sábado, agosto 13, 2022

A morte

 Sinto agora a tua falta e mais uma vez culpo-me por não ter podido estar ao teu lado quando mais precisávamos. A verdade é que nada importa, nem ninguém se importa realmente, já estão todos inseridos nessa banalização da morte, especialmente depois de tanta frequência dela nos últimos anos. 

Eu quebro sempre. Estilhaça-me tudo de novo. Dói muito. Lembra de todas as outras que não estão esquecidas e que se amontoam no meu doloroso vazio dentro do meu tronco. Não está oco mais, mas preenchido de tanta dor que parece sangue coagulado a sangrar na mesma. 

Ninguém se preocupa com a dor de ninguém. Ninguém faz nada de apoiar e acarinhar o outro sem ser a alguém do seu círculo mais próximo ou por outro lado alguém que desconhecem, como caridade a uma instituição. 

Eu que nunca pertenci, que nunca encaixei, que nunca fui de ninguém, senão de umas duas pessoas mesmo por algum tempo, tendo tido tantas que apoiei, nunca tive quem me apoiasse e estivesse do meu lado quando eu mais precisei. 

Fugi, vagueei, algumas pessoas estranhas acolheram-me por momentos, mas nunca pude ficar, nunca pude deixar-me ir, nunca quis arrastar ninguém para o meu mundo de ruína e dor. 

Talvez seja então por isso que tanto amo fotografias de casas abandonadas, talvez só elas sejam como eu. 

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