quinta-feira, junho 30, 2022

Juma

 Apercebi-me que eu sou pior do que a personagem Juma da telenovela brasileira. 

Nunca saí à rua nestes últimos mais de dois anos pandémicos, recebi à janela umas 10 vezes rápidas poucas pessoas. 

Também me apercebi que nunca pedi a ninguém que ficasse na minha vida, especialmente depois de uma certa pessoa em 1999. Sempre mandei toda a gente à sua vida, talvez até mentindo sobre o meu querer, sempre com a racionalidade a falar mais alto. Pensava sempre que não podia fazer isso a ninguém, porque não queria ser a responsável por a pessoa não ter uma vida melhor com outra e com outras oportunidades. 

Ainda hoje pensava nisso que estão sempre a querer enfiar pela goela ultimamente, a história de nos amarmos, de termos auto-estima e de que eu agora já estava é farta e achava que isso era algo sobrevalorizado e o mal é quando não ter nos prejudica muito. Ora, agora mesmo com essa de não ter nunca ter querido ficar ou pedir a alguém para ficar e quando escrevi aqui a razão é que me veio a tristeza e o horror que é: sentir isso de que qualquer outra pessoa é melhor do que eu para estar com eles, eu sou basicamente um lixo. Claro que isso só pode ter origem profunda e remota na infância mas também no tal reforço do trauma do abandono quando em 1999.

Imagino que como foi tão destruidor inclusive para a minha dignidade, aquela vez, nunca mais me coloquei em semelhante sujeição a rejeição. 

Talvez em termos de amizade agora com uma certa pessoa por quem havia desenvolvido uma certa dependência nestes tempos pandémicos, mas não tem comparação sequer. 

Mas, lá está, para querer que alguém fique precisamos da pessoa, como a Juma precisa que lhe ensinem a ler. 

A minha racionalidade e consciência a mais sempre me impediram de fazer muita coisa. Quando algo fala mais alto como se valesse a pena, como foi em 2006, mesmo sabendo a priori do inevitável desfecho e tendo razão, foram muitos momentos felizes, esforçados, que tive. Hoje, pensando em como afinal amamos pessoas de que conhecemos apenas alguns aspectos, vindo até possivelmente a descobrir outros depois que não nos fazem mesmo gostar da pessoa, fico a pensar em quanto é tudo uma ilusão. 

Ter o sentimento pode ser simples até, mas todos os factores que implicam depois acaba sempre por complicar, especialmente em sociedade. 

Esse amor sagrado e intocável, maior que tudo, inexistente enquanto físico, é o único que é o verdadeiro.

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