sexta-feira, junho 13, 2025

Um ser amado (de-todo-dia)

 A vida trouxe-me
Família do coração 
E até de sangue 
Todos ligados a ti
Quis "o destino" ser assim
E eu celebro todos os dias
O facto de existires ainda
Mesmo que longe de mim

A soma de tudo

 Foi tudo uma série de males-entendidos, de ser levada em erro por outros e cometer um enormíssimo erro.

Sucessão de pesadelos

 Às vezes é difícil acreditar que aconteceu tudo o que tem acontecido: parece uma sucessão de pesadelos interminável que me parece ter piorado desde que me abandonaste. 

Toda a gente morreu, toda a gente continua a morrer aos magotes, em catadupa. Por todo o lado a violência impera. O mal está ainda mais flagrante, visível e sonoro. Já ninguém se preocupa. Vivem todos entre a cobardia e o ódio. Ficaram todos mesmo zombies. Todos lobotomizados. Uns anestesiados, outros a emitir grunhidos, todos estupidificados, todos robotizados, dia após dia nas suas rodinhas de hamster. Uns são imunes, outros cruéis, riem às gargalhadas: outros esbravejam, mas entraram na mesma cowboyada. 

Tu és feliz, sentes-te realizado, sabes que és amado e, no entanto, diz que não tens paz interior porque vives a querer adaptar a todos só para te amarem. Quase que tive dó de vocês os dois, ditadores vazios. 

Tudo poderia ser tão melhor verdadeiramente para todos e nem sequer é preciso nada de muito difícil assim. 

Mas ninguém quer ser melhor, senão melhor do que o outro naquilo que o outro tem. É por isso que todos os seres humanos nunca serão verdadeiramente felizes e em paz, e viverão neste infindo ciclo de pesadelos intermináveis. 

quinta-feira, junho 12, 2025

 Os meus olhos eram dele
As suas mãos eram minhas 
Os olhos dele eram meus
As minhas mãos eram suas 

Simplesmente eu era dele
Simplesmente ele era meu
E nós os dois éramos do mundo 

 O que foi que a gente fez?


(raio de amor por vocês, q foi tanto 😫)

 Confundiu-me a ternura
Um gesto teu
Agora entendo finalmente 
Como os nossos subconscientes
Se entrelaçaram tanto
E pensámos que era perseguição 
Tu repetias tudo 
Afinal eu também 
Só graças à distância 
Posso ver mais além 

Será que só te sobrou amargura 
Que não davas por mim vintém?
Será que não houve ternura
Uma doçura mais aquém?

Sei que não fui para ti nada
Do que foste tanto para mim
Mas espero que não foi tudo
Apenas dor e mágoa 
E grito mudo
E não apenas para me absolver

É tão difícil acreditar 
Que houve um amor puro
Que teve de se matar

segunda-feira, junho 09, 2025

Neste mundo

 Talvez o amor seja mesmo uma causa perdida 
Visto como coisa de pessoa ensandecida 
Tida como sensível, armada em artista
Sem os parafusos todos, sem jogar com o baralho completo 
Com o carácter demasiado correcto 
Sonhando sempre com o impossível 
Com valores superiores despertos
A liberdade, a paz, a ética, a bonomia
Não ser ganancioso e egoísta como todos
Pondo o puro amor acima dos jogos 
É, talvez o amor seja só para nós 
Os poetas, às vezes vistos como tolos 

O que é que tanto nos une?

 Sabes dizer? O que é que tanto nos liga a todo o instante, sempre, cá dentro e fora? Foi essa pandemia desgraçada, ou esse bonito desgraçado sentimento que não sai de todos nós, pelos vistos? 

Eu já desisti há muito tempo de tentar entender tanta confluência, tanta coincidência, tanta dita sincronização, tanta aflição...

Fui eu que fiz? Sou eu quem ainda faço, seja o que for, alguma coisa? Por me deixar ir naturalmente, já sem ser muito exigente, já sem ser demente, já sem controlar seja o que for?

O amor que criámos salvou um bom bocado o mundo, mas nós falhámos em entender que só ele pode nos fazer realmente sobreviver. Então morremos, cada um para o seu lado, encolhido, quase encarquilhado de não ter mais o amor - essa água - a regá-lo. 

O amor só salva quem ama verdadeiramente. Apercebi-me hoje. 
O resto fica por aí mergulhado na sua própria podridão.

domingo, junho 08, 2025

De tempos em tempos, vem de novo - embora já velha, eu e a ideia - aquela ideia de deixar de existir, normalmente patrocinada pelos mesmos algozes, mas às vezes, da maior parte, é mais por não ter remédio, não haver cura para a insuficiência suprarrenal, para a insuficiência de plaquetas, para a minha consequente insuficiência, enquanto pessoa que não se consegue salvar inclusive do stress pós-traumático complexo de uma vida vivida com pessoas que me fazem mal todos os dias ao básico das condições humanas. 

E o mundo, esse, nem é preciso dizer, como ele ajuda para a festa funesta. De modo que cá estamos outra vez. 

O que é que queres que te diga?

 Queres que te diga que te amo e que esse amor destoçou-me, rasgando-me o peito deixando-o em ferida aberta, sangrando, em todos estes anos? 

Que não houve até agora um só dia que não me viesses à cabeça, ou trocasse o nome de outro pelo teu nome na minha cabeça sem querer? 

Que vivo numa corda bamba de ora tentar enveredar por detestar-te por tudo o que me fizeste, ora amar-te com o desespero de quem te perdeu e nunca te vai ver? 

Que passo os dias a oscilar entre processos de calma e raiva? Tentando arejar, seguir em frente, porque "passado pertence a museu", porque "tudo muda", porque"tudo é ilusão", porque "eu nem sequer te conheço", porque "eu estou doente", porque "eu não tenho nada para oferecer", porque "eu ainda acredito", porque "há um amor que te vai merecer"...

Que muitas vezes ainda luto contra esta vontade de te ver, sabendo que provavelmente não és tu. Mas és, sempre foste, só tu. O meu amor de perdição, a minha danação. Esse amor que só existiu por segundos e na minha cabeça, sem nunca ter encontrado alguém que era a pessoa certa para mim. Nunca existiu ninguém, afinal, nem mesmo quando eu tinha 17 anos e o primeiro grande amor me fez querer morrer. 

"Qual é o teu tipo?", perguntou um rapaz numa série a uma rapariga. Ela respondeu um dia depois quando o viu fazer um acto heróico: "o meu tipo é como tu foste, um incrível herói" e beijou-o. 

Não há heróis na realidade, só há falsos heróis. 


sexta-feira, junho 06, 2025

Suspensos

 Ficaremos suspensos 
Como naquela imagem 
Em que flutuamos
Apoiados em nós 

E endoideço
Tudo outra vez
Só por segundos
Do teu riso

A tua voz foi salvação 
E condenação 

Iliteracia emocional

 Ninguém mais escuta

Usam emojis

Não mais se expressam

Vivem na inércia 

Dominados pela letargia

Escravos do facilitismo

A ansiedade e melancolia 

Só têm pressa

Está tudo numa avaria

Emergem uns filhos da puta

E uns filhos da outra

Dificilmente têm lugar 

Abstinência afectiva

 Depois de perder um grande amor
Fica um buraco fundo no peito 
E não há nada que o preencha
Senão uma enorme dor
E isso não é nada de direito 
Que se resolva com chá sencha 

Passa-se muito tempo relembrando
De tudo o que foi de bom e de mau
São memórias que vão chegando 
Aleatoriamente como um vau
Emergindo na seca do mar 
Fazendo-se notar

Há um remédio no entanto 
Que se aplica como tratamento 
Duradouro e a seu tempo
Se vai encontrando unguento 
Em fazer um novo tanto
De amigos, coisas e um alento

Mas a verdade ninguém esconde
Pelo menos não por muito 
Seja rei, rainha, lorde ou conde
Sofre da mesma maneira 
A humildade do penar
Mesmo não tendo esse intuito


quinta-feira, junho 05, 2025

 Alimento de amor
O peito teu
Talvez tenha causado
Uma espécie de enfarte 
A esse coração meu
Quando ouvi tua voz
Ecoar
Trespassando-me
Como eu ao te olhar
Tu
Meu
Eu 
Somente 
Sempre 
Teu 

De que tipo é o teu amor?

 Um amor ausente
Um amor negligente 
Um amor descontente
Um amor indigente
Um amor estupefaciente
Um amor insuficiente 
Um amor absorvente
Um amor subserviente 
Um amor ininteligente
Um amor renitente 
Um amor doente
Um amor inexistente 

(eu não sei, "em qual língua você passa o dente"?)
 Procuras respostas 
E eu podia pôr-te mil questões 
Só que não 
O silêncio é dourado
E a voz canto embalado
Saindo do teu peito
Aumentando a minha temperatura 

Procuro o teu olhar
Já não o teu sorriso 
Porque sei que é trocista e troçador
Meu amor, que terrorista 
Fui eu, ou depois anterior tu
Quem pior, não sei
De nós 

"Sai dessa"
"Me erra"
Qual é a nossa pior fera
Nesse "grilo brabo"
Que nos desespera?

quarta-feira, junho 04, 2025

Amor, a única certeza

 Se há alguma certeza neste mundo 
Que eu tenha 
É a de vos amar
Aos três 
A ela que não há mais bela
E a eles, esses dois irmãos 
Que me deram cabo do coração 

terça-feira, junho 03, 2025

Obrigada

 Meu amor, 

Acho que nunca cheguei a agradecer-te por me teres dado o amor que eu sempre quis: esse amor eterno que ecoa infinito desde sempre e para sempre.

Espero que quando "passar os portões do céu" a tua voz doce com esse teu sotaque seja a primeira coisa que eu escute. Talvez, quem sabe, dizendo: meu bem. 

Oiço agora os cânticos de uma voz ao longe, um canto que parece pastoral irlandês, lembro de ti, quando fizeste um canto similar mas mais grave e gutural. 

Dizem que este mês vai ser atribulado. Para ti é sempre. Para mim também um bocadinho, mas o anterior é muito pior.

Desejo que continues bem. Eu cá vou-te esperando e sonhando com um dia, quando tudo se acabar, eu te possa encontrar nesse céu.

segunda-feira, junho 02, 2025

Doidice - Djavan

 É natural
Um vendaval que passa aqui
Mais doidice ali
Ou uma seca que arrasou
Pior é não te ver agora
Aflora vícios
Claras manhãs
Ou tanto mais
Que eu possa ter
Nada quer dizer
Se o teu beijo não é meu
Cio chegando
Calor explodindo
Temores rondando o ar
E eu pensando em ti
Me apaixonei?
Talvez, pode ser
Enlouqueci?
Não sei, nunca vi
Preciso sair
Depois que descobri
Que há você
Nunca mais existi
É natural
Um vendaval que passa aqui
Mais doidice ali
Ou uma seca que arrasou
Pior é não te ver agora
Aflora vícios
Claras manhãs
Ou tanto mais
Que eu possa ter
Nada quer dizer
Se o teu beijo não é meu
Cio chegando
Calor explodindo
Temores rondando o ar
E eu pensando em ti
Me apaixonei?
Talvez, pode ser
Enlouqueci?
Não sei, nunca vi
Preciso sair
Depois que descobri
Que há você
Nunca mais existi
Me apaixonei?
Talvez, pode ser
Enlouqueci?
Não sei, nunca vi
Preciso sair
Depois que descobri
Que há você
Nunca mais existi
Cuanto más
Me olvidas
Te amo mas
Estrella, siento amor
No sé, no sé, no sé
No sé, no sé
Cuanto más
Me olvidas
Te amo mas
Estrella, siento amor
No sé, no sé, no sé
No sé, no sé

sexta-feira, maio 30, 2025

 Não posso dizer que nada existiu antes de ti

Porque existiu sim: dor e devastação 

E mesmo tu tendo te tornado em complicação 

Foste o amor que eu sempre pedi

Por isso sim, digo: que se lixe

Nunca existiu nada antes de ti

 Muito do meu cabelo é cinzento 
Assim como me vèem 
Nada para ninguém 
ou mistura congruente para alguém 
acessível, right in the middle 
e tenho um certo desespero 
que me toma por inteiro 
aos poucos deixa-me louco 
desde que não te conheci
e os acasos de conhecer outros 
que são tão próximos de ti
fazem-me ficar rouco de pensar
a gritar em surdina pelo ar
por que raio me foste assim matar
o que é esta história interminável 
e desmedida de tão agreste
o que é este amor tão celeste
por que é só contigo é que quis
flutuar? 

quinta-feira, maio 29, 2025

 Nem toda a arte é mentira que criamos para escapar à realidade; a arte é a verdade que criamos para sobrevivermos dada a realidade. 

Não sei o que passei a vida a tentar encontrar

 Às vezes, bate uma sensação de vazio de novo, especialmente depois de tentar dar-me ao mundo dos demais. Parece como a tal da solidão que só ocorre também quando estou no meio de pessoas. Hoje esses sentimentos afloraram em determinados momentos com uma certa tristeza a acompanhar. Noutros dois ou três momentos, pelo contrário, senti-me quase uma pessoa normal. 

Dei comigo a pensar em como as pessoas são tão fechadas, distantes e maldispostas, e em como eu que passei a vida toda num inferno ainda sou a pessoa dita afectuosa, atenta e aberta, ainda que às vezes mais pensativa e triste. Sei que cada um fez, ou não, o seu trabalho interno e reage à sua maneira. Mas enfim.

Não sei o passei a vida a procurar, realmente não sei. Mas sei que nunca houve nenhum momento em que tivesse certeza de que esse vazio não existia. Senão, talvez, naqueles momentos raros quando senti aquele amor todo contigo. 

Hoje entendi na totalidade a nossa antiga expressão "isso é que é bonito", porque ouvi-a (mais do que uma vez) baixinho do baianíssimo Silas e, de repente, tudo fez sentido. É como se fosse um primo do "olé". E eu pesarosamente estou com saudades dos meus primos. 


terça-feira, maio 27, 2025

 A respiração dela
Haverá algo mais íntimo?
Talvez o bater do seu coração 
Talvez a sua transpiração 
Ou se calhar só o olhar 
Não sei
Eu sou aquele 
Que nunca teve perdão 
 Fizemos o ar vibrar 
Com as palavras necessárias 
Com o silêncio do olhar 
E com as músicas raras
Da tua viola 

Os sons não eram de árias
Mas as memórias contidas
Tinham orquestras inteiras 
E tu foste o maestro delas

Quando oiço discos na vitrola
O seu soluçar bonito
Nas pistas lidas
Relembro as tuas maneiras 
E a tua presença na janela 


segunda-feira, maio 26, 2025

No País dos Grunhos

 Ontem, hoje e amanhã 
Protestos serão grunhidos 
Perto dos sonoros "golooo!"
E todos duros de ouvido 
Para os avisos do que aí vem
Com as famílias à fome
Bons cogitam serem foragidos 
E eu fico que sou um tolo
Porque sofro desde que nasci
Neste país de grunhos barrigudos 
Só eu é que (me) perdi
 Se tentas domar cavalos selvagens 
Vais sair ferido
Aliás qualquer ser selvagem 
É um perigo 
Tu sabes bem
Pensei que querias ser meu amigo 
Mas tu nunca viste isso além 
Mentiste-me 
Como tentam dar doces
Atraindo
Só para ganhar a confiança 
Também tu fizeste-me de iludido
E rapidamente fizeste-me ficar sem

sábado, maio 24, 2025

 Depois de ti
Nem os terramotos 
Nem os furacões
Alguma vez 
Me parecem 
Aflições 

A minha oliveira

 Um dia fui apaixonada por uma oliveira 
Que eu mesma fiz brotar 
De um caroço que comi
Mas quis que ela fosse livre
Dei-a a alguém que a podia pôr na terra
Quis que ela pudesse crescer
E representando a paz
Que ela pudesse irradiá-la pelo mundo
Eu tenho uma tendência fatalista
De libertar tudo o que possa
Para que possa crescer feliz
Só vi a oliveira mais duas vezes
Depois nunca mais...
(a verdade é que ela nunca foi minha
não é? já tanto faz) 

Outro tempo de canção

 Labirinto impossível 
Na cabeça entupida
De coaguladas canções 

Preferia outro tempo
Do rock e marrabenta
Uma dança pequena 

Não havia dano
Na minha mente
Eu ainda não era gente 

E quase todo o mundo 
Tinha alma de semba
Ao fim-de-semana 

sexta-feira, maio 23, 2025

 Eu nem gostava assim tanto de fado até tu teres chegado.

 Às vezes fico na dúvida se exististe mesmo ou se só foste algo onírico que se tornou num pesadelo que me deixou com stress pós-traumático.

quinta-feira, maio 22, 2025

 De tanto brincar 
Virei o palhaço do mundo 
Até que encerrei o circo
E tudo mudou

 Quando penso em ti e como foste um grande amor da minha vida, hoje em dia, já não me traz alegria, apenas a certeza de que nunca fui para ficar com alguém. 

quarta-feira, maio 21, 2025

 Um amor zarolho
Que errou o alvo
Chora sobre o leite 
e o mel
derramado
Corre em direcção 
À luz no túnel 
Sabe que é 
um combóio vindo
E que este jogo
está acabado 
 Nada do que faço 
É o que sou
Senão uns pedacitos
Que é o que restou
Do meu embaraço 
De te ter amado
Só aos pouquitos

terça-feira, maio 20, 2025

Que eu nunca esqueça

 Que eu nunca esqueça todo o mal que me fizeste e todo o sofrimento que me causaste tantas vezes, dilacerando o meu coração e destroçando o meu corpo. 

Que eu nunca esqueça quantas vezes me quiseste matar. 

Que eu nunca esqueça o quanto debochaste de mim com os teus amigos.

Que eu nunca esqueça o quanto me mentiste e enganaste. 

Que eu nunca esqueça como disseste que ias ajudar-me e depois me abandonaste. 

O pior é que isto dá para todos vocês. E eu preciso de me lembrar antes que acabe de novo a perdoar só para me fazeres a mesma coisa outra vez.

 Escreve-me uma carta de 7 páginas 
Nem uma a mais nem a menos
O mesmo número de páginas 
Que Sabino pediu a Lispector 
O número favorito do nosso tio
Um número dito divino 
O da criação 
Não na nossa religião 
Mas duração de ambos amores 
Antes de ti, meu inexistente e eterno 

"Tudo passa"

 Muitas vezes vi e ouvi "tudo passa". 

Hoje pensei depois de ter visto um poema bonito de um amigo que o tinha feito para a sua namorada da altura: "tudo passa porque as pessoas deixam passar". 

Até mesmo quando não queriam ter deixado. 

Eu, ao contrário, nunca achei que fosse bem assim como diz a frase e quase sempre acrescentava mentalmente "nem que seja com a morte". 

É que na verdade, não só por detestar "frases feitas" e o seu carácter taxativo, eu sou alguém que é acometido de males profundos desde a infância e sabe que só terão solução final. Aí, sim, terminarão. 

segunda-feira, maio 19, 2025

Não sei se alguma vez vou conseguir dar o salto. 

Decência humana

 verdade, fragilidade, ética, justiça, coragem, bonomia

Clica aqui, clica ali

 Clica aqui, clica ali
Mas não fez clique
Nem na cabeça 
Nem no coração 

Quando entenderás
Que ele é teu irmão
Que ele sente como tu
E também só quer
Uma distração?

Clica aqui, clica ali
Reencaminha o mail
Ou é melhor o link
E não te esqueças 
Podes enviar um gif
Mas não te aborreças
Se eu te enviar reels

Quando entenderás 
Que ele tem família 
Bem doida como a tua 
Que ele gosta de sol
E mais de olhar a lua
É igual a ti nisso tudo
E que a lista continua?

Clica aqui, clica ali
É só mais um anúncio 
Que nem vais reter
Mas fica no teu inconsciente 
Tudo o que te tentam vender 



 Escrevo não enigmas mas reflexões com poesia.

domingo, maio 18, 2025

Rito

 Derramada a nostalgia dos dias idos
Nas palmas das minhas mãos 
Onde apesar de tudo ser sofrido 
O amor não sentia solidão 
Elevei o meu ouvido 
Fui bater um ritmo a contramão 
Surgiu aflito um zumbido 
Não um eco nem um grito
A tua voz a dar-me um sermão 
Eu já não sei qual era o rito
Mas foste o padre p'ró meu caixão 

sábado, maio 17, 2025

Sociedade do Descompromisso *

Ama mas não diz
Nem sequer demonstra
Sente falta mas não 
É melhor a se distrair 
Força-se a esquecer
A desfocar, a empreender
Diversão mas não é feliz 
Vai brincando como fogo
Toca, queima e foge
Não prioriza ninguém 
Raramente ressurge 
Só o suficiente para ser
Visto como vivo e bem
Não se fragiliza
Não se agiliza
Para se vulnerabilizar
Há que abrir
Expor a ferida
Mas só conhece falsidade 
Falso ele é de verdade 
Mas nunca tem coragem 
Para enfrentar a saudade 

*título inspirado pela nova música cinematográfica do jovem músico brasileiro Zé Ibarra, "Transe", sobre 'ghosting'. 
 e eu que quis tudo
e não tive nada
agarrei-me à madrugada 
porque dormir
era ter pesadelos com o nada
e com tudo de horrível 
a me alcançar 
 Tanto ele é como eu
Como eu sou como ele
Sol e lua
Conforme

 arghhh, ainda estás nas minhas veias 😐😩💔🤦🏽🤷🏽

Lua, lua, lua

 Há quem queira pisar na Lua
E há quem já se sinta dela.

Lua

 É verdade
Briguei contigo de novo
Fizeste-me de tolo
Enchendo-me de saudade
Só para eu não deixar de amar

Eu só queria a minha liberdade 
Gostei mas não gostei de gostar
Já devia saber com esta idade
Que quem ama acaba-se a se danar
Ó vilã que nos viste os tempos
Ó malvada atração brilhante 
Tu que brincas com os sentimentos 
E só estás plena num instante 

Há-de haver o dia em que te esquecerei
Vais ver, hei-de conseguir, tanto lutei

Entretanto tu vais rindo
Com esse teu riso de Cheshire 
Que sempre acaba por seduzir
A verdade verdadeira 
É que nunca pude fugir

Porque todo ele é lindo
Todo o tempo, dia inteiro 
Para não falar da noite
Cada riso é um açoite 
Eu que só o quis verdadeiro 
Vê-lo feliz é o melhor do mundo 


sexta-feira, maio 16, 2025

 'q estranha forma de vida tem este meu coração', 'por uma lágrima tua me deixaria matar' 

canto para não morrer cá dentro 

aguentas tocar aquela memória, nem é com as pontas dos dedos sequer, é com o olhar quase lá? 

eu, cada vez que caio nesse gesto, quase desmorono. tudo outra vez. quase. 

 iconoclasta até de mim que não sou nenhum ícone. abaixo a monarquia, longa vida aos vagabundos charlot.

 no dia em que eu parar 
de ter o ímpeto 
de ir à janela olhar
para ver se está lá 
a lua
quando me lembro 
de nós 
é o dia em que estarei
integralmente 
livre de ti

quinta-feira, maio 15, 2025

Premissa básica da crença

 Acreditar implica à partida haver algo que não existe e, daí, a necessidade da crença. 

 O chão que tu pisas
 já foi água 
já foi lava
os braços onde te abrigas
são nada
pois tu já me tiveste
de todas as formas 
quando ela pôs o vestido azul
e foi a um casamento sem ti
quando ela mandou em ti
e tu apenas te riste
quando outros olhavam-na
e logo disfarçavam
e tu apenas viste
mas a verdade é que 
eu nunca fui nenhuma delas
nem sou assim
nem nunca serei

quarta-feira, maio 14, 2025

 a mágoa da água quando fura a pedra 

 Nós, os que tivemos de ser fortes, dizemo-nos que só quem desiste é que perde. 

Nós, os que somos fracos, dizemo-nos que há grande força em saber quando desistir. 

 O truque é não querer nada; o que vier, está de bom tamanho. 

 O desejo, foi o que restou. 

Sonhos

 De todos os sonhos que tive
Os mais bonitos foram contigo 
Tu a chegares e a pairares
Tu numa explosão de luz
E um quentinho tão bom
Tu a sorrires de novo 
Tu a acompanhares-me
Pois afinal foste sempre tu
Mesmo quando eu não sabia
Qual era mesmo o teu rosto

terça-feira, maio 13, 2025

 Acho que finalmente acabou. Nem forçar-me a lembrar do teu rosto naquela fotografia faz recuperar a certeza. A realidade fala mais alto. É triste, mas finalmente acho que aceitei o que era óbvio desde o início: esse destino malfadado que foi o que tinha de ser. 

segunda-feira, maio 12, 2025

 ainda dói tanto ter-te perdido, meu menino ", chorando com a versão do movimento dos barcos de Salvador Sobral.

 Talvez as feridas mais fundas não deixem as cicatrizes mais feias...

Nós nunca fomos iguais

 Tu tens uma força de vida 
De fazer acontecer tudo
Que eu já não tenho há anos
Verdade, só tenho danos
Concluo que tudo é inútil 
Ou que está muito errado
Espero a minha despedida 
Sei que tu não estás enganado 

Tu e eu nunca fomos iguais 
Não me refiro aos demais 
Mas a ti e a mim que éramos totais

Eu vejo tudo à minha volta 
E não consigo mais rir das coisas 
Porque sei que é doentio
E nada quero de programado
De condicionado e pré-destinado
Com ilusões de que faço eu

Nada fiz que não compactuar
Mais ainda com tudo o que existe 
E que é sobejamente triste
Mesmo que enfeitado a euforia 
Eu desisti há muito da correria 

Tu criaste o teu agradável mundo 
E dá-me uma bela paz ver-te bem
Porque ao menos assim em paz
Eu também não me perturbo
O que diz muito sobre nós no fundo 
E sobre o que é ser mesmo feliz 

Eu não tenho nada para isso
Mas estar em paz seria a felicidade
Por isso vou observando os outros 
E vendo como conseguiram 
Ou pelo menos inventaram
E a todos e a si mesmos enganaram

Eu não seria capaz de nada
Nem provavelmente desse doce engano
Sei que não fui talhada para viver 
Não aqui neste mundo a valer
Sempre me deixei ser abandonada 
Talvez por isso de não merecer

Democraticamente desisti de tudo
Porque tudo desistiu de mim
Pois este não é em quase nada o mundo
Em que eu me reconheci 

(ao som de Katachi - Daigo Hanada)

sábado, maio 10, 2025

 PESSOA COM PRINCÍPIOS (não muitos começos), MEIOS (nunca tive condições) e Fim (o que virá primeiro não sei, se fim ou propósito). 

Quem sou eu

 Frágil pequena figura 
Que sempre teve vida dura
E todos se metem com a criatura 
De deus, dos deuses, do diabo
De ninguém 
Ela vive com a cabeça além 
E o coração cheio de ternura
Rodeada de falsidade e mentira 
Baleada com a raridade da doçura 
Que conheceu muito aquém 
Do expectável nesta loucura 

 Se houvesse homens que parassem de tratar mulheres como se só servissem para satisfazer os seus apetites, talvez as mulheres quisessem de facto fazê-lo. 🤔 #respectjustalittlebitr-e-s-p-e-c-t 

Desgraça sem graça

 Fiz do teu ser
o mais perfeito 
o mais intrépido 
e responsável 
o mais querido
e mais amável

Tomei-te como és
vilão só para nós 
mocinho de seus avós 
menino a lés
e que me deu com os pés
graça na minha desgraça 

O teu irmão antecipou-se
sempre foi mais afobado
e talvez mais corajoso 
tão simpático e carinhoso 
romântico e com garbo
aceitei o que me trouxe 

Tão inocentes que foram 
já há muito que não o são 
e eu que sou só amor
sempre falo com coração 
e deixo-me ir sem vazão 

Não há nada no entanto 
que eu sinta ser maior 
que o sentimento que tenho
por ti meu eterno amor 
vivo para o dia que termine
toda esta minha grande dor

As coisas puras 
que moram em ti
têm ninho 
estão resguardadas
e são felizes 
como o canto alegre
dos pássaros matinais
mesmo os que não voltam mais 


sexta-feira, maio 09, 2025

Não há curas grátis

 Diz que para haver cura é preciso haver lembrança, luto e só depois pode haver o perdão. 

Como é tudo fraco e traumatizado ninguém quer lembrar e enfrentar as memórias, por isso nunca poderá haver o perdão. 

Eu sempre tive compaixão e isso para mim não foi sempre uma boa solução.

Decisão

 Decidi! 

Declaro que das tuas expressões a que eu mais gosto é a de quando te emocionas um bocado:

O teu olhar fica um pouco molhado, só o suficiente para brilhar e o teu sorriso é complacente, tão terno o semblante do teu rosto, quase que podia adivinhar de seguida uma derretida caída do teu tronco no meu colo. Nunca porias a tua cabeça no meu colo - como ele fez tão pronta e despojadamente, carinhoso -, mas é daquelas coisas que poderia ser tudo o que eu mais queria; ter a tua cabeça aninhada no meu colo com o ninho lindo dos caracóis do teu cabelo, dividindo eu as suas mechas pelos meus dedos. O que eu mais queria. Esse calor, esse afagamento, essa dádiva da entrega pura de quem chega a casa e se joga e estira na cama. 

Essa tua expressão é a coisa mais linda, como se tu dissesses que não há coisa mais linda do que a que estavas a olhar. Eu acredito, de cada vez, mesmo quando é porque ela te faz feliz. Tudo está como tinha de ser, como precisava que fosse. Dizem que as nossas almas foram feitas para ajudarmo-nos um ao outro a aprender e evoluir. Eu sofri muito. Tu também. "Evoluímos", se isso se pode chamar de evolução. Acho que nem tu nem eu somos muito a favor dessas ideias de que é preciso sofrer para aprender. Mas a verdade é que do sofrimento conseguimos tirar lições e aprendemos a não mais iludir os nossos corações. Não é? Vai-se ver. 

"Eu amo-te! Não esquece."

Morta e mortífera

 Nada do que escrevo
Sei por que escrevo
Senão impelida 
Por um impulso 
Meio escancarado
Meio urgente 
Meio em segredo 
Morta e mortífera 
Às vezes tenho medo
Mataram-me mil vezes
Matei umas poucas 
Mas nada do que fui
Nem nada do que sou
Alguma vez foi lei
Pois sou de deixar tudo
Acontecer e sobreviver 
Amiúde 
Para raramente viver

quinta-feira, maio 08, 2025

Coração de plástico

 Tens plástico no coração 
Mas ele não é tão elástico 
Quanto pensas que foi

O amor já não é fantástico 
Ele agora apenas dói
E não há quem lhe tenha mão 

Tens um coração de plástico 
Desde quando não sei dizer
Com tamanha exactidão 
O dia em que foi acontecer

Mas talvez tenha sido de noite
Naquele momento de solidão 
Que percebeste que a raiva 
O ódio e a gastura explodiam
E já não havia senão 

Apenas eu senti a amargura 
Da tua esperada decisão 
Que forcei com substância dura
Pior do que plástico 
Acredita 
Em que já tinhas tornado 
O meu pobre e derrotado coração 

-  Está tudo bem. 

- Não, não está. 

Está na hora de tudo ficar bem. pode ser agora?

 Matámo-nos
Só para renascermos
Do amor ao ódio
Foi um instante 
Mas foi tanto 

Estou farta desta guerra
Desta paz podre

Fomos do pior
Que nos aconteceu 

E no entanto 
O amor foi tanto
Tudo em nós morreu 
Mas nada faleceu

Não há ninguém 
Que possa ter
O que nos deu

Nem ele nem eu
Só nós sabemos 
Muito dentro


Falsidade

 Há um mundo em que tudo é falso:
o loiro dos cabelos, o rabo quase inteiro 
a boca que é feita de pedaço dele
as perucas e tudo custa muito dinheiro 
as terminações e fazem "harmonizações"
e nem falo das mentes com os corações 
porque eles gostam delas queridas
mas sonsas cobras ardilosas mandonas 
embora bastante básicas 
e elas gostam deles feios mas bonitos
ou bonitos feios já ninguém sabe mesmo 
tal é a distorção e o objectivo 
que é só o tamanho da angariação 
e eu continuo a ouvir a guerra dos sexos 
sabendo que em todos os géneros 
a falsidade da humanidade é o que vale

 De todas as pessoas que amei, ninguém me tem presa todos os dias como D. G. P. , esses três estão dentro de mim de uma maneira que eu nunca entenderei. 

Hoje soube de uma morte de uma pessoa (um chef de cozinha) de quem eu gostava e fiquei triste de novo. A lembrança da morte sempre nos deixa sem Norte. 

terça-feira, maio 06, 2025

 nunca estar com quem não possas ser tu mesmo.

 O grotesco e vil do Homem 
Reside no sexo
Na violência 
De uma forma tal
Que destrói tudo
Não deixa espaço 
Para nada de bom

Vampirados

 Reina o ódio, o terror, o horror
Já não há espaço para o amor
E eu que não sei viver neste mundo 
Olho para o seu semblante hediondo
Procuro uma réstia de algo profundo 
Não vejo senão tudo à volta imundo 
E num grito mudo rasgo a garganta 
Decepo as mãos, cravo uma estaca 
Mesmo no meio do coração 

Destino

 Nunca me rendi à ideia de que houvesse uma pré-destinação e talvez por isso tenha pagado preços altos. Mas tu vieste só para me mostrar de novo que não há destino, pelo menos nada de bom, a não ser como dizem de mau karma. 

segunda-feira, maio 05, 2025

Enterrados

 Não te preocupes: toda a gente morre com assuntos por resolver, mesmo o que não têm isso presente, nem que seja pelo facto de que ainda temos de ser enterrados (figurativa e literalmente). 

Metamorfose

 Tornou o ódio em fé
O líquido em sólido 
O avanço em marcha ré
O certo em estólido

Agarrou com os pés 
O que era das mãos 
Parou de lés a lés
Vingou-se nos nãos 

Apanhou sono 
Deixou as febres
Ouviu tudo em mono
Deixou de ser lebre

Nunca foi borboleta 
Não tem dejà-vu
Larga o que espoleta
Permanece nu


 neste "cantinho à beira-mar plantado" à espera de um sonho acabado. 

sábado, maio 03, 2025

Música do silêncio

 Depois de anos a ouvir o Vidro Azul e passar a vida à espera de escutar a música do silêncio, e hoje começar a descobrir Clara Peya e o seu magnífico álbum Solilòquia, apercebo-me de que os melhores músicos de todos os tempos serão aqueles que conseguem escutar o silêncio e reproduzi-lo para os outros. Alguns tentaram ao longo do tempo. 

Cantigas de Nanar (ou de danar 😅)

 Coisa que não devia ter feito e que não aguentei e parei a meio: ouvir álbum de boleros da Nana. 💔☠️

sexta-feira, maio 02, 2025

Paz

 Roubámo-nos a Paz
Que foi o que sempre quis mais
E nunca tive senão ilusoriamente 
Num ou outro momento 
Nuns braços nunca iguais 

Eu sei que somos capazes 
De ter essa paz juntos
Pois tudo o resto foi ego
Qual defesa de um cego

Agora que somos sagazes
De sentimentos profundos 
Podemos ter a nossa Paz
Aquela que não tem oposto
 Quem sorri é a boca
No entanto os teus olhos
Sempre sorriram
Quando me viam
Ou ao meu nome ali
E tudo o que me diziam 
Nunca teve um fim

domingo, abril 27, 2025

 Poeta, que podes tu fazer em tempos de maldade e guerra senão ser arma carregada de gentileza? 

Toda la vida, un día

 Pode-se passar a vida inteira 
Nem que seja até uns 87 anos
A pensar num mal que se sofreu 
No pesar de um erro que se cometeu
Num grande amor que nunca morreu
"Toda la vida, un día, una eternidad"
Chorei-te hoje de novo neste inferno 
Que não tem fim das dores execráveis 
Que me causam diariamente sem pena
Esse misto de nojo, raiva, dor insuportável 
Esse cheiro nauseabundo 
Que aumenta a minha vontade de morrer
Os tremores imediatos e automáticos
A tensão, a desidratação, a rigidez no corpo 
A nuca, a cervical, o estômago, o peito
Os braços e as mãos e as pernas em choques
O trauma que despoleta tudo
E quase desintegra-me
Quase desfalece-me de novo
Mas, como sempre, tento agarrar uma bóia 
Instintivamente 
E tu nunca estás, nem ninguém 
Só consegui agarrar-me à voz de mi Silvia
Mi cantante favorita que llora comigo
E ainda me faz sorrir dentro no final

Serenidade

 Encontra-me na serenidade
Nesse vazio que sou e habito
Jamais estou aflito 
Porque é na solitude e silêncio
Que eu acho tudo o que é bonito

Descobriram: o barulho mata 
É um silencioso assassino 
E não é a tão longo prazo assim
Eu já sabia e por isso luto
Para que não o haja perto de mim

Danço a balada do ritmo das emoções 
Não ando mais aos trambolhões 
Porque há muito encontrei equilíbrio 
Entre ser ouriço-cacheiro e corvo azul
Tornei-me apenas num espírito 
Que flutua na Terra guardando-a

Ela não grita, mas as plantas sim
As árvores só falam conformadas
O vento vem com a pressão 
O manto, o oceano e o vulcão 
Terramotos à vista
Mas não há problema não 
Nada tem solução 
Por isso está tudo solucionado


sábado, abril 26, 2025

 Talvez afinal os homens dependam mais do amor para serem curados, porque foram criados e amados pelas mães, enquanto as mulheres sempre foram obrigadas a fazer tudo sozinhas desde tenra idade. Este é o facto mais escondido dentro deles e mais desconhecido de todos nós. 

Da Paixão

 A paixão não se força 
Ela invade o coração 
Mesmo de quem só 
Há muito tempo 
Está morta 

E ela depois 
Vai-se embora 
Mas esta demora
A extinguir-se
Fica só mais branda
Como lume baixo
Cozinhando com o calor

sexta-feira, abril 25, 2025

O amor da minha vida

 O amor da minha vida, que ninguém conhece, é a liberdade encarnecida: tem olhos de espanto e de choro e de raiva e de comoção. O amor da minha vida diz que é tesão pela vida, que pulsa e não se dá à despedida. O amor da minha vida gosta de flores grandes e é lava e é explosão, só que não. Ele tem um empedernido coração. Dança quando a terra treme, mas nunca sozinho. Ele é demasiado autoconsciente, verdadeiro, ele sim é o dia inicial, limpo e inteiro. 

Assim é o amor da minha vida, tão decente e tão vulcânico quanto eu fui até morrer. 

 Nada é inútil senão a existência em si mesma. 

quinta-feira, abril 24, 2025

Terra (in ritardo)

 Quando há terramotos é que nos lembramos de que a Terra está viva e que nós fazemos parte dela e ela de nós...

quarta-feira, abril 23, 2025

Robots

 O humano caiu em desuso

Tem o robot como substituto 

Uma versão melhorada, dizem

Na sua obrigatória programação 

E os humanos que sobrevivem

São zombies com uma só religião 


Já não têm a Madonna de Leonardo

Nem o calvário da paixão de Cristo

Têm em vez disso um retardário

Retrocedendo até ao que não existe

E assim insurgem-se os robots

Que entretém humanos com iô-iôs 

segunda-feira, abril 21, 2025

Coisas que toda a gente devia ter presente na cabeça sempre

 Que todos os seres humanos têm 99,9% do mesmo ADN. 

Que todos os seres humanos descendem do mesmo organismo. 

Que existem pelo menos uns três triliões de galáxias. 


Tio (s)

 Andei a evitar isto. Mas os dias estão aí a relembrar implacavelmente os longos dias horríveis em que estavas em sofrimento no ano passado. Ao menos o meu outro tio que foi meses antes, foi subitamente e sem sofrer supostamentem Só agora consigo escrever sobre isto. As datas aproximam-se e eu tenho aquele terror de tudo o que aconteceu, a vir-me de mansinho entranhar-se. Toda aquela sucessão de mortes e de coisas más. Pensar que já passou um ano. Eu devia ter o meu luto processado mas ainda não está de todos, claro, oito pessoas em oito meses não dá para processar. Continuo exausta. Assumo que as pessoas morreram mas estão em paz, estão livres das agruras terrenas e podem descansar. Essa é a única maneira que dá para atenuar o horrível que é, especialmente nas mortes mais repentinas que nos deixam ainda sem mais chão. Estes dois últimos anos foram de um sofrimento hediondo, calado, magoado, destroçado. Saber que há gente que deseja a minha morte também não tem sido fácil nestes anos. Principalmente para eu também não querer morrer, como sempre. É, tem sido difícil. Tudo o que penso, volta e meia, é em como não pude despedir ou ver-vos de novo. Sei que isso vai acontecer com mais pessoas. Daqui a muitos anos, espero.

Abril. Maio. Primavera. Verde. Florida. Por favor. Tio. Meus tios. Eu sinto muito. Também tenho saudades vossas. Vamos dormir em paz. Eu tenho de te deixar ur, como com todo o mundo como já deixei. Adeus, meu tio, até um dia...

 Olhei para o futuro e vi a ti, meu passado, o único que eu escolheria. Mas depois fui relembrada de como apenas foste mais um sem espinha dorsal. Nunca existiu ninguém para mim, é normal, bem que o tio dizia (e os outros todos entretanto) que ninguém me merecia. Eu sempre achei isso um engano (achava eu que ninguém tinha de merecer ninguém), até há pouco tempo entender que eu fui feita para ser sozinha e só assim consigo ser feliz. 

Era contigo a minha vida toda"

 Ter sido tão amada por ti a vida toda (já são muitos anos) quase me fez pensar, agora que o Nuno Guerreiro morreu, que se morreres antes de mim não aguentarei ficar sem ti neste mundo, tu que foste o homem que eu mais amei e mais me amou, provavelmente. 

A receita da vida

 A verdade é que já há muito tempo percebi:
a receita é simples e é o que está à vista
não havia que se complicar 
são triliões de galáxias 
tu temporariamente a naufragar 
todos os dias mais a definhar
no meio de um mar de ignorância 
e de uma estupidez atroz 
de seres humanos mesquinhos
ridículos e vingativos
o pior dos animais 
cultivam tanto ódio como arroz
e não há chakalaka que valha
para compensar esse básico sensabor 
mais vale estar só sempre 
já vi eu desde criança a observar
toda a hipocrisia de quem fala mal
mas come sem sequer saber cozinhar

domingo, abril 20, 2025

 À medida que o capitalismo desdobra-se em tecno-feudalismo, o mundo humano continua o mesmo...

Um protótipo de espiritualidade

 Um esboço de espiritualidade 
Reside nas estrelas, no cosmos
E vê-las assim no alto tão belas 
É a paz de um paraíso na alma
Que repousa encostada no diáfano


sexta-feira, abril 18, 2025

Humanoides vs. Androides

 Humanoides culpam androides
pelos seus próprios vícios 
pelas suas próprias falhas 
pela perpetuação da estupidez 
pela falta de empatia e educação 
que as suas proles exibem
quando já não têm estabilidade 
nem amor nem solidariedade 
qualquer compreensão ou bondade 
como exemplo nos seus pais 
que se servem sempre de escapes
e são completos desastres
incapazes de cuidar dos seus filhos 

quarta-feira, abril 16, 2025

 Nunca mais te direi nada. (a não ser que me perguntes algo, claro, que eu te possa responder)

Inundação de Carinho

 Vieste e contigo veio
Essa maré guardada
Por tanto tempo
Represada nessa barragem 
De coragem com medo

De repente tu tiveste
Uma enchente de desejo
Nem eu assim esperava 
Que essa água se levantasse
Logo passei mal em segredo 

Fugi imediatamente 
Como quem se viu presa
Mas momentos de beleza 
São raros na tristeza
E assim permiti esse carinho


 "e se encontrares por aí alguém que te faça melhor mulher aproveita para ser feliz", "Tempo" de Tiago Nacarato

terça-feira, abril 15, 2025

Porque fomos nós

 Com cada pormenor 
Cada escondido detalhe
E os mais expostos
As mínimas curvas
Os entrepostos
A forma como os nossos corpos se atracaram
Mais do que um barco ao cais
Mais que uma planta trepadeira
Mais do que árvores com seus troncos e copas
O amor que fizemos andando pelas ruas
Sem vazão em pé e no chão 
Dançando e rolando
Rodopiando sem razão 
Sem tempo sem censura
Porque fomos nós 
Finalmente a sós 
A glória do entendimento 
E da fusão 
Esse amor que é a maior paixão 

domingo, abril 13, 2025

Lua Cheia - veredicto

 É oficial: não gosto de novo da Lua Cheia. Soube inclusive que a actividade parasitária aumenta em 50% no corpo humano devido à maior circulação e serotonina. 

Ninguém quer olhar para a ferida. 

sábado, abril 12, 2025

 Só sinto a tristeza de um dia te ter feito mal. 

Pastel de Nada

 Como é que soubeste que eras merecedor?
Agora que te foste embora de vez
Apercebemo-nos que a culpa era tua
Que deitaste fora o que foi a melhor 
A mais perfeita relação que já tiveste
E que jamais podias ter perdido
Porque assim nada faz real sentido 
E tens de inventar subterfúgios 
Para ires vivendo na tua teimosia 
De ilusão de conformação à alegria

Seguras-te para não caíres sem fundo 
Para não voltares a cair de novo por mim
Pensas tu que seria o teu fim
Enquanto macho cobridor do harém 
E eu já não estou nem aí como sabes
E dizias que eu era oito ou oitenta 
E sou no que realmente importa
E sei que no fundo admiras isso também 
Em mim de ter princípios e não ser outrem

Nada do que eu sou hoje é bonito

A Dor não tem Amor

 A dor não sente amor
não pode senti-lo
o coração está inoperacional 
tudo dói e nada é normal 
não há espaço para outrem
porque a dor toma conta
da mente completamente 
quando tudo o que sente
é apenas uma só coisa

talvez aí se agarre ao amor
mas não o sente realmente 
só o busca porque quer asilo
busca por um retiro
dessa maldita dor que alastra
porque explodiu e irradiou
tudo o que um dia foi amor

quinta-feira, abril 10, 2025

Das Tarifas

 Na recente jiga-joga das tarifas
Entram os BRICS multilateralistas
A fazer um belo de um pirete
Ao trampa que fez esse joguete

Dos pedófilos fascistas nojentos 
Cujo objectivo é só o poder e o dinheiro 
Não existem indivíduos mais abjectos
Que falsos algodoeiros-doces e pipoqueiros
Manipulando a alegria e os mercados 
Como o capital é quem manda em todos
Eles são só os seus moços de recados 
Enquanto espalham mentiras a rodos

A impunidade é o pão de cada dia
Que também está inflacionado
Infelizmente é chegado o tempo 
Em que tudo já está acabado 
Não haverá nem pão nem alegria 
Enquanto pregam a misoginia 
E a xenofobia e até declaram 
A empatia número um dos inimigos 
Desses nacionalistas ambíguos 

Os psicopatas todos-poderosos
Cobardolas de egos frágeis 
Tremendo e ameaçando 
Maltratando as mulheres ágeis 
Têm tanto medo de ser taxados
Que se põem com a violência 
Preemptiva à norte-americanos 
Contra quem ganha a audiência 

Mas a profecia da economia 
Já há anos adivinhava e dizia
Que a força estava nos números 
Do Brasil, Rússia, Índia e China
Como da África que se industria
Porque o progresso é a falácia 
Ainda maior do que foi um dia


quarta-feira, abril 09, 2025

 Quando as pessoas estiverem demasiado cansadas para poderem fazer coisas que lhes fazem bem, elas serão obrigadas a parar. 

Simplesmente porque não deram prioridade ao que lhes dá saúde. 

Não se iludam: a roda do hamster continua, só que o hamster agora está lá morto.

terça-feira, abril 08, 2025

Nada tenho senão arte

 Um verdadeiro artista é aquele que cria algo seu para expressar aquilo que sente, tudo o resto não são artistas e são apenas imitadores. 

Eu não tenho casa e por isso crio poemas para vos ofertar o meu lar

Eu não tenho dinheiro e por isso crio ricos poemas para vos dar

Eu não tenho saúde e por isso crio poemas para vos sanar

Eu não tenho um amor e por isso crio poemas para vos amar

Eu não tenho paz e por isso crio retratos vossos para vos apaziguar 

Melancolia

 A beleza de ter sido e a tristeza de já não ser.

Dos seres admiráveis

 Desde criança que as pessoas que acho admiráveis são aquelas que vi defenderem alguém oprimido, insurgirem-se contra injustiças e agressões, talvez porque soube muito cedo o que que era sentir na pele não ter alguém que me protegesse. Talvez por isso também de ver com um certo fascínio raras pessoas a terem esse tipo de integridade e coragem, me tenha tornado numa assim "defensora dos oprimidos", como já me apelidaram jocosamente precisamente pessoas de índole realmente nada admirável. 

Do Plástico

 Vives num mundo de plástico 
Tens plástico no teu cérebro 
O que impede a sua plasticidade
E injectas plástico na tua pele
Enquanto tu não és elástico 

Pensas que isso te torna fantástico 
Mas só te torna num dos Fantásticos 
Aquele que se estica até não poder mais
Já que tens microplástico até no Adn

Espantado com tanto cancro em bebés 
Quando vestes poliéster e polímeros 
Encharcas-te de materiais não-naturais
Ainda que os naturais tenham químicos
Plásticos estão em todo o lado sim
Mas não em concentrações iguais

segunda-feira, abril 07, 2025

 Apercebi-me só agora de que, não só escrevo para deitar as coisas fora, como também na esperança de que se vão embora, que deixem de acontecer e me doer. 

Funciona só um pouco, até à próxima. 

Deixar de amar

  Já fiz de tudo para deixar de os amar, inclusive não tentar deixar, mas nada resultou e, volta e meia, tudo volta quase como se fosse da primeira vez que os amei.

 Não me parece que tenha que ver já tanto com a maneira deles de serem, mas mais com o que fazem e isso perturba tudo de novo, a memória da intensidade dos sentimentos, mesmo que a intensidade por cada um seja diferente. Um é impensável e o outro quase divertido se não fosse um nervosismo também. Pior é estarem tão interligados, estarmos desde o início, quase no mesmo dia, naquela mesma altura tenebrosa. Dois tipos de amor com possibilidades e intensidades diferentes. Será que a minha avó também passou algo um bocadinho semelhante com os que eram dois irmãos? Sim, até cogitei que isto tudo é uma sina qualquer.

É, deixar de amar só também me parece coisa impossível, pois já se passaram anos e continua. Outros amados amores que tive, tão mais reais há tantos anos, ficaram no passado mesmo. Pensava que estes seriam iguais, mas esqueci que a distância e a impossibilidade deixam sempre uma ferida a doer e talvez, por isso, o amor fique em aberto porque não o podemos viver.

Eu que já tinha desistido do amor há tanto tempo, esqueci-me de que ele nunca desiste, ao que parece totalmente de nós que temos coração ainda que meio partido.

sábado, abril 05, 2025

Só dois poemas

 Parece-me que estive a escrever só dois poemas durante a minha vida toda: um de amor e outro de dor, só que escrevi-os milhares de vezes e nem sempre de maneira muito diferente.

O Amor e o Humor

 Se o Amor e o Humor são resultados de compensação de traumas e eu já não sou comediante nem amo tão intensamente, quer dizer que estou melhor dos traumas? 🤔👌🏽A isto sim pode-se chamar um bom raciocínio lógico 🤣 ah, pronto... 😐🤦🏽🤷🏽

Encerramento

 Quem diria que eu, depois de tudo, também esperava um pedido de desculpas teu? 

O perdão que nunca virá nem nunca veio.


Foi a noite - Tom Jobim e Newton Mendonça

 Foi a noite, foi o mar eu sei

Foi a lua que me fez pensar

Que você me queria outra vez

E que ainda gostava de mim

Ilusão eu bebi talvez

Foi amor por você bem sei

A saudade aumenta com a distância

E a ilusão é feita de esperança

Foi a noite

Foi o mar eu sei

Foi você

Tu e eu não somos iguais

 Tu aprendeste a fazer o que fazes. Eu não. Eu simplesmente fiz. Porque ultrapassa tudo e tem de ser feito, para se sobreviver à violência do dia-a-dia. 

Tu tinhas disciplina, acordavas cedo, levavas o teu ofício como obrigatório, escrevias páginas e páginas que depois rasuravas. Eu nunca te soube exposto às lágrimas, sempre seguraste a emoção e um dia rebentaste sem avisares de antemão.

Eu admirava-te na forma como te esforçavas e todo o teu trabalho tão sério. Algumas vezes, lendo-te quase me enganavas, de tanto me tocarem as tuas palavras. 

Tu eras um peixe dentro do teu aquário e eu um peixinho nadando meio perdido na minha mente e a nadar pelo oceano.

sexta-feira, abril 04, 2025

 Os corpos atraem-se

encaixam

as almas não se entendem 

elas ripostam 

e no entanto o que se quer fácil 

não satisfaz na aprendizagem 

Atenta

 Ninguém sabe o quanto foi importante para alguém, o quanto significou e foi crucial, o quanto foi amado e admirado e querido, o quanto alguém se preocupou com o seu bem. Ninguém sabe ao certo e são raras as pessoas que dizem algo que indicie ou mesmo diga explícita e inteiramente. Eu tentei dizer, mas eu própria entendi que também não sentia exactamente o que me diziam de volta. Ninguém sabe o que acontece entre duas pessoas, ninguém sabe real e profundamente todos os detalhes. Nem as pessoas envolvidas sequer. Sim, podes sentir-te querido e amado por alguém, mas jamais saberás da verdadeira importância e impacto na sua vida. 

 Desejo que nunca mais voltem e que eu tenha o mais breve possível uma morte célere durante o sono sem sentir nada de mal. 🙏🏽

Admitir a puta da luxúria

 Detestei essa palavra 
desde que ma disseste
para me explicar 
o porquê da traição 
Hoje em dia vejo
também porque sempre 
detestei essas leviandades
porque quis abafar
em mim tais verdades
Que abominei em familiares
e continuei a ver por aí 
em todos os lugares
Mas eu que só traí alguém 
uma vez mentindo
mesmo estando abertamente 
numa relação indo e vindo
Prometi a mim mesma 
Nunca mais pois sabia
de todo o sofrimento advindo
de situações anormais 
como eu mesma sofri
e lutar contra luxúria 
fez-me enxergar 
que não passamos de animais 

Da Liberdade

 Há quem tenha condições para ser livre e há quem não tenha e mesmo assim lute todos os dias, pagando um alto preço, como eu. Mas a verdade é que ninguém é livre. Só quem pode não deixar-se condicionar mais por nada. 

quinta-feira, abril 03, 2025

Instante infinito

 Sou um instante infinito 
Amálgama heterogénea 
Organização relaxada
Sou arroz e sou massa
Sou a paz e a desgraça 
Vejo-te e replico
Tudo o que é ser aflito
Mas não mais não tanto
Sou sorrisinho e pranto
Viajo de qualquer maneira 
Sou a tua estação primeira 
A única que é inteira 
E tão inteiramente só 

 O amor não tem de se provar.

O AMOR REAL

 Diz que o amor real faz-nos confrontarmo-nos connosco mesmos. Não é algo fácil e tranquilo. O amor real é aquele que te ama como és na tua inteireza e complexidade. Ele acompanha-te sempre em toda a tua evolução. Existe além do que fazes, ou gostas, ou sentes; o amor que é real desmonta-te, mas continua sempre a amar-te no processo porque está conectado com a tua essência, como o conceito de atma. Esse é o seu legado. Descobrires tu mesmo tudo sobre ti e saberes que nada disso és tu, senão a semente que és. Eu não poderia ter pedido melhor. Ele só te ama e isso é o real amor maior. Se não sentes a sua alma e nem estás ligado a ela, não o amas realmente, somente às suas máscaras impostas e condicionadas desde que nasceu.

Três Marias

 Eu queria ver as Quadrântidas
Mas elas não vieram
E tu disseste-me sobre Orion
E animaste-me
Porque via bem as Três Marias
Que mais tarde descobri
Que tenho no braço esquerdo 

Foram muitas horas frias
A olhar pela janela 
A tentar aquecer com um chá 
Lembro que quase me doía 
O pescoço 
Mas tu sempre me dizias
Tudo para me confortar 

Ainda vimos uns planetas 
Mas nada de cometas
Eu fiquei feliz na mesma 
Depois de me teres ensinado 
A observar os astros
Hoje tenho saudades 
De me acompanhares os passos 

 Foi a primeira vez que num sonho contigo  tive vontade de não te falar, de não chegar perto, de chatice de seres tu ali. 

Acabou

 Acabou toda e qualquer esperança de um dia...
e está na hora de recomeçar, porque é chegada a Primavera.

Ai de mim

 Não dá para continuar assim

Vejo as milhentas fotografias e lentamente começa a doer o estômago
a boca a começar a secar e uma vontade de chorar
já não acontecia ver-te há muito tempo assim
não me permitia, queria fugir
só consigo sentir vontade de dizer "desculpa, desculpa, não quis te magoar"
e vejo-te feliz antes de mim e feliz depois de mim
e entendo como eu fui apenas um fim

quarta-feira, abril 02, 2025

Cosmos core

 Ninguém compreenderá o teu coração 
Principalmente se nunca abres mão 
De ser verdadeiramente vulnerável 
Sem pensar em ser sempre agradável 

Não é incrível que a Lua reflicta o Sol
E dê a sensação de que é ela que brilha
Para nós todos no estrelado lençol 
Que só conseguimos ver de uma trilha?

Disseram que há mais árvores na Terra
Do que estrelas nas galáxias
E que as árvores são mais raras
Do que diamantes em todas as esferas

Tudo isto parece não ter nada a ver
Mas está sempre tudo interligado
Só que eu só comecei a perceber 
Quando o jogo estava quase acabado 

Cemitério interior

 E apesar de ser alérgica a flores, levo-as amiúde ao cemitério que tenho no peito, planto plantas e honro tudo, pois tudo é vida convivida na memória. 

Nada aplaca o buraco que nos deixa quem morre, resta só uma placa com o seu nome, uma pedra gravada com duas datas: o ano em que soube da tua existência e o ano em que te perdi. 

terça-feira, abril 01, 2025

 Há uma flor de lótus que espera por ti
Quando pensaste que uma peónia 
Que era um sinal do teu fim em vez

Não me perguntes a mim
Eu não sei o que é que se fez
Só sei que aguardo algo bom
Algo doce, algo inteiro
Algo verdadeiro 
Lembras-te daquele cheiro? 

Que cheiro tinha o momento 
Que partilhavas comigo distante
Sabes ainda senti-lo
Ou só sentes perigo? 

 Eu guardo um resto de ternura 
Um carinho no olhar doído 
De vez em quando 
Sinto falta da doçura
De não me teres como inimigo 

Status quo vadis (?)

 De repente, a água passou a meter medo,
as árvores desistiram 
e as flores brotam do cimento resistentes
conforme há menos oxigénio 
as pessoas não respiram mais
atrofiam demais, desistem
não entendem que levam uma vida falsa
convencidas de que estão a conseguir 
a cada meta alcançada 
e o progresso é quem é o culpado 
dizem
os novos ricos nem se afligem
eles são os consumistas primordiais 
por um status que não terão jamais 

sábado, março 29, 2025

Fenómenos meteorológicos

 Simplesmente te amei 
Como a àgua ama a nuvem
E o arrepio a penugem 
E a neve o frio
E o tsunami o rio
E a terra a chuva 
E o Sol a Lua

Simplesmente te amei
E não era preciso nada

quinta-feira, março 27, 2025

Criatura obtusa

 O que é de maior utilização 
deve ficar mais à mão 
e guardado logo após uso
assim como o que é sujo
deve ser lavado de imediato 

É uma questão de practicidade
Eficiência, eficácia, produtividade 
É melhor para quem é preguiçoso Provavelmente não para um ocioso

Ler manuais não é só de inteligente 
É para quem compra no Continente 
E tem muitos electrodomésticos 
Aparelhos de aparatos eléctricos 

Que é para evitar incêndios 
confusões e atrapalhações
vais mas é ler compêndios
ó criatura obtusa de milhões 


Vidas (pré-)fabricadas

 Bem-vindos às vossas vidas
Têm à vossa espera mil maravilhas 
Vem um pack familiar com religião 
Vem toda uma cultura de antemão 
E não se preocupem 
A facilidade vem já garantida 
Com os benefícios da evolução 
Que diz que é o progresso 
O que mais está na nuvem
De metano e dióxido de carbono
Que torna o céu cor de rosa 
Para o menino e para a menina 

Crescem em sociedades
Para que nunca tenham saudades
Do que vos pode trazer a solidão 
Como se fosse um altruísmo 
Ai de vós se ficam na solitude 
E vos vem mais amiúde 
Uns epifânicos rasgos de razão 
Não vá o diabo tecê-las 
E mostrar-vos a realidade 
Que não é paralela 
Dos abusos e litígios 
Dos infanticídios e feminicidios 
Não vão agora vê-las
E ficarem deprimidos 

Mas não se preocupem 
De novo que isto é circular 
Para tudo fizeram um comprimido 
E entre entretenimento e rezar
A fabricação da vida de acumulação 
Há-de chegar ao vosso objectivo