com que tanto sonhámos

sexta-feira, outubro 10, 2025

 Morrendo de amor, vivi. 

Azul

 "Conheces o azul da tua alma?", 
perguntou-me ela antes de saber
que eu andava de alma esvaziada
sem saber se tinha tom de mar ou de céu
ou de noite escura estrelada

"Sempre foste azul", lembrou-me
confesso que me esqueci do livro 
que quis escrever com esse título 
mas sei que fui outrora corvo-azul
e toda eu azul de dentro para fora



Uma alma

 Quando voltares com a alma inteira, talvez já eu saiba, por essa altura, o que é alma e que ela existe mesmo. Talvez, então, eu já entenda absolutamente o que é isso de que Platão falava de "uma alma em dois corpos". Talvez eu aí tenha, entretanto, ultrapassado as noções que tive quando era jovem e de forma pueril pensava que tinha uma alma gémea, ou um irmão ou amizade de almas. Ou talvez não. Talvez eu sinta que sempre foste tu a tal da minha alma gémea, igualzinho a mim, sem me identificar, mas sabendo sempre que estamos ligados de forma indissociável: siameses, como fomos um dia. 

As nossas completas devastações, a nossa resignada apatia, talvez encontrem umas nas outras uma paz integral, como se ligassem um círculo preenchido por um nada cabal e ilimitado, que tem a força da explosão de mil sóis. 

Eu nunca quis abrir mão de ti. Eu nunca abri totalmente, pois não? É, por isso, também que não voltas mais. O meu querer nunca significou nada. O meu sentimento também não. Tu não quiseste saber, porque eu era demais e nada. Quando na verdade eu gostava que me escolhesses como teu tudo. Mas só quem me sente como seu tudo é que nem precisa escolher. Quando é maior, ninguém pode reter. 

Se eu fui só verdade, como fui, criança que ama sem mais nada ter, talvez eu seja só uma alma a valer. 

quinta-feira, outubro 09, 2025

Onde estás tu agora?

 Na sombra do teu cabelo 
Vejo a Lua
E a tua barba que tanto gosto
De ver assim desenhada

Meu amor de alma inteiro
Minha vida tão acabada
Levo-te comigo dentro
A tua eterna apaixonada 

Nas tuas mãos o meu medo
A mais bela aparição 
O tom do meu segredo 
Esse amor de paixão 

A falta que sinto de ti
Só se equipara ao vazio
Que deixaste em mim
Meu mar, eu já não rio

Uma viagem horrível e maravilhosa

 Talvez tenha tatuado a tua sombra 
Em meu peito para te guardar no coração 
Sei que nada foi de jeito e que já nada tem grande solução 
Mas continuo a ver-te de repente 
No filme e na canção 
No chilrear de um pássaro 
Na borboleta que veio
Quando pedi por ti e olhei o céu

terça-feira, outubro 07, 2025

Estátua

 Petrifiquei-te numa imagem. Fui querendo ver se eras mesmo assim, ou da minha nente somente uma viagem. Aconteceu seres sempre uma miragem. A mais esperada. Meu oásis de um pedaço de água embriagada. 

Chorei um dia, mais, muito depois, já tarde. A poeira de que nos fizemos, a densa neblina que esperei que a aurora mais aguardada rompesse, a geada, não chegou, esse momento tão ansiado mas não almejado, não chegou. 

O teu corpo continua etéreo, um vulto sem qualquer detalhe. O teu rosto também mas mais sorridente, por raras vezes. Eu sinto o vazio que nos preenche. Somos repletos por eles, esses vazios consonantes. A inutilidade do meu ser com a ilusão do teu ser. 

Assomámos uma realidade decrépita, umas ruínas espalmadas no châo. Sobrou só pó. Tu gozaste até com a minha própria língua, com as palavras de amor, com o sentimento profundo, com a dor. 

Às vezes pergunto para ter a certeza que não exististe. Às vezes o céu responde-me com as aves, as borboletas e a Lua, quase sempre ela a acompanhar-me como tu. É a luz reflectida do luar que ilumina a tua estátua na minha memória. O Sol não. 

Dentro do meu peito

 Meu peito partiu em mil pedaços 
Fiz deles milhares de poemas e canções 
Bebidos provados por mil escanções 
Ficaram cá dentro ligados por laços


Foste

 Tu foste o meu "não" mais perfeito 
O meu erro mais inteiro 
O único que me deixou louco 
Pondo a minha vida em contramão 

Foste as auroras mais esperançosas
E as maldições mais odiosas
Tu foste da ternura o encanto
E da saudade o espanto

E de todas as canções maravilhosas 
Tu destroçaste-me com teu canto
E troçaste de mim como ninguém 

Foste tu quem me insultou em tudo
Do que eu fui e do que eu sou
Pisoteaste o meu coração 
Quase tanto quanto quem me amou

Foste o meu amor maior que nunca abracei.

Mundo ao contrário

 Decapitam crianças e mulheres grávidas 
E deixam viver os homens sem cabeça 
Nenhum hasteou a bandeira pela Jane
Mas fizeram-no para um extremista do ódio
Armado em deturpado Tarzan 
E prendem pacifistas idosos
Mas deixam genocidas subir ao palanque 
Com os seus amigos psicopatas a passear
Livres que nem passarinhos 
Enquanto reais aves já não têm sequer o ar

As pessoas divertem-se e lucram com o caos
Envenenam os seus próprios chãos 
Destroem a sua única casa
E na comida e no corpo põem plásticos 
Seguem influências sem pensar por si
Negam evidências sem estarem nem aí 
E como me disse a bartender angustiada
Num semblante e discurso melancólico 
Assemelhando-se a uma Morticia
"as pessoas bebem por razões más:
escapismo, fuga de enfrentar problemas"
E essa é uma droga legalizada
Num Mundo em que quem faz o bem
É preso, visto como perigoso e terrorista 
E quem faz o mal lucra e é vangloriado

sexta-feira, outubro 03, 2025

 Não sei aonde é que vamos parar
Sei que não te amei assim como tu
Que nunca me amaste 
Porque não és capaz de amar ninguém 
És como a maioria das pessoas 
Que só pensa em si mesmo 
E não tem outros como prioridade 
Como se uma coisa impedisse a outra
Sim, só na vossa incapacidade é assim
Não sabem nem são capazes de amar
Fazem piores acções para se desculpabilizar
Não tendo sequer noção do que fazem

Cansei-me de dar "murro em ponta de faca"
Leva tu a taça 🥂 
(Seus alcoólatras nojentos e cobardes)

Para te amar

 Para te amar
regressei a uma parte de mim
que me fez ir mais além 
a uma criança tão afim
que só fez vibrar
tudo o que era o bem

Para te amar 
tão puro no sentimento 
fui fluindo com tudo
fui terno a cada momento 
só para chegar 
a um vazio som mudo

Para te amar 
tive de enfrentar tempestades 
nunca me confudiram tanto
e até me fez chorar 
não só por verdades
mas por muito espanto

Para te amar 
tive de percorrer o deserto 
a noite mais escura da alma
a madrugada de cristal
até saiu-me um clamar
para tirar de mim o mal

quinta-feira, outubro 02, 2025

Anti-filosofias da treta

 Agora vou ser contra ser forte
E a favor de terem medo da morte 
Contra serem focados em objectivos 
E serem concentrados nos amigos 
E em não destruir o próprio abrigo

Vou parar de acreditar que consigo 
Tudo a que me proponho de sonho
E que a práctica faz a perfeição 
Que os outros é que têm razão 
E ouvi-los é aprender o importante 

Eu vou mas é ser visto como mendigo 
Um vagabundo que anda pelas ruas
Vou escapar da demente rotina
Que finjo que não estou em desatino

Olha só a revolução que vou fazer 
Quando deixar de inventar 
Que está um deus de serviço 
Só para eu não ter de me responsabilizar