quinta-feira, junho 30, 2022

 Querer alguém por capricho
Devia ser proibido
Assim como arrancar uma flor

Estórias tragicómicas

 Das coisas mais tragicómicas é que quando o desespero me fez até naquele momento rogar a Deus para que ele arranjasse alguém (para eu saber que ele não me amava mesmo nem sofria com isso, e parar com os sofrimentos), que eu ficasse a saber {e depois naquele instante em que a vi pensei logo que ela seria a tal por ser bonitinha como ele gosta delas), nem eu imaginava que seria alguém tão perfeita para ele, embora eu tenha aquele histórico de depois de mim eles sempre as encontrarem, as mulheres das vidas deles, mesmo que um dia não funcione. Contudo, isso quereria dizer que eu então tinha mesmo sido amada por ele, mas nós nunca tivemos nada. Eu sou sempre uma memória apenas e, como todas as memórias, ainda mais invisível como sou e fui, passará bem rápido caindo no esquecimento. 

Todos os efeitos borboletas de todos os cordéis que puxei, nenhum me surpreendeu. Talvez não haja mesmo realidades paralelas. Um tédio, portanto. :D :/

A busca

 Acho que passei grande parte da vida à procura do ser impoluto, belo, genuíno e verdadeiro. Não tendo encontrado, um dia reparei que me tornei num. 

Tanta coisa

 Tanta coisa que não dissemos e que volta e meia te queria contar. Mas a vida é rápida demais e o final quando chega já tudo ficou para trás. 

Sim, parece que é verdade, que busquei um sinal do teu perdão mesmo sabendo que ele não viria; que busquei um sinal de que não me abominavas e que, pelo contrário, me amavas como eu a ti. Se tivesse sido sim tua fantasia e minha também, que doce era a alegria que tínhamos, a um e a outro adorámos. 

Devíamos ter segurado a mão um do outro mais vezes do que só naquela noite, devíamos não ter pensado nos outros nem ter dado ouvidos a ninguém. Podíamos sim ter-nos amado. 

Ele

 Ele é meu pecado
Meu desejo oculto
Coração desabrigado
Todo o medo induto

Ele está condenado
Como eu também 
Vivendo amaldiçoado
Comigo no Além

Ele chama-se Tristão
Eu chamo-me Isolda
Já devia saber de antemão
Que destino não é à toa

Não é o Tristão que quero
Mas sim o outro d'alma
Que tem outra modelo
E tenho que ficar calma

Como resolveremos tudo
Se nada é possível
Por isso é melhor ser mudo
Do que sofrer tanto impossível

Juma

 Apercebi-me que eu sou pior do que a personagem Juma da telenovela brasileira. 

Nunca saí à rua nestes últimos mais de dois anos pandémicos, recebi à janela umas 10 vezes rápidas poucas pessoas. 

Também me apercebi que nunca pedi a ninguém que ficasse na minha vida, especialmente depois de uma certa pessoa em 1999. Sempre mandei toda a gente à sua vida, talvez até mentindo sobre o meu querer, sempre com a racionalidade a falar mais alto. Pensava sempre que não podia fazer isso a ninguém, porque não queria ser a responsável por a pessoa não ter uma vida melhor com outra e com outras oportunidades. 

Ainda hoje pensava nisso que estão sempre a querer enfiar pela goela ultimamente, a história de nos amarmos, de termos auto-estima e de que eu agora já estava é farta e achava que isso era algo sobrevalorizado e o mal é quando não ter nos prejudica muito. Ora, agora mesmo com essa de não ter nunca ter querido ficar ou pedir a alguém para ficar e quando escrevi aqui a razão é que me veio a tristeza e o horror que é: sentir isso de que qualquer outra pessoa é melhor do que eu para estar com eles, eu sou basicamente um lixo. Claro que isso só pode ter origem profunda e remota na infância mas também no tal reforço do trauma do abandono quando em 1999.

Imagino que como foi tão destruidor inclusive para a minha dignidade, aquela vez, nunca mais me coloquei em semelhante sujeição a rejeição. 

Talvez em termos de amizade agora com uma certa pessoa por quem havia desenvolvido uma certa dependência nestes tempos pandémicos, mas não tem comparação sequer. 

Mas, lá está, para querer que alguém fique precisamos da pessoa, como a Juma precisa que lhe ensinem a ler. 

A minha racionalidade e consciência a mais sempre me impediram de fazer muita coisa. Quando algo fala mais alto como se valesse a pena, como foi em 2006, mesmo sabendo a priori do inevitável desfecho e tendo razão, foram muitos momentos felizes, esforçados, que tive. Hoje, pensando em como afinal amamos pessoas de que conhecemos apenas alguns aspectos, vindo até possivelmente a descobrir outros depois que não nos fazem mesmo gostar da pessoa, fico a pensar em quanto é tudo uma ilusão. 

Ter o sentimento pode ser simples até, mas todos os factores que implicam depois acaba sempre por complicar, especialmente em sociedade. 

Esse amor sagrado e intocável, maior que tudo, inexistente enquanto físico, é o único que é o verdadeiro.

Se eu não puder ser eu

 Se eu não puder ser eu
Que eu seja o vento
E o mar e o céu
Que eu seja a tempestade
Da luz a vontade
Da sombra o breu

Saudades sempre

 Acho que do que tenho saudades é de quando tomávamos conta um do outro, assim como dava, assim como éramos. Depois deste ano não somos mais os mesmos, mas no fundo para nós somos sempre um para o outro, porque a nossa essência é una como aquelas duas crianças que fomos, sempre tão longe mas sempre tão iguais.

quarta-feira, junho 29, 2022

 Chamam-me sempre de louca quando me vêem dar amor sem  esperar nada em troca e sem saber mesmo a quem. Ora, eu nunca fui de amores de um punhado de trocado.

O cúmulo de ser exigente

 A última vez que encontrei alguém perfeito para mim foi há 16 anos, durou 7 anos e viemos os dois a descobrir que afinal não era tão perfeito assim.

Estás tu

 Para quem não gosta de falar de si mesma, contei-te muito dos dias e das noites que passei sem ti. 

Nas minhas digitais, nas pontas dos meus dedos, estás tu. Como película diáfana que eu posso tocar. Somente tu. 

Habitas ao redor da minha cabeça, ser alado, qual fada, sim, podias ser, com os teus pózinhos brilhantes. 

Guardei-te no bolso uma vez, quase que asfixiaste e eu até hoje me culpo por ter sido tão ogre e não ter entendido que eras apenas uma criança pequenina, frágil e matreira também. Quase uma raposinha, mas não.

Pensei-te menino, homem, criança, adulto, malvado também. Eu que sempre fui selvagem, de espírito indomável, vi-me presa do caçador que me investigava. 

Hoje somos dois perdidos numa floresta demasiado distante para que alguma vez nos esbarremos, pois era assim que a fábula tinha sido escrita naquele lugar onde estavas tu.

O cheiro do amor verdadeiro

 O amor verdadeiro sempre teve cheiro de flores de figueira, fosse o real naquele Verão, fosse o da Roger & Gallet à sexta-feira.

A exposição

 Passar do 'backoffice' de ser produtora de texto, reportagens, entrevistadora de líderes e pessoas consideradas geniais, para eu me assumir como artista expondo a minha própria imagem, foi deveras algo difícil na medida em que estive sempre muito de pé atrás com isso, mas também foi bom tê-lo feito depois de todo o processo de desconstrução, despersonalização e reconstrução do ego.

(...)

Não se finda nunca

 O infindável na infinitude do azul do céu
Que se derrama no mar
Lava a Terra com estrelas líquidas
Até chegar a noite com o seu breu
E a Lua tomar o seu lugar

A vastidão das nossas mãos unidas,
Com os nossos olhos que só nos vêem
Sem nunca estarem abertos sequer
Como os nossos braços que se prendem

Encaixámos os nossos corpos
E tornámo-nos água 
Como corrente de uma torrente
Que jamais pára de jorrar
Porque a sua alma é inesgotável

Esse é o cabal sentimento
Que não tem limites nem arestas
Move-se com o pensamento
E irrompe por entre frestas

 "Acreditar que vai tudo ficar bem e pensar  'quero viver' "

(Este foi o tpc de hj, fora o n ajudar. A ver se páro de pensar na iminência da minha morte,)

terça-feira, junho 28, 2022

Como a vida traz coisas loucas sem uma pessoa se mexer sequer

 Que eu tenha forças para enfrentar os dias e as noites que ainda vêm por aí com esta prisão do corpo e de tudo. Enfrentar a realidade de que provavelmente será a segunda vez que não poderei ir ao casamento do meu irmão também. 

 Escreves para alguém que não existe
e que, portanto, não te lerá,
a ti também que não existes
senão nestas vozes que exteriorizas
vezes sem conta para aplacar o dilúvio
a enchente delas que vem em marés.

Castigos

 Saber quem não gosta de nós e quem nos mente, mesmo até para quem nós não significamos nada, e nós gostarmos dessas pessoas é dos piores castigos que se pode ter.

Pior ainda...

 Esta condenação de ser eternamente triste... E o pior foi ter acreditado que o amor existe. Pior ainda ter acreditado que alguém me podia amar de verdade. 

Hachiko

 Domesticámos lobos, escravizámo-los, até tornámo-los "os melhores amigos do homem" ao ponto de não só preencherem e servirem as nossas necessidades afectivas e demais, como também fizemo-los tão dependentes de nós ao ponto de morrerem quando lhes faltamos. 

Mas eu nada sei, sou só mais um cão que sofre de Addison.

O teu amor

 O teu amor por mim
Não tem cheiro a jasmim
Mas antes um cheiro
Que nunca antes senti
Que tem o frescor do mar
E das flores de cerejeira
Embriagadas pelo luar.

O teu amor por mim
É jovial e leve
Flutua em nuvens
E lagos como nenúfares
Ao som do burburinho
Da água correndo incessante

O teu amor por mim
É feito de algodão e seda
Carmim e índigo
Com a delicadeza da brisa
Em que esvoaçam aves
E borboletas sem fim.

Paz e Sossego

 As pessoas que gosto são humildes, espontâneas, genuínas, abertas e simples. 

Mas infelizmente as que mais amei foram as complexas, até torpes, quebradas e indisponíveis. 

Mesmo quando disse que já não queria mais casos perdidos, o coração atraiçoou-me. 

Hoje e sempre, só quero paz e sossego.

 Que as dores adormecessem
Que os amores permanecessem
Mas sou quem subsiste sem horário
Com o ritmo circadiano ao contrário
...

 Tu nunca saberás o que foste para mim.

 Não sabes nada sobre mim. Pergunto-me se soubesses que sofro a todo o segundo dos piores males de que se podem padecer, o que haverias de fazer, se algo.

Hoje em dia nem posso contar contigo. Pensei mesmo que fosses meu amigo.

Somos dois em separado

 O meu amor acarinha-me os cabelos
Fazendo festinhas na minha cabeça
E esse é o momento mais lindo
O do afecto e da ternura
Que eu nunca tive
De um tão grande amor
Capaz de nos fazer chorar
Só com o seu imenso gostar
Ele e eu não somos um
Somos dois separados
Mas que cuidam um do outro.

 Só soube que os amava, de repente, a todos, me preocupava e tinha enorme carinho e cuidado. Não sabendo porquê nem nada. Simplesmente amei. 

Mas sempre perdi.

 Talvez o amor verdadeiro seja apenas aquele que se pode sentir num só momento inteiramente, tão integralmente quando nos enche o peito de felicidade.

segunda-feira, junho 27, 2022

Esgotamento

 Estou exausta hâ milhőes de anos
Terra batida
Natureza esquecida
Floresta ardida

Sou apenas o mundo desprezado
Tão explorado, abusado e contaminado
Que já não dá para salvar os danos

Desiludir

 Desiludi tudo e todos
E a mim nos dias
Com meus maus modos
E vãs filosofias

Pior mente e corpo
Não há nem num morto

Perdi o ritmo do sol
Condenada à noite
Da cama sou lençol
Assombração foi-te

Os amigos são suspeitos?

 Parte pequenina de mim ainda pensa que talvez seja como os que dizem que eu ainda vou viver muito tempo, mas como essas pessoas são amigas são suspeitas, não é? Mas não é mau de todo ter alguém amigo que se preocupe realmente, que queira estar em contacto todos os dias para saber. Eu tinha alguém assim. Não tenho mais. Não se deve mesmo fazer do namorado o nosso melhor amigo também. Hoje em dia é mesmo difícil sequer eu responder-lhe, quanto mais.

Sempre e para sempre

 Ouvi alguém falar sobre que não se deve dizer essa palavra porque carrega uma energia que fica. 

Sei que nos dissemos Sempre e eu decerto de alguma forma devo ter-te dito Para sempre.

Não sei nunca o que o amanhã traz, mas muitas vezes sinto mais-que-tudo bater gritante no peito esse Sempre e o receio de aperceber-me e pensar que pode ser mesmo Para sempre.

Nada sei. Nunca soube. Senão o que me veio flagrante no sentir e no visionar, mas a minha racionalidade contesta sempre tudo à partida. Lá está, o Sempre.

Comer o Mundo

 Primeiro disse-te que te desejava que pudesses comer o mundo e tudo mais que quisesses, depois desejei que encontrasses alguém que era para parar com esse sofrimento que eu sentia também, depois senti de novo que não é alguém que vai melhorar as coisas completamente e agora voltei à ideia inicial de que alguém apaixonado pela vida e que se fascina por tanto, não pode não viver uma vida em que não sinta plenamente tudo. Quanto a mim, é bom para ti que eu seja essa dor, porque junta-se no inconsciente ao que acessas para expressar melhor e com verdade, pois de outra forma e com ela como ela é não chega.

Come o mundo todo, aproveita a vida por inteiro no que ela tem a oferecer-te de tão variadas sensaçőes e oportunidades. Não deixes de conhecer tantos mundos de pessoas que te interessam, não te coíbas de nada, pois um dia tudo acaba.

Viver num mundo assim, sem condiçőes, não vale a pena.

Não faz mal mesmo que eu vá morrer neste ano como tudo parece indicar.

Fiz o melhor que pude.

Pessoas marítimas

 pessoas amarras,

pessoas botes de salvação,

 pessoas cais, 

só tu foste tudo isso 

e muito mais

domingo, junho 26, 2022

Das indefiniçőes

 Porque é que é tão difícil saber quem se é, o que ser, o que se quer, o que é suposto ou não acontecer?

Ter uma definição, um compromisso, uma missão. Saber o que se faz exactamente e porquê e para quê.

Há quem ande a vida inteira sem saber, sem procurar saber, sem conseguir se conhecer. 

Indefiniçőes causam confusőes e ilusão de liberdade? Ou, pelo contrário, são símbolo de quebra de condicionalismos e de prisőes? Especialmente para quem está habituado a abrir-se às possibilidades.

- Porque é que fotografas?

- Para captar a beleza do momento irrepetível.

É horrível, confuso e doloroso.

- Uma pessoa que está com lutos diários há anos faz o quê?

- Nada. Afoga-se.

Checklist para nunca mais

 Tarados, tiranos, transtornados. 

1554 anos (lol, nds de onde me saiu)

Nunca o teu falecido "aguenta" me fez tanta raiva como hoje em dia se pensar em tudo o que ando a aguentar porque fui dar ouvidos às pessoas e voltei a ligar-me à sociedade... Que coisa! 

"Aguenta, pelintra!", bah!

Tirem de mim tudo isto de novo, faxâvor, que aqui o guarda-redes é anão e não aguenta. Quero dormir 1554 anos. Pronto.
 Porque o mundo é cruel
Criei mundos de arte
Para que o fel
Se evaporasse

Devoção do Amor

 Amei-te mais do que pude
Peito rasgado diariamente
Mente atormentada
Pensamento tumultuado
Que raio de história
Foste tu inventar
Com os teus astros
E deuses
Que eu nunca ouvi falar?

Detox de olhos claros

 Para quê tens olhos azuis
Que viram verdes com tempo nublado
Se tu nunca nada intuis 
E todo o teu ser é um pecado

Clamei aos ventos 
Que estava a desintoxicar-me
Desses teus olhos embriagados
De mar, sol e nuvens 

Na verdade talvez nunca consiga
Pois assim que vejo alguns
Parecem faróis na escuridão
A atrair o insecto que sou

Uma confissãozita

 Já há muitos anos que sei que o amor verdadeiro não existe e, no entanto, continuo a adorar os filmes e as músicas que o tentam expressar. 
Como é lindo o mundo que se consegue criar quando se acredita na beleza e se faz de conta que a asquerosidade restante não existe. 

Por vezes, raras, ainda penso que gostava de ter sido como a maioria das pessoas, terem um lugar, para irem-se ocupando e vivendo, enquanto neste mundo, sendo o que é considerado normal, agindo e fazendo as coisas como todos têm de as fazer. 

Mas a materialidade do mundo é tão desapontante e parca, que nunca chega mesmo. Pensar, sentir e sonhar o mundo é na verdade vivê-lo 500 vezes ao cubo. Por isso, jamais pude comprometer-me com o mundano. Deixo isso para todos os outros que têm milhares de momentos de alegria ao fazê-lo volta e meia até ao fim. 

Eu sou só uma poeta, sempre fui. A felicidade, depois de tanto sofrimento, também já me pareceu simples demais um dia.
É bom ver-te, contudo, "meu menino", teres a tua com o teu amor e o teu labor, já que o vosso contentamento (de todas as pessoas que aprendi a gostar e preocupar-me com elas) também me faz ficar em paz.

(A vdd é q hj a 28 de jun. , mesmo sabendo q n posso estar c ninguém, dei por mim a desejar q se houver alguém mesmo para mim, bom e decente, q aparecesse :) )


sábado, junho 25, 2022

Dor

 Meu corpo assolado por picadas lancinantes
Intermitentemente
Começando sempre nos braços
Esses que já foram impedidos há tanto
De serem livres para abraços
E terminando nos pés

Os olhos ardem
Fogueiras de tortura crepitante
O meu olhar foge distante
Longe das amarguras
E vai pensar em ti
Em aconchegar-me no teu peito
Mas logo lembro que me odeias
Como nunca ninguém me odiou

A dor como que se derrete pelo resto
Transformando-se também em tristeza
E assim afundo-me de tão pesada
E tão profunda que é esta sensação.

Pior mesmo é esse apunhalar 
Que sinto directo no coração
Com tal pungência e corte
Que me rasgam a atenção:
O teu ódio é a minha morte

Essa afinal é a verdadeira prova

 Se o amor era de verdade e forte assim, tal omnipresença e irmandade, não podia ser que não haja réstia de carinho ou preocupação, nem nenhuma apreciação, nenhuma saudade e em vez disso só espezinhamento. 

Relatório do Desamor

 Quase todos os dias,
Ele me irrita, insulta, 
A mim e ao amor,
Não gosta de mim
Não como eu sou
Não o que faço
Ou sequer tento
Ele me ignora
Maltrata-me 
Goza-me
Com as suas idiotices
Ele é desumano, cruel,
Egoísta e egotista
Materialista e comodista
Ambicioso até mais
Interesseiro, oportunista
Aspecto de capataz.

A Humanidade e o Sexo tem o seu quê de oca

 O homem primitivo e a sua moca
Soca, toca, loca, maloca, boca, bomboca,
Badalhoca,
Mamoca, piroca,
Coca,
Foca,
Desfoca,
Sufoca,
Troca.

Aluados

 Declaro que depois de "ter feito as pazes" com a Lua, no ano passado, depois de uns 20 anos, agora chateei-me de novo. Pronto, chega dessas manias e desses aluados. Não me interessa sequer essa história de reger meu ascendente caranguejo e de agora a cada lua cheia (além do passado de lobimulher lol) acontecer sempre algo que me faz transbordar e chorar. Tudo uma palhaçada. Já não basta sofrer de hiperadrenalismo e hipocortisolismo, ver o universo, sentir e recepcionar tudo como se fosse um cão, um golfinho, ou que seja, ainda tinha de ter a química do corpo (supostamente feito de 70% água como a Terra), completamente ainda mais atrofiada.

 Não quero mais saber de nada, mas talvez ainda te continue a enviar livres pássaros daqui da aurora a raiar. 

Mágoa

 Por cada vez que me magoaste
A dor que senti no estômago
O falhar do bater do coração
De cada vez que me gozaste
Só para näo teres de pedir perdão
Eu soube o quanto errei 
Em ter deixado que te aproximasses
Só para me fazeres reviver
Todos esses traumas de mágoas
Que nunca falaste em resolver
E tudo faz o que foi bom ruir
Enaltecendo tudo o que foi mau.

 Omaioramorécorrente
Que nos prende
Arrasta
Sem serventia
Porque planetas mandam
E elementos obedecem
Numa Terra azul e vermelha

Amor jovem

 O vosso amor tão jovem
Emociona-me tanto
Essa pureza e esperança
O brilho da paixão no olhar
O carinho e delicadeza
A entrega a todo o tempo
O não se largar...

Quem dera que tivesse tudo
Para eternamente durar
Mas ele nunca é feito assim
Enquanto dá é aproveitar
Quando fora está o mundo.

O som e a água

 Tudo já está encaminhado 
Não precisas mais de mim
O som veio de volta e disse
Que a água corre límpida
O seu espelho brilhante
Infelizmente meu tempo
Está a findar aqui
Eu sinto
Mas ao menos 
Ficou tudo no lugar
Como tanto lutei 
Para tudo ficar.

 A barbárie humana é a coisa mais horrível que existe e não há solução, ou melhoria, para ela, porque está entranhada na génese dos seres humanos. 

Incongruências

 Nunca fui de incongruências
Quem me conhece sabe bem
Que os jogos de paciências
Só joga quem tempo tem

Já eu, sem ter eira nem beira,
Com a ampulheta a esvaziar
Ver-me morta há quem queira
Provavelmente quem me detestar

Não sei se é possível que os haja
Pois ódio assim é por demais ruim
Mas independentemente do que faça
Toda a minha vida já muito sofri

Por isso quem não gosta de mim
Tem um prato cheio à sua espera
Porque o meu tempo está no fim
E a morte é só quem impera.

Uma paixão

 Queria ter uma paixão
Uma paixão que fosse!
Como tenho por cacau quente
Que quando bebo
Me faz ficar apaixonada
Envolta na maior alegria
E motivação para um novo dia


Seres alados

 Ter pena custou-me as maiores penas:
Fui certa vez libélula com listas turquesas,
O meu esqueleto leve e veranil
Soprou-o o vento contra uma duna áspera;
Fui de outra vez animal dito sagrado
Sacrificado estirado na madrugada
Amaldiçoada fénix de cinzas esvoaçantes
Há seres que nos aprisionam porque têm asas
E há seres que não têm asas e nos libertam;
Eu não sou mais corvo-azul
Nem fénix
A minha bússola navegadora foi para as estrelas
O meu campo magnético está avariado
Definho, porque não posso voar.

sexta-feira, junho 24, 2022

 Princípio

Meio 

Fim

Será que os meus dias estão a chegar ao fim? 

Quem disse que eu tenho idade? "90 anos desde os 5 anos", sempre disseram.


Memória do único S. João no Porto

 Não me lembro se realmente chegámos a passar pela maralha e levei com uns martelinhos quaisquer, mas acho que foram uns segundos, pelo que me recordo. 

Aquela ida ao Porto, o tempo tão morto e chuvoso. Mas aproveitámos um bocado, entre a foz e a cidade velha. 

Nunca esqueci que me carregaste ao colo, quando magoei o pé, naquele caminho todo ascendente e tu também não.

Doce S. João

 Um dia perguntaste-me "porquê?", eu disse-te que não sabia, mas acho que nesse momento eu já sabia porque é que aquela canção da minha mente não saía. 

Dou-te livres pássaros

 Hoje disse aos pássaros que te aparecessem também para que tenhas um dia lindo e cheio de motivação. Eles cantaram tanto e apareceram em casais. O romper da aurora, enquanto dormes, vai iluminar-te e os primeiros raios de sol vão afagar-te. 

Envelhecer

 Envelhecerás como bebida licorosa
Em barris de madeira perfumosa
Teu corpo robusto de homem só
Meu corpo uva-passa de mulher só

E quando o frio for mais gélido
E o mar entre nós secar
As terras do Norte nos aguardam
Teremos o fogo no nosso lugar

quinta-feira, junho 23, 2022

Esqueceste-te?

 Esqueceste-te que sinto o mesmo que tu?
A mesma derrota e a mesma vitória
A mesma serenidade e ansiedade
Tu que és meu homem, mulher e criança
Que eu protejo até no tempo de bonança.

Não gosto

 A verdade é que tu nunca gostaste de mim, nem te preocupaste verdadeiramente comigo quando sabias que eu estava em vias de morrer a qualquer momento. Como é que eu posso gostar de alguém assim tão cruel? Não gosto. 

Não tenho jeito

Não há mesmo solução para mim: preocupo-me com as pessoas que gosto, gosto das pessoas com quem me preocupo; já é mal de nascença. 

Quanto aos que me dizem que sou sensível, também há quem diga que sou muito independente, livre, pragmática, de lucidez única neste mundo. Na verdade, ao pensar bem, é isso mesmo e tudo mais que for pois a complexidade toda que eu tanto acho desgastante em mim, existe assim.

Se eu precisar de um teu abraço, como é que eu faço?

 Todos os dias este medo de te perder. E descobrir que pelo menos duas pessoas que amamos estão muito doentes e não podermos estar juntos é tudo muito triste. Nem pensando no meu caso também. 

Temos de fazer de conta que nos acolhemos e abraçamo-nos nas horas mais duras. Porque às vezes não há mesmo qualquer escapatória da realidade, nomeadamente quando é com o estado de saúde. 

"Correr para o abraço", "e quem não tem esse abraço, faz como? Agarra-se ao seu deus, anjo, ancestrais, arte", lembro bem dessas frases. Mas as coisas são muito mais complexas do que isto, não é?

Saturação

 A saturação ocorre com o exagero da presença ou da ausência, da imagem, de qualquer coisa mais, durante demasiado tempo. 

É. 

Mas também passa.

Hoje em dia tão rápida e fugazmente. Ninguém tem paciência para nada.

Das coisas reais

 Sei que és pelas coisas reais e o toque real e os detalhes reais, mas quem diz o que  é realmente sentido como real senão nós mesmos? Quando um sonho é tão vívido que consegues sentir o toque, não o sentiste como real? Quando fechas os olhos e imaginas-nos a flutuar no Mar Morto com as cabeças encostadas nos ombros um do outro, não é a coisa mais real naquele momento? Não consegues vê-lo? Não consegues senti-lo? Sem ter de o tocar sequer. É tão tamanho que se torna palpável, sólido, um todo monumento, apenas é.

Eu sei que disseste antes, que imagino demasiado e viajo em coisas que não são reais.
 (adapt. do meu blog em inglês crypticpoetry.blogspot.com) 

Da paixão a que eu nunca me dou

 Se eu me deixasse apaixonar por alguém de novo a esta altura da morte seria a pior coisa que poderia fazer. De qualquer forma, seria sempre mau já que o amor me acontece antes e a paixão vem depois e tem a tal duração de menos de um ano.

Engraçado como demorei décadas a entender que isso de priorizar o amor nunca deveria ter sido para mim. Agora já foi tarde. 

De todas as paixőes (que vieram antes do amor) que tive foram sempre pessoas com quem eu nunca quis ter nada. Realmente eu sou mesmo completamente ao contrário. Não há, nem nunca houve, qualquer forma de funcionar nesta sociedade.

Verdade seja dita, também não devia ter cedido a químicas, porque isso de atracção ou compatibilidade química há demasiadas pessoas com que os organismos se encaixam.

Se calhar, para não variar, também andou tudo avariado no departamento da paixão. 

Entender o que se sente, como se sente, o que nos leva a sentir, é sempre o melhor mesmo antes de qualquer coisa. Mas, enfim, as coisas que consideramos erros podemos e devemos sempre retirar alguma lição senão aí é que não valeu de nada mesmo.

(Isto está um bocado estúpido e parco, um pouco como essa coisa da paixão)

 O nosso amor foi quando sorrimos com uma só boca.

quarta-feira, junho 22, 2022

 Não te posso dizer a verdade, porque não a sei e além disso estou cansada de a procurar.

Não sou mais de quem fui

 Não me chames assim
Porque não sou mais tua
Nunca fui na verdade
Ninguém é de ninguém
Senão a quem se vive acorrentado
Sem qualquer querer ou achado

Mas no teu e meu caso não fomos
Faltou esse outro lado em nós
Pois tudo era demasiado saudável
Ou pelo menos resignámo-nos
Quem se mentiu mais não sei

De biliőes de pessoas...

 Diz que coraçőes que estão destinados a encontrar-se hão-de encontrar-se. Eu já não sei mais de nada, nada faz sentido de tão louco, senão que o meu coração, a minha suposta alma, a minha mente e tudo o que eu sou só têm um dono, como nunca tanto senti. Não é o que se constrói, não é o que se vê, não é no que se parece, não é no que é comum, não é em nada senão neste nó que nada corta e que mais parece maldição. 

El secreto de sus ojos

 Guarda-me em ti 
Como mais profundo segredo
Aninhado no teu peito
"Ama-me sem mim
Como eu sem ti te amo"
Nunca pensei ser eu a dirigir
Agora estas palavras a alguém
Mas quando se sente uma torrente
Que invade tudo num segundo
E está sempre presente
Talvez não seja mesmo necessário
Que ele se concretize no supérfluo
Deste mundo material
Pois ele não cabe em nada existente
Nem tem uma forma concreta
Apesar de tão enorme, sólida e indiscreta.

Guarda-me nos teus olhos
Inteiramente na tua íris o brilho meu
Inteiramente na pupila o que é teu.

terça-feira, junho 21, 2022

Arrependimento

 Ah e tal "não me arrependo de nada". Não tens é consciência ou coragem para admitir.. Porque o "arrependimento mata". 

Ora eu arrependo-me todos dias logo por acordar e a seguir por me levantar. E nem estou a gozar, estou a falar a sério mesmo.

Assassinato

 Partes de mim foram assassinadas
Uma e outra vez por negligentes
Pessoas dementes e displicentes
Que eu ingénua tomei por amadas

Mesmo sabendo de antemão
Como sempre, quis dar uma chance
Eras tu o zerochance lembras?

Eu não os sabia sem coração
Mas de facto nunca houve alguém decente
Que eu pudesse dizer que é diferente

O mar

 Ventre fecundo

Berço

Poluído

Imundo

Cemitério último

 Pergunto-me se me amarias assim agora, velha e a morrer. Nunca me amaste, na verdade, não é?

 Porque é que sentem necessidade de conhecer a outra pessoa? É para terem uma espécie de segurança, saberem minimamente com o que podem contar e onde estão a pisar? É, deve ser isso. Mais valia logo perguntarem específicas questőes. Aí havia de se tornar numa entrevista de emprego para a função a ocupar, se fosse para amigo ou algo mais. Uma palhaçada, como tudo, portanto.

O edifício do afecto

 O afecto que te nutro
E pesar e descontentamento
Que são parte desse sentir
Essa pena profunda
Dor e desolação
Não só por toda a confusão
Mas por esse carinho sem ninho
Perdão que não há
Arquitectura em ruínas
Aquela beldade dos abandonados
Edifícios de amores desencontrados

Espírito

 Se alguém me jogou uma praga
Se essas coisas funcionam mesmo
Hoje vou-me sanar de tudo isso
Nem que seja a esmo

Almejo uma mente livre
Um corpo são
Não entendo das outras coisas
Talvez mesmo só do coração

E quero que ele seja irmão
Do meu sentir e da alegria
Tudo isso para variar
Dessa minha eterna nostalgia.

segunda-feira, junho 20, 2022

 Se eu pudesse dava-te a minha vida só para que pudesses viver e eu morrer em paz. 

Quis acreditar que te amava

 Hoje és o amor que eu não tive
Que forçosamente quis convencer-me
De que tinha verdadeiramente
E que era o amor maior do mundo
Só para que tu mesmo acreditasses

Quem eu amava todos os dias
Corpo a corpo, mano a mano,
Ao tocar-te e desejar-te
Nem sequer era quem existia

Passei os últimos anos de vida assim
A amar-te sempre quando juntos
E também quando separados
Pensando o quão eras louco por mim

Quem sabe qual será o nosso fim
Neste longo caminho cansativo
De quase nunca haver comprovativo.

Tecidos

 Tecidos encolhem
E alargam
Eu também
Espero caber
Ainda
Na palma da tua mão

 Sempre que penso que estou livre acontece algo e puxa-me de volta. :/

Amor de troco

 Amor que é de graça, não está à espera de troco.

domingo, junho 19, 2022

Instante

 Sou apenas o instante:
sinto no instante
faço no instante
falo no instante
oiço no instante

Mas talvez o meu amor por ti
Um dia seja eterno.

Último Ostracismo

 Tentar escutar o absoluto silêncio
Pensando que o absoluto existe
Nem que seja por um só momento

A última verdadeira conversa
Foi na verdade há décadas
Já nem me lembro quando

Anos e anos a fio 
Numa janela de emoldurado vazio
De um mundo inteiro revisto

Não ter de sair com o melhor disfarce
Ter força para me pôr mascarada
Suportar o desgaste de ser a deslocada

Passear pela respiração poluída
Pela violência desabrida
À procura da beleza perdida

Comprovativos de mais de 7 anos de mongitude

 O meu auto-ostracismo e de não falar com ninguém é mais do que benigno por ver que ninguém se importou alguma vez entretanto de ter a iniciativa de me falar. :)

sábado, junho 18, 2022

 Conhecer alguém que nos muda completamente a vida para sempre. 

(como pilar para saramago, por exemplo)

O que é esta vida?

 De repente todos já estão casados e pais de filhos, eu envelhecida a definhar, a ver o tempo passar e chegar a um tempo em que sentimos que temos de correr porque ele está-se a acabar. 

É, quando se é jovem é que se tem intrínseco que se tem a vida toda pela frente e não se pensa que ela pode acabar a qualquer instante. 

É impressionante também a capacidade que temos de nos ligar tão fortemente a pessoas e desligarmo-nos das mesmas ao longo da vida. Deixar morrer. É, primeiro ferver e depois deixar arrefecer até se ir. Uma e outra vez, ciclicamente. As pessoas esgotam-se nelas mesmas e umas com as outras. O resto é paisagem. 

Eu apenas fiquei a contemplar isso tudo. Nunca saberei se mal ou bem. 

LaMDA

 Chega a ser cómico como o Homem diz que Deus o criou à sua semelhança e depois então põe-se a criar robots à sua semelhança e assim que a dita inteligência artificial começa a proferir conclusões normais para o que ela é e para o que o ser humano tem a nível da linguagem e do pensamento, o Homem (que se julga tão único e especial, para não falar das coisas espirituais) assusta-se e sente-se ameaçado. Um pouco como um pai com um filho que crê ser demasiado rebelde... 


(neste post devia ter criado um tag "não há pachorra" lol, mas não)

Tenho saudades ...

Das vezes que correste para mim
Das vezes que falaste para mim
Das vezes que soaste para mim
Das vezes que queixaste para mim
Tenho saudades até disso

Creio que a tua voz se tornou agora
no que é o meu maior abrigo
e o meu maior castigo

Afinal parece que não ter arcabouço
Para aguentar tudo o que ouço
Fez-me estragar a melhor coisa que tinha.

Não sabemos quem somos?

 Não sabemos quem somos
Senão apenas pelo que fazemos
Pelo que os outros vêem em nós
Retorquimos, não somos assim
Dizemos imediatamente a sós

Lembramos quem fomos 
E tudo o que nesta vida lemos
Mas não sei bem ao que vim
Tu pelos vistos sabes bem
Tens paixão pelo que fazes
Isso é suficiente para ires além

Seremos nós um dia capazes
De nos entendermo-nos de tal forma
Que por mais que a forma mude
Continuemos a nos conhecermo-nos
Ao nosso interior como a um açude
No qual fomos atentos capatazes

Lembro de ti toda a hora

 Muita coisa me lembra de ti,
Talvez não tanto pelo que passámos,
Mas mais pelo que te vi passar,
Nem sei se te conheço nalguma coisa
Mas sei que não conhecemos mais nada
Senão um e outro

A conexão que existe sempre
Parece inquebrável
Todos os dias remete-me a ti
Todas as horas têm a visão de ti
Do interior que nos une
No mais profundo silêncio

Não sei se é feitiço ou condenação
Se és dono de um meu suposto destino
Ou se és só mesmo uma ilusão
Embora seja inegável o laço real
Esse nó que esvoaça e flutua
Como se houvesse espírito uno
E acontece sempre que queremos
Sempre que pensamos em tocar.

(fiz esta versão de poema que vi de outro poeta)

 Esse amor surdo
Que não escuta a minha voz
Esse amor mudo
Sofrimento atroz

Esse amor 
nublado e
ventoso
que me abalroa
para lado
nenhum

sexta-feira, junho 17, 2022

 Só sei que te amo. O resto já nada me interessa.

Crónica dos maus-costumes

Vivemos em sociedades doentes
Governadas por dementes
Essas gentes canibalistas
Que envenenam o meio-ambiente
Com chumbo de provas balísticas

Veneramos santos do pau oco
Com devidos dízimos indizíveis
Ó que mania de pagar tributo
Às cunhas do homem louco
Para chegar a sítios apetecíveis

O respeito pela vida é tão diminuto
Todos os dias brutaliza-se o próximo
Realiza-se uma falsa penitência
Um arrependimento teatral
Demência que todos acham normal

Validam-se, premeiam-se, permitem
Que as rodas nas calhas girem
Nessa engrenagem do consumo máximo
E ninguém faz nada e tudo é vão
Mais valia ser já a auto-extinção.

 Parando para se recordar dos elogios e críticas que se tecem habitualmente, podemos apercebermo-nos de que cada um valoriza o que cada um valoriza e não o que o outro que é alvo dos comentários valoriza, a não ser que este nos inquira mais directamente sobre.

Alérgica a bolor

 Há amor que não é amor, é só bolor.

Amor é bolor que não se vê, mas se cheira; espalha-se mais rápido que estrumeira.

 Ninguém foge aos padrőes de comportamentos nem de acção-reacção, parece um jogo viciado para alguém entediado.

A verdade

 A verdade é que não quis escutar-me
Preferiu outras tantas vozes
Não quis ler-me nem ver-me
Muito menos falar-me
Não quis nunca chamar-me
Nem deus-lhe-livre o meu abraço
O amor nunca existiu
Só insultos e embaraço
Para quem se permitiu.
Outros já morreram, mas eu tardo.

Amor maior do mundo

 Este amor maior do mundo
Que só quer ver o outro feliz
A todo o segundo
Sabe tudo o que eu fiz
Sente tudo o que eu sinto
Até o que não sei que minto

Este amor maior do mundo
Tem a medida da saudade
Não tem tempo nem idade
É sentimento tão profundo
Que nos prende e dá liberdade.

O poema de amor mais lindo

 É, por ti viveria mil vezes,
Fosse como fosse
Desse como desse
Ultrapassaria todos os reveses 
Para buscar-te até ao final do mundo
Tu, o poema de amor mais lindo

As sem-razões do amor - Carlos Drummond de Andrade


Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou de mais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

quinta-feira, junho 16, 2022

Rouxinol

 A vida pode partir-te em mil pedaços
Num segundo
E tu que tinhas o canto mais doce
Ficas com gravidade na voz
Uma maldita inspiração atroz
Que a desdita impőe a duros ferros

A vida pode desfazer certos laços
Como quem desconstrói acordes
Numa canção sem compassos
Mas só tu podes decidir reconstruir
Ou mesmo fortalecer a doçura
Das melodias dos antigos abraços
Sem nunca descurar de toda a ternura.
 Mais do que tudo almejo silêncio e paz
E não é verdade que isso só a morte traz
Sei bem que existiram momentos assim
Poucos mas são os que sonho para mim.

Espiritualidade

 Quando eu tinha 16 anos vi o meu pai caído aos meus pés com um avc, numa época em que ninguém sequer falava ou sabia o que isso era. Eu, que estava prestes a fazer o Crisma, vi a minha fé ruir assim um bocado como todo o meu mundo. Algo se quebrou em mim num ápice, num segundo, e até me culpei por antes rezar e pedir a Deus e aos santinhos e anjinhos e a troupe toda. Quando se é criado como católico há mesmo essa cruz de culpa imprimida no cachaço. Quando a fé se quebra, a culpa permanece, se é que não aumenta mesmo. A descrença fez de mim uma beduína num calvário ainda maior no deserto. Muitas vezes admirei pessoas que tinham fé e, por umas poucas vezes, tentei durante esse tempo de secura buscar alguma resposta ou expiação, alguma forma de entender ou me perdoar. O meu défice de crença pautou também essa espécie de apatia que sempre sentia volta e meia, o facto de tudo ser vão. 

A vida foi sempre tão horrível a assaltar-me desde cedo com extrema violência, que eu desde muito cedo quis não existir para não ter de passar todos os dias pelo que eu passava e, ainda mais, quando perdi a fé que poderia dar alguma esperança ou consolo de que alguém, eventualmente, estaria a tomar conta de mim, mesmo quando eu passava pelas atrocidades todas. 

Agora passados mais de 20 anos, tive de levar com dezenas de contactos com pessoas de um país que é altamente espiritual e crente, para me fazer cá dentro levantar-se uma pequena chama de fé e esperança nem sei exactamente no quê, senão também em algo ser possível, não sabendo mesmo se existe mesmo uma missão para cada pessoa neste mundo. Mas essas caminhadas ultimamente têm sido muito curiosas e tão sonantes e impossíveis de não aceitar a sua existência. Diz que quem quer acreditar acaba por acreditar em qualquer coisa, mas eu estive décadas sem acreditar em nada, mesmo querendo e necessitando urgentemente. Nem falava de questőes religiosas precisamente por toda a confusão e um certo sentir desmerecimento, tal como a minha recusa em tomar a hóstia. 

É que mesmo no tempo todo em que estive assim a sentir-me mal com tudo isso, sempre levei a sério e respeitei. 

Não sei se existe mesmo relação entre nós e algo divino que nos é superior e criadora, mas sabemos que as frequências estão aí, as consonãncias, os ciclos e o caos, num looping de criação e fim. O tempo, ou o que concebemos por ele, além de ser relativo também não sei se faz com que todas as coisas estejam armazenadas em vários planos e a acontecerem ao mesmo tempo. Nem tampouco sei se alma existe e se o conceito que lhe atribuímos é o que se verifica mesmo nos tais mecanismos de reencarnação (que o catolicismo não acredita, mas o budismo e o hinduísmo por exemplo sim). 

Como o cérebro humano é constituído de forma a ter necessariamente de entender e conceptualizar tudo, é garantidamente em primeiro lugar uma engendragem dele mesmo toda essa noção de espírito e o que advém daí, nomeadamente tudo o que cabe admitidamente na nossa própria consciência e inconsciência. Ora, tendo ainda como acréscimo o facto de só conhecermo-nos à volta dos 5%, a quem somos e o que somos, segundo a neurociência já comprovou, então aí muito menos há a saber de certo. 


Amor de lua cheia

 O que escrevi em "minha miragem"
Tornou-se em rara canção mística
Pela honra do som do amor
Homenageando esse outro amor
Que consegue ser por vezes avassalador

Quando a lua ficou plena
E os cachorros e os gatos abalados
Fizeram coro na canção de apaixonados 
O meu ser mais amado insultou-me
Mais uma vez atropelou-me
Eu poderia dizer muito em minha defesa
Mas preferi calar tudo 
Porque é tudo culpa da lua cheia
E quem nunca viu a cor azul
Não pode saber como é ver a cor azul
Nunca irá entender.

 Estranho como saber que alguém que amamos também nos ama, mesmo que seja um amor torto, de repente muda tudo e nos faz querer viver, ou continuar a lutar e suportar o inferno tortuoso dos dias só por causa desse simples facto. 

Hmm, deve ser mais um dos poderes do amor...

 Raio da lua cheia, canudo, ainda não foi desta que escapei pelos vistos, haja paciência e capacidade de sobreviver chiçaaaa

quarta-feira, junho 15, 2022

Tautologia do não sei o que sinto

 Todos os dias sinto que minto em relação ao que sinto.

Salvadores vs Matadores

" Ninguém tem obrigação de salvar ninguém", li eu há pouco um psicólogo a escrever. É precisamente este tipo de negligência, descaso e "lavar de mãos" que faz o mundo humano ser tão egoísta, inconsciente, irresponsável e outras coisas afins, resultando no inferno a que todos assistimos e do qual acabamos por sofrer também por tabela, seja em guerras mundiais, seja entre familiares.

 Se ela não fosse uma superfície de mim talvez eu a detestasse, mas até agradeci um bocado ela vir para ti quando aos céus roguei. 

Ser artista

 Ser artista é poder descortinar-me,
Traduzir-me em mil idiomas
Verbais, gestuais, sonoros e visuais
Beber de uma fonte inaudita
De onde jorram campeőes
Da dor, da euforia e do amor.

Ser artista é poder maravilhar-me,
Mas também chocar-me e indignar-me
Numa luta contra reais moinhos
E verdadeiros piratas de galeőes-fantasmas

"É ser maior do que se deseja",
Pintar toda a cor e a ausência dela
Todos os sons do mar
E ainda desenhar um vento que beija
O lado escuro do luar


 A única conclusão já não é morrer, é a Arte.

O nosso (a)verso

 É possível que me tenhas avariado
O último verso de cada poema ultimamente
Comigo agora converso
Meio demente, meio ausente
Nada inteligente
Se houve muitas vezes em que me odiaste
E quantas em que nos odiámos os dois
Do fundo da nossa alma
Com todo o nosso amor
Não te odeio
Mas raras vezes surge "que ódio"
Quando penso que estás a referir-te a mim
Para me atentar ou raiva destilar
Funciona sempre o que fazes
Claro, não é à toa que temos essa mania
Mas depois, bem rápido, rio
Das nossas rivalizaçőes ineficazes.

Dorme bem, meu amor

Meu ser amado de todos os dias,
Espero que tenhas bebido água
Como te dizia antes da mágoa
Nos tempos em que criámos alegrias

Tens uma ideia de mim de vilania
Deixaste de acreditar no meu amor
Pensas que para mim foste só folia
Quando na verdade só foste dor

Enquanto eu te via a sofrer eu sofria
Pensava na hipótese de ser eu a causa
De ter me metido onde não devia
Porque ser moribunda só é náusea

Para todos os que não ficam com pena
E eu nunca planeei nada, nunca o faço,
Pois nunca se sabe de amanhã o tema
Nem quanto dura da vida esse laço

Não queria que me visses este corpo
Que tivesses de suportar a mortandade
E que nos teus olhos o brilho fosse morto
Só de ver a dureza da minha realidade

Por isso, com todo sentimento, dizia adeus
Mas no fundo sempre jamais querendo
Que te apartasses dos olhos meus
Só "dorme bem, meu amor", fico dizendo.
 Hoje vou escrever um poema só para ti, sem mais referências nem misturas:
Eu amo-te!
Pronto, está bom assim? :D

 Lembra-te da tua insignificância 
perante as estrelas
e nunca terás de ser a lua 
à espera do sol para brilhar.

terça-feira, junho 14, 2022

Nem sol nem lua

 Nós somos apenas duas estrelinhas no pano negro do céu.

 Se te apetecer desistir do mundo
Vem ter comigo
Eu abrigo-te.

...

 Eu, de repente, a aperceber-me que afinal não fui eu quem começou por estragar a amizade que tínhamos, nem ultimamente a tentar resolver as coisas para que se fique melhor, mas realmente "takes two to tango...", enfim...

Versőes de nós

 Sim, versőes melhores de nós devem existir num universo paralelo e dar-se muito bem hehe

Amor sem condiçőes

 Se tu, que eu tanto amei a vida inteira e mais, alguma vez quiseres dizer-me tudo o que sentes de mau por mim podes ligar-me e dizer que precisas de dizer, porque eu amo-te mais que tudo e estou disposta a tudo para contribuir para ajudar a acabar com o teu sofrimento. 

Nunca fui de amores condicionais ou condicionados. 

 As pessoas que não me conhecem minimamente bem pensam que eu sou vida, quando na verdade eu estou a morrer (passei a maior parte da vida a nunca ter querido existir porque sempre tive uma existência infernal) e por isso sempre dei valor à vida e apreciei e amei as pessoas como deve ser e sem precisar de nada em troca. 

 Eu tenho saudades de quem?

Nasce uma estrela

 Porque sonhas agora em compor músicas
Com alguém que não está aí mais para ti
 Como se uma viola pudesse soar para ti
Para te fazer rimar palavras de encantar

Sempre que me dizes adeus, amor,
Receio ser a última vez e dói o estômago
De tanto não saber se vais voltar
Para de novo comigo cantar

...

 O poder de uma canção!

 Onde é o meu lugar?

 "Tens que querer viver" ;((((

 A verdade é que nada faz sentido e dar sentido a tudo é muito cansativo. Além de que eu já não me importo com nada, nem mesmo em manter o mínimo de actividades para que organismo tenha os seus receptores e hormónios estimulados. Não é à toa que estar a morrer me faz não querer existir mais, não é? Lol

Não consigo esquecer ainda

 Neste preciso momento
Dormes com ela
O teu amor de adolescência
A mulher da tua vida
Que não fui nem sou eu
E eu não consigo 
Não consigo mesmo
Deixar de pensar no quase
Nos anos todos que fomos
Tudo e tudo de tão são
Amor em que éramos tudo
A pessoa um do outro
E saber que ainda me amas
Só me faz doer ainda mais
O tempo nunca volta atrás.

segunda-feira, junho 13, 2022

Corpo morto

 De tanto querer ser nada
Por não poder ser tudo
Meu corpo está a desaparecer
Pele e osso a olhos vistos
Veias que só sabem perecer

Um quase cadáver aflito
Pergunto-me se é diminuto
Para até nisso ser poupadinho
Deixando quase nenhum vestígio

Perderás a oportunidade 
De deixar um corpo bonito
Para se velar?
Não queiras ser a bela morta
Que Pessoa no poema pôs-se a falar

E ele, o teu ser amado,
A quem deste a sorte
De ser feliz com outra pessoa
Não terá jamais de te olhar
Esse corpo que não é alado.

Obrigada, meu intérprete dilecto

 Cheguei até ti nua de mim
Tu vestiste-me com teu canto e música
Abrigaste-me como irmão mais velho
Eu consegui falar e soar de novo
Como nunca antes até
Quis proteger-te de tudo
Quis fortalecer-te para ti mesmo
E para melhorares também com elas
Sacrifiquei-nos, mas mesmo assim
Depois de toda a dor e mágoa
O que surge mais sonante e incalável
É sempre o sentimento puro e imensurável.

Escreviver

 A pálida sombra que sou
Do veludo negro da noite
Voa como corvo num sonho
Porque nada queria
Senão escrever o mundo
Vivê-lo assim todo segundo
Sem sujar os sapatos
Tê-lo na ponta dos dedos
Com olhar ora tristonho
Ora risonho entre abraços
Do que o pensamento enlaça.

domingo, junho 12, 2022

 A existência é fugaz
Entretanto fazes o que te apraz
Mas não elimina o facto
De que tudo é em vão.
 Esqueceste-me
Não porque não tens memória
Mas porque eu me fiz esquecível

Não me pediste desculpa

 e ainda desejaste bom domingo. 

Grhhhh

Inegável

 Se um dia continuar a ser inegável o que sinto, talvez acredite também. Até lá, fica bem.

Não aspirei nem cobicei, porque não tinha direito, não sou eu o cara perfeito, nem pensei que só havia um caminho.

A morte do corpo, espero que seja a morte do espírito e o repouso final para a tal alma.

Confuso nada

 Confundo-me:
Quis ser nada
O absoluto silêncio
A perfeita calma
Ou também foi imposto
Como tudo condicionado
Não me identifico
Nunca pertenci
Senão na ilusão do amor
Em braços de outros
Que não tu

Pergunto-me:
São os teus braços que procurei
Por toda a vida e não encontrei?
Ser nada. 
Mas neles ser por demais tudo.
Essa mentira de recipiente para o vazio.

sábado, junho 11, 2022

Factum est

 O facto é que tu estás a ir para a cama com outra, que é a mulher da tua vida, que eu nunca fui. Se eu soubesse quem tu realmente eras eu não havia de ter estado contigo. Essa é que é essa. Ainda tenho é de perceber o que é me dói exactamente no meio disso tudo. 

Estou presa há mais de 800 dias sem nunca ter saído

 Invento poemas e mundos dentro
Faço cambalhotas com a realidade
Porque ela não cabe mais em mim
Nem a dor, nem a saudade,
Finjo sempre a dor que é deveras dor
Só para que não doa
Liberto-me das grades da janela
Faz de conta que se levanta vôo
Do maior sofrimento que existe
De que o amor não existe e tudo é triste.

O meu primo Camões

 Se temos o mesmo sangue
E também calhou termos o mesmo mau destino
Quem sou eu para dizer o que quer que seja
Mas a verdade é que volta e meia me amofino.

Cão

 Sou um cão
apenas um cão
que ficou preso
à espera 
eternamente
até definhar
lentamente.

Acreditar

 Eu acreditei em ti, confiei-te a mim e ao que estava a construir, pouco a pouco, grão a grão, a cada sopro de vento. 
Eu acreditei em ti, nos teus poderes de ultrapassar tudo, a tua força, o teu amor, a tua guarida, o teu abrigo para mim.
Eu acreditei no pouco que verbalizaste e no tanto que ouviste e me respondeste em silêncio.
Eu acreditei que tu eras maior e que um dia florescerias de tal forma tu, como planta que brota da semente, um menino que brota da sua essência o ser mais magnânimo do mundo.
Eu acreditei em ti, como se fosses uno comigo sempre, em pózinhos de alma, um irmão, um meu coração a bater fora de mim.
Eu acreditei na tua fé, na tua crença no tempo em nós, numa nesga de luz da possibilidade das possibilidades. 

Decepção

 A decepção ocorre como quando se parte um vidro
Quebra-nos em cacos o que era e não mais será
E nunca houve quem não me decepcionasse
Me quebrasse a esperança e a confiança
Com gestos e atitudes inconsequentes

O truque é não esperar nem tanto confiar.

 Só o Silêncio contém a perfeição.

(assim fez João)

Eu Não Existo Sem Você - Tom Jobim, Vinicius de Moraes (pq hj é dia de João Gilberto)

 Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo levará você de mim
Eu sei e você sabe que a distância não existe
Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste
Por isso, meu amor
Não tenha medo de sofrer
Pois os caminhos me encaminham pra você

Assim como o oceano
Só é belo com luar
Assim como a canção
Só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem
Só acontece se chover
Assim como o poeta
Só é grande se sofrer
Assim como viver
Sem ter amor não é viver
Não há você sem mim
E eu não existo sem você

Não há jantares grátis

 Nunca gostei muito de ti
Nos teus descasos com as mulheres
Tu macho cobridor e elas éguas
Nesse teu élan pornográfico
De superioridade snob
De condenação de povos
De falta de empatia 
De facilidade e mordomia

Nunca gostei muito de ti
No teu gozo para com os outros
Com as desgraças alheias
Os teus preconceitos
A falta de força verdadeira
O comodismo e apatia
A falta de amor e carinho
Ou mesmo qualquer esforço

Nunca gostei muito de ti
Quando troçavas 
Quando eras cínico 
Quando te irritavas
Quando mentias
Quando omitias
Quando quebravas
E negligenciavas

sexta-feira, junho 10, 2022

Eureka, é a raiva afinal!

 HAHAHA e se eu só tiver aguentado continuar viva até agora miraculosamente pelo facto de ter muita raiva de ter estado nestes anos todos a ter de lidar com a minha própria mortalidade todos os dias e impossibilitada de fazer tanta coisa.

O Amor maior de todos

 Tenho pena que não existas
Meu maior amor de todos
Breves foram as conquistas
Nesse rol de tantos tolos

Guardo de ti recordaçőes fictícias
Memórias de danças sem fim
Embalares de sonantes corpos
Vezes chamando teu nome e vim
Prazer bélico que nos deixava mortos

Também lembro de pedaços reais
Das tuas expressőes nunca iguais
Imitaçőes que nos faziam um
Telepáticos como nunca nenhum

Os teus olhos, o teu cabelo, a tua boca
As tuas mãos, os teus dedos, o teu peito
A tua pele, os teus sinais mapas astrais
O teu corpo inteiro o dobro do meu

A tua austeridade, o teu carinho
A tua força e determinação
O teu amor por mim
O maior desse mundo.

(Tenho saudades tuas, meu perfeito idiota inexistente; quase)

Bicho

 O meu corpo moribundo
Esqueleto peludo
Nós que somos bichos
Selvagens e aflitos
Pertencemos presos
Enjaulados atrás de grades
Como somos perigosos
Para a Humanidade
Receptáculos do nada
Desprovidos de sentimento
Apenas traumatizados
Como bestas ferais feridas
Sabemos que não há amor
Que entre dentro de nós
Só vã euforia à menor visão
De um brilho de olhar a sós
Da nostalgia e melancolia
Esse atroz zelo fugaz
Que ao tê-lo fez tudo capaz.

Posso amar-te?

 Posso amar-te com adoração,
como se fosses a última gota de água
num mundo desértico e sequioso

Mesmo sabendo que és vento e mar
que não temos qualquer lugar
e ainda resta tanta mágoa?

Porque nada se compara à paixão,
nem todo o nosso orgulho e garra
nem o que a nossa teimosia guarda

Posso amar-te com o coração inteiro
sem ter qualquer dinheiro ou questão?
Esse sentimento estrangeiro
que anda em contramão
seremos sempre o contra não?

Posso amar-te? 
Sim? Não?

Indiferença mata

 Todos os dias, morrem milhőes de pessoas devido à indiferença. São sem-abrigo, são familiares, são bebés, mulheres, jovens, idosos, são pessoas de todos os estratos sociais mas maioritariamente os mais desfavorecidos. Não têm das outras pessoas atenção, apoio, cuidado, ajuda na luta, que deveriam ter e acabam por perecer. 

É uma das maiores podridőes humanas instaladas. Todos deviam ter formação desde pequenos em sociedade para que crescessem verdadeiramente cidadãos e não apenas continuarem essas silenciosas omissőes. 

quarta-feira, junho 08, 2022

Se a pandemia acabasse

 Se a pandemia acabasse eu iria logo para Florença finalmente realizar o sonho de ir aprender luz e sombra. Juro que ia, nem que isso significasse a minha morte por causa da fatalidade de hemorragia cerebral aquando do vôo. Ao menos finalmente iria tentar.

 "Quando encontrares algo sem o qual não consegues viver, não vivas sem"

 Essa poesia nunca foi verdade.

Apenas premonição, observação e até avaliação. Sublimação da realidade e fuga, sobreviver à realidade.

 Destinos aleatórios: fugir do mundano e medíocre só para acabar com génio cruel.

terça-feira, junho 07, 2022

Rosa Vermelha

 Que sina é esta de rosa vermelha? O nome que atribuí numa era distante e que fez com que ele se questionasse. Ela ter-me passado para ele. As avós Rosa e a própria Rosa. O nome que era para ser de uma menina, será que foi? As camisas desses meninos agora e a ciranda a cirandar. 

Será mesmo que se a rosa tivesse outro nome teria o mesmo cheiro?

Chocolataria

 Acho que só agora consigo dizer que sou uma mulher e não uma miúda. Envelheci a olhos vistos nestes últimos dois anos. Tanto que o meu corpo cedeu à gravidade. 

A minha mente, embora mais enferrujada, continua a ter ápices de atrofiantes turbulências em solilóquios infinitos. Queria muito saber o dia em que vou morrer neste ano. Não saber é o que mais me custa. 

À parte disso, o que eu mais queria nestes últimos anos de reclusão era ter ido à praia, entrar no mar, flutuar, sentir-me sem o peso da existência. Também queria ter ido à chocolataria da D. Bettina e Niccolò Corallo, pegar no copinho de chocolate quente e no brownie e ir-me sentar debaixo do nosso sobreiro centenário e ficar ali como sempre a imaginar que Pessoa também ali esteve à espera de Ophélia. Escrevivendo talvez. 


Canção Infinita

 Esse é o som uníssono dos nossos peitos
Que eternizados como bateria do mundo
Pulsa no que há de mais profundo
Em cada gesto dos nossos jeitos

Melodiosa harmonia interminável
A conjugação de duas águas calmas
Que seguem seu curso pelas pedras
Pelos moinhos, pelos prados, pelos rios,
Sem ter qualquer empecilho


Canção Silenciosa

 Ontem pensei numa canção sem som
Mas como seria ela música para outrem
Se não poderia escutá-la 
Senão em absoluto e etéreo silêncio?

Essa canção muda não tem gestos sequer
Não é homem nem mulher
Tem o tamanho da ausência de ruído
E a densidade integral do que cabe no ouvido
De um cosmos interestelar 

segunda-feira, junho 06, 2022

 Às vezes até chego a pensar em como seria bom se alguma coisa neste mundo fosse real e inclusive aquilo que escrevo, embora tudo o que eu escreva seja apenas exercício de poesia e fantasia para que todos tenham um pouco dessa magia.

Madrugada

 Busco encontrar-te na madrugada
Tingindo verdadeira seda a indigo
Tu que és azul como eu
Mas também vermelho como o céu
Às vezes tu e eu somos assim
Alternamos nessas cores sem fim

Teu corpo é-me afoito
Mas não há amor maior que esse outro
O nosso que será sempre imaterial
Sem físico, sem kamasutra,
Sem explosão de fluídos corpóreos
Temos o que nunca tivemos

Quem diria que a madrugada te traria
Desta forma tão indelével
Nessa eternidade de sentimento
Construído na mais pura emoção
Regado a orvalho que fez brotar o coração

Um lugar nosso

 Quando pensamos um no outro 
Estamos juntos nos mesmos gestos
Entre cogumelos e morangos
Talvez selvagens como nós
E eu tento enviar-te pássaros
Peço-te sempre a lua por vezes
E creio que se abre no céu
Um espaço só para nós
Onde por instantes estamos a sós

Considera-me

 Considera-me de verdade
Como sentimento em estado puro
Maior que tudo
Eleva o meu estatuto de inexistente
Sopra vida para dentro de mim

"Olá solidão, obrigada pela lição
Melhor só do que mal-acompanhado"

Subo em cima dos teus pés
Quando em vez, dançamos
E eu, tão simplesmente, te amo.


domingo, junho 05, 2022

Cúmplices

 Cometemos o mesmo crime
Ardemos nessa fogueira
Do nosso pecado original
Companheiros de éden
Que criámos só para nós
Mania de Bonnie & Clyde
Maníacos Mickey & Mallory
Sermos a pessoa um do outro
O que roubámos de todos
Tesouros de que rimos
Fomos piratas de coraçőes 
Como uma dupla de espiőes

O nosso encontro era antigo
Corríamos um para o outro
E depois fugíamos
O nosso amor era tanto
Que assustava até leőes
Éramos foragidos do tempo
Soldados da chama inapagável
Lua e sol, sol e lua, à vez
Não havia emoção maior
Nessa ligação interplanetária

Problemas da Humanidade

 A maior parte dos problemas da humanidade dão-se porque a mesma não pensa a longo prazo (senão na sua perpetuação através da reprodućão). Isto tanto ocorre nas colonizaçőes e descolonizaçőes, como nos consumos e passando até pelo design e materiais dos objectos.

Renegada

Provada

 Lambida

Mastigada

Cuspida

Julgada

Despida

Abandonada

Perdida

Odiada

Banida

Renegada

Ir ver o mar

 Esqueceste-te de mim?

Ou só te lembras como incómodo?

Não faz mal. Eu amo-te todos os dias.

O mar era o que eu mais queria ver

Mas tu tornaste-te nele para mim

Por isso quando o for ver sem ti

Provavelmente muito me vai doer.

Mas o oceano é maior 

Nunca podemos pensar que o conhecemos

Só por vermos a sua superfície.

É, temos de acabar com essas ideias.

sábado, junho 04, 2022

O perdão

 É simples: manda-me um áudio com algo cómico teu e no final diz que sempre me amaste mais do que tudo com a força de mil sóis.

Promessa

 Promete-me que me amarás para todo sempre independentemente de tudo; mesmo se a amnésia nos tomar o cérebro, se as nossas mãos ficarem vazias, se o nosso coração tornar-se pó, se a nossa alma morrer, se os nossos pés partirem, se a nossa voz emudecer, promete-me que me guardas como pedaço de ti espalhado pela tua pele, pelo ar que inspiras, pelo sangue que bombeia pelo teu corpo.

O teu Rosto

 Procuro o teu rosto
Tua pele alva
Protegida por pilosidades
As covinhas de cada lado
Quando sorris tão belo
As tuas bochechas imberbes
O teu queixo de queixumes
Acumulados nos olhos-meninos

Anjo de caracóis ou querubim
Insurrecto de boca carmim

És o rosto da turbulenta inquietação
Outras vezes o da paz e carinho
Em ondas de bonita emoção
Nessa criança de seus pais
E da família em que braços cais

Um dia crescerás ainda mais
Não sei se te manterás criança
Ou se a idade afunilará o teu rosto
E amargurar-te-á a alma
Como acontece a todos os demais

O que eu sei é que procuro o teu rosto
E ficarei sempre com ele fotografado
Em todas as páginas da minha vida
Que ainda me faltam folhear.

Conheces quem sou?

 Será que me conheces?

Se sim, diz-me se ainda achas que sou exactamente assim.

Falarás de mim?

Passei de ser quem viaja demasiado

Quem não sabe desligar

Quem se enganou sobre tudo de ti?

O maior amor está no silêncio

 O meu amor mais-que-tudo
Só existe no silêncio
Porque nunca aguentei
Que ele falasse comigo

De outro modo nunca seria
Pois as palavras mentem
E não precisamos delas
Para dizer a verdade

Quando entendi que era assim
Já era um bocado tarde
Mas desde que entendi
Nunca mais nos quis ouvir
Qualquer palavra insuficiente

Resta saber se palavras ferem mais
Que silêncios prolongados
Se delapidam e corroem 
Como se os coraçőes acorrentados
Fossem pedras preciosas

Quanto a mim que vivo muda
Só o silêncio me ajuda.

(Como sempre e desde sempre poeta do silêncio, embora houve momentos em que só houve gritantes palavras que não se querem calar mas que de nada valem nem são verdadeiras perante todo o amor)

 Se vida é arte que se desenha sem termos borracha e quando virmos algo sem o qual não podemos viver, então não devemos viver sem ele, a minha vida foi toda em vão.

(After "Love locks")

Almejo

 Almejo o tempo sem tempo
O lugar sem lugar
A suspensão no ar
O corpo a flutuar
Leve e solto
Mas a incandescer com o teu beijo.

sexta-feira, junho 03, 2022

Ferida

 Quantas cicatrizes tens no corpo? 
E na alma, se é que a tens?
No coração lateja a ferida aberta
Dói cada bater descompassado 
Por vezes jorra o sangue
E a hemorragia não estanca
De nada adianta.

Aceitarem-me como sou

 Sempre te aceitei como és
Como ias sendo
Como foste comigo
Porque te tinha um bonito amor
E entendia o teu lado
Pensei eu que te ia vendo
Mas há muito que não sigo
Porque é tudo errado
Pelos vistos só te causei dor.

Instinto

 O primeiro instinto

Sempre se mostra certeiro

Esse cérebro que mora no intestino

E que das vísceras envia um choque

Para todo o nosso corpo 

"Alerta, alerta, acabarás morto".

quinta-feira, junho 02, 2022

quarta-feira, junho 01, 2022

O tempo do amor

 Quanto tempo tem o vento?
Quantas horas o nosso amor desfaz?
O tempo não tem vento
Quando o nosso amor traz.

Queria não pensar

Pensar que me detestas e que não sobrou carinho por mim faz-me querer desaparecer do planeta de vez. 

Pensar que é só uma questão de tempo até apanhar o vírus e morrer, sem saber se realmente ainda me odeias, é mesmo das piores coisas.

Pensar que não acreditaste que era mesmo verdadeiro e imenso amor o que sinto, e tu sentires também, é muito triste e doloroso.