sábado, agosto 06, 2022

Saudades

 Escrevo-te para te dizer que tenho saudades tuas. Aqui. Sabendo muito bem que não me entendes, pois não sentes como eu, por mim, o que sinto por ti. Não é somente uma sede ou uma fome, não, pertence a outra categoria, tem outro nome. É coisa que habita imediatamente debaixo da pele.que não tem explicação, nem razão, nem motivo sequer, senão este constante buliçar, crepitar de poros, pulsar ininterrupto de veias; o fogo que arde sem se ver. 

Não, já nem coloco entre aspas e tu sabes porquê. Talvez. Sei lá. 

Achas que estamos demasiado gastos? É, somos os toros chamuscados nessa lareira que arde há tempo demais. "I've been loving you, for too long, to stop now", agora sim, as aspas. Mas nunca estamos tão cansados que não consigamos já sentir esta coisa dentro de nós, que fizemos tão complexa e tão contraditória e ao mesmo tempo tão congruente e persistente quanto nós. 

Somos a maior festa, mas triste,,,, as canas dos foguetes, quase. E a dor, sempre a dor, daquele verso que nos diz que não nos veremos, que não nos vimos, que somos tudo e tão inteiramente, porque só comigo e contigo assim nos sentimos. 

É trágico... e, ao mesmo tempo, estamos sempre juntos, demasiado, pele no osso, carne na pele, una medula óssea. "O abraço que não desgruda mais", sim de novo as aspas. "Saudade, que saudade".


Sem comentários: