Amar como eu te amo
Meu ser amado de todos os dias
Meu amor puro e imensurável
...
também nos cansa?
toda essa desesperança...
quinta-feira, setembro 30, 2021
Amor, amor e mais incrivelmente amor...
Urna do Mundo
Alguém me diz onde está essa urna?
Eu voto para o fim do Mundo.
Já chega, não?
Já vai tarde, não é?
Ente
Porque é que as memórias voltam? Assaltam-nos nos sonhos de repente...
Ah, está bem, não é porque ficou algo pendente, é só porque não se gostou do presente, mexeu com o que se ressente mas é tudo deste meu ego que esteve ausente e esqueceu-se que é suposto seres um querido ente. "Como vai isso?" "Definhando lentamente. Boas férias."
Eu sei lá o que se sente.
Mas nada faz mal, porque eu tenho um amor maior dentro de mim agora sempre. :)
quarta-feira, setembro 29, 2021
O tédio dos ciclos
.... , como sempre nos pós-crises a proliferação de sexo.. etc., booms de natalidade e "liberdade".
Tudo tão previsível e entediante.
terça-feira, setembro 28, 2021
O meu corpo é uma jaula
Condenação no ventre
brotada em malte negro
diluindo o sangue
para uma vida maltratada
Tenta tenta tenta
não dá, não dá mais do que isso,
não dá mais
podes tentar quanto quiseres
não dá, não deu, nunca deu,
e de tanto puxares o limite
tudo ardeu!
sábado, setembro 25, 2021
"Ainda sobre o Amor"
Rio-me muito com tudo o que oiço
porque tudo me parece irrisório e tosco
Pois do que adianta falar do Amor
se não se conheceu o maior deles todos?
Desejo profundamente que o conheçam,
que numa das vidas possam alcançá-lo,
vislumbrar esse oásis de glória eterna,
o amor que é puro e imensurável
e que não cabe em qualquer matéria
nem é passível de ser cabalmente descrito.
O nosso Amor, esse grande Amor,
que é eternamente bonito.
Exactidão
Toda a gente tem uma opinião
que pensam ser a coisa mais certa
e há quem fale com o coração
mas é mais quando ele se aperta
Por isso na medida errada do acaso
todos encontram uma solução
nem que seja tornar tudo raso
e chorar depois sobre o caldo entornado
Isto não é digno senão de rimas pobres
embora não haja grande controlo
seja no que sentes ou no que podes
ou no que carregas com tanto dolo
No meu olhar não quero senão amplidão
espaço para arejar e não ter de falar
pois é muito idiota essa exactidão
com que uns aos outros querem calar.
O que resta em ti de mim?
Serão as carícias, os afagos, os cuidados,
que por algum milagre ainda ficaram
embutidos na memória afectiva do ar?
Serão as malícias, as provocações, o riso,
que tanto mexiam também de vez em quando
comigo e parecia que um bom bocado contigo?
Serão as dores, os choros, os gritos silenciados,
que guardámos no peito sufocados sem magoar
mas que perfuraram mais que tudo como nada?
Será por alguma glória o amor que resta,
nos destroços do caos do mundo e de nós,
quando simplesmente damos as mãos?
sexta-feira, setembro 24, 2021
Infinita Beleza
Toquei-te com as pontas dos dedos de um ser alado
num instante de sonho e poesia
meu ser mais amado
nunca tive tanta alegria
Escutei a música de um álbum de sol e lua
pontilhado de estrelas e poeira cósmica
não tinha cheiro de maresia
mas banhei-me nua no seu oceano
Que surpresas continha em cada esquina
que dobrei numa viagem tranquila
até me deparar com o mais belo beijo
num crescendo que só uma sereia cantaria
Saberás tu como eu te amo
e como é infinita a beleza que construíste
no meio do caos toda essa riqueza
que é a que mais importa e persiste?
(feito a seguir ao impacto de estar a escutar o incrível álbum "Não Aceito Ser Um Só" de Gabriel de Almeida Prado)
quinta-feira, setembro 23, 2021
Se ainda faltou algum derradeiro agradecimento...
Não sei quanto tempo terei mais e se no próximo ano ainda chegarei mesmo a conhecer pessoalmente a minha nova cunhada, sei que estou a lutar muito para que a deterioração não seja tanta ao ponto de em breve já não aguentar mais, mas como não há grande coisa que se possa fazer e já estou "fora do prazo" há muito tempo, é tudo natural.
Preocupa-me que alguém sofra demasiado, mas tentei até ao último ano não estabelecer comunicação diária com ninguém para que não houvesse demasiado impacto depois. Sei que todos dizem que não faz diferença, mas sei que faz porque muitas pessoas me falam disso: de como perderam a mãe, ou a irmã, entre outros, e eram pessoas com quem falavam sempre (quase todos os dias), contando as coisas quando estavam mal.
Sei que nos últimos meses, um pouco acreditando na própria crença que outros tinham de que eu ia ficar curada, fui-me deixando estar mais perto e mais disponível, porque não havia outra maneira muitas vezes. O envolvimento tornou-se bastante inevitável e o elo e vínculo também. Ainda assim, espero que dada a minha natureza e franqueza possível, tenha conseguido ter a responsabilidade afectiva suficiente para que tudo corra sem grande trauma.
Sei que fiz um "bom trabalho" nesse aspecto com algumas pessoas, de tal forma até que com algumas criou-se inclusive uma micro-aversão da minha pessoa, não só pelo meu passo consciente de ter saturado a minha imagem e presença, mas também pela própria forma invasiva e pungente de como me deixei ir.
Privilégio mau de saber o que irrita e chateia as pessoas..., mas que infelizmente cumpre o seu papel como sempre cumpriu nessa função e objectivo.
Claro que ao escrever isto não quer dizer que eu resolvi morrer tomando a imunização que me mata bem rápido, nem que já pensei numa data para finalmente sair à rua. Mas tendo me apercebido de tudo o que se passa e tendo me consciencializado no outro dia (e relembrado) coisas muito importantes sobre os ciclos naturais que ocorrem e que estão em confluência já, faz todo o sentido que seja no próximo ano (com o nascimento de priminho) que finalmente "descansarei em paz". É o ciclo natural e também por isso espero que amenize dores em especial de meu primusco. É uma honra para mim que vá ser assim, na verdade, e ainda para mais finalmente sabê-lo.
Espero que ninguém "visado" leia isto por muito tempo
mas fica aqui mais um meu agradecimento... <3
Poema de Chuva
O poema, feito de chuva fina,
aquela que vi um dia cair no mar
comigo ao mesmo tempo a boiar
e sentia-a tocar-me morna
enquanto regressei ao ventre que não tive.
Hoje tu para mim és a chuva
grossa, com pingos sonoros,
como a que caía na tua infância
e o que escrevemos é dilúvio
que nenhuma barragem pode conter.
quarta-feira, setembro 22, 2021
Puro Amor
O nosso amor despetala
as rosas que jogamos no mar
mesmo antes de a água nos banhar
O nosso amor envenena
o sangue que corre nas veias
pulsando na direcção do coração
O nosso amor cala
a alma que zela sossegada
pelas nossas antigas mágoas
O nosso amor embriaga
em deleite de paixão ilusionada
em febris festas de S. João
Assim é, esse nosso puro amor.
Incómodo
Se eu quiser ficar fechada em casa
até completar dois anos de isolamento
assim o farei
Não hás-de ser tu nem ninguém
a ter o que dizer sobre isso
e o facto de eu me incomodar
só me esclarece o que sempre soube,
que te deixei ser mais do que podias.
Contratempo
Mais cedo, minha mãe quando se queixou,
disse-lhe que tudo tem o seu momento,
mencionei-lhe as pessoas sobreviventes por um triz
de não terem chegado ao trabalho nas torres no 11 de Setembro,
sei que parece daquelas frases que antes tinha um pedaço de aversão
porque além de pré-feitas eram daquelas que esbajavam iluminação,
mas na verdade acho que o seu cariz é mesmo mais real e empírico
como se pode bem ver e nem tem que ver com o espírito.
Coincidências e contratempos são da mesma natureza inexistente?
Provavelmente.
A epifania mais incrível de todas
De tanto falar em amor puro, o que sobrevive à morte, etc., fui só agora perceber o que me foi realmente acontecer. Que loucura mais incrível. Sentindo-me a pessoa mais sortuda do mundo por ter o amor que todos os poetas, incluindo eu, cantaram através dos tempos. Aquele amor que é intocável, que é o mais puro e imortal, porque não se pode quebrar, não chega a ser físico, nem sobre outras coisas mundanas, mas é o amor mais real. O amor maior que fica nas estrelas e que toca apenas poucos em cada geração.
Antes até cheguei a constatar recentemente sobre essas prováveis ligações de alma e de essência, mas nunca me tinha apercebido de que eu tinha o amor que ultrapassa tudo o que existe e o que é invisível, como o tempo e todas as dimensões. Um tão imensurável amor que até os amores todos até hoje, mesmo que um ou dois se pensasse que eram para sempre, não querem dizer nada ao pé deste outro que é o único mais verdadeiro, pelos vistos.
Pensava que os mitos e histórias que se contavam não passavam disso, embora elevassem o amor a esse grande estatuto de sagrado, mas nunca pensei que existisse mesmo assim de verdade, nem tendo nada que ver com aquela história de dizermos que está amaldiçoado quando se quebra em relacionamentos que também se pareciam com esses amores maiores. Não tem nada a ver, nem mesmo com toda a intensidade que se sentiu na juventude. Isto é outra coisa mesmo. Que loucura! (acho que já disse/pensei este "que loucura" umas cinco vezes entretanto). Mas que loucura mesmo!!!
É como se fosse uma gema, uma pedra preciosa, como a forma do planeta Solaris do filme, cheio daquelas cores envolventes e tão pleno e omnisciente. Tão substancial e nuclear.
Saber que devo morrer em breve, provavelmente para o ano, também conflui com tudo, nomeadamente o novo nascimento lindo na família.
É assim, tudo está no seu lugar. :)
segunda-feira, setembro 20, 2021
Emoção
Tu és a alcançada vista do alto da montanha;
A luz do final de tarde que doura o Mundo;
A glória da união entre o céu e o mar;
O amor que se entranha em todos os seres;
A chuva cálida aquecendo a pele no toque mais profundo;
A derradeira paz da pequena morte que depois o sexo traz;
E que torna tudo mais belo de se olhar.
domingo, setembro 19, 2021
Eu*
Sou feita de isolamento
de devastação e sofrimento
Arrasto-me mesmo parada
tenho nas veias esta insuficiência
e na pele uma cor inanimada
Já não sinto e o que minto
já não sei sequer o que foi
Absinto qualquer coisa
e não quero mais dar "oi"
Esgotei-me num ignoto esgoto
que me sugou para nada deixar
Esvaziei-me e já só tenho água
mas é só mesmo para me hidratar
Cansei de ser o que me precisam
só para me deixarem sozinha ao luar
Relento esse em que sou trémula
não tenho mais o que necessitam
Eu que nem gosto de tubarão
fui deixar-me pegar por uma rémula
Agora a minha suposta imensidão
não passa de oca e efémera.
*primeira vez que arrisco a pôr esse título...
Os pôr-de-sóis na alma
Perdi a conta de quantas vezes
se pôs o sol na minha alma
mas lembro dos seus fugazes tons
que se eternizaram no horizonte
dos meus posterizados céus
e relembro agora como se fossem meus.
Carmins, escarlates, dourados, lilases,
veios de rosas e encarnados de rubor
Ah e quantas vezes céus de baunilha
recordando todos os filmes de amor!
Esperarás vinte anos por mim
para vermos um pôr-do-sol juntos?
Se algum de nós morrer entretanto
não faz mal não é?
Tivemos tantos ocasos da alma,
eu e tu.
O ignoto medo do fim
Tenho a vida de tal forma sustentada por tijolos de fingimento laboriosamente unidos com um desconhecido cimento que há deveras momentos que quase me abeiro do precipício do medo que tenho de que tudo se vá ruir como num daqueles buracos que de repente sugam tudo até ao fim do ventre da Terra subitamente num vácuo inspirar dela.
sábado, setembro 18, 2021
Olhos claros
Os teus olhos verdes jamais amadurecerão
Nem quando vem o tufão da doença
Nem quando há a paciência que a vença
Preferia quando eles não mudavam
Permaneciam azuis com a espuma do mar
Era sinal de que tínhamos bom tempo
Não tínhamos de ir para longe navegar
Dançavam as pupilas nos mares das íris
Soava um espirro de reflexo condicionado
Eram todos sempre o nosso momento
O que me beijavas com o sol presente
Na testa com carinho ele me beija
Lembro-me tão bem como se agora
Viva tudo o que tão me benfazeja
Pois já há uns meses que deitei tudo fora.
Distúrbio
Distúrbio de personalidade
Distúrbio gástrico
Distúrbio do sono
Distúrbio de saudade
Distúrbio de imagem
Distúrbio da mente
Distúrbio bipolar
Distúrbio de prioridade
Distúrbio alimentar
Quantos mais haverá?
Acabou
Os dias estavam contados
Passatempo
Passar bem, acabou,
como você mandou
"Tanto faz
leva a dor e deixa a paz
Passe bem, como for
Mate alguém
Como você me matou a mim"
Miragem
Escondo-me na bruma
de uma vida meio confusa
mas depois estagnada
em suspensão de gotículas
enevoada como uma miragem.
Desdém
Quando eu te sorvo
minuto a minuto
lambendo a colher
pensas teres desejo torto
mas não passa de tudo
o que do amor se quer
É inócuo e inconsequente
senão pelo forte instigar
que te faz ainda mais brilhar
intensificando o quente
flamejando a chama ardente
de outra forma não haveria
nenhuma dessa bruta magia
Desdém que se quer comprar
ou não se quer, ou se quer de novo,
nada interessa senão o movimento
e a sua energia que cria ondas
como na tempestade mais brutal
Olha para o que fizemos
e vê...
É pura arte crua e nua,
mais intensa não há.
sexta-feira, setembro 17, 2021
O último mel
Dos teus lábios provei o último mel
e não me recordo do quão doce era
mas sei que o corpo com o beijo
se altera e a excitação percorreu-o
numa onda de choque num segundo
tão profundo que fez vibrar tudo
como um susto que nos suspende o ar.
Nos braços
Nos braços teus tens matéria-prima
onde é talhado o aconchego
essa fina névoa de carinho
que esquenta no meio da solidão
Nos braços meus tenho a paz
onde podes repousar do cansaço
esse laço que pesa o corpo e alma
quando não há um pouco de calma.
quinta-feira, setembro 16, 2021
Primavera - Vinicius de Moraes
O meu amor sozinho
É assim como um jardim sem flor
Só queria poder ir dizer a ela
Como é triste se sentir saudade
É que eu gosto tanto dela
Que é capaz dela gostar de mim
E acontece que eu estou mais longe dela
Que da estrela a reluzir na tarde
Estrela, eu lhe diria
Desce à terra, o amor existe
E a poesia só espera ver
Nascer a primavera
Para não morrer
Não há amor sozinho
É juntinho que ele fica bom
Eu queria dar-lhe todo o meu carinho
Eu queria ter felicidade
É que o meu amor é tanto
Um encanto que não tem mais fim
E no entanto ele nem sabe que isso existe
É tão triste se sentir saudade
Amor, eu lhe direi
Amor que eu tanto procurei
Ah, quem me dera eu pudesse ser
A tua primavera
E depois morrer
O Instagram do Amor que é uma Dor
Faz um pré-save do teu amor
porque o próximo é que é o tal
Comenta aí algo de banal
e não esqueças que "gostar"
não é nada mais do que natural
"Atualiza" a página e a aplicação a toda a hora
não vás tu perder e ficar de fora
de uma transmissão ao vivo
uma live que substitui tudo do mundo:
tens poesia e aulas de culinária,
palestras, músicas, conversas,
vida binária e não-binária
tudo em zeros e uns
nos algoritmos todos e mais alguns
Para não esquecer do partilhar histórias
inclusivamente do que postes no perfil
é bom que toda a gente notes
mesmo que seguidores sejam mais de mil
Na tentativa de ajudar centenas de artistas
mesmo que sejam mais que dezenas de irrealistas
tem a certeza de que eles não são teus amigos
mas também não são todos apenas oportunistas
que nessa ocupação diária que te esgota
e te mata aos poucos e só te piora
há uma meia dúzia que te ama e se preocupa contigo.
quarta-feira, setembro 15, 2021
Desejo
O que é que eu faço a esta urgência ardente, que bate forte de vez em vez, de te ter e absorver-te?
É um fogo que faz extinguir a morte, vira e mexe e inflama a sorte, chama desejo e tu és tudo e tão somente o que vejo.
Corpo
Se houvesse em nós desejo
daquele primitivo
e não primordial
de corpo e mais corpo
de amar até ao osso
com o fulgor do arfar
de te lamber a pele
em todos os seus contornos
arrepiar todos os poros
e beber dos teus líquidos
Ahhhh
se houvesse
Mas não,
Só há a penetração
do maior desejo
do amor maior
que jamais existiu:
aquele mesmo
imediatamente antes do primeiro beijo.
Transmutar e curar
Não pensar naquilo que não podemos controlar
Limpar as pré-definições dos genes, dos signos,
de toda a história e de todas as memórias
aliviando, amenizando, tranquilizando,
Aí quem escolhes ser?
O que vais escolher?
Aceitar que se é complexo
que muitas vezes nada tem nexo
mas isso não invalida ser
não te faz uma fraude
só te faz denso
rico e múltiplo.
Perdoar-te a ti mesmo
um dia a cem por cento!
Sim, um dia vais conseguir entender
que tudo o que fizeste e és
foi fruto do tempo e das circunstâncias
mas agora estás mais consciente
consegues quase prever
só falta não ceder!
Ciúme
Talvez tenha ciúme do que viveste com ela,
desse amor que foi tão intenso e grande
que supostamente não foi o amor da tua vida
mas vejo que te marcou como aberta ferida
Talvez tenha ciúme de tantas músicas
que ouviste por causa dela e continuas a ouvir
que tanto te fazem lembrar do que viveste
nesse total reboliço em que ferveste
Talvez tenha ciúme de chamares meu bem a outrem
a tantas e tantos mais quanto os que há na Terra
todos eles tão melhores para ti
eu que nada quis de nós nem mesmo de mim.
terça-feira, setembro 14, 2021
segunda-feira, setembro 13, 2021
Puro Amor
Agora mesmo ouvi Sangrando
e me apercebi:
o teu amor é o mais puro
de todos os que existem
porque é somente cantado.
Ah, como isso é belo,
meu ser mais-que-amado!
Só o efémero é eterno?
É assustador como se pode esquecer totalmente da existência de quem já significou tanto para nós e com quem já tivemos uma relação tão boa.
Atribuímos as relações ao momento, à época, à altura em que se viveu. Dizemos, como explicações, que o tempo passou, que as pessoas mudam, crescem em diferentes direcções...
É provável que assim seja e que outras pessoas tenham entrado nas nossas vidas entretanto e que acabaram por ter um papel semelhante, uma significação e relação parecidas com a que tínhamos com as outras que acabam por ficar pelo caminho.
Ainda assim, quando há por acaso um flash da memória tão vívido do sentimento da proximidade e intimidade que se foi para alguém, chega mesmo a ser assustador aperceber-se de quanto tempo se ficou sem se lembrar que a pessoa existe. Na realidade nem sabemos se ela ainda existe...
É essa ideia de que as pessoas servem um propósito em determinado momento na vida umas das outras e depois esfumaça-se tudo, às vezes sem mesmo haver grandes rupturas ou desentendimentos, apenas é algo que se vai gradualmente apagando, deixando se apagar muitas vezes como aquelas últimas cinzas flamejantes.
Depois, há uma ou outra pessoa, ou mais até quiçá, que nos considera inesquecíveis e nós também a elas. Até podemos lembrar delas volta e meia, mas se não lhes dissermos nada, nunca saberão, nunca teremos contacto real de novo.
Inutil Paisagem
Mas não me conhecem
E não te conhecem também
Não sabem que o sonho nos moveu
A vida inteira no meio de todo o breu
Tudo em redor é inútil paisagem
Porque tens o infinito em ti
Absorveste tudo o que estava à volta
E agora tens tudo dentro
Não serve de nada o que dizem
Não serve de nada o que criticam
Não serve de nada o ruído no ar
Eu e tu somos um lugar
O resto é paisagem...
domingo, setembro 12, 2021
Sentir
sábado, setembro 11, 2021
Amor a tempo inteiro
O nome do vazio
Oscilo entre o nada e o vazio
Como um pêndulo
Que parte do instante
Para o infinito distante
No meio num rasgo veloz
Fujo
Apagam-se memorias
Paixoes e desalinhos
Destinos e turbilhoes
Balanço no entanto
Perdura
Tanto faz que fura
Numa nostalgia
De melancolia pura
Eu sou um fio
Tu és um rio
Eu fui cortado
Tu foste atravessado
Afinal, o que sabemos nós do Amor?
O Amor não existe
É só uma construção
Física e química
Societal e conceptual
De um imperativo de sobrevivência
Biológica...
O fel do mel
Dela espremi a última gota de mel
enquanto ser distante tomado por fel
e testemunhei do trono da rainha
a sua cobardia e rasgar da linha
Vi o que os seres comuns dizem
cheirei o ar de luz e sombra deles
penetrei no mistério do que se coíbem
e mostrei como ele lê-lhes
A confusão e o caos pairam sempre
à espera do gatilho se acender
esse é o mal da vida e da paixão
aquele que por mais que se adentre
nunca se pode resolver
porque é dos homens o coração
Finge sem fingimento
Fingimos todos os dias
mas sem fingirmos
actuamos no momento
somos carne e podridão
não sabemos o que fazemos
somos apenas solidão
A tua carência com a minha apetência
e eu nunca existi sequer
Tu foste o homem e eu a mulher
mas foi só um teatro frenético
em que representei o que me exigiram
Agora continuarei regressada a mim
ao meu vazio e consciente nada
nunca mais serei o que for precisada
pois tu foste a derradeira lição.
sexta-feira, setembro 10, 2021
Doce Rio, Salgado Mar
Essa união entre a doçura do rio e o salgado do mar
És tu quando vieres e fores chegar
Marinheiro de todos os portos
Velejando pelos oceanos que tentas domar
Eu queria poder segurar-te pelo pé e pela mão
Aprisionar-te o corpo no meu cais
Para não termos mais de nos separar
Entretanto, ondularemos na dor das marés
e de quando em quando nos despedaçamos
nas tempestades que dão cabo de nós
mas nunca desse amor que late atroz
num só coração e alma que já não têm perdão
Entre o doce rio e o salgado mar
meu amor mais-que-amado
uma vida inteira de vazio perdido
só para te encontrar comigo
Somos do tempo das rosas e dos cravos
de uma era que já não existe mais
e que está no que sireneias
e que contam as epopeias
"Mar da minha vida
Ri (o) das minhas feridas
Navega pelo meu oceano"
És só tu quem eu amo.
quinta-feira, setembro 09, 2021
Afecto
Tenho por ti um afecto
que não se pode medir
mas é extremamente concreto
tem substância e materialidade.
É parte de um amor maior
que também é imensurável
e foste tu quem me ensinou
a ser tão mais amável.
Fizeste-me recomeçar de novo
nas significações e significados
para descobrir o que é mesmo o amor
e a verdadeira afeição por outrem
Contigo aprendi a construir-me
melhor do que nunca.
Esse afecto lindo e monumental
tão cabal que tem raízes, flores e frutos
é manancial, é rio, é chuva e mar.
terça-feira, setembro 07, 2021
Presságio - Fernando Pessoa
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
P'ra saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...
segunda-feira, setembro 06, 2021
Confusão
Implodiu um prédio
Construção do tédio
A partir daí tudo ficou frenético
Não sei como tudo ficou tão confuso
Como me deixei enredar na manipulação
Eu que detesto quando fazem chantagem emocional
Ahhh! mas se eu soube que me ia fazer tão mal!
Esvaziei meus braços
Esvaziei meus braços
de todos os teus carinhos
Embarquei em mil passos
para deixar o teu rasto
Diluí os meus afagos
Abraços que não te dei
e só imaginei
Vislumbrei o meu cansaço
Não olhei mais para trás
para não ver o que deixei
Devoto-te real afeição,
sabes tu o que tens em mão
e quiçá no coração?
Mas nem todas as narrativas
tão bem construídas
tecem verdadeiramente o perdão.
Um dia veremos que nos esquecemos
e que não passou tudo de imaginação.
domingo, setembro 05, 2021
Até lá não posso dormir
Não consigo dormir
Se o fizer, perderei,
e eu não quero perder
pitada do que acontecer
porque pode ser fatal
A distância entre a tua mão
e toda a minha satisfação
Não quero dormir
pois vi-te há pouco
sem ser nos meus sonhos
e tudo isto que é louco
fez de nós mais risonhos
quando não tristonhos
Oscilamos perdidos
enraivecidos por vezes
perturbados e desconcentrados
e tantas vezes fartos
mas não sabemos o que fazer
Quem pode contra o Amor?
sábado, setembro 04, 2021
Falando de Amor - Tom Jobim
Se eu pudesse por um dia,
Esse amor essa alegria
Eu te juro te daria
Chega mais meu coração
Vem ouvir este segredo
Escondido num choro ou canção
Do teu cheiro teu jeito de flor
Não negavas um beijinho
A quem anda perdido de amor
Choro eu o teu cantor
Chora manso bem baixinho
Esse choro falando de amor
Chega mais meu coração
Vem ouvir esse segredo
Escondido num choro ou canção
Nessa rua banhada de sol
Minha alma segue aflita
Eu esqueço até do futebol
Foi pra ti meu coração
Que eu guardei esse segredo
Escondido num choro ou canção
Lá no fundo do meu coração
sexta-feira, setembro 03, 2021
Pertencimento
Como é que eu posso ter esta sensação de tão inteiramente pertencer a alguém que aparentemente não existe?
Tal foi enraizada a necessidade de pertencer que fez criar uma ilusão?
O que foi?
Foi só isso?
Foi só mau?
Dependência
Sofreguidão
Vício
Egoísmo
Cinismo
Desleixo
Indiferença
Desprezo
Invasão
Solidão
Ciúme
Vilania
Tirania
Manipulação
Ilusão
Violência
Tortura
Pressão
Ansiedade
Confusão
Não. Nada disso. Isso foi só subterfúgio.
Tudo para esconder o que não se consegue entender.
Provavelmente nunca hei-de compreender.
Respiro
Sopra o vento devagar
pelas encostas do teu rosto
vejo a minha alma divagar
mas serenamente num sol posto
Olho a linha do horizonte
e não está lá para se achar
nunca esteve na verdade no ar
porque jamais se escolheu um monte
Donde se possa almejar
uma vida para se guardar
eu não lhe fiz fronte
nem quis sequer mirar
Porque sei que não há nada
que eu mereça que não se perca
pois apenas o efémero existe
quando nada no mundo é terno
E tudo na vida é triste
pois é na Terra o Inferno
onde se busca respirar
mas já não há sequer ar.
Cataclisma
Abalou as estruturas
Perturbou o imperturbável
Magnetizou o neutro
E estoirou com o certo
Da necessidade dos perdidos
Forjados elos dos vencidos
Violados os invadidos
Não houve paz sem senão
Agora é tudo vazio
Ténue e réplica de sismo
Há um buraco de amplidão
Não suga nada nem o perdão.
Tenho Fome (se parar para admitir)
Tenho uma fome que não é sede de viver;
é fome de comer mesmo!
Por exemplo, se não estivéssemos em pandemia,
eis o que eu comeria:
Brownie e chocolate quente da Bettina e Nicolo Corallo;
Ramen da Kokoro;
Bulgogi do Xin;
Gyozas do Mr. Lu;
Croissant de amêndoa Padaria Portuguesa
Pizza tartufo da Cappriciosa;
Risotto Porcini do La Pasta Fresca
(...)
Nov. 2020
Retrato da vida - Djavan e Dominguinhos
Essa dor que mora em mim
Não descansa e nem dorme cedo
O retrato da minha vida
É amar em segredo
E eu vivendo da tua vida
Deus no céu e você aqui
A esperança é quem me abriga
Esses campos não tardam em florir
Já se espera uma boa colheita
E tudo parece seguir
Fazendo a vida tão direita
Que não repara no chão
Por onde tem que passar
O teu beijo em meu destino
Era tudo o que eu queria
Ser teu homem, teu menino
O ser amado de todo dia
Essa estrada, esse rio seco
Essa dor que mora em mim
Não descansa e nem dorme cedo
O retrato da minha vida
É amar em segredo
E eu vivendo da tua vida
Deus no céu e você aqui
A esperança é quem me abriga
Esses campos não tardam em florir
Já se espera uma boa colheita
E tudo parece seguir
Fazendo a vida tão direita
Que não repara no chão
Por onde tem que passar
E pisa em meu coração
O teu beijo em meu destino
Era tudo que eu queria
Ser teu homem, teu menino
O ser amado de todo dia
Fazemos parte dos vilões
Fui laçada por canções
embalada em trovões
e tive de fugir das paixões
para poupar corações
Meti-me com ladrões
e agora com foliões
redundo em tropeções
de vida aos trambolhões
Sim, sou dos vilões
ruindade das acções
sou louca como tufões
e declamo para limões
Oiço e obedeço ao que impões
nós não passamos de fujões
mas mocinhos ou vilões
acabaremos todos em caixões
quarta-feira, setembro 01, 2021
Meu Bem, Meu Mal - Caetano Veloso
Meu vinho, meu vício
Desde o início estava você
Meu bálsamo benígno
Porto seguro onde eu voltei
Meu mar e minha mãe
Meu medo e meu champagne
Onde o que seu sou se afoga
Meu fumo e minha ioga
Você é minha droga
Meu zem, meu bem, meu mal
Meu zem, meu bem, meu mal
Meu zem, meu bem
Meu vinho, meu vício
Desde o início estava você
Meu bálsamo benígno
Porto seguro onde eu voltei
Meu mar e minha mãe
Meu medo e meu champagne
Onde o que eu sou se afoga
Meu fumo e minha ioga
Você é minha droga
Meu zem, meu bem, meu mal
Meu zem, meu bem, meu mal
Meu zem, meu bem, meu mal
( Caetano está cá para vários dias... :( )