segunda-feira, setembro 12, 2022

O sonho italiano morreu

 As pessoas que eu mais amo presentemente são as que me ignoram porque eu assim fiz para que tudo fosse. Sangro todos os dias, o meu coração esvaindo-se e vez em quando ainda com taquicardias, como começaram desde que a nossa mamã iniciou a sua passagem para o outro mundo. Entretanto tive aquela visão, ou sei lá, dela num sítio que me parecia a Toscana, feliz ao lado do seu pintor. Agora que me recordo, talvez fosse só o meu subconsciente a querer acreditar naquele momento que é possível duas pessoas que gostaram muito uma da outra mas não puderam encontrar-se em vida, se reunem ao morrerem poucos anos depois. 

Eu sei que estou a definhar aceleradamente nos últimos dois anos, estando num estado extremamente debilitado e já bastante impossível de ter uma vida normal. O sonho de ter ido para Florença estudar luz e sombra ficou em 2020 impedido, mas nem sei se eu teria arriscado o vôo e tudo mesmo, não falo só da possível hemorragia interna. 

Ontem apercebi-me de que fiquei 7 anos antes sempre sem quase sair senão para as consultas médicas mensais, por causa de ter de cuidar do meu pai que nunca queria sair e também não dava, mas também não o podia deixar sozinho por causa de todos os problemas que ocorriam. 

Depois com mais este pesadelo da pandemia tudo se agravou para mim, como se os piores pesadelos se tornassem realidade ainda pior. Por isso, tenho mesmo de acabar com a porcaria da esperança, dos sonhos, de ficar melhor de saúde que só piora, do amor, de tudo o que ainda só me traz mais dor e dor todos os dias. 

Antigamente estava mais resignada. Agora estou cansada de ter tido tanta esperança activa de novo em vão para sonhos de Arte impossíveis. Para não falar de tudo das pessoas, que nem sequer estiveram cientes e foi mesmo melhor que nunca me tivessem amado muito como eu as amo. Só me resta admitir que o sonho de Itália acabou. É bom que a minha mãe vai lá já pela segunda vez. Desta vez eu sabendo e mais com a frase que meu irmão disse de que ainda posso ir um dia, fez-me entender a minha realidade funesta e poder chorar sinceramente sobre a sua verdadeira admissão e de tudo a que não tive direito. 

Isto, claro, buscou muitas coisas de mim que já não pensava há um bocadito. 

Eu mereci todo o desprezo com que me trataram, penso sempre, porque eu sempre detestei estar viva e odiei-me por me sentir a pessoa mais horrível do mundo e a sofrer e a querer morrer todos dias por causa de quem me pôs no mundo. 

Hoje, mais velha, com os anos de desconstrução e também a terapia de 2018-2020 e 2021-até agora, consegui observar tudo ainda melhor e mais aprofundadamente, ver todo o estrago irrecuperável pela falta de condiçőes que eu tenho para poder reconstruir-me como algo mais sarado de todos os milhentos traumas. 

E chego à mesma conclusão de que ao contrário do que disse quem me proferiu "você merece ser amada" (e também não me ligam nenhuma na verdade se não for eu a dizer algo lol), eu não senti que mereça e por isso nunca aceitei plenamente, pois ninguém me fez acreditar o contrário com o seu "tão grande amor" que só me abandonou como todos.

Piano piano non sono andata lontano.

Sem comentários: