Procurava a esperança como os girassóis procuram a luz do sol,
agarrava-me à racionalidade como os cactos a armazenar água,
buscava a paz como as andorinhas um seu ninho
e toda a vida, no dia-a-dia,
contava as felicidades alheias como quem conta pétalas bem-me-quer.
Porque é necessária a beleza para suplantar a fealdade do mundo
e urgente a humanidade da natureza que salva cada árvore e cada ser,
olhava sequiosa em volta para me abastecer dessas pérolas
e lutar contra esse mundo ruidoso e ruinoso
de stress, de desejo de satisfação imediata,
e todos esses vícios acumulados da insatisfação perpétua e frustração
que a fugacidade do frenético causa.
Um dia já não será preciso procurar:
só escutarei o chilrear dos pássaros e o mar.
terça-feira, maio 30, 2017
segunda-feira, maio 29, 2017
Antigamente não se ouviam tantos pássaros lá fora, nem as aranhas tinham abdómenes tão grandes a tecerem seda que mais parece cotão de tão grossa...
Havia mais meses em que chovia, eram dias a fio e caminhos alagados, nada era tão bafiento e sem se ver o céu azul ou totalmente cinzento escuro.
Agora é como se vivêssemos em permanente efeito de estufa.
Havia mais meses em que chovia, eram dias a fio e caminhos alagados, nada era tão bafiento e sem se ver o céu azul ou totalmente cinzento escuro.
Agora é como se vivêssemos em permanente efeito de estufa.
Quando o amor está morto...
Quando o amor está morto faz-se a autópsia das memórias:
todas as referências que se guarda dele
todos os momentos
todos os pormenores
palpados com as pontas dos dedos
em perscrutação dos tumores.
Do cemitério ao luto tudo se enegrece em vestes de dor
um abraço contínuo como se tentasse aplacar
ou mesmo estancar
tudo o que vaza do buraco no peito.
A vida continua, lá está,
como grande insulto e ofensa
para nossa maior indignação
pois o céu continua a ser azul
e o sol continua a brilhar.
É simples, mas o enterro é demorado,
tanto quanto uma via sacra
por uma paixão de um cristo
E a música fúnebre entra em loop na mente.
Não te esqueças de quantas vezes te amaram
e de quantas vezes amaste também.
todas as referências que se guarda dele
todos os momentos
todos os pormenores
palpados com as pontas dos dedos
em perscrutação dos tumores.
Do cemitério ao luto tudo se enegrece em vestes de dor
um abraço contínuo como se tentasse aplacar
ou mesmo estancar
tudo o que vaza do buraco no peito.
A vida continua, lá está,
como grande insulto e ofensa
para nossa maior indignação
pois o céu continua a ser azul
e o sol continua a brilhar.
É simples, mas o enterro é demorado,
tanto quanto uma via sacra
por uma paixão de um cristo
E a música fúnebre entra em loop na mente.
Não te esqueças de quantas vezes te amaram
e de quantas vezes amaste também.
sexta-feira, maio 26, 2017
segunda-feira, maio 22, 2017
AutoCineTeatrologia
O actor é um mentiroso
Mente tão absolutamente
que chega a mentir que é outrem
na alteridade que deveras sente.
E os que vêem o que ele mente
Na alteridade actuada sentem bem
Não as duas que ele teve
Mas só as que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
[adaptação de Autopsicografia de Fernando Pessoa]
Mente tão absolutamente
que chega a mentir que é outrem
na alteridade que deveras sente.
E os que vêem o que ele mente
Na alteridade actuada sentem bem
Não as duas que ele teve
Mas só as que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
[adaptação de Autopsicografia de Fernando Pessoa]
Olhos de veludo
verde da mesa de bilhar
Rosto de estrutura óssea perfeita
renascentista
Um Paul Newman agora e sempre
Sorriso matreiro e olhar profundo
Ele chega, entra na sala a brilhar
Silencia-se: o mundo inteiro escuta-o
Imobiliza-se: o mundo inteiro fixa-o.
*long time due, João/Giovanni Baptista inspired.
verde da mesa de bilhar
Rosto de estrutura óssea perfeita
renascentista
Um Paul Newman agora e sempre
Sorriso matreiro e olhar profundo
Ele chega, entra na sala a brilhar
Silencia-se: o mundo inteiro escuta-o
Imobiliza-se: o mundo inteiro fixa-o.
*long time due, João/Giovanni Baptista inspired.
O que sou eu senão apenas "poeta" de bravo povo
que deu mundos ao mundo
E que se viu cumprir em madrugadas
e crescer com auroras imensas?
Porque dizem os ditados:
depois da tempestade vem a bonança
e a esperança é a última a morrer,
deixamos de lado de vez em vez
o fado de quem viu o mar tudo levar.
E eu, de toda uma vida vagabundo das palavras,
claramente como sempre destinado
ao esquecimento na paz do fim.
que deu mundos ao mundo
E que se viu cumprir em madrugadas
e crescer com auroras imensas?
Porque dizem os ditados:
depois da tempestade vem a bonança
e a esperança é a última a morrer,
deixamos de lado de vez em vez
o fado de quem viu o mar tudo levar.
E eu, de toda uma vida vagabundo das palavras,
claramente como sempre destinado
ao esquecimento na paz do fim.
sábado, maio 20, 2017
Memórias de amiga
Num dia, uma amiga perguntou-me como é que se sabe quando é o tal.
Hoje, passada uma década, voltei a lembrar-me da questão porque pensei que a resposta seria: "quando ele é tudo e mais ainda".
Hoje, passada uma década, voltei a lembrar-me da questão porque pensei que a resposta seria: "quando ele é tudo e mais ainda".
segunda-feira, maio 15, 2017
Vestida de azul-noite (Sílvia Perez Cruz)
Sonho,
Avisto-a ao longe, com os seus cabelos ondulando
Como o mar nos embala a vista e nos seduz,
Mas profundos castanhos caracóis longos,
De quem amou e perdeu e continuou a amar.
Vestida sempre com belos vestidos esvoaçantes,
iluminada pela lua sempre cheia de rubor ao vê-la,
porque ela canta até ao céu estrelado e fala com ela,
envolta nos seus vestidos sedosos de cintura-império;
essas são as vestes da noite mais perfeita ao luar.
O prateado do reflexo do olhar,
o dourado da voz a soar,
com o seu mágico trinado de llorona que ri,
ela é a sereia cujos cânticos penetram
na alma de cada homem e mulher
que ficam melhores seres depois de a escutar.
O mundo é graças a ela mais belo
e, por instantes, em vez do manto negro da noite
o universo fica da cor do seu vestido azul-noite
com milhões de estrelas a nos sorrir.
[escrevi este poema inspirada na mais bela intérprete, Sílvia Pérez Cruz]
#silviaperezcruz
Avisto-a ao longe, com os seus cabelos ondulando
Como o mar nos embala a vista e nos seduz,
Mas profundos castanhos caracóis longos,
De quem amou e perdeu e continuou a amar.
Vestida sempre com belos vestidos esvoaçantes,
iluminada pela lua sempre cheia de rubor ao vê-la,
porque ela canta até ao céu estrelado e fala com ela,
envolta nos seus vestidos sedosos de cintura-império;
essas são as vestes da noite mais perfeita ao luar.
O prateado do reflexo do olhar,
o dourado da voz a soar,
com o seu mágico trinado de llorona que ri,
ela é a sereia cujos cânticos penetram
na alma de cada homem e mulher
que ficam melhores seres depois de a escutar.
O mundo é graças a ela mais belo
e, por instantes, em vez do manto negro da noite
o universo fica da cor do seu vestido azul-noite
com milhões de estrelas a nos sorrir.
[escrevi este poema inspirada na mais bela intérprete, Sílvia Pérez Cruz]
#silviaperezcruz
"No one knows"
Os teus passos que eu oiço não têm mais rosto
E os meus olhos já não têm mais cara
"Depois dá notícias" é o breve,
quase sussurrado, apelo na despedida,
e que muitas vezes encontra a resposta em
"Depois combinamos",
com símile vacuidade de resultados.
"Mande notícias do outro lado do mundo, diz quem fica",
volta e meia dança nostalgicamente no pensamento.
Não vejo mais nada senão tudo o que há no mundo
que não és tu,
mas o mundo inteiro cabe em ti,
com todos os seus detalhes,
e por isso encontro-te sempre que te perco.
Sentimos "Everytime we say goodbye I die a little"
numa década como todas aquelas décadas em que o verdadeiro amor era clamado
e de tantas vezes morrer, como fénix, foi ficando imortalizado.
E os meus olhos já não têm mais cara
"Depois dá notícias" é o breve,
quase sussurrado, apelo na despedida,
e que muitas vezes encontra a resposta em
"Depois combinamos",
com símile vacuidade de resultados.
"Mande notícias do outro lado do mundo, diz quem fica",
volta e meia dança nostalgicamente no pensamento.
Não vejo mais nada senão tudo o que há no mundo
que não és tu,
mas o mundo inteiro cabe em ti,
com todos os seus detalhes,
e por isso encontro-te sempre que te perco.
Sentimos "Everytime we say goodbye I die a little"
numa década como todas aquelas décadas em que o verdadeiro amor era clamado
e de tantas vezes morrer, como fénix, foi ficando imortalizado.
segunda-feira, maio 01, 2017
O elogio do tal rapaz lusitano
O mundo não é maravilhoso como quando se canta,
nem tanto o mundo das pessoas é tão fascinante como se conta
e há as que têm um mundo por dentro e as que têm um universo,
mas mesmo assim não é tudo belo só por ser complexo.
O salvador* é quem nos traz esse outro lado inesperado,
que nos embala a vista com ternuras tristes
em notas flutuantes que emite como quem inebria,
tal qual as sereias que atraíram tantos marinheiros
transportando na voz promessas de felicidade eterna.
E o mundo fica belo quando se ouve o divino silêncio
e a vida fica mais suportável, esquece-se o inevitável fim,
tudo isto porque alguém dá a sua vida até ao último sopro
para que se tenha direito a vislumbrar essa espécie de nirvana.
Se Camões e Pessoa se juntassem para urdir poemas
para serem cantados com belas melodias a acompanhar
certamente esse seria o rapaz lusitano sem dilemas,
que iria sempre em frente, genuíno, já a ganhar.
* Salvador Sobral, o rapaz mágico e prolífico da Música, que leva a canção e toda a alma portuguesa para espalhar o amor pela Europa no Festival da Eurovisão - singela homenagem, neste mês de Maio, em que evento se aproxima :)
nem tanto o mundo das pessoas é tão fascinante como se conta
e há as que têm um mundo por dentro e as que têm um universo,
mas mesmo assim não é tudo belo só por ser complexo.
O salvador* é quem nos traz esse outro lado inesperado,
que nos embala a vista com ternuras tristes
em notas flutuantes que emite como quem inebria,
tal qual as sereias que atraíram tantos marinheiros
transportando na voz promessas de felicidade eterna.
E o mundo fica belo quando se ouve o divino silêncio
e a vida fica mais suportável, esquece-se o inevitável fim,
tudo isto porque alguém dá a sua vida até ao último sopro
para que se tenha direito a vislumbrar essa espécie de nirvana.
Se Camões e Pessoa se juntassem para urdir poemas
para serem cantados com belas melodias a acompanhar
certamente esse seria o rapaz lusitano sem dilemas,
que iria sempre em frente, genuíno, já a ganhar.
* Salvador Sobral, o rapaz mágico e prolífico da Música, que leva a canção e toda a alma portuguesa para espalhar o amor pela Europa no Festival da Eurovisão - singela homenagem, neste mês de Maio, em que evento se aproxima :)
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