Hoje voltei àquele lugar
onde um dia te deixei
decidida a não voltar
e não mais me lembrei
Senão quando vi cinema
ouvi música e chuva
quando vi o céu que teima
em deixar-me a vista turva
E brindo ao que tive
sabendo que não o quero mais
nem voltar aonde estive
Só quero saber onde vais
e ir para outro país
cortando todo o mal pela raiz.
terça-feira, dezembro 27, 2011
segunda-feira, dezembro 12, 2011
domingo, dezembro 11, 2011
Suspenso
Existem entre nós olhares que não são mudos e gestos que vingam o teu cheiro.
Há toda uma praia de pequenas gotículas frescas que acariciam o rosto e perduram sobre a ponta do nariz.
TODAS AS PÁGINAS ARRANCADAS DE NÓS E JOGADAS AO MAR ESTÃO POR SER LIDAS.
E no amanhecer sonolento que dura uma eternidade, a maré traz aos nossos pés espuma, que se desfaz rapidamente, deixando resquícios castanhos, como que sujos, peneirados pela areia.
Hoje não sabemos o nosso lugar na estória, nem qual o papel que nos calhou. Só podemos ficar assim, no limbo das primaveras que foram, na saudade do que viria agora.
A lua já não me vigia e o céu já não me mostra a tua dor. Restava-me esperar um sinal de ti, onde sempre apareceste na minha mente, nas sombras e luzes dos dias tranquilos mas vazios.
Há toda uma praia de pequenas gotículas frescas que acariciam o rosto e perduram sobre a ponta do nariz.
TODAS AS PÁGINAS ARRANCADAS DE NÓS E JOGADAS AO MAR ESTÃO POR SER LIDAS.
E no amanhecer sonolento que dura uma eternidade, a maré traz aos nossos pés espuma, que se desfaz rapidamente, deixando resquícios castanhos, como que sujos, peneirados pela areia.
Hoje não sabemos o nosso lugar na estória, nem qual o papel que nos calhou. Só podemos ficar assim, no limbo das primaveras que foram, na saudade do que viria agora.
A lua já não me vigia e o céu já não me mostra a tua dor. Restava-me esperar um sinal de ti, onde sempre apareceste na minha mente, nas sombras e luzes dos dias tranquilos mas vazios.
segunda-feira, novembro 28, 2011
domingo, novembro 27, 2011
Um homem na cidade, poema de Ary dos Santos
Agarro a madrugada
como se fosse uma criança,
uma roseira entrelaçada,
uma videira de esperança.
Tal qual o corpo da cidade
que manhã cedo ensaia a dança
de quem, por força da vontade,
de trabalhar nunca se cansa.
Vou pela rua desta lua
que no meu Tejo acendo cedo,
vou por Lisboa, maré nua
que desagua no Rossio.
Eu sou o homem da cidade
que manhã cedo acorda e canta,
e, por amar a liberdade,
com a cidade se levanta.
Vou pela estrada deslumbrada
da lua cheia de Lisboa
até que a lua apaixonada
cresce na vela da canoa.
Sou a gaivota que derrota
tudo o mau tempo no mar alto.
Eu sou o homem que transporta
a maré povo em sobressalto.
E quando agarro a madrugada,
colho a manhã como uma flor
à beira mágoa desfolhada,
um malmequer azul na cor,
o malmequer da liberdade
que bem me quer como ninguém,
o malmequer desta cidade
que me quer bem, que me quer bem.
Nas minhas mãos a madrugada
abriu a flor de Abril também,
a flor sem medo perfumada
com o aroma que o mar tem,
flor de Lisboa bem amada
que mal me quis, que me quer bem.
como se fosse uma criança,
uma roseira entrelaçada,
uma videira de esperança.
Tal qual o corpo da cidade
que manhã cedo ensaia a dança
de quem, por força da vontade,
de trabalhar nunca se cansa.
Vou pela rua desta lua
que no meu Tejo acendo cedo,
vou por Lisboa, maré nua
que desagua no Rossio.
Eu sou o homem da cidade
que manhã cedo acorda e canta,
e, por amar a liberdade,
com a cidade se levanta.
Vou pela estrada deslumbrada
da lua cheia de Lisboa
até que a lua apaixonada
cresce na vela da canoa.
Sou a gaivota que derrota
tudo o mau tempo no mar alto.
Eu sou o homem que transporta
a maré povo em sobressalto.
E quando agarro a madrugada,
colho a manhã como uma flor
à beira mágoa desfolhada,
um malmequer azul na cor,
o malmequer da liberdade
que bem me quer como ninguém,
o malmequer desta cidade
que me quer bem, que me quer bem.
Nas minhas mãos a madrugada
abriu a flor de Abril também,
a flor sem medo perfumada
com o aroma que o mar tem,
flor de Lisboa bem amada
que mal me quis, que me quer bem.
sábado, novembro 26, 2011
sexta-feira, novembro 25, 2011
Amo alguém como tu.
30-04-2005, muito tarde, qs 3 da manhã...
Amo alguém como tu... Com a mesma solidão no rosto e o mesmo corpo desconcertado pelas dores da vida. As mãos e os modos de uma rudeza de um qualquer vagabundo e, no entanto, os olhos e o sorriso de uma criança, a mais terna e mais inocente de todas.
Amo alguém como tu que foste meu por uma eternidade e depois desapareceste como se nunca tivesses existido; como se tudo o que aconteceu tivesse sido o mais belo dos sonhos, agora esfumado na neblina do esquecimento.
Amo alguém como tu, que um dia me levou para o topo do mundo e me fez sua Rainha, e Deusa de todos os mortais.
Ando há longuíssimos anos, esguios, a amar alguém como tu, mas sem essa sombra dentro de si; só que infelizmente não existe ninguém como tu.
Pensei que o tempo fosse amigo e pudesse apagar a dor do anoitecer e do amanhecer, sucessivos sem ti, mas enganei-me, pois ainda estou, sem alternativa, à espera de que um dia possa doer um pouco menos que seja. Procurei remédios e bálsamos, mas nunca me serviram de muito, pois não existe cura para o mal que é não nos termos em nós, connosco sempre. Descobri há pouco tempo porque é que quando te pedi a minha Alma de volta e tu placidamente disseste que podia ir buscá-la quando quisesse, efectivamente ela não voltou a mim. Sim, talvez o maior mal definitivo, a minha Alma foi-se para sempre, pois ela já era tua. Hoje compreendo que o que separaram de mim à nascença (ou quem sabe antes) foi a Alma, para que eu tivesse a missão de me reunir com ela se me quisesse sentir preenchida alguma vez na vida. Foi precisamente isso que aconteceu, apenas com alguém como tu. Esse alguém como tu, é por mim amado ininterruptamente (comigo consciente desse facto) há quase sete anos, meu eterno.
Não sei se houve Amor igual ao meu, por alguém como tu, durante tanto tempo sem ti, mas gostava de saber se há quem tenha algum dia voltado a fundir-se com a pessoa que lhe ficou com a Alma. Só para saber se o meu sofrimento, a minha espera, o meu sacrifício e tudo o mais entretanto, só, são nada mais do que vítimas da minha alegada imaginação fértil. Saber se as madrugadas e os dias claros que passei a pensar em ti, a amar-te na tua ausência, tudo o que fiz, tudo de que abdiquei, tudo no que me tornei e toda a vida insípida e sôfrega que tive por não te ter; se foi tudo em vão. Há muito que não aspiro a Felicidade, apenas espero dar uso a este meu Amor que não cabe em lado nenhum, é maior do que tudo o que existe, e que eu sinto em todos os segundos da minha existência martirizante. O exercício de te amar, passá-lo à ávida prática; amar-te e amar-te e amar-te mais ainda, sempre, como eu tanto amo esse alguém como tu... E as palavras não chegam para tanto...Meu Amor, minha Vida, meu mais-que-Tudo, neste mundo e em todos os outros.
Amo-te
quinta-feira, novembro 24, 2011
versão do “TEN THINGS I HATE ABOUT YOU”
escrito em 16-maio.2005
(Um dia quem sabe se não vou poder mostrar-te todos os filmes que vi a pensar em ti e toda a escrita que só se desenhou por tua causa.)
Odeio a forma como me fixas com o teu olhar e esboças um sorriso tão terno que me dá a impressão de que serás a minha perdição. Odeio o teu modo de falar comigo quando te sentes culpado de alguma coisa e tentas exercer o teu sofrimento em mim. Odeio quando te silencias, como se eu não te pudesse ouvir e saber tudo o que vai dentro de ti à mesma. Odeio quando guiavas o carro que tive e tomavas conta de tudo o que é meu de uma forma tão magnânima. Odeio o facto de fumares e não teres estilo e ainda assim o facto de poder ver-te ser uma benção para mim. Odeio as tuas maneiras rudes e de apetites vorazes que me faz ficar a amar cada segundo do que fazes. Odeio quando tudo o que fazes é ser igual ao que eu penso e ao que sou, como se entrasses na minha mente e no meu corpo e tomasses conta. Odeio o facto de continuar a escrever milhares de palavras por tua causa. Odeio todas as recordações de ti, que tenho a todo o segundo, porque são elas a minha única vida e porque agora não passam de memórias. Odeio ainda mais quando me fazes chorar, mas pior que isso é quando não estás por perto nem dás sinal de vida.
Acima de tudo odeio o modo como não te consigo odiar, nem um pouco, nem um bocadinho que seja, nada mesmo e só continuo sem ti, a amar-te sempre, acima de tudo.
(óbvio que a palavra “odeio” não queria mesmo dizer isso :D, daí o itálico)
quarta-feira, novembro 23, 2011
domingo, novembro 20, 2011
«El secreto de sus ojos»
Putíssima vida que fica vazia
depois de ter estado tão cheia
e a verdade que os teus olhos encerram
diz que a minha vida não existe.
Memórias ficam, apenas,
resíduos do que perfurou a alma
e o teu semblante
o teu batom vermelho
a tua pele morena
apenas pairam como um fantasma.
O teu cabelo conta uma história
e diz-me que todos devemos
ou não podemos
escolher apenas as boas memórias.
Saturada da sua existência ténue
a mulher que tem sede de sangue
vira-se para o infinito
com os olhos na direcção do horizonte.
Aí, ela encontra a resposta,
que procurou durante anos,
o segredo que agora se grava na sua mácula
e ninguém saberá o que é.
O que se faz com uma vida vazia?
depois de ter estado tão cheia
e a verdade que os teus olhos encerram
diz que a minha vida não existe.
Memórias ficam, apenas,
resíduos do que perfurou a alma
e o teu semblante
o teu batom vermelho
a tua pele morena
apenas pairam como um fantasma.
O teu cabelo conta uma história
e diz-me que todos devemos
ou não podemos
escolher apenas as boas memórias.
Saturada da sua existência ténue
a mulher que tem sede de sangue
vira-se para o infinito
com os olhos na direcção do horizonte.
Aí, ela encontra a resposta,
que procurou durante anos,
o segredo que agora se grava na sua mácula
e ninguém saberá o que é.
O que se faz com uma vida vazia?
terça-feira, novembro 15, 2011
Sem-Abrigo
Procura-me entre escombros de mim
e leva os meus olhos para eu não ver
tudo o que embrutece nas ruas só com o ar.
Leva também as memórias empoeiradas
e que fedem de tanta falsidade.
Sei que hoje está mais frio
e os cobertores da juventude
foram rasgados pelos punhais
de gelo que as pessoas me lançam
só com os seus olhares indiferentes.
Cada linha no meu rosto
qual pele de paquiderme ancião
espelha a rudeza do chão que pisei
e que me abrigou sem o fazer.
Não há qualquer solução para ti,
não penses que és mais feliz do que eu,
porque sei que não estás aí.
e leva os meus olhos para eu não ver
tudo o que embrutece nas ruas só com o ar.
Leva também as memórias empoeiradas
e que fedem de tanta falsidade.
Sei que hoje está mais frio
e os cobertores da juventude
foram rasgados pelos punhais
de gelo que as pessoas me lançam
só com os seus olhares indiferentes.
Cada linha no meu rosto
qual pele de paquiderme ancião
espelha a rudeza do chão que pisei
e que me abrigou sem o fazer.
Não há qualquer solução para ti,
não penses que és mais feliz do que eu,
porque sei que não estás aí.
domingo, novembro 06, 2011
quarta-feira, novembro 02, 2011
Queixumes joviais
Deixa os teus queixumes no armário da cozinha
para que cada vez que lá vás,
antes de abrires a porta do armário,
desistas e, em vez, optes por comidinha.
Não precisas que te digam o contrário,
tu já não és a criança daquelas birras,
que fazias, quando chamavas as pessoas de más.
Pensa que quando os ânimos acirras
não é quem te admira
que te irá aplacar a dor.
Não te esqueças que à subida vertiginosa
também corresponde a descida aleivosa
que quebra em mil estilhaços
tudo o que tens feito sem abraços.
Tu tens em ti um grande império,
num empório de dois salões
-divididos por um biombo-,
um deles com queixumes amontoados
e outro com a liberdade, força e carácter.
Sozinho deves construir a tua fortaleza,
não dependendo de meros mortais,
e só então conhecerás a beleza
dos teus próprios versos
e não terás de usar o dos outros mais.
para que cada vez que lá vás,
antes de abrires a porta do armário,
desistas e, em vez, optes por comidinha.
Não precisas que te digam o contrário,
tu já não és a criança daquelas birras,
que fazias, quando chamavas as pessoas de más.
Pensa que quando os ânimos acirras
não é quem te admira
que te irá aplacar a dor.
Não te esqueças que à subida vertiginosa
também corresponde a descida aleivosa
que quebra em mil estilhaços
tudo o que tens feito sem abraços.
Tu tens em ti um grande império,
num empório de dois salões
-divididos por um biombo-,
um deles com queixumes amontoados
e outro com a liberdade, força e carácter.
Sozinho deves construir a tua fortaleza,
não dependendo de meros mortais,
e só então conhecerás a beleza
dos teus próprios versos
e não terás de usar o dos outros mais.
domingo, outubro 23, 2011
Na minha cidade.
Na minha cidade há jardins vários
com carros de todas as cores
a desabrochar todas as manhãs
para o rebuliço das ruas.
Há também árvores inúmeras
com olhos-janelas
que despertam com a luz do sol
e brilham
para iluminar os rostos dos curiosos.
Na minha cidade há riachos de pessoas
que ondulam juntando-se umas às outras
pelos passeios apinhados.
O chilreio das buzinas dos carros
e rugidos dos seus motores
são a banda sonora diária
de quem vive nesta selva de betão.
Aos bandos, regressam aos dormitórios
de todas as alturas
e como pássaros, desfiam as penas
pelo ar poluído da cidade.
Essa perda está directamente associada
ao movimento regurgitador
da barriga do transporte público
que as vomita
expelindo-as cruas e envoltas
nos seus próprios pensamentos azucrinantes.
A cidade engole os riachos, as àrvores, os jardins,
e sempre, num processo mais lento e sacrificial,
as pessoas,
que não o sabem, mas vivem na minha cidade.
com carros de todas as cores
a desabrochar todas as manhãs
para o rebuliço das ruas.
Há também árvores inúmeras
com olhos-janelas
que despertam com a luz do sol
e brilham
para iluminar os rostos dos curiosos.
Na minha cidade há riachos de pessoas
que ondulam juntando-se umas às outras
pelos passeios apinhados.
O chilreio das buzinas dos carros
e rugidos dos seus motores
são a banda sonora diária
de quem vive nesta selva de betão.
Aos bandos, regressam aos dormitórios
de todas as alturas
e como pássaros, desfiam as penas
pelo ar poluído da cidade.
Essa perda está directamente associada
ao movimento regurgitador
da barriga do transporte público
que as vomita
expelindo-as cruas e envoltas
nos seus próprios pensamentos azucrinantes.
A cidade engole os riachos, as àrvores, os jardins,
e sempre, num processo mais lento e sacrificial,
as pessoas,
que não o sabem, mas vivem na minha cidade.
terça-feira, outubro 18, 2011
domingo, outubro 16, 2011
Libertino
Actores como crianças que anulam o tempo, querem tudo para agora...
Fugi do teu amor e quando regressei tu não estavas lá para me receber
e eu já não podia voltar para antes disso.
Ao contrário do amor previsível, tu não pareces saber aquilo que eu vou dizer
nem mesmo quando eu o digo.
As feridas que cravejam o meu corpo não te horrorizam,
mas as cicatrizes traçam a distância entre nós.
Selvático, com laivos geniais a texturizar a loucura, o meu ser devoto ao teu,
por obsessão desenfreada, jamais soube o que era feito de ti.
Flores da noite, colhidas ao luar, as mulheres que nunca preencheram o vazio de não te ter.
Agora o tempo passou e a rosa que te dei, no fim da tua actuação,
murchou à mercê de um palco deserto.
Fugi do teu amor e quando regressei tu não estavas lá para me receber
e eu já não podia voltar para antes disso.
Ao contrário do amor previsível, tu não pareces saber aquilo que eu vou dizer
nem mesmo quando eu o digo.
As feridas que cravejam o meu corpo não te horrorizam,
mas as cicatrizes traçam a distância entre nós.
Selvático, com laivos geniais a texturizar a loucura, o meu ser devoto ao teu,
por obsessão desenfreada, jamais soube o que era feito de ti.
Flores da noite, colhidas ao luar, as mulheres que nunca preencheram o vazio de não te ter.
Agora o tempo passou e a rosa que te dei, no fim da tua actuação,
murchou à mercê de um palco deserto.
quarta-feira, outubro 12, 2011
Alina, a modelo
A voz interior ausente,
perdida algures numa bagagem esquecida
na passadeira rolante do check-in do 1º aeroporto
e depois...
Intermitente, a existência de Alina que ía de vôo em hotel
e de hotel em vôo,
com as longas pernas alvas, de gazela albina fugidia,
em constante frenesim, mas sem desfilar cansaço.
Alina, a modelo, cujo corpo resplandecente
era transformado como o de uma boneca;
quase três pares de mãos lhe tocavam o rosto
e mais dois lhe percorriam o resto do corpo,
porque a perfeição nunca é atingida.
Por uma fracção de segundo, Alina olhou-se ao espelho,
por entre os corpos dos malabaristas que a tocavam,
e pensou: "tanto trabalho para me tornarem em algo diferente.
Sombras e pós, que num acto mágico aplicam uma máscara,
tudo tão falso e de certa forma doloroso...
e ainda assim é por esta aparência que as pessoas me invejam
e consequentemente me tratam mal
porque apenas vêem o que eu aparento."
A ideia de que todos a podem tocar, por ser Alina, a modelo,
e a ideia de que será sempre intocável...
Porém, a sua altivez apenas é visível ao lado dos outros corpos
que insistem em tocá-la; esses artífices pequenos.
Ninguém a amará pelo que ela é, porque ela nada pode ser,
senão aquilo que cada um deles quer que ela seja;
a tela em branco para quem a olha imaginar o que quiser.
Alina é simples, nas suas linhas corporais e no seu discurso,
no entanto a sua existência está minada por complexas questões,
da maior parte das vezes abafadas pelos longos tecidos das roupas que tem de ostentar.
Alina, a modelo, será sempre bela e jovem como nas fotografias
que lhe tiram quase sem perguntarem.
A pressão é constante e os olhares e os apressados horários também não têm descanso.
Ela tem conhecido o mundo inteiro na suas viagens,
mas não há, no mundo inteiro, alguém que realmente a conheça
e viver assim torna-se demasiado solitário.
O síndroma de Marilyn Monroe não chega a persistir,
pois Alina desconhece que é só.
Todos o somos e não há mal nisso,
senão quando começamos a tomar consciência
e, então, não o sabemos aceitar.
perdida algures numa bagagem esquecida
na passadeira rolante do check-in do 1º aeroporto
e depois...
Intermitente, a existência de Alina que ía de vôo em hotel
e de hotel em vôo,
com as longas pernas alvas, de gazela albina fugidia,
em constante frenesim, mas sem desfilar cansaço.
Alina, a modelo, cujo corpo resplandecente
era transformado como o de uma boneca;
quase três pares de mãos lhe tocavam o rosto
e mais dois lhe percorriam o resto do corpo,
porque a perfeição nunca é atingida.
Por uma fracção de segundo, Alina olhou-se ao espelho,
por entre os corpos dos malabaristas que a tocavam,
e pensou: "tanto trabalho para me tornarem em algo diferente.
Sombras e pós, que num acto mágico aplicam uma máscara,
tudo tão falso e de certa forma doloroso...
e ainda assim é por esta aparência que as pessoas me invejam
e consequentemente me tratam mal
porque apenas vêem o que eu aparento."
A ideia de que todos a podem tocar, por ser Alina, a modelo,
e a ideia de que será sempre intocável...
Porém, a sua altivez apenas é visível ao lado dos outros corpos
que insistem em tocá-la; esses artífices pequenos.
Ninguém a amará pelo que ela é, porque ela nada pode ser,
senão aquilo que cada um deles quer que ela seja;
a tela em branco para quem a olha imaginar o que quiser.
Alina é simples, nas suas linhas corporais e no seu discurso,
no entanto a sua existência está minada por complexas questões,
da maior parte das vezes abafadas pelos longos tecidos das roupas que tem de ostentar.
Alina, a modelo, será sempre bela e jovem como nas fotografias
que lhe tiram quase sem perguntarem.
A pressão é constante e os olhares e os apressados horários também não têm descanso.
Ela tem conhecido o mundo inteiro na suas viagens,
mas não há, no mundo inteiro, alguém que realmente a conheça
e viver assim torna-se demasiado solitário.
O síndroma de Marilyn Monroe não chega a persistir,
pois Alina desconhece que é só.
Todos o somos e não há mal nisso,
senão quando começamos a tomar consciência
e, então, não o sabemos aceitar.
quinta-feira, setembro 29, 2011
«Mutatis mutandis»
Os meus olhos não estão mais pequenos,
apenas a pele que os envolve está cada vez mais preguiçosa,
pois o sangue já não é bombeado com a pujança de outrora
pelas artérias da cervical.
As sobrancelhas não estão mais felpudas,
apenas descaem porque passaram demasiados anos sem dormir.
A pequena criatura que me visita muito raramente, sempre tão ternurenta,
deixa-me agora, só, com a minha esgotada tristeza.
E o meu rosto, apesar de já não estar empalidecido, ainda espelha as escoriações da minha alma.
Vigora a lei da inércia e eu, corpo pequeno,
daqui a uns anos suplantado pela pequena criatura,
tenho sofrido pela força do que me rodeia.
Na linha do tempo foge a Vida, como um passageiro num comboio,
sem ter tido a coragem de mudar de carruagem ou de sair numa qualquer estação
antes de chegar ao seu desconhecido destino.
apenas a pele que os envolve está cada vez mais preguiçosa,
pois o sangue já não é bombeado com a pujança de outrora
pelas artérias da cervical.
As sobrancelhas não estão mais felpudas,
apenas descaem porque passaram demasiados anos sem dormir.
A pequena criatura que me visita muito raramente, sempre tão ternurenta,
deixa-me agora, só, com a minha esgotada tristeza.
E o meu rosto, apesar de já não estar empalidecido, ainda espelha as escoriações da minha alma.
Vigora a lei da inércia e eu, corpo pequeno,
daqui a uns anos suplantado pela pequena criatura,
tenho sofrido pela força do que me rodeia.
Na linha do tempo foge a Vida, como um passageiro num comboio,
sem ter tido a coragem de mudar de carruagem ou de sair numa qualquer estação
antes de chegar ao seu desconhecido destino.
sábado, setembro 17, 2011
Ter-te perto
Preferia ter-te por perto,
mas que tivesses a meio das costas, enganchado entre uma vértebra, um cordel, elástico, para que te pudesse puxar e devolver-te ao mundo sempre que necessário.
Sei que chega uma altura em que, por me serem previsíveis, irritam-me os traços que no início me encantavam, acontece aos melhores, com o passar do tempo; daí nunca ter permanecido muito tempo,
mas confesso que me sabia bem, numa espécie de manto cálido de conforto, aquele simulacro de ventre, permanecer apenas,
perto, tão perto quanto desejável.
E sei que estás sempre dentro de mim (porque te tornaste parte integrante do meu corpo e da minha mente) e isso já não me incomoda tanto quanto no início em que me pulsava a um ritmo louco a memória e a presença do teu ser, no sentido em que quase me impossibilitava fazer o que quer que fosse, por me sentir com o peso constante da tua ausência a esmagar-me por dentro...
no fundo apenas te quis e sempre te quero perto.
mas sei que não é possível. pelo menos por enquanto.
Regresso a ti e tu a mim de vez em vez, como se fôssemos a areia e água do mar; absorvemo-nos, enrolamo-nos, mas somos sempre uma mistura heterógenea; tão únicos e complementares.
Hoje sei que será possível a mediania da distância, o negociar das individualidades, o elevar do amor e da intimidade a um patamar sublime, intocável e impossível de se destruir.
Resta saber, quando será que... te vou ter perto.
mas que tivesses a meio das costas, enganchado entre uma vértebra, um cordel, elástico, para que te pudesse puxar e devolver-te ao mundo sempre que necessário.
Sei que chega uma altura em que, por me serem previsíveis, irritam-me os traços que no início me encantavam, acontece aos melhores, com o passar do tempo; daí nunca ter permanecido muito tempo,
mas confesso que me sabia bem, numa espécie de manto cálido de conforto, aquele simulacro de ventre, permanecer apenas,
perto, tão perto quanto desejável.
E sei que estás sempre dentro de mim (porque te tornaste parte integrante do meu corpo e da minha mente) e isso já não me incomoda tanto quanto no início em que me pulsava a um ritmo louco a memória e a presença do teu ser, no sentido em que quase me impossibilitava fazer o que quer que fosse, por me sentir com o peso constante da tua ausência a esmagar-me por dentro...
no fundo apenas te quis e sempre te quero perto.
mas sei que não é possível. pelo menos por enquanto.
Regresso a ti e tu a mim de vez em vez, como se fôssemos a areia e água do mar; absorvemo-nos, enrolamo-nos, mas somos sempre uma mistura heterógenea; tão únicos e complementares.
Hoje sei que será possível a mediania da distância, o negociar das individualidades, o elevar do amor e da intimidade a um patamar sublime, intocável e impossível de se destruir.
Resta saber, quando será que... te vou ter perto.
domingo, julho 31, 2011
O hábito faz o diabo.
O mal é habituarmo-nos:
somos rodeados quando nascemos e ficamos com a sensação que somos o centro do mundo, que importamos para alguém, que as pessoas gostam de nós...
habituamo-nos a nunca estarmos completamente sós, a sermos inundados com ofertas, muitas delas personalizadas, e o sentimento de que somos maus se não nos damos, se não nos entregamos...
e quando o fazemos damo-nos mal, inevitavelmente, porque darmo-nos com os outros seres que são tão imperfeitos e mortais como nós só pode acabar em tristeza...
é triste saber que se nasce e morre só, mas mais triste ainda é ter a consciência de que pelo meio também não houve quem verdadeiramente nos amasse e se partilhasse connosco.
não seria tão triste, o caso, se não fosse pelo facto de nos termos habituado desde pequenos a haver pessoas ao nosso redor e por momentos elas nos darem atenção... e existir o estigma de que quem não é recipiente dessa atenção, é, de alguma maneira, menos digno.
O hábito faz o diabo de nós. O não aguentarmos vivermos sós, sentindo que sem sermos amados, ou acarinhados de alguma forma, não somos ninguém, não vivemos realmente.
E depois, no meio disto, há o Amor, há sempre o Amor. Saber que para nos sentirmos vivos, temos de experienciá-lo e usufruir da alegria que só ele nos pode proporcionar.
somos rodeados quando nascemos e ficamos com a sensação que somos o centro do mundo, que importamos para alguém, que as pessoas gostam de nós...
habituamo-nos a nunca estarmos completamente sós, a sermos inundados com ofertas, muitas delas personalizadas, e o sentimento de que somos maus se não nos damos, se não nos entregamos...
e quando o fazemos damo-nos mal, inevitavelmente, porque darmo-nos com os outros seres que são tão imperfeitos e mortais como nós só pode acabar em tristeza...
é triste saber que se nasce e morre só, mas mais triste ainda é ter a consciência de que pelo meio também não houve quem verdadeiramente nos amasse e se partilhasse connosco.
não seria tão triste, o caso, se não fosse pelo facto de nos termos habituado desde pequenos a haver pessoas ao nosso redor e por momentos elas nos darem atenção... e existir o estigma de que quem não é recipiente dessa atenção, é, de alguma maneira, menos digno.
O hábito faz o diabo de nós. O não aguentarmos vivermos sós, sentindo que sem sermos amados, ou acarinhados de alguma forma, não somos ninguém, não vivemos realmente.
E depois, no meio disto, há o Amor, há sempre o Amor. Saber que para nos sentirmos vivos, temos de experienciá-lo e usufruir da alegria que só ele nos pode proporcionar.
terça-feira, junho 14, 2011
A Terra e as suas flores vaginais
Por todo o lado existem esporos no ar,
seja dentro das casas, ou fora delas,
eles cirandeiam quase invisíveis
numa dança errática e fugaz.
Pontilhados de flores saltam-me à vista
e lembro-me do filme que vi outro dia,
em que uma rapariga recusava flores
de um homem que lhe propunha casamento.
Entre outras coisas, a rapariga explicava
que as flores são vaginas simbólicas
e que os homens oferecem-nas às mulheres
apenas porque as querem desflorar.
Ora bem, não é à toa que se vêem ritos
da omnipresente proliferação exacerbada
das várias espécies existentes na Terra,
numa constante caça pelo parceiro ideal.
A natureza em si é uma festa de fecundação,
nascimento e morte - a vida frágil das criaturas.
As flores despertam o desejo com as suas cores
e a Terra recebe no seu seio os esporos da vida.
Esse círculo ininterrupto faz-se vingar,
século após século, flor após flor,
como se se tratasse de um mecanismo automático
e cheira-me que tão cedo não irá parar.
seja dentro das casas, ou fora delas,
eles cirandeiam quase invisíveis
numa dança errática e fugaz.
Pontilhados de flores saltam-me à vista
e lembro-me do filme que vi outro dia,
em que uma rapariga recusava flores
de um homem que lhe propunha casamento.
Entre outras coisas, a rapariga explicava
que as flores são vaginas simbólicas
e que os homens oferecem-nas às mulheres
apenas porque as querem desflorar.
Ora bem, não é à toa que se vêem ritos
da omnipresente proliferação exacerbada
das várias espécies existentes na Terra,
numa constante caça pelo parceiro ideal.
A natureza em si é uma festa de fecundação,
nascimento e morte - a vida frágil das criaturas.
As flores despertam o desejo com as suas cores
e a Terra recebe no seu seio os esporos da vida.
Esse círculo ininterrupto faz-se vingar,
século após século, flor após flor,
como se se tratasse de um mecanismo automático
e cheira-me que tão cedo não irá parar.
quarta-feira, junho 01, 2011
Mais uma infecção, 3ª dose de antibióticos este ano...
A minha vida tem laivos de tristeza enraizados, tão frequentes e indeléveis como os das árvores.
A seiva que todos perdemos diariamente, num constante jorrar de energia, nunca chega a ser reposta. Não existem sóis suficientes ou rostos benignos; édens sem bichos malignos.
Assim como as árvores, espero o golpe final do machado extracorpóreo da vida, mas eu, ao contrário delas, não servirei para a construção de mobiliário, nem para aquecer alguém, ardendo numa fogueira qualquer.
A seiva que todos perdemos diariamente, num constante jorrar de energia, nunca chega a ser reposta. Não existem sóis suficientes ou rostos benignos; édens sem bichos malignos.
Assim como as árvores, espero o golpe final do machado extracorpóreo da vida, mas eu, ao contrário delas, não servirei para a construção de mobiliário, nem para aquecer alguém, ardendo numa fogueira qualquer.
sexta-feira, maio 13, 2011
Tratamento anti-Helicobacter Pilory
Dia 10/05/2011 - início:
2 antibióticos - Amoxilina e Claritromicina; e 1 comprimido inibidor da bomba de protons - Omeprazol;
todos de 12 em 12 horas/8 dias.
Sintomas já experienciados (efeitos secundários-não li bulas respectivas para não haver hipótese de sugestão...)
- constante sabor amargo na boca, língua intragável, secura extrema;
- diarreias;
- astenia e fraqueza generalizada;
- enxaquecas;
-dores e rigidez estomacais;
isto passados apenas 3 dias...
depois:
- obstipação;
- manchas brancas e cortes na língua e céu da boca;
- náuseas e tonturas;
- sabor amargo na boca desde o início;
- músculos presos.
depois:
- obstipação;
- manchas brancas e cortes na língua e céu da boca;
- náuseas e tonturas;
- sabor amargo na boca desde o início;
- músculos presos.
Mais uma prova de que a poesia serve para sobreviver à realidade e que os meus Desassossegos neste blogue constituem-se nos eventos da realidade que tento imbuir de poesia, para de qualquer forma (ilusoriamente ou não) passar pelos dias melhor.
domingo, maio 01, 2011
Perdi alguns poemas pelo caminho,
objectos da memória esquecida e voraz,
a canibal de todos os meus desejos.
Trituro agora,com a tenacidade de quem range os dentes,
esses sonhos perdidos no tempo;
esmiuço-os com muita dificuldade,
como um amblíope que se esforça por ver.
Sonoramente irrompem no meu peito trovões
de tempos idos e paixões tidas,
injectam correntes em rios de paredes finas,
vasos capilares que transbordam em segundos
num desenfreado espasmo para o coração.
Vislumbrei o que foi o acumular de granizo entre os fios de cabelo,
como uma velha árvore despida, de ramos enbranquecidos,
esquecidos ao luar.
E quando o sol raiava, com os seus dedos de luz
a acariciar-me a pele dourada... que frisson...
o vigor da juventude.
objectos da memória esquecida e voraz,
a canibal de todos os meus desejos.
Trituro agora,com a tenacidade de quem range os dentes,
esses sonhos perdidos no tempo;
esmiuço-os com muita dificuldade,
como um amblíope que se esforça por ver.
Sonoramente irrompem no meu peito trovões
de tempos idos e paixões tidas,
injectam correntes em rios de paredes finas,
vasos capilares que transbordam em segundos
num desenfreado espasmo para o coração.
Vislumbrei o que foi o acumular de granizo entre os fios de cabelo,
como uma velha árvore despida, de ramos enbranquecidos,
esquecidos ao luar.
E quando o sol raiava, com os seus dedos de luz
a acariciar-me a pele dourada... que frisson...
o vigor da juventude.
segunda-feira, março 28, 2011
da serenidade triste
hoje o despertar lento da madrugada fria
aninhou-se manso e triste
por todo o lado a luz que não o era
simplesmente cinza, sem brilho,
a prata de outrora é como se nunca tivesse existido
ao longe avista-se o mar, ou não,
nem se consegue definir numa imagem
que seja perceptível para o olhar meio morto
hoje a luz metamorfizou-se
plena e explosivamente inexistente
como uma molécula improvável
depois, visitou-me uma diáfana melancolia
com um abraço leve mas com uma toda densidade
de quem faz disso a sua última morada
as gotículas sincopadas num formigueiro vindo do céu
ilustram a sombria luz com a cadência de uma orquestra
e, assim, instala-se por fim a indeterminada serenidade
aninhou-se manso e triste
por todo o lado a luz que não o era
simplesmente cinza, sem brilho,
a prata de outrora é como se nunca tivesse existido
ao longe avista-se o mar, ou não,
nem se consegue definir numa imagem
que seja perceptível para o olhar meio morto
hoje a luz metamorfizou-se
plena e explosivamente inexistente
como uma molécula improvável
depois, visitou-me uma diáfana melancolia
com um abraço leve mas com uma toda densidade
de quem faz disso a sua última morada
as gotículas sincopadas num formigueiro vindo do céu
ilustram a sombria luz com a cadência de uma orquestra
e, assim, instala-se por fim a indeterminada serenidade
domingo, fevereiro 27, 2011
O significado de tudo...
O significado de tudo está tão simplesmente na aura do que se sente acerca de todas as coisas que se podem observar ou apenas cogitar.
Na ponta dos dedos, o toque suave ou áspero. O cheiro que emana de algo que passou. A voz doce ou a brisa salgada que arranha a cútis, as memórias que emergem tão subitamente, a ferros. Tudo o que é belo, será? A razão encontrar-se-á em tudo o que é tão livremente belo? No fundo esfumaça-se, como o véu de luz sombria que recortou a silhueta de alguém por uns instantes.
O significado de tudo está tão simplesmente na totalização do nada. Tão simplesmente... tudo... e nada.
A necessidade de enquadrar numa significação familiar tudo o que nos existe, insiste e impõe-se, mas de nada serve a longo prazo. Assim como uma pessoa cuja mente é assolada pelo fantasma do esquecimento, também tudo se torna fantasmagórico num fatídico Alzheimer da vida.
Daí, enquanto estarmos vivos estarmos a viver uma espécie de sonho, acordados, sem termos consciência disso. Há um limite para todas as coisas: o início e o fim, sendo a vida e a morte, em estado onírico.
O ressonar, por vezes mais grave ou mais agudo, de cada um de nós enquanto a sonhar em vida, faz com que não haja qualquer vestígio do aspecto ilusório que vivemos.
Todas as medidas de todas as coisas são distorcidas pelo significado que lhes atribuímos, não havendo significado real também elas não têm qualquer peso ou medida.
Tão simplesmente...
Na ponta dos dedos, o toque suave ou áspero. O cheiro que emana de algo que passou. A voz doce ou a brisa salgada que arranha a cútis, as memórias que emergem tão subitamente, a ferros. Tudo o que é belo, será? A razão encontrar-se-á em tudo o que é tão livremente belo? No fundo esfumaça-se, como o véu de luz sombria que recortou a silhueta de alguém por uns instantes.
O significado de tudo está tão simplesmente na totalização do nada. Tão simplesmente... tudo... e nada.
A necessidade de enquadrar numa significação familiar tudo o que nos existe, insiste e impõe-se, mas de nada serve a longo prazo. Assim como uma pessoa cuja mente é assolada pelo fantasma do esquecimento, também tudo se torna fantasmagórico num fatídico Alzheimer da vida.
Daí, enquanto estarmos vivos estarmos a viver uma espécie de sonho, acordados, sem termos consciência disso. Há um limite para todas as coisas: o início e o fim, sendo a vida e a morte, em estado onírico.
O ressonar, por vezes mais grave ou mais agudo, de cada um de nós enquanto a sonhar em vida, faz com que não haja qualquer vestígio do aspecto ilusório que vivemos.
Todas as medidas de todas as coisas são distorcidas pelo significado que lhes atribuímos, não havendo significado real também elas não têm qualquer peso ou medida.
Tão simplesmente...
segunda-feira, janeiro 31, 2011
Da(s) Saudade (s)
Tem duas estirpes este sentimento,
tão afamado de nobre e poético,
a beleza do que se teve
e a falta do que se podia ter tido.
No entanto, dessas duas estirpes,
nenhuma me parece digna de dó:
a saudosista só glorifica o que perdeu
e a idealista espera o que não aconteceu.
Vigora a lei do cansaço, da dor e do desembaraço,
a Saudade já não interessa, não vive de um abraço
e à Tristeza já não há quem a impeça.
Em conformidade e em conformação se perdura
quem da sabedoria do Oeste e do Oriente bebeu,
o meio termo da Felicidade e do Sofrimento urdura
no frágil e danoso tear da vida, que recebeu.
tão afamado de nobre e poético,
a beleza do que se teve
e a falta do que se podia ter tido.
No entanto, dessas duas estirpes,
nenhuma me parece digna de dó:
a saudosista só glorifica o que perdeu
e a idealista espera o que não aconteceu.
Vigora a lei do cansaço, da dor e do desembaraço,
a Saudade já não interessa, não vive de um abraço
e à Tristeza já não há quem a impeça.
Em conformidade e em conformação se perdura
quem da sabedoria do Oeste e do Oriente bebeu,
o meio termo da Felicidade e do Sofrimento urdura
no frágil e danoso tear da vida, que recebeu.
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