Às vezes é difícil acreditar que aconteceu tudo o que tem acontecido: parece uma sucessão de pesadelos interminável que me parece ter piorado desde que me abandonaste.
Toda a gente morreu, toda a gente continua a morrer aos magotes, em catadupa. Por todo o lado a violência impera. O mal está ainda mais flagrante, visível e sonoro. Já ninguém se preocupa. Vivem todos entre a cobardia e o ódio. Ficaram todos mesmo zombies. Todos lobotomizados. Uns anestesiados, outros a emitir grunhidos, todos estupidificados, todos robotizados, dia após dia nas suas rodinhas de hamster. Uns são imunes, outros cruéis, riem às gargalhadas: outros esbravejam, mas entraram na mesma cowboyada.
Tu és feliz, sentes-te realizado, sabes que és amado e, no entanto, diz que não tens paz interior porque vives a querer adaptar a todos só para te amarem. Quase que tive dó de vocês os dois, ditadores vazios.
Tudo poderia ser tão melhor verdadeiramente para todos e nem sequer é preciso nada de muito difícil assim.
Mas ninguém quer ser melhor, senão melhor do que o outro naquilo que o outro tem. É por isso que todos os seres humanos nunca serão verdadeiramente felizes e em paz, e viverão neste infindo ciclo de pesadelos intermináveis.
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